3 de novembro de 2010

Do Fundo do Baú: O Casamento do Aranha


Publicado no ano de 1987 nos EUA, e nas edições de nº 100 de Homem Aranha e nº 74 de Teia do Aranha (ambas pela Editora Abril) no Brasil, O Casamento do Homem Aranha é lembrado até hoje como um dos grandes momentos na vida do Amigão da Vizinhança, mesmo considerando tudo pelo qual o pobre herói passou nas mãos dos roteiristas e editores-chefes posteriormente. A história original foi desenhada por Paul Ryan e roteirizada por David Michelinie e Jim Shooter, o manda-chuva da Marvel naquela época. Shooter foi o responsável direto pelas histórias mais memoráveis da editora entre 1978 e 1987, período em que esteve no cargo de editor-chefe da Casa das Idéias. Pela sua aprovação passaram as Guerras Secretas, O Demônio da garrafa (saga que apresentou o alcoolismo de Tony Stark), a morte do Capitão Marvel, a Queda de Murdock e a saga da Fênix Negra dos X-Men. Nessa última em especial, Shooter foi o responsável direto pela morte de Jean Grey, acontecimento que não estava previsto no roteiro original de Chris Claremont e John Byrne, autores da história. Pelas mãos da dupla, a heroína ruiva jamais teria perecido ao fim da saga, mas Shooter interveio e impôs sua vontade, alegando que uma pessoa que havia cometido os crimes que cometeu (sob a influência da Fênix Jean destruiu um planeta inteiro) não poderia sair impune. Shooter entre outras coisas também foi o responsável pelo cancelamento do primeiro crossover entre os Vingadores e a Liga da Justiça por não concordar com o roteiro, e surpreendeu o mundo com a história que mudaria a vida de Peter Parker para sempre; o seu casamento.


Os fatos que antecedem a união de Peter e Mary Jane no altar são muito mais importantes do que a história em si, que apresenta diversos pontos fracos se bem analisada. Para começar, Paul Ryan, o desenhista do título é um artista bem irregular sem uma arte-final adequada (mais tarde ele aperfeiçoaria seu traço), o que torna a história um tanto quanto “feiosa”. Uma história de tal gabarito merecia os traços de Romita Jr. (que ilustra as duas edições anteriores ao casamento) ou do Romita Pai (que ilustra a capa da edição).

 
Até por ser uma história da década de 80, O Casamento é uma história leve e direta que não apresenta grandes reviravoltas nem uma trama complexa. O roteiro flui de forma simplista e tudo está bem mastigado para o leitor. Após o pedido da mão de MJ, Peter começa a entrar em crise por não saber ao certo se é aquilo que ele quer para sua vida. Em vários momentos ele pensa em Gwen Stacy, o grande amor da sua vida que foi assassinada pelo seu arqui-rival Duende Verde, e revive o terror de ter perdido a menina por causa de seu alter-ego aracnídeo. Temendo que aquilo pudesse se repetir com sua atual companheira caso alguém descobrisse sua identidade secreta, o rapaz começa a reconsiderar a possível vida de casado em nome da segurança de sua amada. Por outro lado, Mary Jane que é uma modelo famosa, acostumada com o glamour e o luxo titubeia ante o fato de se casar com um pobretão como Peter, abdicando da vida agitada que leva, embora sinta-se segura a seu lado. Ambos encontram razões de sobra para desistir do casamento, mas apenas uma os convence a prosseguir com os planos: o amor incondicional que um sente pelo outro. Coisa de novela, né?

 
Só mesmo nos quadrinhos ou na ficção em geral algo como uma supermodelo se casar com um fotógrafo pobre que não tem nem onde cair morto poderia acontecer, mas se acompanharmos a história de amizade entre ambos desde os tempos de faculdade, passando pelos problemas familiares dela e da insegurança dele de se apaixonar de novo após a morte de Gwen, podemos entender perfeitamente o que levou um para os braços do outro. Essa relação entre eles acontece muito antes da história do casamento que nada mais é do que a definição do fato em si e por esse motivo, mesmo tendo um roteiro relativamente fraco, o casamento do Homem Aranha é um marco importante para a vida do personagem, algo que celebra o crescimento e o amadurecimento dele como pessoa.


Antes do casamento, quando Mary Jane se muda para o apartamento de solteiro de Peter (o mesmo onde ele vive desde que saiu do Queens, da casa da Tia May) ela já aceita melhor o fato dele ser o Homem Aranha, e convive bem com a vida heróica do namorado, algo que ela nem podia pensar anteriormente. Visando lucrar com as fotos tiradas dele mesmo em ação com sua câmera automática, o Aranha se lança em uma aventura atrás da outra para juntar dinheiro para o casório, enquanto MJ continua com seus trabalhos de modelo. O fato dela viver rodeada por pessoas ricas e famosas e acima de tudo por ela ser bem assediada por homens milionários incomodam o jovem Peter, e no decorrer da história nos é mostrado tudo que MJ troca para ficar com ele. Em certos momentos ela se mostra até mais empolgada com o casamento que o próprio rapaz, ganhando um vestido de noiva desenhado por Wili Smith (estilista na vida real que faleceu em 1990) e indo comemorar a despedida de solteira com os amigos, enquanto ele relembra Gwen o tempo todo.

Após uma conversa com Harry Osborn e Flash Thompson sobre casamento, todas as “minhocas” saem da cabeça de Peter e ele sobe ao altar com a moça, chegando mais atrasado que ela à igreja. A partir de então eles vivem felizes para sempre... até One More Day...


Após receber um par de passagens para Paris de um de seus admiradores, Mary Jane decide usá-las com o marido, e o casal Parker viaja para a sua tão aguardada lua de mel. Embora tudo transcorra bem no início, nem lá eles encontram paz, já que o misterioso Thomas Fireheart vulgo Puma vem no encalço do herói para lhe fazer uma proposta de emprego. Puma tem uma irritante dívida de honra com o Aranha que o impede de atacá-lo embora ele o odeie, e para que o emprego passe a ser do rapaz, Puma decide testá-lo em ação. Em uma história pra lá de clichê e chata, Puma coloca o Aranha em várias enrascadas longe de Nova York enquanto em sua vida social o casal Parker enfrenta o preconceito dos amigos milionários de Mary Jane que não a vêem como uma dona de casa e acabam esnobando Peter. Os desenhos de Lua de Mel ficam a cargo de Alan C. Kupperberg (que nunca ouvi falar), enquanto o argumento é feito por James C. Owsley (piorou).


Independente da força da história, o casamento do Homem Aranha marcou de vez a vida do personagem que amadureceu depois disso e passou a ter histórias mais divertidas com a “patroa” o aguardando em casa. Como casal Peter e Mary Jane sempre foram o símbolo de união e de cumplicidade o que dava um toque diferencial entre o Homem Aranha e outros heróis solteirões. O fato dele ser casado lhe dava maior responsabilidade, o que fazia jus ainda mais ao seu lema “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”. MJ deixou de ser a modelo avoada e festeira para se tornar a Sra. Parker, a mulher forte por trás do super-herói mais querido da vizinhança, enquanto ele deixou de ser o adolescente azarado para se tornar um homem de verdade. O público cresceu com o Aranha, e nada mais natural que essa evolução do personagem acontecesse mais cedo ou mais tarde. Se a união dos dois aconteceu de forma apressada, esse problema foi consertado no decorrer das histórias, enquanto o casamento dos dois solidificava a relação entre os dois personagens, e ambos davam grandes voltas por cima das adversidades diárias. E olhe que um cara com tantos inimigos mortais tem isso de sobra!


É uma pena que o fato do personagem ter se tornado adulto incomodou o editor-chefe atual da Marvel que não via possibilidades de se criar novas e boas histórias com o herói casado e pôs um ponto final na relação bacana que havia sido construída entre Peter e MJ com a polêmica saga One More Day, mas esse assunto já fica para um próximo post.
Fica um pouco da tristeza de ver tantos anos de história serem jogadas no lixo e bate uma saudade dos velhos tempos em que o Homem Aranha tinha uma razão mais do que forte para voltar para casa, para os braços da sua ruiva favorita.


NAMASTE!

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