22 de dezembro de 2010

A arte de ensinar

Quando eu era mais novo, na minha tenra idade, nunca me imaginei diante de uma sala de aula explicando o que quer que fosse para alguém. Eu era do tipo calado, tímido, que se assustava com a mínima possibilidade de se apresentar um trabalho diante dos colegas da escola. O tempo e a experiência acabaram me ensinando que aquele medo inicial, nada mais era do que o pavor de falhar diante de terceiros, mas aprendi que nem sempre a falha é sinônimo de fracasso pessoal. Como diria um certo mordomo a seu patrão ilustre: “Por que caímos, patrão Bruce?”. Para aprender a se levantar.
Há mais ou menos cinco anos lido com a importante e às vezes extenuante missão de passar meu conhecimento a outras pessoas, e em todos esses anos descobri que o professor, mais até do que em outras profissões, aprende muito mais do que ensina todos os dias. Incontáveis vezes me vi em sala surpreendido por uma pergunta de algum aluno do qual eu não sabia a resposta e aquilo me forçou a sair em busca de mais conhecimento. Outras tantas vezes algum aluno me mostrava formas mais simples de fazer a mesma coisa que eu havia explicado e não raro me vi diante da minha própria ignorância, rindo dela e admitindo que eu não era o dono da verdade, portanto também era passível de erro.
Ensinar algo a alguém não é uma tarefa simples nem tampouco automática. Ensinar exige acima de conhecimento, paciência em lidar com as mais diversas situações que podem ocorrer dentro de uma sala de aula e também saber lidar com os mais diversos tipos de alunos (e olhe que são muitos tipos!). Por mais que o conteúdo da matéria já esteja na ponta da língua, e que você saiba exatamente como conduzir a aula, nunca uma é idêntica à outra. As situações mudam de uma turma para a seguinte e o clima também é outro completamente diferente. Alguns aprendem com certa facilidade, outras aprendem com um pouco mais de empenho e sempre existe aquele que não consegue aprender seja lá qual for o método que o professor utilize. Com o tempo, aprendemos que nossos métodos de ensinar também precisam ser renovados, e até mesmo aquele aluno mais preguiçoso precisa sair satisfeito da aula e te deixando a sensação de dever cumprido. Dar aula é aprender coisas novas todo dia.
Não é o salário, não é o material usado e não é a pressão do chefe que motiva um professor de verdade. A grande motivação de um educador é o aluno. É o prazer de saber que aquilo que foi ensinado valeu a pena, senão para todos, pelo menos para uma boa parte da turma. Passar conhecimento causa uma satisfação indescritível, em especial quando percebemos que aquilo que foi dito atingiu alguém de forma positiva. Não há sensação mais prazerosa do que essa, nem motivação maior também do que saber que você fez a diferença, que você deu o seu melhor e que alguém fez bom uso disso. Só por isso vale a pena.
Sei que em cinco anos enfrentei muitas provações, encarei infortúnios, caí muitas vezes até aprender que aquilo fazia parte do aprendizado. Quando não caía naturalmente, tinha muita gente para tentar derrubar, mas chego ao final dessa etapa um tanto quanto satisfeito, apesar dos percalços, e sei que isso se deve ao fato de que minha consciência diz que de um jeito ou de outro eu fiz a coisa certa. Ao fim desse ciclo que sinto se encerrar com o fim do ano, me vejo feliz por ter feito mais bem do que mal a todos os alunos que tive a honra de conhecer. Alguns são meus amigos até hoje, outros se afastaram naturalmente e outros tantos hoje passam quase que despercebidos pela rua, não pelo desleixo do professor, mas pela minha total incapacidade de lembrar de tantos rostos e nomes. Acredite, são muitos!
Fiz a minha parte. A cada dia tentei dar o melhor de mim. Tenho a consciência que falhei algumas vezes, mas ninguém pode me acusar de não ter tentado. Espero de coração ter feito a diferença para meus alunos e espero que a retribuição venha na forma do sucesso que eles alcancem. Alguns vejo com orgulho, freqüentando escolas técnicas, faculdades e empregados em bons trabalhos, e sei que sou parte, mesmo que de uma fração ínfima, desse sucesso. Aprender é algo essencial para a vida, mas ensinar é uma arte tão essencial quanto. Sou grato por ter tido a oportunidade de ter sido um educador durante esse período e sou grato mais ainda aos alunos que me ensinaram mais do que eu ousava saber.

“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".
(Guimarães Rosa)
Dedicado às turmas QE1B e QF1B de 2010 e a todas as outras que as antecederam.


NAMASTE!

Um comentário:

  1. Tudo bem que ele só dedicou pras duas salas RUM, mas fico muito feliz em saber que entre tantos profissionais da área você é um "Feliz"!
    Já disse várias vezes e repito, foi você quem me motivou a estudar informática ! Sabe porque, porque lá em 2007 assim que iniciei como sua aluna, vi em você um exemplo a seguir, e com o passar do tempo fui percebendo a pessoa maravilhosa que é, não apenas como "educador" mais como pessoa.
    Obrigada pela "sementinha que plantou em mim" estou cultivando-a , espero dar bons frutos!

    Eterna aprendiz ;D♥

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