25 de dezembro de 2010

Eu vi: Sherlock Holmes

Passei uma longa temporada sem ir ao cinema (e olhe que esse é meu passatempo favorito em dias de folga), e entre muitos filmes que entraram e saíram do circuito sem que eu tivesse visto está Sherlock Holmes de Guy Ritchie (de Snatch: Porcos e Diamantes, mas você deve conhecê-lo melhor como o ex-marido da Madonna).
É raro acontecer, mas senti aquela pontadinha de arrependimento por não ter visto o filme na tela grande enquanto assistia no sofá da sala de casa. Com certeza perdi um dos grandes filmes do ano, mas felizmente consegui reparar essa minha falha à tempo adquirindo o DVD.
Assim como vem acontecendo com personagens clássicos da literatura e também do cinema, Sherlock Holmes é uma reconstrução do que já se conhece do personagem, e poderíamos dizer que é o que Casino Royale de Martin Campbell fez com o nome do 007.
A visão apurada de Guy Ritchie cria um clima delicioso de mistério, ação e comédia para o filme do maior detetive do mundo (Chupa, Batman!), e não é que não vemos mais o velho Holmes na trama, ele está lá com seu método científico e sua dedução lógica, mas está envolto num invólucro chamado Robert Downey Jr. que de uns tempos pra cá tem incorporado tão bem os personagens que interpreta que em um dado momento parece que eles se mesclam.

O filme apresenta similaridades com Piratas do Caribe no tom cômico e aventureiro, por vezes tem um ritmo meio caricato tal qual Bater ou Correr (com Jackie Chan e Owen Wilson) e é impossível também não ver um quê de Tony Stark (o Homem de Ferro) no Holmes de Downey Jr., incluindo aí um pouco da arrogância do personagem e aquele ar de "eu sou foda e não me envergonho disso". Downey Jr. parece se sentir muito (muito mesmo) à vontade com esse tipo de papel, e se seu Sherlock não fosse um personagem extremamente cativante teríamos tanto ódio dele quanto seus adversários.
Sir Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes sempre descreveu seu detetive como uma pessoa arrogante, que está correta sobre inúmeros assuntos e com palpites certeiros. Costuma não demonstrar muitos traços de sentimentalismo, preferindo o lado racional de ser além de apresentar-se como alguém extremamente orgulhoso. Holmes possui também alguns hábitos peculiares como a prática de artes marciais, boxe, esgrima de armas brancas e de bengala, e quase todos esses traços de personalidade e aptidões físicas estão presentes durante as mais de duas horas do filme.
Até aí não há descaracterizações, exceto o fato de Downey Jr. ser americano e não possuir o sotaque inglês clássico (destoando e muito de seu colega de cena Jude Law, britânico legítimo). Poderíamos dizer que o Holmes que vemos em cena está "disfarçado de americano", tanto em hábitos quanto em suas falas, mas isso não é algo pungente, e de fato não chega a incomodar (pelo menos não como ver um inglês interpretar o Justiceiro, como comentei aqui).

O ritmo do filme é excelente e de cena em cena somos surpreendidos(assim como nos livros) com o poder dedutivo de Sherlock Holmes, brilhantemente enfatizado. Um dos fatos muito comentados nessa adaptação é que veríamos um Sherlock demonstrando mais aptidões físicas (como as já citadas) do que seu raciocínio lógico, e embora só metade dessa informação esteja correta, vemos sim o bom e velho detetive “botando para quebrar” com os inimigos, coisa que nunca tinha lido nas páginas de Conan Doyle (não que eu seja um perito, só li um livro até hoje do autor).
A descrição dos pontos do corpo do adversário que irá atingir e o estrago que tais golpes irão causar é fantástica, e isso acaba acrescendo bastante ao personagem, já que ele deve ser alguém com velocidade de raciocínio superior a um humano médio. Não faria sentido um detetive tão inteligente e argucioso se valer apenas de armas para resolver suas pendengas, e vale lembrar que essas características não foram inventadas, já que o próprio Doyle as menciona em suas histórias, embora nunca explique exatamente como Holmes aprendeu tudo que sabe. Há pelo menos duas cenas no filme de Ritchie em que Holmes explica o que irá fazer com o adversário usando golpes certeiros em pontos estratégicos com suas habilidades marciais, e em nenhum momento é necessário mostrar fraturas expostas ou o raio x de ossos se partindo (Lembra de Romeu tem que morrer?). Tudo é feito com a classe e elegância inglesa, como manda o figurino.

Na história escrita por Anthony Peckman, Holmes e seu fiel amigo, o Dr. Watson (vivido magistralmente por Jude Law) estão num hiato de investigações, e o detetive se vê tedioso após resolver seu último caso, levando à justiça o perigoso Blackwood (Mark Strong), um homem envolvido com rituais satânicos de magia. Sem um grande caso para trabalhar e sem ter o que ocupar sua mente, Holmes recebe a visita da única mulher que conseguiu enganá-lo em todo aquele tempo, a astuciosa Irene Adler (Rachel McAdams de Penetras bons de bico). Enquanto investiga o homem desaparecido que sua antiga amante lhe pede em missão, Holmes se vê as voltas com a impressionante ressurreição de Blackwood, o homem que ele ajudou a prender e que supostamente fora enforcado como punição. A trama se desenrola a partir desse ponto e Holmes é obrigado a usar toda seu poder dedutivo para resolver o mistério dos dois casos, que sem que ele saiba estão intimamente ligados.


O filme é excelente. Tem doses muito bem empregadas de todos os elementos cinematográficos que ajudam a fazer uma ótima produção, e vale muito a pena ser conferido por aquele que não tem medo de ser feliz. Holmes não é um detetive chato embora seja cheio de si, e as situações pelo qual ele passa (mesmo as de humor, que poderiam ser descartadas) fazem com que ele cresça a olhos vistos durante a película. O Dr. Watson, dividido em começar a viver uma vida sem investigações criminais ao lado da pretendente Mary (Kelly Reilly) e continuar ajudando o parceiro a resolver seus casos acaba se tornando um personagem bem interessante e rico, bem mais do que um mero coadjuvante. É o primeiro filme que vejo de Jude Law em que ele participa de cenas de ação, embora agora só me venham à mente dois que contam com sua presença, AI: Inteligência Artificial e Closer.

Mark Strong (que é as fuças do Andy Garcia) está perfeito como o vilão da história e é difícil imaginá-lo interpretando um personagem bonzinho devido aquela sua cara de pilantra. Ele já foi o gangster Frank Damico em Kick Ass e ano que vem estará na pele de Sinestro, o tutor de Hal Jordan nos cinemas, no aguardado Lanterna Verde.

Rachel McAdams que além de ser uma graça é excelente atriz, convence no papel da "Mulher Gato" da vida de Sherlock Holmes e suas cenas com Downey Jr. passam todo o realismo de alguém capaz de enganar o maior detetive do mundo. Aliás não há homem no mundo capaz de resistir ao charme de uma bela mulher, seja ele o mais inteligente do mundo ou o mais burro.
Indico Sherlock Holmes pra quem ainda não viu sem receio. Assista sem medo que as mudanças no personagem tenham sido radicais demais porque não são. Muita coisa foi alterada, mas o espírito do personagem ainda está lá mais vivaz do que nunca e isso é elementar, meu caro Watson.

NOTA: 9




Vale lembrar que a produção de Sherlock Holmes 2 já está em andamento, e o detetive enfrentará seu adversário mais clássico, o Profº Moriarty que já mexe seus pauzinhos nesse primeiro filme manipulando as ações de Irene.

NAMASTE!

Um comentário:

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