13 de dezembro de 2010

Wikileaks e a liberdade de expressão

Ainda não é possível prever como será a partir de 2011, mas esse ano que segue já em agonia para o fim, foi marcado por cerceamentos da liberdade de expressão midiática, ou para os mais temerários, marcado pelo fantasma da censura e do autoritarismo.

Para quem não lembra, ou prefere esquecer, o próprio Presidente Lula que em breve estará de pijama em sua casa (longe do Planalto, de preferência) fez acusações mordazes quanto ao direito de imprensa de se expressar. Não só isso, acusou alguns meio de comunicação de fazer campanha contra sua candidata (a agora eleita Dilma), de estarem disfarçados de partidos de oposição e de não estarem publicando notícias corretamente. Em outras palavras, de não estarem puxando seu saco.

Todo esse ressentimento começou após os escândalos da Casa Civil que culminaram, coincidentemente ou não, com o afastamento do até então braço direito de Dilma Roussef quando esta ainda era a chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. Se alguns meios midiáticos são de oposição ao governo e às vezes o atacam ferrenhamente, eles nada mais estão fazendo do que exercendo sua liberdade de falar e escrever o que quiserem num país considerado democrático. Não vivemos num regime autoritário em que corremos o risco de sermos queimados em praça pública apenas pela coragem de expor falcatruas e libertinagens com dinheiro alheio. Pelo menos não vivemos ainda. 2011 a Deus pertence. Também não temos (e eu volto a insistir no ainda) uma cartilha governamental a seguir que diz o que é correto e o que não é correto dizer em blogs, jornais e revistas, segundo seus próprios termos. Temos sim um compromisso com a verdade, seja ela pró ou contra os manda-chuvas, e disso não devemos abrir mão.

Se no Brasil, um país de terceiro Mundo emergente, a mídia já começa a sofrer problemas de cerceamento da liberdade imagine no exterior, onde esse processo costuma ser ainda mais rígido!

Semana retrasada estouraram notícias sobre a publicação de 250 mil documentos sigilosos de diplomacia americana, incluindo informações ácidas sobre diferentes relações com vários países, estando o Brasil nessa lista. O site Wikileaks (que significa algo como “Vazamentos Rápidos”) ganhou as primeiras páginas de vários jornais e portais de Internet ao liberar tais informações, retomando o debate de até onde vai a liberdade de expressão.

Lançado em 2006 (embora eu nunca tenha ouvido falar antes) por dissidentes , jornalistas, matemáticos e tecnólogos de diferentes países e dirigido pelo australiano Julian Assange, o WikiLeaks foi criado sem fins lucrativos e baseado em alguns dos princípios de informação livre, para divulgar posts de fontes anônimas contendo fotos, vídeos e documentos confidencias vazados de empresas e governos, sobre assuntos sensíveis. Vocês leram certo. Informação livre.

Embora o site não divulgue nenhuma invenção ou boato, ataques de diversas partes e fontes, em especial americanas começaram a ser deflagrados contra o site e seus criadores, o que colocou o nome de Julian Assange na lista de procurados da Interpol devido a polêmica gerada pelos documentos divulgados.

Em julho deste ano, o Wikileaks já havia publicado 91 mil relatórios sobre a Guerra do Afeganistão (que revelam crimes de guerra e um nível mais amplo e denso de violência no Afeganistão do que já foi divulgado pelos militares ou reportado pela mídia) causando o desconforto dos americanos que são os principais (ir) responsáveis por sua duração até hoje. A rede possui o aval de importantes jornais mundiais (inclusive americanos) como o New York Times e a revista alemã Der Spiegel, que funcionam como consultores para a que o site não publique nenhuma inverdade. Embora isso seja usado, é a cúpula do site que decide se publica ou não determinado assunto, levando em conta o grau de “secretismo” no qual cada um deles é classificado.

Assim como no Brasil que os meios de comunicação são acusados de serem “do contra” por não compactuarem 100% com as opiniões e ações do Governo, os Estados Unidos se viram contrariados quando documentos revelando os detalhes podres da sua guerra foram publicados, o que levou o país a tomar medidas para "punir" os responsáveis. Punição, a meu ver, deve ser executada para quem infringe leis e não para quem defende a liberdade de informação. Não é de hoje que esse direito é deliberadamente violado.


Movidos por essa indignação, hackers começaram a invadir o sistema de órgãos que apoiavam a ação americana de “punir” os idealizadores do Wikileaks (derrubando muitos deles) e isso provocou uma discussão que dividiu as pessoas em prós e contras à exibição desses documentos secretos. Embora alguns acidentes diplomáticos possam ser causados (como no caso da diplomata americana que afirmou que Lula estava “cacarejando” suas conquistas ambientais e sua capacidade de costurar um acordo), em sua quase totalidade os documentos exibidos pelo Wikileaks servem para expor tudo aquilo que vai para baixo do tapete, e que os poderosos escondem em nome da falsa moral. Como bem disse um dos hackers que agiram contra o sistema da Mastercardé preciso defender uma sólida posição sobre censura e liberdade de expressão na internet e nos voltamos contra os que buscam destruí-la por qualquer meio”, e assim deveria ser encarado por todas as pessoas, não exatamente invadindo sites, claro, por que isso é um ato tão infrator quanto cercear a liberdade de expressão. O simples ato de vociferar contra a censura, entrar nas redes sociais e apoiar as ações do Wikileaks já ajuda, e um manifesto em prol da causa esteve circulando no Twitter essa semana com esse intuito. Acesse e assine você também. A causa é válida!

Antes que me classifiquem como anarquista, comunistinha de faculdade ou Tucano (o que seria uma disparidade) devo alegar que essa é a minha opinião sobre os fatos acima apresentados e não estou movido por partido A ou B. Apoio os ideais do Wikleaks e nesse caso não há mal nenhum que o circo pegue fogo de vez em quando, desde que a verdade venha à tona. Já no nosso circo tupiniquim é sempre bom lembrar que o panem et circenses continua mais forte do que nunca, causando aquela anestesiante sensação de bem estar. Só não podemos deixar que a lona do circo cubra todos os vestígios de corrupção e falcatruas, calando (cegando e amordaçando) de vez o nosso mais precioso bem: o direito da palavra, seja ela escrita ou não.

Olho no autoritarismo e na censura, gente. Nunca se sabe quando esses fantasmas poderão retornar.



NAMASTE!

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