29 de março de 2013

Review: Vai que dá certo!


Confesso que não fui ver Vai que dá certo pela empolgação, pelo “elenco estelar” de comediantes que atuam no filme e nem pela profundidade da história. Eu estava a fim de zerar um pouco o QI devido as “correria” diária, e escolhi vê-lo devido o calor do momento. Nada premeditado.

Dirigido por Maurício Farias (que entre outros longas também dirigiu O Coronel e o Lobisomem e o filme da Grande Família) e com uma produção de certa forma modesta (bancada, claro, pela Globo Filmes), a comédia brasileira surpreende em alguns momentos enchendo o roteiro de referências Nerds e fazendo graça com o que sabe criar melhor: Situações esdrúxulas.

Ora, mas do que podemos reclamar? O cinema estrangeiro vive fazendo isso com Adam Sandler, Owen Wilson e Vince Vaughn. Acho válido que o cinema nacional esteja, ao menos, mostrando indícios que quer sair da mesmice, embora insista na velha fórmula do humor televisivo.


Mesmo usando e abusando de citações a elementos de filmes e jogos estrangeiros, Vai que dá certo mostra bastante da realidade brasileira, e não deixa o espectador entediado um só minuto. A todo momentos estamos caindo na gargalhada, e a qualidade do elenco é um ponto fortíssimo a ser levantado, já que a linha de roteiro fraca se segura o tempo todo por causa dos atores.

No enredo, um grupo de amigos trintões encabeçados por Rodrigo (Danton Mello) decide assaltar um carro-forte cheio da grana, tendo o serviço facilitado por Danilo (Lúcio Mauro Filho) que trabalha na firma de segurança que faz o transporte de dinheiro de bancos. Claro que devido à inexperiência dos caras no ramo criminoso nada dá certo, e o que faz a diversão do público são justamente as situações criadas depois do assalto mal sucedido. Cada vez mais enrolados com traficantes de armas e a Polícia, os caras vão de uma medida desesperada a outra, lembrando bastante a narrativa do primeiro Se Beber não Case. Numa dessas medidas, eles decidem recorrer ao único amigo que parece ter se dado bem na vida, o político Paulo (Bruno Mazzeo).


Além das sacadas Nerds, uma vez que alguns dos amigos são donos de uma loja de games e só falam disso quase que 100% do tempo, das referências a filmes (a discussão sobre quem come mais mulher, se é o 007 ou o Batman é hilária!), eu curti bastante o drama da vida pessoal dos caras. Na casa dos trinta anos, nenhum deles possui um emprego estável ou qualquer perspectiva de melhora na vida, o que reflete bastante a situação de muitos brasileiros nessa mesma faixa etária. Rodrigo é um músico falido que por não conseguir honrar seus compromissos acaba sendo demitido do bar onde toca piano, e isso, consequentemente, faz com que ele seja abandonado pela esposa. Literalmente na merda, ele decide considerar a ideia de seu primo Danilo para o assalto, e para isso ele chama os amigos de infância para ajudá-lo na empreitada. Vai que dá certo, né!


Dizem que a vida começa aos quarenta, a nossa já acabou antes dos trinta!

Menos talentoso que o irmão Selton, Danton Mello não compromete no papel principal, que também não exige muito de sua veia artística. O restante do elenco, mais acostumado com o humor, deita e rola em suas caracterizações, em especial Fabio Porchat que tem se tornado figurinha carimbada em vídeos para Internet (Porta dos Fundos) e também na TV, em programas do Multishow, na Zorra Total e até na Grande Família. Seu personagem é um dos mais engraçados do filme, e serviu para mostrar que o cara tem tudo para se tornar um astro da comédia brasileira, quem sabe nos cinemas.


O filme também dá destaque a outros atores acostumados com a comédia, como o veterano Lúcio Mauro (Pai), Felipe Abib, Gregório Duvivier e Natália Lage. A narrativa falha miseravelmente em seu desfecho, dando a aquela impressão de “nhé” ao espectador nos minutos finais, mas até ali o público já deu tanta risada com o humor bobo e fácil, que ninguém liga pra isso.

Vai que dá certo não vai mudar sua vida e nem ficará na sua memória para sempre (15 minutos depois eu já tinha esquecido o filme), mas vale o ingresso e as boas horas de diversão proporcionadas.


Nota: 7

Ps.: Durante o filme me lembrei que eu era apaixonado pela Natália Lage em minha infância, quando ela interpretava a Tuca, filha da Vera Fischer na novela Perigosas Peruas. E sim, estou denunciando minha idade com esse comentário.

NAMASTE!

17 de março de 2013

Chorão - Só os Loucos Sabem

 
O ano de 1997 foi uma espécie de hiato para o Rock N’ Roll brasileiro. Ainda estávamos de luto por causa dos Mamonas Assassinas, os Raimundos já faziam algum sucesso, mas permaneciam no underground, A Legião Urbana havia se desfeito devido a morte de seu líder e vocalista Renato Russo, o Capital Inicial estava no ostracismo e bandas como O Rappa  e Detonautas ainda não tinham estourado para o grande público. Havia apenas o silêncio musical, e ele incomodava.

O álbum Transpiração Contínua Prolongada do Charlie Brown Jr. lançado nesse mesmo ano e produzido por Rick Bonadio (também produtor dos Mamonas) veio para mexer as estruturas do Rock no Brasil, iniciando um crescente que ainda duraria longos anos, todos eles aproveitados por mim em minha adolescência de ouvinte da 89 FM, a Rádio Rock!



Músicas como o “Coro vai comê”, “Proibida pra mim” e “Tudo que ela gosta de escutar” começaram a estourar na maioria das rádios do país, e os garotos de Santos começaram a ganhar projeção nacional com seu som que misturava punk rock, reggae e skate music. As letras, em sua grande maioria escritas por Chorão, tratavam da realidade daqueles moleques de baixa renda que já haviam vivido várias mazelas em sua vida, e essa foi uma das grandes razões pela qual o público se identificou com o Charlie Brown Jr. Havia muito de verdade naqueles versos.  
  

O segundo disco, lançado em 1999 Preço Curto... Prazo Longo é pra mim, o melhor da carreira de quase 20 anos da banda, e possui uma porção dos maiores sucessos dos caras como “Vou te levar” (tema da Malhação durante 7 anos), “Zóio de Lula” (que imortalizou a célebre frase “meu escritório é na praia, e eu tô sempre na área”), “Confisco”, “Não deixe o mar te engolir” e “O Preço”, onde Chorão conta sua história de garoto pobre que se tornou um astro do rock. 



Dificuldade então
Passava eu, meu pai, minha família e meus irmãos
Sem perceber larguei a escola
E fui pra rua aprender
Andar de skate, tocar, é
Corre pra ver o mar


Nessa época as letras das músicas do Charlie Brown já estavam na ponta da língua, e embora eu nunca tivesse passado fome na infância, vivido nas ruas, andado de skate e nem tampouco me juntado a galera “maloqueira” (tipo a turma do fundão das escolas) eu também me identificava com suas canções, em especial pelo tom de protesto que elas traziam, algo que naquele mesmo período só era possível se escutar com o Rap, na boca de caras como Mano Brown (dos Racionais Mc’s) e do Gabriel, O Pensador, outro que fez o caminho inverso, foi do asfalto para o morro para ver “qualé que é”. 


Chorão possuía toda a atitude Rock N’ Roll já tradicional de astros que, como ele, subiam ao palco e faziam a galera pular com seu som. Ele nos passava a imagem de “marrento” e encrenqueiro, e não fugiu dos estereótipos, arrumando confusão com outros artistas (Marcelo Camelo manda abraços), com fãs que questionavam as escolhas que ele e a banda haviam feito em sua carreira, e com os próprios amigos de grupo, ocasionando até a separação do Charlie Brown Jr. em 2005. Tudo isso, no entanto, era apenas uma imagem externa e precipitada de um cara, apontado por pessoas próximas, como sendo o contrário disso. Nós que não tivemos uma convivência com o cara, não precisamos nos ater apenas a relatos de familiares ou amigos para sabermos quem, afinal, foi Alexandre Magno. Sua obra era um diário aberto de sua vida. Suas músicas diziam tudo que ele pensava, sentia e fazia, e não é difícil fazer uma bela análise da vida de Chorão apenas ouvindo as músicas que ele escrevia.

 
 
Se por um lado “Rubão” ("Pago pra vê tcharroladrão"), “Confisco” ("Eu sou da lei seu trouxa, eu confisco") “Papo Reto” ("Eu vou fazer de um jeito Que ela não vai esquecer") nos inspiram a gritar e entrar num bate-cabeça, Chorão sempre soube dosar seu lado, digamos assim, mais sensível e romântico em letras que todo cara gostaria de cantar um dia para uma garota. “Hoje eu acordei feliz”, “Como tudo deve ser” e “Vícios e Virtudes” são bons exemplos que a “mente nem sempre tão lúcida” de Chorão às vezes não queria tão somente protestar contra as injustiças do mundo. Ele também era o cara que mesmo “achando legal ser errado” queria conquistar a garota dos sonhos, e que a queria “levar dali”, para um lugar melhor. Esse era o Chorão que nós aprendemos a gostar, e nenhum de nós imaginava que seu fim seria tão semelhante ao de vários astros de rock em decadência com a qual fomos obrigados a entrar de luto ao longo dos tempos. Uma pena.



O dia 06 de Março começou triste com a notícia de que Chorão havia sido encontrado morto em seu apartamento de Pinheiros. Recebi a notícia logo de manhã pelo Twitter, e acompanhei por todo aquele dia o desenrolar dos fatos, até saber que as circunstâncias de sua morte eram bem parecidas com a de outros roqueiros como Kurt Cobain, que também havia sido encontrado morto em seu apartamento depois de alguns dias. Embora algumas letras de suas músicas ("parecia inofensiva, mas te dominou") e sua atitude bad boy dessem indícios, eu nunca imaginei que Chorão fosse um usuário de drogas hardcore, e demorei a acreditar que essa fosse a principal causa de sua morte prematura. Infelizmente, todos aqueles problemas que ele parecia ter superado vieram à tona ("o homem quando está em paz não quer guerra com ninguém"), e ele se rendeu diante de um inimigo muito poderoso que parecia ter combatido a vida todo e nos ensinado a também combater com sua música: As Drogas



A meu ver o suicídio não é um ato de fraqueza extrema como muitos apontam, e sim um ato de liberdade. A vida nos dá diversas maneiras de “lutar pelo que é meu” e de encarar nossos problemas com coragem, mas nem sempre somos fortes o suficiente, e todo mundo tem o direito de se render diante de uma derrota iminente. Chorão se rendeu, e não acho que sua decisão deva ser julgada, e sim tomada como lição. Se a separação da esposa Graziela Gonçalves, que muitos apontavam ser seu Porto Seguro, o levou ao fundo do poço, talvez isso pudesse ser reversível, mas ele decidiu não lutar contra isso e se libertou. Só podemos desejar sorte a esse cara que inspirou grandes pensamentos e muita diversão com sua música. Que agora ele encontre a paz que almejava, e que esteja “livre pra poder sorrir, livre pra poder buscar o seu lugar ao sol”.



As músicas que Chorão escreveu continuarão a tocar ad infinitum enquanto seus fãs recorrerem a seus versos para exprimirem algum sentimento reprimido, e assim como todas as lendas do Rock, ele vai ser lembrado mais por sua obra do que pelas circunstâncias trágicas de sua morte. Com certeza ele já deixou saudades.

Por um longo período, Chorão, Champignon, Pelado, Castanho e todos que vieram depois do fim da formação original do Charlie Brown Jr. fizeram parte de nossas vidas, e continuarão fazendo, até mesmo porque a música e o Rock N' Roll são elementos que nenhuma droga pode corromper, e isso só os loucos sabem


NAMASTE!

3 de março de 2013

Jack quase um Estripador - A Sombra do Inimigo



 

A Sombra do Inimigo ou Alex Cross, em seu título original, é um thriller de ação policial dirigido por Rob Cohen, lançado em 2012, que chegou ao conhecimento do público brasileiro por um simples detalhe: A transformação física pelo qual o ator Matthew Fox (o Jack de LOST) precisou passar para interpretar o vilão da história. De outra forma, acho que dificilmente o longa receberia algum destaque na mídia não especializada em cinema. 


Confesso que poucas coisas me interessavam no filme além de ver a volta de Matthew Fox às telas depois de uma longa ausência com o fim do seriado LOST. Sempre torci para que o elenco da série engrenasse também em outros veículos e fizesse sucesso devido a grande empatia que praticamente todos eles criaram com o público que os acompanhou (e sofreu!) ao longo das seis temporadas, e ver Josh Holloway em Missão Impossível 4 (mesmo que fazendo só uma ponta), Evangeline Lilly ao lado de Hugh Jackman em Gigantes de Aço e o próprio Matthew Fox em A Sombra do Inimigo é bem gratificante.



O filme, que não é nenhuma obra-prima, e que aliás, está bem longe disso, conta a história do psicólogo e investigador da Polícia Alex Cross (Tyler Perry), que se vê envolvido em um alarmante caso de homicídio com requintes de crueldade bem próximo de seu distrito em Detroit. Brilhante detetive e com alguns toques de sagacidade de Sam Gerard (o investigador linha-dura interpretado por Tommy Lee Jones em O Fugitivo), Cross deduz sozinho, ao investigar a cena do crime, que não estão lidando com um amador, e sim com um competente e sádico sociopata.


Pesquisando pelo termo utilizado no filme para definir o personagem de Matthew Fox (que no filme só é chamado de “Picasso” devido sua habilidade em desenhar suas vítimas à carvão), descobri a seguinte definição: “Os sociopatas são indivíduos egocêntricos, desprovidos de valores morais, que desprezam a sociedade, suas leis e obrigações, assim como as outras pessoas, inclusive os próprios filhos. Por isso, não se apiedam ou sentem remorsos, o que os impede de se modificarem, mesmo se punidos". Ao longo do filme "Picasso" mostra muitos traços de sociopatia que se difere do psicopata clássico apenas pelo nome. O sociopata, assim como o psicopata tende a ser uma pessoa solitária e antissocial que não gosta de ser contrariada, além de reagir com violência exagerada quando isso acontece, atitudes que o personagem toma diversas vezes na história.



Embora de início isso não fique bem claro, “Picasso” ou Jack Shephard, como vou chamá-lo pelo resto do post, usa suas habilidades criminosas em nome de outra pessoa, e o talentoso detetive Alex Cross só entra para sua lista de alvos quando começa a investigar o caso da morte de uma moça tailandesa, misteriosamente ligada a um poderoso magnata vivido pelo segundo francês mais popular de Hollywood, Jean Reno. Decidido a impedir a morte do próximo nome da lista de Jack, Cross e seu fiel companheiro de “lavoroTommy Kane (Edward Burns) acabam ficando no caminho do homicida, que decide aumentar sua coleção de desafetos, caçando e ameaçando tanto Cross e Kane quanto seus entes queridos. 


Enquanto Alex Cross, pai de família dedicado além de policial exemplar, utiliza deduções psicológicas para tentar antever os passos de seu perigoso adversário, Jack Shephard utiliza de meios avançados e tecnologia para “tocar o terror” em Detroit, e é exatamente assim que ele chega à família de Cross, causando a morte de alguém muito próximo ao detetive.



A trama do filme não chega a ser ruim, porém, a meu ver, houve um descuido por parte de Rob Cohen (que entre outros filmes dirigiu o primeiro Velozes e Furiosos) com vários elementos de A Sombra do Inimigo, em especial em sua tentativa pífia de dramatizar algumas cenas e de intercalá-las com ação desenfreada. O segundo grande erro de Cohen foi com o protagonista, que além de não conseguir cativar o espectador (pelo menos a mim que nunca o tinha visto atuar antes), não conseguiu passar a dramatização que Cohen pretendia dar em alguns momentos do filme, em especial após os eventos ocorridos na cena em que um de seus entes queridos morre pelas mãos de Jack. Tyler Perry não emociona e tampouco nos convence quando sai em sua busca implacável por vingança. Fiquei imaginando o que Denzel Washington ou Jamie Foxx fariam no lugar de Perry com esse mesmo papel!



Em contrapartida, Matthew Fox está muito bem como o sociopata piradaço. O ator consegue dosar muito bem os momentos de violência pura e simples de seu personagem com os de frieza extrema, e aqueles olhos arregalados que nos acostumamos a ver quando o Jack de LOST ficava puto da vida, funcionaram muito bem em seu primeiro vilão. 


A dedicação de Fox em perder 18 quilos para o papel e a de definir o corpo com o treinador Simon Waterson, que entre outras coisas ajudou Chris Evans a ganhar massa para viver Steve Rogers no filme do Capitão América, à princípio, me fizeram acreditar que ele estava envolvido em um filme realmente grandioso, mas além de sua excelente interpretação e a estranheza que seu corpo magro e trincado (quase como Robert De Niro em Taxi Driver) causam na tela, o filme não passa muito disso
 
"You talkin' to me??"


Alex Cross, como vim a saber posteriormente, é um personagem criado por James Patterson para uma série de livros, e já havia sido interpretado por Morgan Freeman em dois filmes, Beijos que Matam e Na Teia da Aranha, filme que assisti em minha adolescência, mas que seria incapaz de descrever aqui seu enredo hoje em dia. Talvez se Cohen tivesse escolhido melhor seu protagonista e não tivesse errado tanto nas cenas dramáticas e na montagem, A Sombra do Inimigo pudesse ter sido um filme mais memorável e digno de se colocar no currículo. 


Pra quem, assim como eu, é fã de LOST e de seu talentoso elenco, vale a pena conferir a atuação de Matthew Fox, e imaginar o que teria acontecido ao Jack se ele tivesse escapado da ilha e se tornado um cruel sociopata.


NOTA: 7


Ps.: Jean Reno interpreta um milionário francês que apresenta um curioso plano de modernizar Detroit, e batiza o projeto de Nova Detroit. Seria esse o começo dos planos de conquista e a ascensão da OCP, a empresa futurista que cria o Robocop??  

Ps. 2: Com as pesquisas para escrever esse post, descobri que possuo alguns traços de psicopatia! 


Fontes:

O que é um Sociopata?


  
Qual a diferença entre Sociopata e Psicopata?





NAMASTE!

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