10 de maio de 2018

Review - Vingadores - Guerra Infinita


A saga do Infinito da Marvel começou lá nos anos 90 com Desafio Infinito, escrita por Jim Starlin (o pai das sagas cósmicas da Marvel) e desenhada por George Perez e Ron Lin. Após a busca incessante de Thanos, o Titã Louco, pelas joias do infinito, artefatos tão antigos quanto o universo e detentores de poderes incomensuráveis (“Não acredito que você usou a palavra incomensurável”!), ele as conseguiu reunir em uma manopla capaz de conter e manipular tais poderes, tornando-se assim, nas palavras de Mefisto, seu acompanhante nessa aventura, um deus! Com os poderes de um deus em mãos, Thanos tinha então um só objetivo: Dizimar metade da população do universo e presentear sua amada Morte (a entidade) com esse genocídio. Desafio Infinito nada mais era do que a história de um cara que foi até os confins do universo para buscar o poder necessário para impressionar a mulher que ele amava... E falhou!



Quando o título do terceiro filme dos Vingadores foi divulgado, todo mundo que havia lido Desafio Infinito achou que já sabia qual ia ser o enredo do filme (incluindo seu final), embora Guerra Infinita se tratasse de outra saga distinta, na qual Thanos ajudava os heróis a recuperar a manopla do infinito das mãos de Magus, a contraparte maligna de Adam Warlock. Em Desafio Infinito, Thanos aniquila metade do mundo para agradar a Morte, e nesse percalço ele acaba enfrentando as grandes figuras heroicas da Marvel, num conflito de grandes proporções onde, entre outras coisas, ele transforma os ossos do Wolverine em borracha, empala o Homem Aranha e mata o Capitão América com um tabefe.



Bem, caro padawan... Não é bem assim que as coisas se desenrolam nos cinemas com Vingadores Guerra Infinita, e essa foi a beleza da coisa de acompanhar as quase três horas de projeção do filme. Rolam altas surpresas APESAR da chuva de spoilers que tomou a internet depois que um tal “roteiro vazado” de Infinity War começou a percorrer as principais rodas de conversa nerds pelo mundo.

Em seu primeiro fim de semana de exibição, o filme já ultrapassou a impressionante marca de US$ 250 milhões de bilheteria, deixando para trás o até então imbatível Star Wars – The Force Awakens. Dirigido pelos irmãos Anthony e Joseph Russo (os mesmos de Capitão América - Soldado Invernal e Capitão América - Guerra Civil), Guerra Infinita conta com as colaborações (creditados como produtores executivos) de James Gunn e Stan Lee, além da composição musical de Alan Silvestri, que também assinou a trilha original de Capitão América - O Primeiro Vingador e dos próprios Vingadores.



É difícil começar a falar sobre o filme sem já se rasgar em elogios, uma vez que Guerra Infinita tem sido visto como a primeira parte de uma DESPEDIDA gigantesca desse universo cinematográfico que temos acompanhado há 10 anos, o que naturalmente cria grande comoção em se tratando de um fã de quadrinhos. Por ser algo de dimensões tão grandes (começando pelo elenco!), havia um receio no ar de que desse UMA MERDA CATASTRÓFICA, mas dentro de todas as circunstâncias negativas, a Marvel Studios e seus executivos conseguiram provar que eles SEMPRE estiveram no controle da bagaça, colocando não só muito dinheiro muito empenho, como também um coração enorme em seu trabalho. É notável todo o cuidado que existe para tentar amarrar todas as pontas soltas nesses dez anos de produções, e claro que tudo gira em torno da figura de Thanos (Josh Brolin), que afinal, sempre esteve presente, à espreita, esperando o momento certo para agir e concretizar seu plano.



E qual é o plano de Thanos, Rodman? Conquistar a sua amada Morte?

Porra nenhuma, caro padawan!

Thanos não é um homem falho como nós, que move mundos e fundos para conquistar uma mulher, que no final está pouco se fodendo para ele. Nada disso! A motivação de Thanos é muito mais crível, e embora seus métodos sejam de certa forma questionáveis, é bem difícil que em alguns momentos a gente não tenha um pouco de empatia pelo gigante roxo e veja sentido em seu plano.


O olhar frio da Morte fez eu me lembrar da minha ex!!

Não fica claro por quanto tempo o titã esteve em busca das joias do infinito ao longo do filme, mas sua motivação em reunir as joias do poder, da realidade, da alma, do tempo, do espaço e da mente é pura e simplesmente reduzir a população universal para evitar o caos total da finitude de recursos. 



Planetas inteiros acabam se consumindo pelo excesso de bocas e da escassez de alimentos para sustentar toda essa gente, e somente alguém com o poder das joias e a vontade necessária para tal ação pode ser capaz disso. O diálogo entre Thanos e Gamora (Zoe Saldanha) no interior da Santuário II, a nave do titã onde ela passou boa parte da infância, explicita de forma simples e didática a motivação do gigante em possuir as seis joias. Ao ser questionado pelo Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) sobre o que viria depois do genocídio cósmico, ele simplesmente responde: “Eu vou finalmente poder sentar e descansar, vendo um universo agradecido”. 



Guerra Infinita é um filme tão frenético que temos pouco tempo para parar e respirar, e esse ritmo acelerado faz TODO sentido, já que há poucos personagens para se apresentar e muita história para contar. No início do filme Thanos já possui a joia do poder em sua manopla, artefato que ele conseguiu após destruir Xandar, o planeta da tropa Nova que vimos em Guardiões da Galáxia 1. Numa sequência fantástica, ele e seus quatro asseclas Corvus Glaive, Próxima Meia-Noite, Seletor Obsidiano e Fauce de Ébano invadem a nave de escape asgardiana onde Thor (Chris Hemsworth), Loki (Tom Hiddleston) e Heimdall (Idris Elba) estão conduzindo os sobreviventes de Asgard para a Terra, como vimos no final de Thor Ragnarok, e passa por eles com uma facilidade impressionante. 



Thanos sabe que Loki, o deus da trapaça, está com o Tesseract em seu poder, item que ele roubou do cofre de Odin enquanto a casa caía em Asgard, e tão logo ele barganha a peça com Loki, ele a obtém, após torturar Thor. Como sabemos, o Tesseract é a joia do espaço, e mesmo antes de possuí-la, o titã consegue vencer NA PORRADA o incrível Hulk (Mark Ruffalo), que está de carona com os asgardianos após os eventos de Ragnarok. Em pouco mais de dez minutos de projeção já temos a exatidão da grandiosidade do vilão ao vê-lo socar o Hulk (até então o ser mais poderoso que conhecíamos no MCU) sem nem suar. Embora, a meu ver, o Hulk resista bem menos do que estamos acostumados a vê-lo fazer nas telonas, e que ele não tenha recebido nenhum golpe poderoso o bastante de Thanos, essa cena é de cair o queixo dentro do cinema, assim como o que se segue para que o titã obtenha a joia do espaço.



ZÁS!

Estamos na Terra, e um estropiado Bruce Banner cai contra o Sanctum Sanctorum de Stephen Strange, após ser teleportado por Heimdall, em seu último ato de sacrifício. Após ouvirem de Banner que “Thanos está chegando” (frase que nas HQs é dita pelo Surfista Prateado) Strange e Wong (Benedict Wong) alertam Tony Stark (Robert Downey Jr.) de que ELES ESTÃO FODIDOS, e aqui cabe uma pausa para o encontro de gigantes protagonizado por Robert Downey Jr. e Benedict Cumberbatch em cena. O diálogo entre os dois personagens de características semelhantes no MCU é recheado de sarcasmo e não tem como a gente não dar um sorrisinho quando os dois começam a se estranhar logo de cara, enquanto Wong explica a origem das joias do infinito e o poder nelas contido. Strange possui a joia do tempo em seu Olho de Agamotto, e ele sabe que precisa mantê-la em segurança quando eles recebem a visita de Fauce de Ébano e do Seletor Obsidiano em Nova York.



Outra cena de cair o cu da bunda, num clima cheio de suspense enquanto a nave gigantesca dos alienígenas chega causando pânico na cidade. Melhor ainda é o embate entre os dois asseclas de Thanos e o Homem de Ferro (que apresenta sua armadura nanotecnológica) e os poderes místicos combinados de Strange e Wong. Traumatizado após a surra que levou de Thanos, o Hulk resolve não dar as caras, embora Bruce Banner se esforce, e em meio ao combate surge o Homem Aranha (Tom Holland), que estava em um passeio da escola próximo dali. Essa sequência, assim como muitas do filme parecem pular direto de alguma página de história em quadrinhos, e não tem como não reagir positivamente a ela. 


Assim como já tinha demonstrado em Thor Ragnarok, o Doutor Estranho está controlando perfeitamente seus dons místicos, e ele usa todos os truques que conhece para impedir Fauce e seus poderes telecinéticos de roubar o Olho de Agamotto. A nova armadura do Homem de Ferro é uma das mais impressionantes já vistas em todos os filmes, até porque ela é capaz de criar todo tipo de armamento e dispositivos de defesa instantaneamente. É meio apelativa, é verdade, mas vem bem a calhar até o final do filme.



Na Escócia, é a vez de Próxima Meia-Noite e Corvus Glaive caçarem a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), que possui em sua testa a joia da mente. Os dois curtem uma Lua de Mel bonitinha há dois anos, pelo que é descrito, e ele usa um indutor de imagem para parecer humano. Isso era comum nos quadrinhos na fase dos Vingadores dos anos 70 e 80. Como eu disse, Guerra Infinita é recheado de sequências de ação impactantes, e essa caça ao Visão é mais uma, daquelas que você sai do cinema se lembrando dos detalhes ainda. Glaive possui uma lança capaz de cortar qualquer matéria, o que é terrível para o Visão, já que ele não consegue usar seus poderes de intangibilidade para detê-la. 



Com a ajuda do Capitão América (Chris Evans), da Viúva Negra (Scarlett Johansson) e do Falcão (Anthony Mackie, numa pancadaria que só mesmo os irmãos Russo conseguem filmar), o casal consegue se safar por pouco, afugentando Glaive e a Próxima Meia-Noite. Devo confessar que rolou uma lágrima quando o Capitão aparece para salvar o Visão.



Quando o grupo do Capitão se junta a Bruce Banner e a James Rhodes (Don Cheadle) na mansão dos Vingadores, eles decidem separar o Visão da joia da mente, e para isso eles precisam da tecnologia de Wakanda, indo se aliar ao Pantera Negra (Chadwick Boseman). Todo o roteiro é amarrado para fazer com que cada personagem tenha sua importância, e mesmo os coadjuvantes (como o General Ross, vivido por William Hurt) tem diálogos acertados e importantes para nos fazer entender tudo que aconteceu desde a Guerra Civil e o Tratado de Sokovia



Em Wakanda, enquanto Shuri (Letitia Wright) tenta retirar a joia da cabeça do Visão sem matá-lo, Wakanda se torna alvo de Próxima Meia-Noite, Seletor Obsidiano e Corvus Glaive, que querem arrancar a joia do cadáver do Visão com um exército de animais incontroláveis sob seu controle. Quando o Soldado Invernal (Sebastian Stan) se junta ao time de Vingadores para deter os monstros, o Pantera Negra e as Dora Milaje comandam uma ofensiva arrasadora aos invasores, dando tempo a Shuri de agir. Incapaz de se transformar no Hulk, Banner usa a Hulk-Buster de Tony Stark para ajudar, mas nem seus esforços parecem ser capazes de impedir o avanço dos asseclas de Thanos quando Corvus consegue chegar até o Visão e sua joia.

Enquanto o pau come na Terra, Thor encontra os Guardiões da Galáxia no espaço, e após trocarem informações sobre Thanos e seus planos, a equipe se divide. Thor precisa ir até Nidavellir, o reino dos anões, para forjar um novo martelo. Rocky (voz de Bradley Cooper) e Groot (voz de Vin Diesel) o acompanham, enquanto Starlord (Chris Pratt), Gamora, Drax (David Bautista) e Mantis (Pom Klementieff) vão até Luganenhum, onde Thanos pretende roubar a joia da realidade que está guardada com o Colecionador (Benicio del Toro) desde o final de Thor O Mundo Sombrio



Enquanto os Guardiões confrontam o próprio Thanos, que precisa de Gamora para chegar até a joia da alma (que não, não está com Adam Warlock como se pensava!), Thor recebe a ajuda do anão Eitri (Peter Dinklage) para forjar a arma mais poderosa de Asgard: O machado Rompe-Tormentas (que nas HQs é o martelo do Bill Raio Beta!).



Até esse ponto do filme estamos tão entretidos com a história, que a Marvel poderia colocar o Galactus dançando de sunga na tela que a gente estaria de pé aplaudindo! Tudo acontece de forma muito amarrada e (diferente de Thor Ragnarok) as piadas servem como um respiro quando cenas muito fortes acabam chocando a plateia. 



Toda a sequência da conquista da joia da alma (a única que ainda não havia dado as “caras” nos filmes) é de cortar o coração. Personagens surpreendentes surgem e as interpretações de Josh Brolin (sim! A gente consegue ver sua atuação através do CGI) e Zoe Saldanha ante os acontecimentos são coroadas por uma trilha sonora espetacular de Alan Silvestri. Esse momento é chave para o desenrolar do restante do filme.



O combate de Thanos em Titã para se apossar do Olho de Agamotto contra o Doutor Estranho, Homem de Ferro, Starlord, Drax, Mantis e o Homem Aranha é uma das melhores sequências de batalha que já vi nos filmes da Marvel (e em qualquer outro estúdio!). Nem se eu tentasse eu conseguiria descrevê-la, e se o filme acabasse ali já dava para aplaudir com os pés, enquanto as mãos estariam ocupadas secando as lágrimas. Nunca antes os Vingadores haviam enfrentado um inimigo com poder físico tão grande quanto Thanos, e rolam várias cenas de gibi ao longo do filme quando eles tentam confrontar juntos o titã e seus comparsas.



Na Terra, quando Thor, Rocky e Groot se juntam aos Vingadores para deter as forças de Próxima Meia-Noite, Corvus e Obsidiano, é outro momento impactante da história. Se com Mjolnir o Thor fazia LITERALMENTE chover, com o machado Rompe-Tormentas ele consegue canalizar todo o poder de Odin que corre em suas veias, e isso é tão emocionante de acompanhar como quando ele sobe na torre do Empire State e dispara contra o portal Chitauri no primeiro Vingadores. Sério! Se você não se arrepiou nessa cena quando viu a ponte do arco-íris surgindo trazendo Thor e os dois Guardiões, você já está morto por dentro, cara! Vai se tratar!



O desfecho em Titã é uma das coisas mais impactantes do filme, e quando Thanos chega à Terra, só existe uma pessoa entre ele e a ÚLTIMA joia a ser conquistada: A Feiticeira Escarlate. É aí que a gente imagina: “Ah, se ela tivesse um terço do poder que tem nas HQs, imagina o arranca-rabo da porra que ia ser esse confronto!”.

ZÁS!

Thanos conquista TODAS as joias, e como vimos em Desafio Infinito (HQ que mencionei no começo do post), ele estala os dedos e... Bem, você deve imaginar o que acontece.
Dessa vez não há Morte para agradar, há apenas um pensamento fascista de que “estou fazendo o bem para o universo” e que “eles vão me agradecer um dia”.

THANOS

Nós temos dezenas de personagens criados por CGI nesse filme e alguns que parecem até meio esquisitos (a Próxima Meia-Noite e sua boca vazia é um exemplo disso), mas o Thanos de Josh Brolin teve um tanto mais de capricho. Assim como o Hulk, ele é uma criatura desproporcional perto dos demais personagens “comuns”, e embora sua interação com eles seja prejudicada na tela (como quando ele agarra o Loki pelo colarinho ou quando interage com o Tony Stark digital em Titã) devido essa diferença de tamanho, suas expressões faciais são de primeira linha. É impressionante o trabalho de captura de movimentos que fizeram com o ator.


Ele é um boneco gigante roxo, e mesmo assim a gente consegue ver todas as feições de Brolin através dele, ator aliás, que merece parabéns dada a alma que ele colocou no titã louco. Não há como negar que Guerra Infinita é um filme do Thanos, e diferente de muitos vilões que temos visto na telona nos últimos dez anos, ele tem substância suficiente para nos importarmos com suas motivações e com seu sofrimento. Sim! Thanos sofre! Ele não é um vilão unidimensional que é mau porque sim, mas porque ele toma medidas questionáveis que refletem aquilo que ele acredita. Pelo ponto de vista dele, ele está fazendo o certo. A gente torce CONTRA ele porque ao longo de dez anos nós aprendemos a amar os Vingadores e os Guardiões da Galáxia, e eles são nossos heróis, mas num filme com personagens menos importantes, não seria exagero que nós torcêssemos para ele.


A forma como ele aprende a usar cada uma das joias de acordo com a ocasião é um ponto importante a se destacar. Em titã, contra o Doutor Estranho ele é obrigado a usar a joia da realidade no máximo, enquanto o mago se desvencilha de seus ataques, e contra o Homem de Ferro ele usa a joia do poder, para tentar destruir Stark. Para finalizar essa cena, o que dizer das palavras de Thanos em reconhecimento à bravura de Tony, e como ele sabe bem quem está enfrentando? Sensacional!

DOUTOR ESTRANHO

Eu sou putinha do Capitão América (RECONHEÇO!) mais nos quadrinhos do que nos filmes, embora essa admiração se estenda ao personagem do cinema, mas a meu ver o Dotô Estranho é o herói mais foda de Guerra Infinita. CA-RA-LHO!



Quando eu soube que o filme ia juntar personagens que jamais estiveram juntos cresceu a expectativa de ver o encontro entre Stephen Strange e Tony Stark. E como essa espera valeu a pena! Benedict Cumberbatch e Robert Downey Jr. dão um show de sarcasmo e cinismo em suas interpretações, e a gente vê que são dois egos inflados em conflito. E isso é MUITO BOM!


Como é mostrado em seu filme solo, Strange possui memória fotográfica, o que por si só já o ajuda a aprender mais rápido os paranauês de magia. Além disso, ele usa de MAGIA para aprender mais magia, e isso explica como ele já está tão fodão em Thor Ragnarok (fazendo, por exemplo, o Loki despencar no vazio por 30 MINUTOS!). Em Guerra Infinita, ele está mais do que foda, e encara o Fauce de Ébano e seus poderes psíquicos de igual para igual. Mesmo quando é capturado, já na nave Donuts de Fauce, ele resiste bastante às torturas do Voldemort de araque, e já em Titã, pra onde a nave de rosca o leva, ele encara o próprio Thanos sem temor, usando tudo que sabe para deter o poder conjunto das quatro joias que o monstro já tinha em sua manopla. 



Ver o Doutor conjurando as faixas escarlates de Cyttorak e o feitiço de multiplicação na tela do cinema foi algo surreal. A batalha em Titã está com certeza eternizada como uma das cenas de ação mais bem elaboradas dos filmes de super-heróis. Ponto para os irmãos Russo... MAIS UMA VEZ, e para Benedict Cumberbatch, que conseguiu encarnar perfeitamente um super-herói complexo como o Estranho! Depois desse filme eu virei uma cumberbitch! 
    
A ORDEM NEGRA

Eu já não leio quadrinhos de linha há alguns anos, portanto, a única coisa que eu sabia sobre essa tal Ordem Negra é que eles eram os puxa-saco oficiais do Thanos. Eu li o primeiro capítulo de Infinito, a saga escrita por Jonathan Hickman (chata para CARALHO, por sinal) e essa era a coisa mais recente que eu tinha em mente quanto a Thanos e sagas cósmicas, mas corri para ler sobre os quatro (que nas HQs são CINCO) representantes dessa Ordem antes de ver o filme. 



Já de início bateu aquela preguicinha em saber o quão poderosos cada um deles são, e outra preocupação era em saber como esse nível de poder poderia dar certo contra os Vingadores do cinema. Pela descrição, Fauce de Ébano (o Lula Molusco) tem habilidades mentais que fazem com que ele não tenha a confiança nem mesmo de seu mestre. Pelo que ele faz com o Doutor Estranho, tem-se a impressão que além de telecinético, ele também é um telepata, o que explica a forma com que ele subjuga Strange na nave Donuts.



Corvus Glaive (que a meu ver É A CARA do Duende Macabro!) é o peguete da Próxima Meia-Noite, e além de ser superforte e resistente, possui a lâmina capaz de cortar qualquer matéria, o que explica como ele faz para inutilizar os poderes de intangibilidade do Visão. Apesar disso, ele toma um cacete do Capitão América, o que prova que sem sua lança, ele é bem merdinha.


Falando no diabo, Próxima Meia-Noite (que porra de nome escroto!) além de habilidosa na arte da porradaria (ela dá um sacode na Viúva Negra, na Okoye vivida pela Danai Gurira, e na Feiticeira Escarlate AO MESMO tempo!) é dito que ela possui os poderes de uma supernova E DE um buraco negro na lança forjada pelo próprio Thanos, mas não me lembro de ter visto ela usar isso no filme. Aliás, quando a Ordem Negra se junta nem dá pra distinguir bem eles, que dirá suas armas! Seja como for, é bonito de se ver a pilha que a alienígena pega da Viúva Negra depois de ser derrotada por ela em seu primeiro encontro. É o famoso “ficou boladinha!”.



Pra finalizar o quarteto, temos o grandão mongol representado pela figura do Seletor Obsidiano, que nas HQs se chama Anão Negro (porra, ANÃO???). Ele é o único que não fala um idioma inteligível, e possui uma espécie de martelo retrátil por uma corrente que ele usa feito uma maça para bater nos adversários. Embora seja sinistrão, deu aquela vontade de ver o Banner se transformando no Hulk só para vê-lo limpar o chão com a cara desse alien de merda, né? 



Seja como for, o Homem de Ferro encara bem o feioso com sua armadura overpower, e pouco antes de Thanos chegar a Wakanda ele acaba tendo o que merece. A única questão é: O grandalhão perde um braço quando o Doutor Estranho usa um de seus portais de teletransporte para impedi-lo de os alcançar, como ele aparece inteiro de novo em Wakanda?

THOR

Se o Thor morresse nesse filme eu sinto que ele teria cumprido seu papel com GARBO E ELEGÂNCIA, porque de todas as suas participações no universo Marvel, essa com certeza é a mais histórica


Convenhamos que Thor 1 é um dos filmes mais fracos do MCU, apesar de ter servido para nos apresentar mundos paralelos, algo que ainda não tínhamos visto com o universo tecnológico de Homem de Ferro e a ciência por trás do Capitão América. Thor 2 é tão esquecível que talvez eu tenha que assistir uma quinta vez para poder me lembrar das cenas, e Thor 3, apesar de ser o melhor deles, é uma galhofa SEM FIM que nos faz cagar e andar para tudo que acontece durante sua projeção. A participação do loirão nos dois Vingadores é bem pontual, tem a luta dele contra o Hulk no primeiro e ele se equiparando em poder ao Ultron no segundo, mas nada que a gente possa dizer “Noooossa”. Em Guerra Infinita, após todos os acontecimentos de Ragnarok, ele é um cara que não tem mais nada a perder, e que usa do sentimento de vingança para ir até Nidavellir forjar a arma definitiva para acertar as contas com Thanos. 


Embora seja por trás de uma “máscara” de um cara  bem humorado, Thor está sofrendo em Guerra Infinita, e seu embate final contra Thanos, já em Wakanda, mostra que ele está com sangue no zóio (ou nos “zóios”), colocando à prova o machado Rompe-Tormentas contra todo o poder do titã louco, já em posse de TODAS as joias do infinito. Embora soe incoerente ele AINDA precisar de uma arma para canalizar o poder de Odin que agora corre em suas veias (e isso ficou claro que NÃO ERA mais necessário em Thor Ragnarok), foi bacana vê-lo quase se sacrificar para forjar talvez a última arma que poderia matar Thanos com toda sua divindade. 


Em dez anos de filmes, essa foi a melhor participação de Thor no cinema, e Chris Hemsworth mostrou que sabe SIM fazer cenas emocionantes, tanto conversando com Rocket à caminho de Nidavellir ou ao encarar Thanos, após atingi-lo quase fatalmente. Devia ter acertado na cabeça, Thor. NA CABEÇA!!

HOMEM ARANHA

Eu já devo ter escrito aqui que eu não curti muito essa abordagem Marvel de Peter Parker ser excessivamente ligado a Tony Stark, dependendo inclusive que seu armamento seja criado pelo gênio, bilionário, playboy e filantropo, mas quem sou eu na fila do pão pra reclamar de algo assim, não é mesmo? Eu já tive que encarar um Peter Parker que pratica bullying, que anda de skate e que ouve Coldplay!



Homecoming é um filme muito bom para o personagem, mostrou que a Marvel conseguiu distanciar o personagem de tudo que já tinha sido criado nos cinemas com ele (saudades Sam Raimi!) e ainda conquistar novos fãs. A meninada simplesmente AMA o Homem Aranha de Tom Holland, e ele é de longe o melhor Amigão da Vizinhança personificado no quesito simpatia e humor. Sim, o Aranha dos gibis falaria aquelas merdas que ele diz enquanto o Doutor Estranho o teletransporta de um lado para o outro para que ele batesse no Thanos, e SIM aquilo é muito Homem Aranha!



O que estraga mesmo o Aranha da Marvel é essa dependência que ele tem de Tony Stark, o que diminui PRA CARALHO o personagem, quase ao ponto dele não saber fazer nada sozinho, sempre pedindo autorização, sempre achando que está descumprindo regras estabelecidas pelo Stark. A questão que o Doutor Estranho se faz “qual é a relação entre vocês? Ele é seu estagiário?” é a mesma que NÓS nos fazemos. Após Homecoming era esperado que o Aranha acabasse ganhando alguma autonomia, mas isso não acontece, e a despedida do personagem NÃO FOI comovente a meu ver. Como fã chato e velho, eu não vi ali o Homem Aranha que EU estou acostumado a ver indo embora, por isso, não me importei muito com aquele final.

GUERRA INFINITA

Eu vi o filme DUAS VEZES no cinema, e veria mais uma vez com extrema facilidade. Guerra Infinita não é só o filme mais ousado da Marvel até aqui, como também é o filme de super-herói mais contagiante da história. Por se tratar de uma espécie de continuação dos outros 18 filmes, começa a 100 km por hora, e só depois que nossas cabeças estão batendo no para-brisa é que a gente percebe que esqueceu de botar o cinto de segurança. Desde o quebra-pau entre Thanos e Hulk no espaço, o filme é só ladeira acima na emoção, e quando ele acaba quase duas horas depois, nós estamos estarrecidos com aquele mundo de acontecimentos que nos atingiu durante a projeção. Eu só havia saído tão empolgado do cinema ao final da sessão do primeiro Vingadores e desde então eu vinha esperando que outro filme preenchesse aquele vazio, me fizesse sentir de novo aquela emoção. Star Wars – O Despertar da Força quase conseguiu isso, mas foi com Guerra Infinita que eu voltei a me sentir como aquele moleque ranhento que tremia lendo a Morte do Superman pela primeira vez ou que ficava estarrecido vendo o Homem de Ferro sendo feito em pedaços pelo Poder de Fogo. Guerra Infinita é quadrinhos do começo ao fim, e não tem como ficar impassível diante de tudo que os irmãos Russo, Alan Silvestri e toda a equipe da Marvel Studios foram capazes de nos presentear. Filme foda!

VINGADORES 4

Eu achava que eu sabia o que ia acontecer nos dois filmes depois que li o roteiro vazado que jogaram na internet, mas depois que cada teoria falha foi derrubada ao final de Guerra Infinita o futuro é quase uma incógnita.

Sabemos que a Capitã Marvel (Brie Larson) vai ter papel importante nesse futuro, mas não sabemos exatamente em que nível, já que só vamos conhecer essa mulher em 2019, quando estrear seu filme solo. Não temos uma base nem nas HQs, já que Carol Danvers nunca peitou o Thanos antes, nem mesmo na fase do Infinito escrita por Jim Starlin. Na época, a personagem estava num ostracismo foda, primeiro colocada em coma pela Vampira dos X-Men, que absorveu seus poderes krees, e depois sumida pelo espaço com os poderes da Binária, junto dos Piratas Siderais. Potencial ela tem, já que seus dons advém da tecnologia kree e do próprio Capitão Marvel, o falecido herói cósmico que saía no braço com o Thanos dia sim, dia não. A expectativa aumentou muito em ver o filme da Capitã, já que é muito importante para Vingadores 4 o que vamos descobrir no filme solo da moça que estreia no dia das mulheres de 2019.

  
Outra coisa que sabemos é que DIFICILMENTE Pantera Negra, Homem Aranha e os Guardiões da Galáxia ficarão mortos, já que eles fazem parte de franquias muito rentáveis para a Marvel e que representam, de certo modo, o futuro cinematográfico. Enquanto os Vingadores originais estão prontos para passarem o bastão para os novatos, é muito difícil que um filme do Pantera Negra e um filme do Homem Aranha seja tudo que iremos ver dos dois heróis em dez anos de lançamentos. Sem falar que os Guardiões merecem PELO MENOS um fechamento digno com uma trilogia. Nada mais justo que Vingadores 4 comece com os principais personagens (os que deram início ao MCU!) fazendo de tudo para salvar o universo, e entregando, ao final do mesmo, o posto para os NOVOS Vingadores. Seria uma despedida digna dos Maiores Heróis da Terra. Ou vocês acham mesmo que vamos passar dez anos sem ouvir um AVANTE VINGADORES na telona?

Por falar em frases de efeito... HULK ESMAGA! Não tenho dúvidas que guardaram o melhor Hulk para o desfecho da saga. Dou um dente da frente se não vamos chorar no cinema em 2019 vendo o Gigante Esmeralda ARREBENTANDO de porrada o Thanos na maior revanche desde que o Rocky venceu o Apolo Creed nos cinemas Em Rocky 2!


Nota: 9,8 (10 só mesmo o 1º Vingadores!)

NAMASTE!

1 de abril de 2018

Vocês lembram dos seus brinquedos de infância?



Estamos no século vinte e um e isso significa que estamos rodeados de tecnologia. Não como sonhávamos talvez, nada de carros voadores, teletransportadores ou raios lasers portáteis, mas já temos realidade virtual, internet na palma da mão (no smartphone, claro) e todo tipo de videogame para nos entreter e nos manter longe da vida real por longas horas. Mas... Vocês se lembram dos seus brinquedos de infância?

Metade dos meus brinquedos eu herdei do meu irmão mais velho. Como era naquela época, ele teve que abandoná-los cedo devido os estudos e o trabalho, e eu... Bem... Eu brinquei com seus bonecos por ele.

Eu sempre fui uma criança tímida e introvertida, o que dificultava MUITO a interação com outros seres humanos. De qualquer espécie. Eu morei até os seis anos no centro de São Paulo, e depois disso minha família se mudou para um município mais afastado dessa área, quase no meio do nada, quase longe de tudo. Não haviam vizinhos da minha idade, meus colegas de escola moravam longe e mesmo que morassem perto eu não os visitaria. Timidez, introspecção, etc. Diferente do que ela havia sido com meus dois irmãos mais velhos (aquele que mencionei antes e uma irmã), minha mãe decidira se tornar muito rígida quanto a liberdade dos dois filhos mais novos (eu e minha outra irmã mais nova), o que fez com que eu me sentisse “confortável” com minha introspecção. Anos 90, gente! Não haviam videogames (pelo menos não para mim), celulares ou todas essas coisas que nos tornam os “autistas sociais” que nós somos atualmente. Eu não podia escrever em “blogs”, “redes sociais” ou usar aplicativos, então eu tinha os meus brinquedos herdados. Vocês se lembram dos seus brinquedos de infância?


Apesar de todos esses problemas de comunicação, eu possuía uma mente muito criativa, e como eu passava muito tempo comigo mesmo, ouvindo meus pensamentos e criando minhas histórias, eu usava meus bonecos para exteriorizar aquela criatividade, o que fazia deles meus únicos amigos reais. Eu tinha um punhado deles. A maioria era sem articulação alguma, daqueles soldados que se mantinham em pé com o auxílio de “pranchas” coladas em seus pés, motoqueiros que mesmo quando desciam de suas motos NUNCA desdobravam suas pernas ou cavaleiros que quando desciam de seus cavalos também não saíam de suas posições. Aqueles que possuíam articulação nas pernas e nos braços, claro, eram os astros das brincadeiras, sempre os “atores” principais, os heróis, os mocinhos, aqueles que salvavam o dia.


Eu me lembro que naquela época o tempo demorava para passar, e num mesmo dia dava para criar várias histórias diferentes e encená-las uma após a outra em cima da cama de casal de minha mãe. A maioria das brincadeiras rolavam ali. Às vezes, quando a aventura era aquática, dava para arriscar brincar no tanque da casa ou na pia da cozinha, mas claro que rolavam os gritos lá de dentro:

“Para de gastar água!”

“Vai ficar gripado mexendo com água desse jeito!”.

O quintal possuía um espaço amplo, vegetação e muitas pedras, mas as brincadeiras ali eram quase proibidas. Eram as minhas regras. Não se leva seus amigos para um local onde eles podem se perder e talvez nunca retornar. Nunca se abandona um amigo.

Com o passar do tempo, além do roteirista de minhas histórias em cima da cama da minha mãe, eu também me tornei o diretor das cenas, o sonoplasta e também o “voice-actor”, já que eu dava voz para todos os personagens. O dia não podia terminar enquanto a aventura não estivesse concluída, e antes que chegasse a hora de tomar banho, o herói precisava ter vencido o vilão, e todos precisavam sair comemorando. As “gravações” no “set de filmagem” eram sempre com um prazo apertado!

Meus atores já eram veteranos. É sério! Por serem herdados, alguns possuíam em suas costas, dez e até quinze anos de uso. Alguns estavam quebrados, outros levavam marcas de mordida de cachorro pelo corpo, outros estavam apodrecendo sozinhos e alguns haviam sofrido acidentes terríveis. Ninguém ali era novato, mas eu sabia que eles ainda aguentavam o tranco, já que sua missão ainda não estava completa. Eu ainda precisava MUITO deles. Eu tinha roteiros e mais roteiros em minha cabeça e eles precisavam me ajudar a concretizá-los, e assim aconteceu por alguns anos.

Hoje nós temos action figures de todos os tipos e modelos, mas a grande maioria delas emula personagens famosos da cultura pop. Alguns são ajustados para caber na palma da mão, outros são gigantescos, outros não possuem articulações (mas esses são artigos de luxo agora!) e só servem para enfeitar, mas a variação é bem grande. 


Os meus amigos não tinham nome e nem identidade de fábrica. A maioria deles. Eu tinha o “policial”, o “soldado”, o “motoqueiro” e eles eram nobres desconhecidos, o que acabava sendo bom, já que eles se tornavam “atores” flexíveis, podendo interpretar qualquer papel. Além do que eu podia batizá-los com os nomes mais ABSURDOS que vinham em minha cabeça!

Quase todos os bonecos tinham nomes próprios dados por mim, exceto aqueles que representavam algum personagem famoso como o Homem de Ferro (da coleção da Gulliver, sem articulações e com uma cor só, no caso prata), o Superman (numa posição de voo, SEM capa e também numa cor só, o azul) e o Zorro... Eu tinha uns seis “Zorros”, todos coloridos, sempre na posição de montar no cavalo e com capa removível. Cada Zorro tinha um nome diferente, “Bruce”, “Rafael”, “Douglas”...

Eles eram do meu irmão também, e a dupla de Playmobils vieram no pacote de herança. Um amarelo e um azul (depois alguém me deu outro azul na escola!). Eles tinham alguns apetrechos que serviam em suas mãos de gancho, e isso ajudava bastante nas brincadeiras. Eles seguravam garrafas (as vezes as brincadeiras acabavam em bebedeira!), facas, raquetes de tênis e outros itens inclusos, mas o que eu mais acabava usando era a metralhadora. O “Roger”, o Playmobil amarelo, adorava dar uns tiros, e em geral ele acabava sempre sendo o cara durão dos enredos.


Um dos bonecos que eu mais gostava era o Alex. Eu não faço ideia o que ele era originalmente, nem o que ele foi destinado a ser ou de que coleção ele pertencia, mas ele era um dos únicos articulados que eu tinha (dobrando joelhos e cotovelos), além do que ele possuía um rosto bem esculpido, o que fazia dele o “galã bonitão” das aventuras, o herói. Quando eu encenava alguma história de personagens existentes, via de regra o Alex se tornava o Peter Parker, o Clark Kent ou o Steve Rogers, quando o herói não estava em missão, em sua identidade civil. Quando a pancadaria tinha que rolar e os demais bonecos precisavam de algum perito em artes marciais, adivinha quem era o cara?


“Robson Robô”, “Rafael” (agora que me liguei que eu tinha dois bonecos com o MESMO nome), “Mágico”, “Porcão” e “Palhacinho” eram alguns dos nomes dos demais bonecos. Esses em geral eram escalados para serem os vilões, não sei explicar porque, mas quase nunca eles se davam bem nas aventuras. O Rafael parecia ser um fisiculturista que usava uma tanguinha vermelha ridícula e que era o desafeto principal do Alex. Robson Robô (de onde eu tirava esses nomes?!) era escalado para viver qualquer robô do mal (as vezes ele era o meu Doutor Destino também!) e o Porcão... Era claramente uma Tartaruga Ninja com roupa de férias, e com jeitão simpático, mas que servia de brutamontes dos inimigos, já que ele tinha uma proporção um pouco maior que seus colegas de elenco.

Eu citei que eu emulava alguns personagens existentes, cansei de brincar de Jaspion (eu tinha o meu próprio metal-hero, o Super Rod), de Changeman e super-heróis dos quadrinhos também. Tudo que eu assistia na TV acabava servindo de inspiração para as brincadeiras, e não era raro eu simular o Batman de ’89 usando o um dos Zorros como o Homem Morcego (e eu nem sabia que o Zorro havia servido de inspiração para a criação do Batman, ora só vejam vocês!), de Superman contra o Homem Nuclear de “Em Busca da Paz” com meu Superman azul “congelado” ou de Vingadores. Eu tinha vários gibis empilhados em caixas, e muitas histórias serviam como base para as minhas aventuras. Os meus Vingadores se chamavam Defensores, e os meus Heróis Mais Poderoso da Terra reuniam o que dava para criar na hora, um Capitão América improvisado com um dos motoqueiros que eram bem versáteis (com braços e pernas flexíveis) segurando uma tampa de um ioiô como escudo, um Homem-Elétrico interpretado pelo Alex, um Namor representado pelo Rafael fisiculturista, uma Feiticeira Escarlate interpretada por um Zorro vermelho de capa de mesma cor (sério! A gente tinha que improvisar!) e o Homem de Ferro prateado que não tinha nenhum dos pés e uma das mãos, comida por um cachorro nosso. Vergonha? Nenhuma! As histórias rolavam tranquilamente com direito a muita ação, drama e reviravoltas de roteiro impressionantes.


Como eu disse anteriormente, meu irmão mais velho havia sido o dono de grande parte daqueles brinquedos, mas um que ele mantinha guardado como uma relíquia era sua Supermáquina e seu piloto Michael Knight, da série homônima da TV. Me lembro até hoje do dia em que ele ganhou aquela Supermáquina de presente, foi o mesmo dia em que eu ganhei meu Bat-Robô, uma pick-up verde que movida à fricção se tornava um robô de braços levantados quando ele batia em uma parede. 


Era um carrinho legal, serviu como meu Daileon por muitos anos, mas claro que para mim, como criança, não chegava aos pés daquela Supermáquina. As brincadeiras eram sempre especiais quando dava para incorporar o Michael Knight, que na época, era o boneco mais legal de todos. Apesar de ser numa escala um pouco maior que os demais, ele era todo articulado e ainda tinha seu próprio carro! Se eu tivesse bonecas ali no grupo, o Michael com certeza faria sucesso entre elas!


Alguns anos depois a minha madrinha me presenteou com um boneco que podia rivalizar com o Michael Knight de meu irmão, e eu passei a ter um brinquedo maneiro em mãos também, o B.A. do Esquadrão Classe A. Curiosamente os dois bonecos vinham da mesma coleção da Glasslite, que naquele ano tinha produzido brinquedos da Supermáquina, Esquadrão Classe A e Duro na Queda, séries de sucesso que passavam na Globo nos anos 80. O B.A era meu boneco mais fodão, e quando ele entrava na parada, não sobrava para ninguém.


As brincadeiras que eu mais gostava e que mais rendiam histórias eram as de ação. Eu podia passar horas seguidas fazendo sons de socos, chutes, disparos de energia, chocar de espadas e perseguições de carros e motos, mas por um longo período, já no avançar da adolescência, eu comecei a me dedicar aos esportes.

Eu já gostava de jogar botão na mesa de casa, inventar campeonatos malucos onde a Seleção Brasileira enfrentava o Milan (!!) por exemplo, mas apesar de imaginar que os jogadores estavam ali trocando passes, eu sentia que faltava algo. 


Quando eu percebi que daria para emular campeonatos de futebol muito mais emocionantes com meus bonecos, eu posicionei as duas traves uma em cada lado da cama de minha mãe, separei meus bonecos por cores para montar os times e coloquei a bola para rolar (eu cheguei a ter DOIS minicraques da Coca Cola!). Diferente do botão, era possível simular dribles, defesas incríveis, troca de passes dinâmicos e eleger meus artilheiros. O negócio era tão sério que eu marcava o tempo certo no relógio e anotava num caderno os resultados. Tinha até controle de artilharia e somatória de pontos no campeonato. A narração? Claro, eu fazia, assim como o apito do juiz, o som da torcida imaginária e o barulho do chute na bola. Me lembro que esses campeonatos de futebol marcaram por serem minhas últimas brincadeiras, quando então, apesar de gostar muito daqueles carinhas de plástico, já não era mais tão emocionante brincar com eles. Eu já revezava meu tempo entre desenhar minhas próprias histórias em quadrinhos e escrever meus contos de ficção, e com o passar do tempo eles começaram a ficar esquecidos dentro do armário. Era triste tirar todos eles do lugar, preparar armamentos, veículos, montar cenário com caixas de sapato, ter em mente a história e logo no começo já perder a vontade... Sentir vergonha por estar ali fazendo sons bobos com a boca e gritando e encenando diálogos estúpidos. Quando isso começou a acontecer com maior frequência foi a hora que saquei que já não tinha mais idade para aquilo. Era hora de abandonar meus amigos. Os únicos amigos que eu tive por um longo tempo. O que eu tinha esquecido é que não se abandona um amigo.

A infância que tive serviu para construir o adulto que sou hoje, infelizmente alguém cheio de inseguranças, neuras e que me impede de me relacionar corretamente com as pessoas. Talvez eu tenha brincado até demais com meus amigos de plástico, e que eu tenha essas lembranças boas daquela época porque eles me ajudaram com minha solidão. Eu não me sentia sozinho. Eles estavam sempre ali para quando eu precisava. Eles nunca se negaram a participar das aventuras por mais estranhas ou perigosas que pudessem parecer na hora, e eles serviram seu papel. Mesmo quebrados, despedaçados, sem braço, faltando pedaços, eles foram os melhores amigos que uma criança solitária podia ter, e por isso doeu muito quando eles partiram.


Eu já era adulto quando numa tarde qualquer eu tive a ideia de rever meus amigos. Depois de tantos anos, eu sabia que eles estavam guardados dentro de uma sacola numa caixa de papelão na casa adjacente a da minha mãe. As duas casas eram no mesmo quintal, e nessa outra ficavam guardadas as quinquilharias, grande parte das coisas da infância, minha e de meus irmãos. Nessa casa estavam caixas com os livros de escola, cadernos, bolas murchas, jogos de tabuleiro (aqueles que viam com as embalagens de chocolate) e até as bicicletas. Guardados em uma caixa, eu sabia que podia encontrar meus brinquedos. Eles estiveram ali por anos. Por que não estariam agora? Me lembro que procurei por toda parte e não encontrei a sacola onde eles deveriam estar. Tirei tudo do lugar e não os encontrei. Não havia outro lugar onde eles poderiam estar, até que veio a triste constatação:

“Que brinquedos? Só tinha uma sacola cheia de lixo. Pedaços velhos!”

Minha mãe havia jogado fora a sacola com os brinquedos, achando que se tratava de resto de alguma coisa, e não havia percebido que lá dentro, junto aos pedaços de brinquedos quebrados, estavam também os meus amigos de infância. Eu senti raiva na hora, fiquei revoltado e depois me bateu uma tristeza profunda. Eu sabia que deveria tê-los tirado de lá em algum momento, cuidado para que eles não fossem confundidos com lixo antes do que aconteceu, mas os anos fizeram com que eu me esquecesse deles. Eu já trabalhava, pagava minhas próprias contas e não tinha mais tempo para brinquedos antigos. Por algum tempo eu esqueci dos meus bonecos e os abandonei. Quebrei a promessa.

Um ou dois anos antes dessa história, eu “reuni” todos eles e tirei essas fotos que ilustram esse post. A qualidade não é grandes coisas porque eu só tinha uma daquelas câmeras digitais para fazer isso, e alguns dos personagens citados aqui nem sequer aparecem na foto. Tenho saudades às vezes daquele tempo e me lembro com carinho de cada um deles. Não é difícil também eu sonhar às vezes que encontrei meus bonecos e que eles estiveram guardados em algum canto esse tempo todo. De tudo que citei aí, ainda tenho a Supermáquina do meu irmão e alguns dos demais carrinhos que serviam para as perseguições, mas todo o resto se foi. B.A, Michael Knight, Alex, Roger, Robson Robô... Tudo que tenho deles hoje são essas fotos e as lembranças daquele tempo inocente e triste.

Acho que o trauma foi tão grande em perdê-los, que depois de alguns anos eu acabei comprando algumas Action-Figures meio que pra suprir aquele vazio, incluindo um Clubber Lang, personagem do filme Rock III interpretado pelo ator Mister T, o mesmo que fazia o B.A. em Esquadrão Classe A. Eu cheguei a pesquisar no Mercado Livre por ele e pelo Michael Knight da Glasslite, mas por mais que eu comprasse outros, eles não seriam os mesmos que eu brinquei, além do que não teriam seus companheiros de aventura com eles.


Embora todos nós tenhamos que crescer um dia, para alguns de nós essa passagem para a vida adulta acaba sendo mais traumática, e se a sua infância não foi bem vivida, você acaba se tornando um adulto amargo e cheio de problemas emocionais. Alguns anos depois eu conheci a trilogia Toy Story que conta a aventura de bonecos que ganham vida quando seus donos não estão prestando a atenção, e o terceiro filme me marcou de um jeito muito forte, pois fala justamente dessa hora da despedida, em que Andy, o dono dos bonecos, precisa se tornar um adulto e abandonar seus amigos. Choro copiosamente todas as vezes que assisto esse filme, e dificilmente isso vai mudar algum dia.

E vocês? Se lembram dos seus brinquedos de infância?

NAMASTE!

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