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27 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2



Eu não posso dizer que cresci acompanhando Harry Potter ou que sou um desses aficionados pela série de livros e de filmes, mas devo salientar que sou um apreciador da saga como um todo,apesar de não concordar com muitas das atitudes do “menino-bruxo” e de muitos dos argumentos que sua criadora J.K. Rowling utilizou por muitos anos para justificar os vários pontos-cegos que ela acabou criando com o passar dos tempos em sua história.
É inegável, no entanto, que Rowling concebeu um universo de magia fantástico em seus livros e que a mitologia riquíssima proveniente disso ganhou admiradores por todo o mundo trouxa de forma arrebatadora. Hoje não há ser vivo aeróbico na face da Terra que nunca tenha ouvido falar de Harry Potter, e o mais importante nisso tudo é que, sendo a qualidade da literatura de Rowling questionável ou não (para muitos é bem questionável sua linha narrativa), ela foi diretamente responsável por trazer de volta o gosto pela leitura das crianças e adolescentes, algo que vinha se perdendo cada vez mais à medida que as novas gerações iam crescendo. Assim como o grande mistério de quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha, não se sabe ao certo se foram os filmes que deram força para os livros ou se foi o contrário, mas é fato que a mídia audiovisual contribuiu e muito para o sucesso dos livros, embora a qualidade das obras pós-fenômeno do cinema tenha decaído consideravelmente.



Estava ansioso e apreensivo para assistir a última aventura de Harry Potter nos cinemas na segunda parte deAs Relíquias da Morte, e fui ao cinema com algo em mente: Precisava concluir a saga, mesmo já sabendo de antemão que muita coisa não me agradaria, uma vez que o último livro também tinha me decepcionado em alguns pontos.
De início é bom ressaltar que houve mudanças na história original e isso não é nenhuma surpresa, já que durante todas as adaptações dos livros, até então, também haviam tido algumas. Certas alterações tornaram o filme apressado de modo que muitos detalhes passam despercebidos para quem não leu o livro (imagino eu), mas outras contribuem para a narrativa, até mesmo corrigindo alguns pontos que Rowling esquecera de explicar no livro ou não pensara na ocasião.






O destino da espada de Griffyndor depois que o duende Grampo a rouba na fuga de Harry, Rony e Hermione do Banco Gringotes foi explicado de forma um pouco mais convincente (mas não tanto) já que no livro ela simplesmente reaparece ao fim da história sendo empunhada pelo herói mais improvável de todos Neville Longbottom. Também é explicada a origem do caco de espelho entregue por Dumbledore a Harry e o motivo pelo qual Aberforth (o irmão de Dumbledore) consegue vê-los e ajuda-los nos momentos mais críticos, o que reforça minha teoria de que Harry Potter não teria sobrevivido além de seu primeiro livro se não contasse com a ajuda de seus amigos e a conveniência com que tudo acontece a seu favor.


O que sempre falo aqui quando comento sobre um filme adaptado de uma obra literária também acontece em Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 2. Duas horas é pouco tempo para contar uma história com todos seus meandros e pormenores, por isso não há como o filme ficar 100% satisfatório. Vendo como espectador, procurando me imaginar no lugar de alguém que não havia lido o livro antes e não conhecia a história, notei que há partes inexplicáveis e outras que explicam muito rasamente o que está acontecendo, como por exemplo, a chegada de Harry, Rony e Hermione ao Beco Diagonal próximo de Hogwarts, a abordagem de Aberforth aos garotos, e a descoberta de Snape sobre o paradeiro de Harry e seus amigos. Tudo acontece de forma muito rápida, sem que o público tenha tempo de absorver, e a correria para tentar aproveitar a maior quantidade de acontecimentos possível por cena, torna o filme por vezes incoerente.



A batalha de Hogwarts, que ocorre quando Voldemort decide dar um ultimato a Potter e seus amigos dentro do castelo depois da expulsão de Snape do cargo de diretor, forçando o garoto a se entregar caso queira poupar a vida daqueles que se importam com ele, acontece de forma mais grandiosa que no próprio livro. As cenas do combate místico são ao mesmo tempo empolgantes e movimentadas, e aprofundam melhor o roteiro e as descrições da própria Rowling. Não há nenhuma morte impactante durante a luta entre os comensais de Voldemort, a Armada de Dumbledore e a Ordem da Fênix. Todos os personagens que perdem suas vidas durante o confronto são mostrados apenas depois do ato, o que diminuí a carga dramática do filme, fato que marcou a primeira parte do longa com as mortes da Edwiges (a coruja de Harry) e deDobby, o elfo doméstico leal a Potter. Embora as cenas que envolvam efeitos visuais (como na própria batalha e na disputa entre os amigos de Potter e os amigos de Draco Malfoy dentro da Sala Precisa) sejam muito bem feitas tecnicamente e com um CG de qualidade, não há pontos muito positivos quanto à emoção da trama. O máximo que dá pra sentir é uma apreensão com relação ao que o roteirista Steve Kloves (que roteirizou todos os demais filmes) e o diretor David Yates (no cargo desde a Harry Potter e a Ordem da Fênix) mudaram na história original e quanto o roteiro fora alterado para “caber” na tela.



O que sempre gostei nos demais filmes do bruxo foi a capacidade dos diretores, produtores e diretores de arte de transportarem para a “realidade” o que estava escrito nos livros, e como aquilo tudo ficava fantasticamente diferente (e às vezes exatamente precisa) da forma como imaginávamos. Ler e imaginar uma cena em sua cabeça é uma coisa, vê-la transportada para a realidade é outra, e a meu ver, todos os filmes fizeram bem o seu papel com relação a cenários, vestimentas, adaptação de personagens e criação digital. Isso eu nunca pude reclamar em Harry Potter. Tudo tinha o aspecto fantástico que os filmes deveriam ter, o problema sempre esteve mesmo nos cortes necessários da história.




Em Relíquias da Morte parte 2, o quinhão extraordinário está mais uma vez presente, e muitas cenas nos transportam direto para os corredores de Hogwarts e os arredores da escola de magia (em algumas delas até senti falta de estar vendo o filme em 3D), e nos faz crer que aqueles feitiços e encantamentos realmente fazem parte da nossa existência, e que munidos de uma varinha mágica, de repente você pode conjurar “Accio sapato” e seu calçado aparece voando em sua direção ou que você pode estuporar um adversário gritando “Estupefaça”. David Yates tem seus méritos por conseguir fragmentar a história final de Harry Potter em duas partes e fazer de
cada uma delas um trabalho individual e, por que não dizê-lo, de qualidade. Os dois filmes contam a continuação de um roteiro, mas funcionam muito bem separadamente. Enquanto a anterior prima pela comoção do público, a segunda segura o traseiro de todo mundo nas poltronas e deixa apreensivo até mesmo aquele que já havia lido o livro, algo que só mesmo um bom filme consegue fazer. Os efeitos visuais, as atuações de Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint estão na média de sempre. Eles demonstram grande respeito pelos
personagens e sentem-se totalmente à vontade em cena, embora sejam poucos os momentos em que eles tenham que utilizar sua “bagagem” interpretativa dramática no filme.



São as atuações de Alan Rickman como Snape, Ralph Fiennes sob os quilos de maquiagem de seu Voldemort e deMichael Gambon (que substituiu o falecido Richard Harris a partir do terceiro filme) como Dumbledore é que sustentam o elenco jovem de Harry Potter, dando maior propriedade às cenas dramáticas ou de tensão. Toda a competência de Rickman fica explícita na cena em que Harry enfim descobre toda a verdade sobre aquele que aparentemente sempre o detestou, visualizando na penseira as memórias do garotinho que sofria bullyng na infância por possuir poderes sobrenaturais, e que na fase adulta se apaixona perdidamente por Lilian Potter, a sua “garotinha ruiva” particular (essa piadinha só vai entender quem conhece Charlie Brown). O momento nunca antes mostrado quando Snape encontra Lilian morta aos pés do berço do bebê Harry é tocante, e enfim entendemos que todas as ações de Snape eram premeditadas para proteger Harry e fazer com que ele conseguisse chegar até o fim da sua jornada que era vencer você-sabe-quem.
A grande virada do roteiro!




Apesar de ser um personagem de pouca expressão vilanescamente falando, Ralph Fiennes conseguiu fazer com que seu Voldemort se tornasse assustador, embora sua voz não convença em um cara mau que mata geral. Depois da voz de Darth Vader (amém James Earl Jones!), claro que fica difícil encontrar alguém que supere esse quesito, mas uma entonação mais cavernosa talvez soasse melhor para um vilão que possui uma aparência amedrontadora e cuja característica principal é ser um indivíduo desprovido totalmente de compaixão.
A mitologia de Harry Potter é indiscutivelmente atraente e todo o universo criado em torno dos personagens é digna de aprofundamento. Embora o próprio personagem título não seja exatamente um exemplo de bom comportamento, que não seja um herói altruísta e que tampouco tenha grandes talentos (falar com cobras, talvez) que o diferenciem de seus colegas com relação a magia, Harry Potter ainda é um espelho do herói moderno, aquele que tem defeitos, que comete erros, mas que no final acaba se saindo bem por ter um bom caráter. Da mesma forma podemos ver todos a sua volta. Seu próprio pai Tiago Potter não era um exemplo do qual todo filho possa se orgulhar (praticava bullyng com Snape), o próprio Dumbledore cometera erros gravíssimos em sua juventude, fora responsável indireto pela morte da irmã e ainda cuidara de Harry apenas para conduzi-lo a seu destino final, que era morrer nas mãos de Voldemort, extinguindo assim, para sempre, todas as horcruxes que o vilão havia utilizado para fragmentar sua alma na tentativa de se tornar imortal.



Se Harry pode ser considerado um exemplo de herói caótico, Voldemort é o exemplo da incompetência em pessoa. Como um homem adulto, dotado das mais pérfidas artimanhas místicas e com a varinha das varinhas em punho consegue fracassar em derrotar um garoto que nunca foi um exímio combatente em magia? Que sorte é essa que Harry Potter tem que sempre algo o salvo no último minuto, impedindo Voldemort de mata-lo? É sorte mesmo ou Voldemort que é um vilão mequetrefe que só sabe matar seus próprios comensais da morte?
Eu esperava uma batalha mais grandiosa no fim da história entre os dois, mas ficou mais uma vez a decepção de algo que possuía potencial para ser muito maior, mas que acabou sendo mediano. Em 8 filmes, a melhor batalha, aquela que representa realmente o que dois mestres da magia devem ser capazes de fazer em combate, ficou representada em A Ordem da Fênix, na grandiosa batalha entre Dumbledore e Voldemort.



Seja como for, acabou sendo divertido acompanhar a saga de Harry Potter e seus amigos ao longo de todos esses anos, e ninguém pode tirar os méritos de J.K. Rowling ao criar um dospersonagens mais rentáveis da história moderna. A saga se encerra, mas ficam as lembranças e a esperança de receber uma carta de Hogwarts entregue por uma coruja mesmo que tardiamente. Sei lá. Vai que a minha coruja se perdeu no caminho!




NOTA: 7,5
e 9 para o conjunto da obra.


AVADA KEDAVRA!

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