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17 de março de 2013

Chorão - Só os Loucos Sabem

 
O ano de 1997 foi uma espécie de hiato para o Rock N’ Roll brasileiro. Ainda estávamos de luto por causa dos Mamonas Assassinas, os Raimundos já faziam algum sucesso, mas permaneciam no underground, A Legião Urbana havia se desfeito devido a morte de seu líder e vocalista Renato Russo, o Capital Inicial estava no ostracismo e bandas como O Rappa  e Detonautas ainda não tinham estourado para o grande público. Havia apenas o silêncio musical, e ele incomodava.

O álbum Transpiração Contínua Prolongada do Charlie Brown Jr. lançado nesse mesmo ano e produzido por Rick Bonadio (também produtor dos Mamonas) veio para mexer as estruturas do Rock no Brasil, iniciando um crescente que ainda duraria longos anos, todos eles aproveitados por mim em minha adolescência de ouvinte da 89 FM, a Rádio Rock!



Músicas como o “Coro vai comê”, “Proibida pra mim” e “Tudo que ela gosta de escutar” começaram a estourar na maioria das rádios do país, e os garotos de Santos começaram a ganhar projeção nacional com seu som que misturava punk rock, reggae e skate music. As letras, em sua grande maioria escritas por Chorão, tratavam da realidade daqueles moleques de baixa renda que já haviam vivido várias mazelas em sua vida, e essa foi uma das grandes razões pela qual o público se identificou com o Charlie Brown Jr. Havia muito de verdade naqueles versos.  
  

O segundo disco, lançado em 1999 Preço Curto... Prazo Longo é pra mim, o melhor da carreira de quase 20 anos da banda, e possui uma porção dos maiores sucessos dos caras como “Vou te levar” (tema da Malhação durante 7 anos), “Zóio de Lula” (que imortalizou a célebre frase “meu escritório é na praia, e eu tô sempre na área”), “Confisco”, “Não deixe o mar te engolir” e “O Preço”, onde Chorão conta sua história de garoto pobre que se tornou um astro do rock. 



Dificuldade então
Passava eu, meu pai, minha família e meus irmãos
Sem perceber larguei a escola
E fui pra rua aprender
Andar de skate, tocar, é
Corre pra ver o mar


Nessa época as letras das músicas do Charlie Brown já estavam na ponta da língua, e embora eu nunca tivesse passado fome na infância, vivido nas ruas, andado de skate e nem tampouco me juntado a galera “maloqueira” (tipo a turma do fundão das escolas) eu também me identificava com suas canções, em especial pelo tom de protesto que elas traziam, algo que naquele mesmo período só era possível se escutar com o Rap, na boca de caras como Mano Brown (dos Racionais Mc’s) e do Gabriel, O Pensador, outro que fez o caminho inverso, foi do asfalto para o morro para ver “qualé que é”. 


Chorão possuía toda a atitude Rock N’ Roll já tradicional de astros que, como ele, subiam ao palco e faziam a galera pular com seu som. Ele nos passava a imagem de “marrento” e encrenqueiro, e não fugiu dos estereótipos, arrumando confusão com outros artistas (Marcelo Camelo manda abraços), com fãs que questionavam as escolhas que ele e a banda haviam feito em sua carreira, e com os próprios amigos de grupo, ocasionando até a separação do Charlie Brown Jr. em 2005. Tudo isso, no entanto, era apenas uma imagem externa e precipitada de um cara, apontado por pessoas próximas, como sendo o contrário disso. Nós que não tivemos uma convivência com o cara, não precisamos nos ater apenas a relatos de familiares ou amigos para sabermos quem, afinal, foi Alexandre Magno. Sua obra era um diário aberto de sua vida. Suas músicas diziam tudo que ele pensava, sentia e fazia, e não é difícil fazer uma bela análise da vida de Chorão apenas ouvindo as músicas que ele escrevia.

 
 
Se por um lado “Rubão” ("Pago pra vê tcharroladrão"), “Confisco” ("Eu sou da lei seu trouxa, eu confisco") “Papo Reto” ("Eu vou fazer de um jeito Que ela não vai esquecer") nos inspiram a gritar e entrar num bate-cabeça, Chorão sempre soube dosar seu lado, digamos assim, mais sensível e romântico em letras que todo cara gostaria de cantar um dia para uma garota. “Hoje eu acordei feliz”, “Como tudo deve ser” e “Vícios e Virtudes” são bons exemplos que a “mente nem sempre tão lúcida” de Chorão às vezes não queria tão somente protestar contra as injustiças do mundo. Ele também era o cara que mesmo “achando legal ser errado” queria conquistar a garota dos sonhos, e que a queria “levar dali”, para um lugar melhor. Esse era o Chorão que nós aprendemos a gostar, e nenhum de nós imaginava que seu fim seria tão semelhante ao de vários astros de rock em decadência com a qual fomos obrigados a entrar de luto ao longo dos tempos. Uma pena.



O dia 06 de Março começou triste com a notícia de que Chorão havia sido encontrado morto em seu apartamento de Pinheiros. Recebi a notícia logo de manhã pelo Twitter, e acompanhei por todo aquele dia o desenrolar dos fatos, até saber que as circunstâncias de sua morte eram bem parecidas com a de outros roqueiros como Kurt Cobain, que também havia sido encontrado morto em seu apartamento depois de alguns dias. Embora algumas letras de suas músicas ("parecia inofensiva, mas te dominou") e sua atitude bad boy dessem indícios, eu nunca imaginei que Chorão fosse um usuário de drogas hardcore, e demorei a acreditar que essa fosse a principal causa de sua morte prematura. Infelizmente, todos aqueles problemas que ele parecia ter superado vieram à tona ("o homem quando está em paz não quer guerra com ninguém"), e ele se rendeu diante de um inimigo muito poderoso que parecia ter combatido a vida todo e nos ensinado a também combater com sua música: As Drogas



A meu ver o suicídio não é um ato de fraqueza extrema como muitos apontam, e sim um ato de liberdade. A vida nos dá diversas maneiras de “lutar pelo que é meu” e de encarar nossos problemas com coragem, mas nem sempre somos fortes o suficiente, e todo mundo tem o direito de se render diante de uma derrota iminente. Chorão se rendeu, e não acho que sua decisão deva ser julgada, e sim tomada como lição. Se a separação da esposa Graziela Gonçalves, que muitos apontavam ser seu Porto Seguro, o levou ao fundo do poço, talvez isso pudesse ser reversível, mas ele decidiu não lutar contra isso e se libertou. Só podemos desejar sorte a esse cara que inspirou grandes pensamentos e muita diversão com sua música. Que agora ele encontre a paz que almejava, e que esteja “livre pra poder sorrir, livre pra poder buscar o seu lugar ao sol”.



As músicas que Chorão escreveu continuarão a tocar ad infinitum enquanto seus fãs recorrerem a seus versos para exprimirem algum sentimento reprimido, e assim como todas as lendas do Rock, ele vai ser lembrado mais por sua obra do que pelas circunstâncias trágicas de sua morte. Com certeza ele já deixou saudades.

Por um longo período, Chorão, Champignon, Pelado, Castanho e todos que vieram depois do fim da formação original do Charlie Brown Jr. fizeram parte de nossas vidas, e continuarão fazendo, até mesmo porque a música e o Rock N' Roll são elementos que nenhuma droga pode corromper, e isso só os loucos sabem


NAMASTE!

3 comentários:

  1. Luisa disse: Tu postou que em 1997 ainda eatava de luto pelos Mamonas Assassinas. Mano, eu ainda tô de luto pelos MAMONAS ASSASSINAS, não tem como colocar o Charlie Brown no mesmo lugar dos Mamonas, cara. O Chorão, era legau, mais eu até agora não sei o nome do baterista do CBJR, viviam numa situação doida, mt estranha essa banda. Não tinha a ESTABILIDADE E O HUMOR dos FILHOS DE GUARULHOS, que faziam um rock q desde a vovó até o netinho escutavam. Já o CBJR, tinha musicas mt boas, "Só os Loucos Sabem" já me tirou dum lago de lama, cara, as letras eram profundas, o CHORÃO ERA EXTREMAMANTE CARISMATICO, E TALENTOSO mas os outros integrantes pra mim, só sei q tocavam os instrumentos e nada mais, não sei mais da vida de nenhum deles, nem seus nomes. Eu SINTI E SINTO MUITO PELO PASSAMENTO DO CHORÃO, PQ O CHORÃO ERA TÃO BOM NA MUSICA, TÃO GRANDE NA BANDA Q ELE ERA A BANDA TODA. Já os MAMONAS, eram unidos, grudados como irmãos. Não vejo O GRUPO MAMONAS ASSASSINAS (sem o Júlio por ex). e ele não era só o tecladista, ERA O TECLADISTA não vejo sem o Samuel, sem o Sérgio, sem O Dinho, ou sem o Bento, se um deles, qq um deles faltace, já não era os MAMONAS ASSASSINAS, por iço eu prefiro chamar não de banda mas de GRUPO MUSICAL MAMONAS ASSASSINAS. Todos eles fazem mt falta cara, eu sinto fauta de todos, todos tinham um lugar e ocupavam um papel, eram os 5 ou nenhum. Infelizmente não pudemos ficar com os 5, então não ficamos com nenhum pq separação não existia ali, mano. Era tudo junto ou ninguém. Já no CHARLIE BROWN morreu o Chorão a banda morreu junto, pq era só ele pra ocupar o lugar de todos. Mas ninguém poderia ousar em ocupar o lugar dele. Fui bem sincera contigo. Abraços Luisa de Cruz Alta- RS.

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    1. Obrigado, Luisa!
      Fiquei muito contente em saber toda essa sua admiração pelos Mamonas mesmo tanto tempo depois que eles se foram.
      Felizmente o som deles estará aí pra sempre, assim como o do CBJR.

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  2. +MAMONAS ETERNOS E O CHORÃO TAMBEM.+
    +SAUDADES ETERNA+
    by Luisa de Cruz Alta- RS

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