Jon Favreau passou a batuta da direção de Homem de Ferro 3
após comandar os dois primeiros filmes, e Shane Black ditou um novo ritmo a
série que (aparentemente) se encerra mesmo com essa terceira parte da aventura
do Vingador Dourado nos cinemas. O filme ainda tem as características básicas
que tornaram o personagem um ícone da cultura pop moderno, como o humor ácido
de seu protagonista, as “mirabolâncias” pseudo-científicas e tecnológicas e o
ritmo de ação desenfreada, mas o clima agora é outro. Algo de dark assombra o
universo de Tony Stark, e Homem de Ferro 3 tenta nos convencer o tempo todo que
agora a porra ficou séria. Mas será que ficou mesmo?
O enredo de Homem de Ferro 3 se passa imediatamente após os
eventos narrados em Vingadores. Tony Stark enfim percebeu que ele não é o
centro do universo e que o mundo está repleto de pessoas infinitamente mais
poderosas que seu alter-ego enlatado, o que faz com que o cara tenha
preocupantes crises de ansiedade. Além disso, Stark não consegue lidar bem com
o fato de que sua vida dupla coloca em risco aqueles que ele ama, o que
faz com que ele crie diversas armaduras enquanto fica de vigília em sua luxuosa
mansão. “Ah, não tem nada pra fazer, ‘bora montar mais armaduras
descartáveis!”.
Em paralelo a isso, vemos uma crescente hegemonia de um
terrorista denominado “Mandarim”, que começa a ser ligado a ataques em volta do
globo enquanto invade a cadeia nacional de TV para fazer ameaças garbosas e
teatrais aos chefes de Estado mundiais. No momento em que o governo americano
procura descobrir a localização do tal terrorista ou pistas de que levem até
seus asseclas (uma vez que os supostos ataques terroristas não deixam qualquer
vestígio de explosivos), um atentado dentro de seu território deixa gravemente
ferido o fiel braço-direito de Stark, Happy Hogan (Jon Favreau), o que faz com
que Tony cometa seu primeiro grande erro no filme: Chamar o Mandarim pro pau em
rede aberta (indo contra totalmente à história de que ele estava preocupado com as pessoas próximas a ele)!
O que acontece em seguida, todo mundo já viu nos trailers
veiculados incansavelmente por aí, por isso nem se caracteriza como SPOILER.
Uma retaliação em resposta a provocação de Stark acontece de forma violenta, e
a mansão do bilionário é esfacelada, colocando em risco a vida não só do
próprio Tony como também a de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) o grande amor da
de sua vida, que só é salva por uma nova armadura que responde a
controles-remotos (mais ou menos como uma simulação ao que o vírus Extremis
permite que o Homem de Ferro faça nos quadrinhos).
Depois de ter todos seus gadgets, bem como toda sua
tecnologia (exceto a armadura “Resgate”) destruída pelo ataque do “Mandarim”,
Tony Stark é obrigado a fugir e recomeçar toda sua jornada do herói bem longe
de seu habitat natural. Perdido numa cidade interiorana, com a armadura
descarregada e contando com a ajuda de um garoto local, o bilionário aprende
que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades não é sua armadura
que faz dele um herói, e sim o homem dentro dela. Homem de Ferro 3 é inteiro
dedicado ao homem dentro da armadura, e esse é com certeza um dos acertos de
roteiro. A resposta que Stark dá ao Capitão América em Vingadores sobre “o que
você é sem essa armadura?”, já não convence mais, e desesperado em perceber que
ele sem o Homem de Ferro É SOMENTE um gênio, playboy, bilionário e filantropo,
Stark começa uma corrida para provar às demais pessoas e a si próprio que ele é
mais do que um cara dentro de uma armadura, além de deter o grande vilão do pedaço.
A Direção
Shane Black é daqueles diretores que precisam imprimir sua
marca em todos os filmes que faz, ele consegue conduzir bem a parte final
(será?) da saga de Tony Stark nos cinemas, dirige excelentes sequências de
ação, mas é impossível não ver semelhanças gritantes em Homem de Ferro 3 de
seus trabalhos anteriores.
Em Beijos e Tiros, filme de 2005 dirigido por Black, temos Robert Downey Jr. no papel de um ator falido que se mete em diversas encrencas pra ficar com seu amor de infância. Além da presença do ator principal de Homem de Ferro, Beijos e Tiros é quase inteiro narrado em off pelo próprio protagonista. E qual a principal característica de mudança em Homem de Ferro 3 com relação a seus antecessores? Justamente a narração em off de Tony Stark!
Em Beijos e Tiros, filme de 2005 dirigido por Black, temos Robert Downey Jr. no papel de um ator falido que se mete em diversas encrencas pra ficar com seu amor de infância. Além da presença do ator principal de Homem de Ferro, Beijos e Tiros é quase inteiro narrado em off pelo próprio protagonista. E qual a principal característica de mudança em Homem de Ferro 3 com relação a seus antecessores? Justamente a narração em off de Tony Stark!
Até mesmo a dupla de “tiras” inter-racial que Black escreveu
para Máquina Mortífera (Black assinou o roteiro dos dois primeiros filmes da
série) se repete no meio do enredo. Não que Tony possa ser considerado um
“tira”, mas vê-lo de arma em punho ao lado de seu fiel amigo James Rhodey (Don
Cheadle) correndo em meio a um porto, se não foi uma homenagem a Máquina
Mortífera 2, foi uma cópia descarada de cena de ação!
Seja como for, as “homenagens” a seus trabalhos anteriores
não prejudica o desenrolar da trama, e a meu ver, Shane Black conseguiu fazer
um bom trabalho por de trás das câmeras. O clima engraçadinho dos dois
primeiros filmes é amenizado para tentar imprimir um pouco de drama à nova fase
da vida do personagem central, mas ao mesmo tempo em que eles tentam nos
lembrar que Homem de Ferro 3 é mais “dark” e sério, as gags e situações
engraçaralhas nos puxam de volta pra comédia pastelão. Não é algo negativo
ter cenas descontraídas no decorrer da história, uma vez que isso é o grande
trunfo de Homem de Ferro 1, porém justamente quando tentávamos nos concentrar
no clima tenso do filme, vinha uma gracinha e jogava o clima pra galhofa de
novo.
Shane Black escreveu Máquina Mortífera, que pra mim, é um
dos melhores clássicos do cinema de ação oitentista, e a série é toda pautada
entre cenas de tirar o fôlego com situações cômicas entre Riggs (Mel Gibson) e
Murtaugh (Danny Glover). Nem por isso deixamos de sentir as emoções dos
personagens quando algo trágico lhes acontece ao longo dos filmes. Lá, Black,
com a brilhante direção de Richard Donner, consegue equilibrar bem humor e
ação, mas em Homem de Ferro 3 ele não se sai tão bem nessa missão, estragando o
que poderiam ser ótimas cenas dramáticas com um humor pueril e bobo.
Mas e aí, Rodman? Ele deu conta do recado ou não?
A meu ver sim, mesmo dando essas escorregadas no clima do
filme, que desde os trailers já nos diziam que ia ser uma coisa e acabou sendo
outra. Não credito a Black o efeito exagerado das pirotecnias que tomam o filme
em sua meia hora final, e a dança das armaduras que se desmontam como se
fossem feitas de plástico na sequência de encerramento, mas acho que uma
segurada nas rédeas ali talvez tornassem mais palatáveis as cenas de ação que
fecham a história. Só acho.
Adaptação
O arco Extremis escrito por Warren Ellis redefiniu o
personagem Homem de Ferro para o século XXI, e já consta como um dos melhores
dentro da historiografia do Vingador Dourado nas HQs.
Uma das capas do Arco Extremis de Warren Ellis |
Para o cinema, foram necessárias algumas alterações na
história original para que ela funcionasse, e o vírus Extremis tornou-se um
acelerador das capacidades humanas utilizado para criar armas de destruição em
massa. Criado pela doutora Maya Hansen (nas duas mídias), o vírus acaba caindo
nas garras da IMA (Ideias Mecânicas Avançadas) e de seu ambicioso
representante, Aldrich Killian (Guy Pearce), o que cria uma ligação
importante entre o Mandarim, o Extremis e Killian no enredo do filme. Diferente
das HQs, Tony Stark não entra em contato direto com o vírus, mas alguém muito
próximo dele acaba sendo inoculado, gerando as tais cenas (quase) dramáticas
que citei anteriormente.
O real papel do vilão Mandarim na história gerou uma porção
de opiniões conflitantes em fóruns de discussão na Internet e nos Podcasts
sobre o filme, e embora o velho vilão sino-britânico não tenha aparecido em
cena com todo seu esplendor verde e com seus anéis de poder, sua figura foi
muito importante para o filme, o que conseguiu fincar sua história fantástica
um pouco em nossa realidade. Afinal, como o próprio filme questiona, os EUA não
precisam sempre de uma figura estrangeira ameaçadora para manter a “máquina de
guerra” em funcionamento?
Outra adaptação ocorrida no filme foi com relação ao Patriota
de Ferro, armadura que nos quadrinhos é forjada pelo vilão Norman Osborn durante
o Reinado Sombrio, mas que na história do cinema, nada mais é do que a
“armadura do Máquina de Combate pintada de vermelho, azul e branco”. Mais ativo
que no filme anterior, o Coronel James Rhodey (o corpo dentro do Patriota de
Ferro) é agora o braço-direito do Presidente Americano, que o usa para que seu
Governo passe a imagem de segurança para seu povo. Se o papel do herói negro no filme não passa
de uma figuração, o mesmo não pode ser dito de Don Cheadle, que apesar de não
se parecer fisicamente em nada com o Rhodes dos quadrinhos, segura bem nas
cenas de ação, criando também empatia com o público.
O Máquina de Combate pintado de vermelho, azul e branco |
Homem de Ferro 3 não é o pior e nem o melhor filme da Marvel
Studios, tem deslizes de roteiro absurdos, cenas de ação que estouram o nível
do aceitável e se acovarda em dar um motivo REALMENTE dramático ao herói se
negando a eliminar alguns personagens. Porém, no entanto, todavia, o filme
ainda assim é extremamente divertido e faz jus ao que foi criado até então para
o Vingador Dourado nos cinemas. Downey Jr. É Tony Stark, e cada vez mais à
vontade no papel tem seus já quase 50 anos colocados à prova em cenas que
exigem muito mais de sua capacidade física do que as interpretativas em um
filme onde vemos mais Tony Stark do que Homem de Ferro. E quer saber? Ela manda
bem! À exemplo de Tom Cruise que ainda corre como ninguém aos 50, Downey Jr.
encarou extenuantes cenas de ação para provar que o homem é mais forte que o
ferro, e não tem como não dar nota 10 para o ator, que assim como seu
personagem mais emblemático (não desmerecendo Chaplin e Sherlock Holmes, claro)
se livrou do vício para voltar a brilhar.
Se o filme não me agradou tanto quanto o primeiro da série ou
mesmo o fantástico Vingadores, ele consegue ficar em boa posição com relação
aos demais filmes da Marvel. O que no frigir dos ovos, já é algo significativo.
NOTA: 8
NOTA: 8
Ps.: Assisti o filme num dos mais fantásticos cinemas de São
Paulo, e a sensação de estar dentro da cena e em meio a explosões com o Homem
de Ferro é única. Nota 10 para o cinema Imax da rede Cinépolis do Shopping JK
Iguatemi.
Ps. 2: Antes de Homem de Ferro 3 foram veiculados os trailers
de Thor 2 e de Wolverine: Imortal, porém, nenhum desses dois chamou-me mais a
atenção do que Man of Steel. O visual do filme está impecável, e se dessa vez a
Warner/DC não acertar com o Homem de Aço, não acertam nunca mais. Para o alto e
avante!
NAMASTE!
Eu acho que Robert Downey Jr. é dos melhores atores não estão participando atualmente em Homem de Ferro e os Vingadores tem sido excelente, seus filmes sarcasmo sempre dar um toque de frescura, para mim, era difícil considerar Downey em outro papel que não foi super-herói, mas o juiz fez fantástico, adaptando o seu tudo para o filme, 100% recomendado.
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