No final dos anos 80 e por toda a década de 90, era muito
comum eu comprar minhas revistas em quadrinhos em sebos de revistas usadas, e
foi assim que comecei minha coleção. Já disse aqui no Blog algumas vezes que
foi graças a meu irmão mais velho que comecei a gostar de gibis, e posso dizer
até que minha alfabetização começou com eles. Por mais que o primeiro gibi que
tenha tido contato na vida tenha sido um da DC (o famigerado Superamigos nº 19
da Editora Abril), foi com os da Marvel que encontrei meu lugar.
Demorou um pouco para eu entender que DC e Marvel eram
editoras rivais (como entender isso de primeira sendo quem o segundo gibi que
chegou lá em casa estampava na capa o Superman e o Homem Aranha JUNTOS?), mas
quando eu percebi as diferenças, comecei a notar um padrão em todo começo de
história. Havia sempre um texto no cabeçalho das HQs escrito “Stan Lee Apresenta”,
e isso se repetia em todas as revistas que chegavam lá em casa, seja as do
Capitão América, as do Hulk, do Homem Aranha e até as Heróis da TV.
Foi na edição
de nº 100 do Capitão América que FINALMENTE descobri quem era aquele tal de
Stan Lee, com um editorial explicando como ele havia criado os principais
personagens retratados naquele gibi e com a colaboração de quem.
Eu nunca tinha
lido texto simples em gibi, e aquele em especial me chamou a atenção por se
tratar do criador falando de suas criaturas. Percebi no mesmo instante que
aquela era uma edição especial e rara (em formatinho com mais de 160 páginas), e foi aí que li pela primeira vez as
origens do Quarteto Fantástico, do Hulk, do Homem Aranha e do Thor.
Depois da edição de nº 100 de Capitão América, alguns anos
depois eu encontrei a Heróis da TV de nº 100 na banquinha de revistas usadas, e
ela também contava a origem dos demais personagens criados por Stan Lee: O
Doutor Estranho, o Homem de Ferro, os X-Men e os Vingadores.
Todas as histórias
de origem vinham antecedidas com um texto assinado por Lee (e aquele seu lado
bonachão) explicando o que o levou a criar suas figuras fantásticas, e foi
dessa forma que descobri a importância que esse cara tinha para aquele universo com a
qual eu tanto me identificava, mas não sabia bem (na época) o porquê.
Por mais que se diga hoje que ele “não criou nada de verdade”
e que o verdadeiro criador é Jack Kirby (que esteve ao lado dele como desenhista na invenção do
Quarteto, do Hulk, dos X-Men e dos Vingadores), é inegável dizer o quanto Stan
Lee ajudou a popularizar o gênero de literatura tão marginalizado que sempre
foram as histórias em quadrinhos. Quantas vezes eu ouvi na minha própria casa
que gibi “era besteira”, “um monte de lixo” e que “essas asneiras vão te deixar
retardado” (bem, isso eu não discordo totalmente), e quantas vezes eu tive que
esconder que gostava dessas “asneiras” na escola para não ser zoado até a morte
por gostar de algo “tão infantil e sem propósito” quanto uma HQ.
Hoje, em parte
graças aos esforços de Lee em dar palestras e entrevistas, explicando o quanto
uma HQ pode ser importante na vida de uma pessoa, em especial aquelas mais
retraídas, mas introvertidas que não são as mais populares na escola, o público
em geral consegue enxergar esse gênero com um pouco mais de respeito do que
antes, e isso já é um grande avanço.
Para mim, na década de 90, os gibis dos
personagens inventados por Lee foram meu grande alento em uma família que não
era muito conhecida por dar atenção ou por ensinar valores as crianças e
adolescentes, e muito do que sou hoje, como véio adulto, se deve ao que aprendi
nas HQs do Homem Aranha ou do Capitão América (que não foi criado por Stan Lee,
mas que retornou do gelo graças a ele!). Embora eu nunca tenha tido grandes
poderes, a frase “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” me ensinou
que nós nunca devemos pisar ou maltratar alguém só PORQUE PODEMOS, e algo assim
é difícil de se esquecer, mesmo vindo de um gibi.
Sempre admirei os personagens
dos quadrinhos por não ter alguém na vida real para admirar, e minha
personalidade acabou sendo moldada por essas criaturas fantásticas que me
acompanharam a vida toda. Parece babaca? Pode até ser, mas hoje tenho mais a agradecer
a Stan Lee do que se imagina, e é com grande pesar que escrevo essa homenagem a
ele que nos deixou no último dia 12 de Novembro.
Com 95 anos não dá pra dizer
que ele não aproveitou a sua vida, e ele deve ter se divertido um bocado nos últimos
10 anos de Marvel Studios em que esteve presente (fazendo participações) em
todos os 20 filmes do estúdio, com os personagens que ele mesmo escreveu
ganhando vida. Que lá de onde ele estiver ele conceda criatividade e sabedoria
aos escritores e desenhistas que vão continuar contando as histórias de seus
personagens na Marvel, e que por mais singela que possa ser essa minha homenagem ao que ele me ensinou em vida, espero que ele possa receber essa energia positiva.
PS.: Quase não deu para conter as lágrimas lendo as homenagens que Stan recebeu através do Twitter essa semana. Como fã, me emocionei verdadeiramente. Foi duro!
Excelsior!
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