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10 de julho de 2019

Review: Homem Aranha Longe de Casa


Esse POST possui SPOILERS PRA CARALHO!


Quando o Homem Aranha foi introduzido no universo cinematográfico da Marvel em Capitão América: Guerra Civil, foi uma catarse quase que unânime entre os fãs do personagem dos quadrinhos, ainda mais porque a última adaptação do Cabeça-de-Teia, feita somente pela Sony, tinha sido um DESASTRE. Ver o Homem Aranha interagindo com o Homem de Ferro, enfrentando o Capitão América, fazendo piadinhas enquanto lutava ou agindo como um adolescente, algo que é o cerne de sua criação lá nos anos 60, FOI MUITO RECONFORTANTE, em especial por saber que agora ele estava em boas mãos. Desde 2008 a Marvel Studios vinha fazendo um excelente trabalho com os brinquedos que tinha em mãos, e não havia muitas razões para questionar que o que seria feito com o Aranha ia ser de alguma forma diferente. “É Marvel, cara! O que pode dar errado???


Procurando talvez distanciar o seu Homem Aranha em conjunto com a Sony (vale lembrar que os direitos sobre o personagem ainda são compartilhados) do que já havia sido mostrado nos cinemas desde 2002 (no início da trilogia do Sam Raimi), Kevin Feige e a Marvel optaram por fazer alterações no conceito básico do Amigão da Vizinhança, e é isso que acaba incomodando enquanto assistimos Longe de Casa


Desde X-Men (2000) já estamos bem acostumados a ver todo tipo de adaptação com os personagens que dificilmente conseguem se manter iguais a suas versões quadrinhísticas, mas quando essas mudanças vão além da aparência e acabam atingindo aquilo que é a essência do herói, é difícil acreditar que aquele é o mesmo cara que vemos nos gibis. Podemos aceitar um Wolverine de 1,90 m porque isso não altera em nada sua essência, mas por que temos que aceitar um Peter Parker que não aprendeu com a perda de seu Tio Ben que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades?


Isso é mimimi de nerd, Rodman. Foda-se esse véio do Tio Ben. O Tony Stark é muito mais massa!


O fato de não haver um Tio Ben que inspire o heroísmo do Homem Aranha no MCU nem é o grande problema, jovem padawan. O que mais incomoda no Aranha do cinema é toda a sua subserviência com relação a figura paterna que ele encontra em Tony Stark desde Guerra Civil. Tudo que Peter Parker faz logo que assume sua persona colorida (com um traje criado por Stark) é para ter a aceitação do mentor. Ele enfrenta o Capitão América e sua equipe não porque com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, mas porque Stark falou que é o certo. 


Ele é um garoto imaturo, OK, a gente entende isso, mas o Aranha nas HQs tinha 15 anos quando ganhou os poderes, e é justamente a morte do tio que lhe ensina a maior lição de todas, o que faz com que ele nunca mais queira falhar na vida. A jornada do Homem Aranha é basicamente essa, impedir que mais pessoas sofram por um descuido seu. O que faz do Aranha um herói essencialmente melhor do que muitos outros nas HQs é justamente o seu altruísmo. É não depender de ninguém para fazer o certo, e em especial não precisar agradar ninguém. 


Ver o Aranha depender da tecnologia de Tony Stark até para fazer seus uniformes chega a ser humilhante, o que afasta ele completamente de suas características mais básicas. Hoje todo mundo critica o Homem Aranha de Tobey Maguire, mas o seu Cabeça-de-Teia estava mais perto do cerne do personagem, o perdedor que faz de tudo para impedir que as pessoas a seu redor sofram, mesmo que isso arrebente sua vida pessoal no processo.


Isso é mimimi de nerd véio, Rodman. Foda-se esse Homem Aranha boca-mole do Tobey Maguire! O Tom Holland é muito mais massa!

Pode até parecer somente um mimimi, mas um Aranha que depende tanto de outras pessoas para fazer o que é o certo está bem longe de ser um herói digno de usar o traje teioso.

Longe de Casa

Todo mundo ficou encafifado com o lance dos cinco anos perdidos entre o estalar de dedos do Thanos em Guerra Infinita e o estalar de dedos do Hulk em Ultimato, e bastaram cinco minutos de Homem Aranha: Longe de Casa para Jon Watts (diretor) explicar o que aconteceu com as pessoas que desapareceram no primeiro estalar e retornaram no segundo. Basicamente foi um “foda-se” bem grande, e a teoria do “blip” diz apenas que todas as pessoas que voltaram cinco anos depois simplesmente retomaram suas vidas, incluindo os alunos de ensino médio. De volta à escola, Peter Parker (Tom Holland) e seus amigos Ned (Jacob Batalon), Flash (Tony Revolori), MJ (Zendaya) e Betty (Angourie Rice) continuam a enfrentar os desafios do colegial, ganhando uma viagem para a Europa de férias logo que as coisas com os desaparecidos se resolvem. Classe média sofre!

Happy, MJ, Flash, Betty e Ned

O que não deu para entender é se TODOS os amigos de Parker também foram “blipados” com ele, pois o único que cresceu parece ter sido o personagem Brad de Remy Hii, que é lembrado por Ned como um pirralho do fundamental antes do “blip”.

Happy e (eu te a) May

Enquanto um clima de azaração parece rolar entre May (Marisa Tomei) e Happy Hogan (Jon Favreau), Peter continua levando sua vida heroica, agora com o consentimento de sua tia. Mais em evidência que antes, ele faz aparições públicas no início do filme com o traje Aranha de Ferro usado em Guerra Infinita e Ultimato, ganhando vários fãs (entre eles Flash Thompson, que odeia Peter Parker). Antes da viagem para a Europa, Happy o avisa que Nick Fury (Samuel L. Jackson) está tentando contato com ele, mas o garoto evita o super-espião, partindo com os amigos de avião e deixando os trajes de herói em casa (Bem, quase todos!).


Já na Europa, enquanto o rapaz procura se aproximar de seu interesse amoroso MJ, planejando um encontro romântico com ela na Torre Eiffel, Peter se vê tendo que disputá-la com Brad, o que cria situações muito engraçadas no decorrer da história. 


Antes de ir para Paris (o que acaba não acontecendo), eles fazem a primeira parada na Itália, onde o grupo de amigos e os dois professores encarregados da turma se veem sob ataque de um imenso Elemental de água. Sem seu uniforme, Peter se vê sem alternativas para impedir que o monstro destrua Veneza, e é quando um novo herói surge em meio a batalha, disparando rajadas místicas dos punhos e voando em direção a criatura. Após deter a ameaça, o novo herói alado parte, agradecendo a ajuda de Peter (que entra em ação com uma máscara de carnaval cobrindo o rosto), e os amigos do rapaz apelidam o samaritano de “Mystério”. 


De volta ao hotel onde está hospedado com os amigos de escola, sem querer, Peter acaba recebendo a visita de Nick Fury, que pede sua ajuda com uma nova ameaça que ele vem rastreando desde o México. Lá, ao lado de Maria Hill (Cobie Smulders), o diretor da SHIELD acaba topando pela primeira vez com o Mystério que entra para o time alegando que não é do mesmo universo (o 616) que o Aranha e Nick Fury. 


Convencido a dar uma olhada na situação, já como Homem Aranha, o rapaz visita uma base secreta da SHIELD, e lá descobre que o Elemental da água é apenas um de outros três que atravessaram as realidades e que destruiu o universo de Quentin Beck (Jake Gyllenhaal), o Mystério. Com medo de expor sua dupla identidade agindo como o Escalador de Paredes na Europa, o Aranha recusa ajudar Fury e Beck, e decide voltar a sua identidade civil, para junto dos amigos.


Fury acaba manipulando a situação, e faz com que a excursão dos estudantes vá exatamente para onde será o epicentro do ataque do próximo Elemental, frustrando Peter. Em posse de um óculos dotado de uma IA chamada EDITH, último presente de Tony Stark ao garoto, entregue por Fury, Peter acaba se envolvendo em uma confusão envolvendo drones de ataque com tecnologia Stark, o que coloca a vida dos amigos dentro de um ônibus à caminho de Praga, em perigo. Apesar de cômica, essa sequência mostra a irresponsabilidade de Peter em lidar com a tecnologia de realidade aumentada dada por Stark para que ele se torne “o novo Homem de Ferro”. 


O filme nos passa a sensação de que o Aranha deve ser o substituto imediato do Homem de Ferro, o que acaba irritando um pouco. Se sentindo indigno de portar tal responsabilidade, Parker encontra em Quentin Beck, devido sua experiência em combate e conhecimento tecnológico, um substituto à altura de Stark, e decide presenteá-lo com EDITH, distorcendo o último desejo de seu mentor.


PAM, PAM, PAAAAAAM!

Para surpresa de ninguém que já leu alguma HQ, o cara da cabeça de aquário se mostra ser um vilão logo que põe a mão em EDITH, tecnologia que ele já almejava há muito tempo, e em poucos minutos de cena ele destrincha todo seu plano de conquista, junto com a sua equipe que é inteiramente formada por ex-funcionários da Stark Industries, frustrados com o ex-patrão. Assim como o Abutre (Michael Keaton) de Homem Aranha – De Volta ao Lar, o Mystério é mais um inimigo do Aranha ressentido pelo intelecto do homem por trás da armadura do Homem de Ferro. 


É bem criativo mostrar através do roteiro que “os poderes” que o Mystério usa para combater os Elementais na Europa nada mais são do que ilusões e projeções criadas pela tecnologia BARF que Tony Stark demonstra logo no começo de Guerra Civil, com a cena em que Robert Downey Jr. aparece rejuvenescido para mostrar o dia em que ele se despediu dos pais. 


Nem depois de morto Stark para de fazer merda, criando praticamente 80% dos vilões do MCU! A lista não para de crescer!


Longe de Casa é um filme extremamente carismático e divertido, que usa muito bem a interação do personagem principal com seus coadjuvantes. As peripécias de Peter para conquistar MJ, e ao mesmo tempo evitar as investidas do conquistador Brad sobre ela, são muito boas. 


O casal improvável Ned e Betty (que nas HQs existiu de um jeito diferente e acabou quando Ned foi capturado e morto como o Duende Macabro) também é uma das agradáveis surpresas do enredo, e funciona bem demais num contraponto com os desencontros entre Peter e MJ. 

O casamento de Betty e Ned nas HQs e a sombra do Duende Macabro

Enquanto o amigo se dá bem com Betty logo em seu primeiro "encontro", Peter tem que suar muito para conseguir dizer a garota tudo que ele sente por ela.


Mystério é muito bem interpretado por Gyllenhaal e todo o talento do ator fica evidente quando sua persona muda do herói para o vilão em poucos minutos. Apesar de seu plano tosco de ser visto como o novo herói do pedaço usando a tecnologia que, segundo ele, foi roubada por Stark, Mystério chega a soar plausível quando utiliza suas ilusões, se tornando um adversário difícil de ser combatido pelo Aranha. 


A sequência em que Beck ilude o Aranha criando um falso Nick Fury e uma falsa Maria Hill e o faz cair em várias armadilhas visuais, culminando num ATROPELAMENTO DE TREM é extremamente angustiante. Assim como o Escalador de Paredes, nós os espectadores, também não sabemos diferenciar o que é real do que é ilusão.


Nas HQs, tanto o Aranha quanto o Demolidor, que também se torna um adversário recorrente do vilão, enfrentam o Mystério utilizando seus demais sentidos, não confiando em sua visão (até porque para o Demolidor isso seria meio difícil, né!). 


Assim, os roteiristas apresentam o “Arrepio do Peter” (Sentido de Aranha), que foi brevemente mostrado em Guerra Infinita, de forma efetiva, o que o herói aprende a utilizar como recurso contra um cara que usa ilusões e drones como arma, para vencê-lo.


Zendaya é a nova queridinha de Hollywood, mas em cena ela não mostra muito porque é tão querida ou porque é tão requisitada (ela estava bem cotada para ser a Ariel de A Pequena Sereia antes do papel cair no colo de Halle Bailey). A ex-estrela da Disney não é tão carismática quanto Emma Stone em O Espetacular Homem Aranha, fazendo par com Andrew Garfield, por exemplo. A Gwen Stacy de Stone, além de bonita, é extremamente inteligente e carismática, e sua química com Garfield é uma das únicas coisas que se salvam nos dois filmes de Marc Webb.


Zendaya aparece bem pontualmente em De Volta ao Lar, mais como uma figura implicante para Peter Parker, já que o interesse romântico dele nesse filme é Liz (Laura Harrier), a filha de Adrian Toomes, e em Longe de Casa é exatamente essa característica mais “descolada” da menina que chama a atenção de Peter e Brad. A atuação da atriz é apenas “OK” quase sempre com sua expressão de "foda-se" no rosto enquanto encena, mas é difícil não cair de amores pela relação entre ela e Holland em tela, apesar de tudo, algo que é um ponto positivo, em detrimento do carisma de Zendaya (algo que Brie Larson nos provou em Capitã Marvel, ser somente um detalhe nas características principais de uma personagem feminina). A química dos dois funciona na tela, e isso que acaba importando no final. 


Sua MJ não é NEM DE LONGE a Mary Jane das HQs, mas para ESSE Peter Parker ela é uma parceira à altura, não sendo a mocinha em perigo irritante de Kirsten Dunst da trilogia de Sam Raimi e tão inteligente e safa quanto a Gwen Stacy de Emma Stone.

O traje do Macaco Noturno

Tirando o fato que mais uma vez a sombra do Homem de Ferro paira sobre o Homem Aranha durante o filme todo, incluindo a desnecessária cena em que Peter constrói DO ZERO um uniforme a bordo de um avião da Stark, Longe de Casa tem mais acertos do que erros. Apesar da luva com os dedos expostos do traje stealthMacaco Noturno” (deixando impressões digitais por toda a Europa!), a intenção de sua utilização é engraçada, e faz lembrar os momentos das HQs em que Peter tem que improvisar um traje quando o seu não está por perto. O que não vão faltar são bonequinhos desse filme para vender!



Nota: 8,0

P.S. 1- A primeira cena pós-crédito do filme abre de vez a questão da identidade já quase não tão secreta assim de Peter Parker. É irritante como os Homens Aranhas dos cinemas passam mais tempo sem máscara em cena do que com, mas se o plot aberto no final do filme tiver futuro no MCU, agora que ele nem vai mais precisar cobrir o rosto! A decisão final parece mais uma preguiça total de criar roteiros bem feitos com o herói tendo que se virar para esconder quem ele realmente é das pessoas que ele ama, protegendo-as de possíveis retaliações. Se o Homem de Ferro expôs logo quem ele era no primeiro filme, identidade secreta do Homem Aranha de cu é rola também!
Vale lembrar que nas HQs, quando Peter decidiu expor sua identidade para o público, deu UMA MERDA GIGANTE!


P.S. 2 – O que dizer sobre a participação super-especial de um certo editor de jornal rabugento que tanto os fãs esperavam desde Homem Aranha 3, hein?

P.S. 3 – Eu achei que a Invasão Skrull não ia acontecer, mas a segunda cena pós-crédito meio que inseriu o conceito da Invasão Secreta no MCU, mostrando o personagem Talos de Capitã Marvel se passando por Nick Fury. À partir de agora, qualquer um pode ser um impostor!

P.S. 4 - Segundo boatos de pessoas que assistiram o filme com o controle de pausa nas mãos (Hehehe!), a cena pós crédito em que o Aranha passeia entre os prédios está recheada de easter-eggs que indicam um possível futuro do MCU, incluindo a rua onde o Edifício Baxter do Quarteto Fantástico se encontra nas HQs e o futuro da antiga torre Stark, que como sabemos, foi vendida ainda em Homem Aranha - De Volta ao Lar. Teria Reed Richards adquirido o prédio para abrigar sua família fantástica?

Olha a antiga torre Stark sendo reconstruída lá atrás!

P.S. 5  (Vai ser caro PRA CARALHOOO!) - De acordo com boatos, o acordo entre Marvel e Sony pode acabar em definitivo caso Longe de Casa não atinja pelo menos US$ 1 bilhão de bilheteria. Se isso acontecer, uma terceira parte do Aranha junto aos personagens do MCU pode não rolar, e a Sony  pode voltar a fazer filmes merdas com o personagem. Mal podemos esperar para ver o Aranha lutando com o Venom do Tom Hardy! (NOT!!)

NAMASTE!

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