Depois da aquisição da Marvel pela Disney e o seu famoso estúdio de animação, era inexplicável que a empresa criadora do Homem-Aranha não conseguisse produzir uma série animada de qualidade sequer ao longo de tantos anos. Enquanto a Warner/DC nadava de braçada no quesito adaptação de personagens para a mídia televisiva, a Marvel parecia cada vez mais presa à fórmula do MCU nos cinemas. Sem querer arriscar, o todo-poderoso Kevin Feige, diretor executivo do grupo, manteve os seus personagens principais numa caixinha inquebrável, à prova de “más interpretações criativas”, o que fez com que a concorrência saísse E MUITO na frente.
Depois de tanto tempo, quem diria que seriam os X-Men que salvariam a crise instaurada no estúdio com o fracasso iminente de suas franquias cinematográficas?
Antes que eu tente escrever tudo que estava engasgado ao longo da minha ausência do blog — e quem ainda lê blog, Deus do céu? — de uma vez só, vamos nos ater ao objetivo desse post que é falar da excelente — até o momento — animação X-Men ’97, e as razões que fazem dela não só uma ferramenta de nostalgia para os velhos fãs do desenho noventista, mas também uma prova cabal de que SE BEM EXECUTADA, qualquer adaptação consegue fugir dos clichês.
Sigam-me os bons!
Eu não sei precisar qual foi o real impacto do anúncio da revitalização da franquia animada da Marvel para os espectadores mais novos, aqueles que só possuem referências dos mutantes com os horrendos filmes da Fox ou, no máximo, que os conhecem da série mais “recente”, a X-Men Evolution. Mas para mim, que acompanhou X-Men The Animated Series na época da primeira exibição no Brasil, a sensação foi mesmo de empolgação total.
Há muito tempo se fala da saturação do gênero super-herói na cultura pop, ainda mais depois de tanto material ruim que tem sido produzido pelas duas principais empresas do ramo — a Marvel e a DC. Por conta disso, eu fui um dos tantos afetados por essa falta de qualidade e esmero no que tem sido lançado, o que me fez cansar bastante de ver filme ou qualquer produto relacionado a “bonecos”.
Eu achava que nada mais me empolgaria como o primeiro trailer do filme “Vingadores - Guerra Infinita”, que me deixou em um estado de ansiedade que eu nunca tinha experimentado antes. Passou cerca de um ano até a catártica experiência de ver “Vingadores – Ultimato” no cinema com a galera empolgada tal qual torcida de futebol no estádio e, depois disso, era como se nada mais fosse conseguir superar o ápice de ver todos aqueles heróis Marvel reunidos na tela.
Então, veio o primeiro trailer de X-Men ’97, e o pequeno Rodman de 12 anos que assistia ao desenho original depois da saída da escola, na TV Colosso, ressurgiu com força em minha mente, me fazendo lembrar como era gostosa aquela época de descoberta do mundo fantástico dos mutantes, e como eles passaram a ser importantes para mim a partir dali.
Sério!
Eu fui às lágrimas depois da primeira visualização do trailer, e foi essa sensação de nostalgia que me fez esperar com entusiasmo pelo lançamento da série no serviço de streaming da Disney.
Episódio 1 – “To Me, My X-Men”
O primeiro episódio da nova temporada começa pouco tempo depois dos eventos mostrados no final da anterior, a quinta, onde Henry Peter Gyrich atinge o Professor Xavier com uma arma capaz de descontrolar os seus poderes psiônicos, o que, posteriormente, o leva a óbito com uma emocionante despedida a seus pupilos antes disso.
Henry Peter Gyrich |
Assim como na HQ, Xavier não morre exatamente, mas é levado em estado muito grave por Lilandra, a Imperatriz do Império Shi’ar, de onde só retorna muito tempo depois, com a lesão em sua espinha curada e muito mais saudável que antes. Se isso vai acontecer na animação, só Odin sabe!
Na animação, em paralelo à morte de Xavier, boa parte do mundo continua enxergando a existência dos mutantes como uma ameaça à sua própria existência, e já no primeiro minuto da nova série, vemos alguns dissidentes dos “Amigos da Humanidade” — uma espécie de milícia armada formada apenas por “cidadãos de bem” — capturando um jovem mutante e o atando a uma das coleiras inibidoras de poderes largamente usadas em Genosha, na época em que os mutantes eram escravizados na ilha.
Os Amigos da Humanidade |
O mutante é rapidamente identificado como Roberto Da Costa, o Mancha Solar dos Novos Mutantes, e não tem como não soltar um “É o Brasil do Brasil” mentalmente no momento em que o garoto aparece em cena.
Roberto Da Costa ÉÉÉÉÉÉ DO BRASIL! |
Sabe-se lá como, os X-Men descobrem o local onde o garoto está sendo mantido cativo e, após anos de espera — e pra mim que assistiu à série original, isso dá bem mais do que vinte anos! — nós podemos ver os mutantes da Marvel em ação pra valer. Desta vez, numa qualidade alta de animação e agindo como nunca antes o PG-13 da programação infantil do Fox Kids — o canal original que veiculava o desenho nos anos 90 — permitiu.
Não há palavras para descrever o que foi ver o Ciclope moendo os Amigos da Humanidade no soco dentro do galpão para onde eles arrastavam as suas vítimas, e o que a chegada da Tempestade e do Bishop acrescentam à narrativa de ação da cena. É espetacular de se ver. O pequeno Rodman de 12 anos estava em êxtase dentro de mim. Lindo demais!
Ainda nesse episódio, é mostrado que os trumpistas... ops, digo, supremacistas, detém agora armamentos recuperados das carcaças de antigas Sentinelas, os robôs gigantes criados por Bolívar Trask para eliminar mutantes, e estão utilizando tal armamento com o intuito claro de matar os representantes da raça que tanto odeiam.
Algum tempo depois de resgatar Roberto, já em sua mansão, Ciclope, Tempestade e Bishop se juntam aos demais membros do grupo para discutir o ocorrido no galpão, e temos pequenos vislumbres da Jean Grey — em estado avançado de gravidez —, do Gambit — e o polêmico cropped que deixou muito nerdola em faniquito —, da Vampira, do Morfo — que já tinha retornado à equipe no último episódio da quinta temporada —, do Fera e da Jubileu, que agora não é mais a novata da casa.
Gambit de cropped... para delírio dos nerdolas! |
As costumeiras desavenças entre Ciclope e Wolverine também ganham destaque nesse episódio, uma vez que, aparentemente, com a morte de Xavier, é o “Magrão” quem está dando as cartas na mansão, o que deixa o carcaju canadense bastante incomodado. Aliás, é importante notar que o antigo papel do Wolverine de protagonista absoluto do desenho — e das HQs, e dos filmes e dos videogames... — até o presente momento foi bastante reduzido em ‘97, o que é bom para quem sempre quis ver também mais dos outros personagens da equipe nas adaptações.
Seguindo a narrativa do episódio, após resolver as pendências do grupo quanto a quem é que manda em quem, o Ciclope decide fazer uma visita ao assassino do Professor Xavier na detenção, e tenta descobrir, afinal, o paradeiro do criador das Sentinelas. Com tanta bugiganga oriunda dos robôs gigantes por aí, é possível que alguém esteja financiando os Amigos da Humanidade, e a resposta mais clara é Bolívar Trask.
Em uma ótima cena de interrogatório com Scott e Ororo interpelando Gyrich sob a vigilância do Bishop, o antigo agente da NSA permanece impassível ante a oferta de redução de pena proposta pelos mutantes, o que faz com que o Ciclope convoque a esposa Jean que, mesmo da Mansão X, consegue invadir a mente do sujeito com a ajuda do Cérebro, arrancando de lá na marra o paradeiro de Trask.
Eu precisei rever o episódio para escrever o post e, num segundo momento, é importante notar que, enquanto sonda a mente de Gyrich, Jean é afetada por algum tipo de ataque psíquico misterioso que a faz ter visões de um futuro que só nos será revelado lá no impactante episódio 5 da temporada. Da primeira vez que vi, esse fato passou muito batido.
As visões de Raven... digo, Jean Grey |
Com a localização de Trask em mãos e imbuídos de acabar de uma vez por todas com a ameaça dos Sentinelas, os X-Men, liderados pelo Ciclope, chegam até um local ermo onde são abatidos logo de cara ainda no ar. Com o Pássaro Negro feito em pedaços, cabe aos membros do grupo — que só não contam com a Jubileu, que ficou na mansão para tomar conta do Roberto — salvarem as suas e as vidas dos colegas. Enquanto os voadores dão uma mãozinha aos que não tem asas, o Ciclope faz o “Super-Hero Landing” mais irado de todos os tempos, usando as suas rajadas óticas para amortecer a queda.
O super-hero landing mais motherfucker EVER! |
Para quem tinha dúvidas sobre o potencial do cara, esse é o Ciclope que a gente sempre quis ver. Ele é ou não é o cara?
Como é de se esperar, Trask tem em seu poder um novo Molde-Mestre, o ser mecânico que fabrica os demais Sentinelas — vale lembrar que o primeiro Molde-Mestre foi destruído ainda lá na primeira temporada da animação — e, é claro que o pau canta bonito entre os X-Men e os robozões caçadores.
O Molde-Mestre |
A cena de ação é tão fantástica, que tem direito à Tempestade chegando com tudo controlando o clima e botando pra foder com os robôs sobressalentes. Nesse trecho, é dito que a deusa possui o status de "mutante nível ômega" — ou sejE, o nível mais alto de poderes numa escala de 1 a 10 — e é identificada assim pelos Sentinelas.
Tempestade nível ômega |
Além disso, rola um ataque em conjunto entre o Wolverine, o Gambit e o Morfo, na cena que foi exibida já no trailer da animação antes da estreia, encerrando de vez o combate em grupo que, na minha opinião, JAMAIS poderá ser reproduzido em uma versão live-action para os cinemas.
Ao final desse episódio, enquanto ainda estamos nos refazendo do clima de nostalgia que os roteiristas tão bem incentivaram desde o começo dele e às inúmeras referências a momentos marcantes dos quadrinhos — como o jogo de basquete no quintal da Mansão X —, quem resolve dar as caras na mansão é ninguém menos que o Magneto, o mestre do magnetismo. Segundo ele, em seu testamento, Charles Xavier deixou o controle da mansão em suas mãos e, além disso, também a tutela dos próprios X-Men, o que cria o cliffhanger perfeito para o início do segundo episódio.
Dublagem brasileira
Muito tempo se passou entre o último episódio da temporada 5 de X-Men The Animated Series e a atual, por isso, é bem natural que alguns dos icônicos dubladores cujas vozes entraram no nosso imaginário acabaram nos deixando no decorrer desses quase vinte e oito anos.
Um dos mais lembrados, é claro, é o saudoso Isaac Bardavid, que deu voz ao Wolverine nas três primeiras temporadas do desenho original, e que, mais tarde, voltou também para dublar o Hugh Jackman, nos filmes dos X-Men da Fox.
Outra que nos deixou há alguns anos, foi a maravilhosa Iara Riça, que dublou a Jubileu em todas as temporadas da animação e que, mais tarde, acabou dublando a Jean Grey em X-Men Evolution.
Quem também nos deixou, foi a dubladora da Tempestade, Jane Kelly, que emprestou a sua voz marcante para a personagem africana também em todas as temporadas antigas.
Não se sabe a razão para que algumas das vozes tenham sido substituídas em X-Men ‘97 mesmo com os seus antigos dubladores ainda em atividade — como é o caso da Fernanda Baronne, que dublou todas as versões da Vampira até então, seja em animação ou em live-action —, mas o atual time de vozes conta com os seguintes nomes:
Como relatei aqui no post que fiz sobre a animação dos X-Men dos anos 90, o Ciclope já teve pelo menos três dubladores diferentes, mas atualmente ele é dublado por Fernando Lopes, que tem em seu currículo, entre outros papeis, a voz do Agente Americano/John Walker da série Falcão e o Soldado Invernal e o Constantine, em algumas animações da DC.
A substituta de Fernanda Baronne como a Vampira causou estranheza no público que estava acostumado à voz aveludada de sua antiga intérprete — eu incluso —, mas Priscilla Concepcion não é uma novata no universo X. Ela já deu voz à outra mutante há algum tempo, a Mística de Jennifer Lawrence dos filmes X-Men - Primeira Classe, Dias de Um Futuro Esquecido, Apocalipse e Fênix Negra.
O Magneto já não vinha sendo dublado pelo icônico José Santa Cruz desde a temporada quatro do desenho anterior, mas atualmente, o personagem ganhou a voz de Charles Dalla, que entre os seus trabalhos mais famosos, fez a voz do Sub-Zero em alguns jogos de Mortal Kombat e do Gilgamesh do filme Eternos, do MCU.
Com o falecimento de Jane Kelly em 2011, quem dubla a Rainha dos Ventos agora é Ângela Couto que, diga-se de passagem, tem feito jus à sua antiga intérprete. Logo em sua primeira entonação, no primeiro episódio, é possível perceber que ela quase consegue emular Kelly com aquelas frases cantadas que a personagem usa antes de invocar os elementos, e ela foi com certeza um dos maiores acertos do elenco atual.
Nos Estados Unidos houve uma movimentação para que uma atriz asiática dublasse a personagem que também tem origem asiática e, por isso, no Brasil, quem se destacou para dar a voz da Jubileu, após a passagem de Iara Riça, foi a dubladora Carol Murai.
Ao lado de Ângela Couto, é possível dizer com segurança que Murai foi uma das melhores adições do elenco, já que a personagem ganhou mesmo uma voz adolescente que combina com o seu status quo. Em outros trabalhos, Carol também dublou a atriz McKenna Grace no filme de terror Annabelle 3 - De Volta para Casa, em 2019.
Em X-Men ‘97, o Gambit também recebeu uma nova voz e, desta vez, quem substitui Eduardo Dascar — que dublou o personagem em todas as aparições dele da série antiga e também em X-Men Evolution — é Raphael Rossatto, que por aqui, é mais conhecido como o dublador do Chris Pratt e seus personagens, como o Senhor das Estrelas dos Guardiões da Galáxia.
Os dubladores que não foram substituídos e fazem o seu grande retorno aos seus antigos papeis contam com a maravilhosa Sylvia Salustti — que foi a Jean Grey em todos episódios da série antiga e também em sua aparição live-action, nos filmes — e Jorge Vasconcellos, que foi a segunda voz do Fera até o final da quinta temporada da animação.
Sylvia Salustti e Jorge Vasconcellos |
A voz mais do que marcante de Luiz Feier Motta — o dublador oficial do Sylvester Stallone no Brasil desde os anos 90 — retorna ao papel de Wolverine, que foi característica durante os episódios de X-Men Evolution. Aliás, no país, poucas pessoas poderiam interpretar a voz do Wolverine além de Feier, após a passagem de Isaac Bardavid.
Márcio Simões também reprisa o seu papel como Professor Xavier que ele fez em X-Men Evolution. Apesar do personagem estar morto em ‘97, ele ainda retorna em alguns flashbacks e nas transformações aleatórias do Morfo.
Luiz Feier Motta e Márcio Simões |
Vale destacar também o trabalho dos atores Vanderlan Mendes (Bishop), Cadu Paschoal (Mancha Solar), Márcia Morelli (Valerie Cooper), Sérgio Cantú (Noturno) e de Fernando Mendonça, que faz o Morfo, substituindo o Carlos Marques de Oliveira — o antigo dublador do Hortelino dos Looney Tunes —, que faleceu em 2021.
A análise de X-Men ‘97 continua no próximo post…
P.S.: Quem não se arrepiou inteiro com a introdução do tema clássico dos X-Men na abertura de '97 deve estar morto por dentro. Não é possível! Aliás, eu jamais imaginei que a Marvel Animation iria revitalizar a abertura completa com os novos traços dos anos 2000. Eu achei que rolaria uma nova abertura ou algo mais sucinto, mas a versão moderna ficou supimpa de batuta!
P.S.2: Há algum tempo, eu escrevi um post muito especial contando um pouco sobre a série animada original dos X-Men e, naquela época, ainda nem se falava de X-Men '97. Vale a lida a respeito das curiosidades desta que é, com certeza, a MELHOR animação com os mutantes da Marvel. Clica aí no banner e seja feliz!
NAMASTE!
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