EPISÓDIO 3 - FIRE MADE FLESH
Depois da chegada da segunda Jean Grey à mansão X, todos os X-Men se veem abismados com o terrível mistério envolvendo a sua presença ali. Rapidamente, a mulher é levada para o laboratório do Fera onde o herói felpudo aplica um teste de DNA — RRRRRRRATINHO-OOOOOO — em ambas as “Jeans” para saber quem é quem.
Se constata então que, pasmem, a mãe de Nathan, e aquela que esteve ao lado dos mutantes em todos aqueles meses é um clone da original — a que chegou ferida e cansada aos portões da casa — e imediatamente um climão é instaurado entre a moça e o esposo, Scott, que se vê em um dilema moral muito grande.
Afinal, quem poderia ter feito um clone de Jean Grey, e quando na cronologia da animação isso poderia ter acontecido?
Nos quadrinhos, essa dúvida de quem seria a verdadeira Jean nunca existiu, porque desde o seu surgimento, a Madelyne Pryor jamais chegou a ser tratada exatamente como um clone da Garota Marvel. Na época em que isso foi escrito pelo sempre presente Chris Claremont, a Jean Grey ainda estava morta após os eventos da saga da Fênix Negra e a nova ruiva foi tratada apenas como “alguém muito parecida com a Jean” e, por quem logo o Ciclope se apaixonou.
Integrada aos X-Men mesmo sendo, até então, uma humana comum, Madelyne continuou aparecendo regulamente nas histórias, até que o plot de que ela era, na verdade, um clone da Jean viesse à tona durante a Saga “Inferno”. Esse arco de histórias colocou a moça no centro dos acontecimentos e se desenrolou por inúmeros meses em uma quantidade gigantesca de títulos da Marvel.
Madelyne Pryor durante a Saga Inferno |
Na saga Inferno, Madelyne é raptada pelo Senhor Sinistro e o seu poder psíquico — até então contido — veio à tona com toda a força em uma cena muito bem escrita em que ela desperta dentro de um hospital. Enquanto demônios invadem Nova York liderados por uma criatura chamada Nastirth — que, claro, quer dominar o mundo e blá blá blá —, Madelyne acaba aceitando o seu destino como a Rainha dos Duendes, se tornando uma vilã a serviço do Cão, do Tinhoso, do Sete-Pele, do Mochila-de-Criança.
Algum tempo antes disso acontecer, o escritor e desenhista John Byrne havia trazido a verdadeira Jean Grey de volta da morte e, por isso, o Ciclope decidiu não só abandonar a esposa, Madelyne, como também o filho, Nathan, tudo para voltar com a ex ressuscitada.
Na ocasião, Byrne inventou uma desculpa fuleira de que o corpo da verdadeira Jean sempre estivera submerso no rio onde ocorreu o acidente com o ônibus espacial que trouxe os X-Men de volta à Terra, após uma aventura no espaço. A ideia era que a Fênix tinha criado um corpo artificial à imagem e semelhança de Jean, retendo, inclusive, todos os seus pensamentos — o que justificaria ela agir de maneira idêntica à ruiva e ninguém perceber a diferença. E foi esse corpo que os armamentos de Shi'ar destruíram na área azul da Lua, ao fim da Saga da Fênix Negra.
O retorno de Jean Grey |
Confuso, né? Pois é! Isso é X-Men, minha gente!
Em teoria, foi o abandono de Ciclope que acionou todos os gatilhos emocionais que fizeram de Pryor uma criatura maligna, mas todo mundo sabe que, na realidade, foi apenas a velha desculpa dos escritores de gibi da época de que se uma mulher nos quadrinhos ganha muito poder, ela automaticamente vai ficar maluca e sair matando geral por aí. Não foi assim com a própria Jean/Fênix e a Feiticeira Escarlate de Dinastia M?
Na animação, toda essa maluquice que nos quadrinhos levou meses para acontecer foi condensado em um único episódio de quarenta minutos, porém, o resultado foi bastante satisfatório.
Longe de querer agradar as crianças que assistiam ao desenho na década de 90, Beau De Mayo — o roteirista —carrega o episódio inteiro em um clima de terror, onde os poderes psíquicos da falsa Jean criam alucinações em todos os moradores da mansão, uma mais terrível que a outra. Como que confrontados por seus mais íntimos medos, os X-Men se veem vítimas física e mentalmente de criaturas malignas que estão por toda parte.
Beau De Mayo o roteirista de X-Men '97 |
Jubileu e Roberto são, de repente, importunados pelos personagens da TV que assistem na sala. Traumatizado internamente por não conseguir contar à mãe sobre a sua mutandade, o garoto brasileiro é atacado por uma criatura que se torna a sua mãe diante de seus olhos e que o acusa de ser uma aberração.
Perto dali, preocupado em perder o amor da Vampira com a chegada do Magneto ao grupo, o Gambit flagra o casal a ponto de se fundir de tão unidos dentro do escritório. E o golpe da alucinação é ainda maior para o cajun quando a moça lhe diz que encontrou nos braços do Magneto “um homem melhor do que ele”.
Nas palavras do próprio personagem assim que ele sai da sala, “o Gambit nunca mais vai conseguir esquecer isso!”.
Nos vestiários da mansão, após um treino intenso na Sala de Perigo, o Morfo decide tomar uma ducha seguindo o conselho do Wolverine, e lá, acaba sendo assombrado pela imagem do Senhor Sinistro, o real ativador da psique assassina do clone da Jean.
Aqui nessa cena, no entanto, o vilão aparece em suas visões porque ele é um dos principais inimigos do próprio Morfo, o tendo torturado física e mentalmente por um longo período no passado. O mutante chegou a agir a favor de Sinistro por um tempo após uma lavagem cerebral que sofreu, mas conseguiu se recuperar mais tarde, embora com traumas. Isso foi mostrado na segunda temporada de X-Men The Animated Series.
Por conta da piadinha do Morfo — que nessa temporada assumiu o tom brincalhão típico dos personagens metamorfos das animações, vide o Mutano dos Titãs — sobre “alcançar as áreas não alcançáveis” da anatomia do Wolverine no banho, foi especulado que o personagem estaria a fim de iniciar um “lance” com o velho amigo Logan, o que causou certo alvoroço na internet.
O fato é que, antes mesmo da estreia de X-Men ‘97, o roteirista principal da animação, Beau De Mayo — que é gay — afirmou que o Morfo seria identificado nessa nova fase como um personagem não-binário — ou seja, pessoas que não se identificam nem 100% como homem, nem 100% como mulher —, o que seria perfeitamente natural dada a natureza de seus poderes que lhe permitem assumir a forma de qualquer pessoa, seja qual for o gênero.
Essa informação foi o suficiente para que até o dublador americano do personagem, J.P. Karliak, começasse a sofrer insultos nas redes sociais pela característica atual do Morfo, afirmando ainda mais a crítica que fiz no post anterior a respeito do tema principal de X-Men ser “aceitação ao que é diferente” e boa parte dos fãs simplesmente ignorar isso por pura ignorância.
Tanto nos diálogos quanto em suas atitudes, o Morfo ainda parece somente gostar muito da companhia do amigo de longa data Wolverine, não tendo, necessariamente, nenhum interesse sexual nele. E mesmo que tenha, isso não parece ser correspondido, visto que o Wolverine só tem um alvo romântico nessa trama que é a Jean Grey.
Desde a primeira temporada, o Morfo meio que assumiu a posição de amigão do Wolverine que, nas HQs, era ocupada pelo Noturno. E eles tem até um episódio inteiro só para resolver a questão de que os X-Men o teriam abandonado em campo de batalha após uma ferrenha batalha contra os Sentinelas (Morfo é abandonado no primeiro episódio da série, "A noite das sentinelas", e o acerto de contas com Logan acontece no episódio 2 da segunda temporada, "Até que a morte nos Separe"). Na ocasião, o Logan achava que o amigo estava morto.
Após um confronto fantástico entre a Jean controlada pelo Sinistro e os X-Men, onde as capacidades telecinéticas da moça são elevadas a ponto de ela tirar onda com os poderes magnéticos do Magneto, quem acaba entrando em ação depois de passar o episódio quase todo sedada é a Jean original, que trava um combate mental com a sua cópia.
Durante a briga psíquica, a verdadeira Jean mostra que o poder conquistado pela clone não é a coisa mais importante em sua existência e sim a vida que ela gerou com o seu marido, Scott.
Ao ver o nascimento de Nathan em suas memórias, a duplicata finalmente vence o controle mental produzido pelo Sinistro e decide se juntar ao pai da criança para salvá-la.
A batalha dentro da mansão mostra com riqueza de detalhes a evolução dos poderes de vários personagens, em especial, do Bishop — que deixou de ser só "o cara do trabuco" das temporadas anteriores — e da própria Madelyne. Ver a moça rivalizando com o Magneto dizendo que a sua telecinese dá muito mais vantagens em uma luta do que o magnetismo dele foi impressionante, o que serviu também para tirar um pouco daquela fragilidade que a Jean Grey sempre transmitiu nos desenhos anteriores.
Quando ela dá 100% de seu potencial, ninguém segura a ruiva!
Aliás, poucos roteiristas fora dos quadrinhos conseguiram usar o poder da Jean Grey sem o Efeito Fênix de maneira adequada. Tanto nos cinemas quanto nas animações, a Fênix sempre foi usada de muleta para apresentar a moça, o que é meio irritante. É como se para os leigos, a Jean fosse totalmente dependente da Fênix para sequer existir.
Dito isso, adivinhe quem está voltando a ser a Fênix nos quadrinhos nesse momento? Kkkkkkkkk!
Jean Grey volta a ser a Fênix nas HQs em 2024 |
Após raptar Nathan se aproveitando da confusão instaurada por sua aliada entre os X-Men, o Senhor Sinistro decide fazer um de seus experimentos genéticos com a criança, a mergulhando em uma solução onde um vírus tecnorgânico será inoculado nele e, teoricamente, torná-lo imbatível.
Se batizando de Madelyne Pryor e após se despedir emocionadamente do filho, a clone decide ir embora da mansão. Ela tem uma última conversa com Jean para acertar os ponteiros e o futuro da personagem se torna incerto... pelo menos até o episódio 5 da série.
EPISÓDIO 4 - MOTENDO
O episódio 4 é duplo e, em sua primeira parte, mostra o retorno do vilão interdimensional Mojo, que rapta a Jubileu e o Roberto para dentro do seu novo jogo de videogame, o “Motendo” do título.
Em suma, o episódio foca nas ações desesperadas da dupla de adolescentes para tentar sobreviver ao jogo que transporta a ambos para cenários conhecidos dos fãs como o shopping onde a Jubileu fez a sua estreia na primeira temporada (no episódio "A Noite das Sentinelas") e para Genosha, para onde ele foi raptada há algum tempo ao lado da Tempestade e do Gambit (no episódio 7 da temporada 1, "Ilha de Escravos").
Em cada cenário, como num jogo clássico dos anos 90, Jubileu e Roberto precisam enfrentar vários inimigos, incluindo os chefões de fase, Magneto e o próprio Mojo, que decide intervir quando percebe que alguém inesperado está ajudando a menina a se salvar das armadilhas criadas por ele.
Esse alguém logo se mostra ser uma versão mais poderosa e experiente da própria Jubileu que, colocada ali para testar a funcionalidade do game, acabou se tornando uma espécie de “fantasma da máquina”.
O episódio em si é no máximo divertidinho, e serve para mostrar uma versão muito caprichada em 16 bits do que seria um jogo de X-Men criado naquela época e para causar uma nostalgia imensa nos velhos que, assim como eu, jogaram X-Men - Mutant Apocalypse nos fliperamas (no meu caso, no SuperNES da Nintendo).
X-Men Mutant Apocalypse, o jogo da Capcom |
Bom demais!
LIFEDEATH PART 1
Sem os seus poderes, a Tempestade decide ir para uma área afastada dos Estados Unidos e em um bar, acaba sendo abordada pelo misterioso Forge, um mutante gênio que se diz “amigo de Xavier”.
Para quem não lembra, sem ser nas cenas de futuro do Bishop, onde ele está em sua versão idosa, o Forge teve uma aparição quase relâmpago liderando o X-Factor, em um episódio quase inteiro focado na Jubileu e no Homem-de-Gelo da terceira temporada (episódio 15, "Fria Revolta"). Na época, é citado que o membro fundador dos X-Men, Robert Drake, saiu brigado do grupo e que, posteriormente, ele acabou engatando um romance com Lorna Dane, a Polaris.
Lorna, depois, encontra companhia nos braços do Destrutor, que é outro membro do X-Factor, e o ex-casal se reencontra durante o episódio em lados opostos por conta das atitudes inconsequentes do Homem-de-Gelo — justamente a justificativa que o Ciclope diz de o porquê o rapaz abandonou a antiga equipe, por ele ser cabeça-oca.
Apesar disso, os X-Men acabam comprando a briga do Bobby e caem na porrada com o outro grupo de mutantes.
Para quem não lia HQs na época ou não conhecia os personagens, ficou sem entender muita coisa, porque nada é explicado de maneira decente no roteiro da animação. Na versão em português, por exemplo, o grupo nem sequer é chamado de “X-Factor”, assim como também não há explicação para a sua existência — nos quadrinhos, eles funcionavam como um grupo dissidente dos X-Men e eram comandados pela Valerie Cooper, que agia como uma espécie de Nick Fury de saias a organizá-los — ou de onde eles surgem.
X-Factor e Valerie Cooper nas HQs |
Pelo que me lembro, também não há qualquer citação ao fato do Destrutor ser o irmão mais novo do Ciclope. Os dois saem na porrada e nem sequer entendem porque os seus poderes não os afetam. Uma confusão da porra!
Mas nada é pior do que ver o Mercúrio (ou Quicksilver no original) ser chamado na versão dublada de “Raio de Prata”.
Disposto a ajudar a Tempestade a recuperar os seus poderes, o Forge menciona que conseguiu construir uma espécie de câmara capaz de reativar os seus genes afetados pelo raio disparado pelo Executor X na ONU. O teste da câmara falha e a moça se vê ainda mais traumatizada por ter deixado de ser, enfim, uma louca, uma deusa uma feiticeira.
Durante a sua convivência com ela na cabana, se sentindo culpado pelo estado da moça, entre lembranças de sua antiga vida como cientista do governo americano, Forge admite que a arma usada pelo Executor foi uma criação dele no passado e que essa é a razão para que esteja tão empenhado em ajudá-la.
Nos quadrinhos, essa mesma situação é mostrada logo depois que a Ororo e o Forge começam a se relacionar amorosamente, após a sua perda de poderes. O personagem “Adversário” — a corujona mostrada na animação — começa a infernizar a vida da deusa, o que culmina, mais tarde num ritual de sacrifício para vencer o rival, onde todos os X-Men acabam morrendo.
Naquela época, o Ciclope tinha refeito a equipe original de X-Men com o retorno da Jean, os chamando de X-Factor (a primeira versão) e os X-Men tinham em suas fileiras além da Tempestade, o Destrutor, o Wolverine, o Colossus, a Psylocke (versão de armadura) e a Cristal.
Logo depois, a fase “Austrália” teve início, e algumas das melhores histórias da dupla Chris Claremont e Marc Silvestri foram criadas.
Os X-Men na fase Austrália de Chris Claremont |
A análise de X-Men’97 continua no próximo post…
P.S. – em X-Men ’97, as metamorfoses do Morfo têm sido um
show de referências à parte, em especial, por ele se transformar em ação em
personagens que têm pouco espaço no enredo regular. Durante o primeiro
episódio, pouco antes do embate contra o Molde-Mestre ele se transformou no
Arcanjo para salvar o Wolverine em queda. Durante a luta contra o Executor X na
ONU ele se transformou na Espiral — a aliada alienígena do Mojo —, no Colossus e na Psylocke, que nesse
universo, nunca fizeram parte dos X-Men. Porém, foi durante o episódio 3 que
ele se metamorfoseou na personagem que mais gostei de ver em ação, a Magia.
A pequena irmã do Colossus, Illyana Rasputin, apareceu uma única vez, ainda
criança, no episódio 4 da segunda temporada, “Crepúsculo Vermelho”, e nunca
mais deu as caras. Nas HQs, ainda na infância, ela é raptada pelo demônio Sym
que a leva para o inferno e a deixa aos serviços de Belasco, um outro demônio
que reina nas profundezas. Quando consegue voltar para a Terra, já se
passaram anos e ela já é uma adolescente que logo faz amizade com a Kitty Pryde,
assumindo, inclusive, uma vaga nos recém-formados Novos Mutantes do Professor Xavier.
A Illyana também aparece rapidamente como uma personagem “selecionável”
do jogo Motendo onde a Jubileu e o Roberto ficam presos. Depois dessas
participações especiais, espero que deem um espaço maior para a loirinha russa mais para
a frente na animação, já que ela tem poderes irados e que seriam muito bem
aproveitados em combate.
Aliás, falando nisso, com a Illyana dando as caras, o Roberto ganhando destaque nessa
temporada e o Míssil, Sam Guthrie tendo aparecido no final da quinta temporada (o episódio 13, "Agendas Secretas"),
será que chegou a hora dos Novos Mutantes ganharem mais notoriedade entre os
tantos grupos de mutantes que a Marvel tem?
NAMASTE!
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