Passei quase toda minha infância e adolescência me refestelando com filmes de ação com heróis brucutús que passavam na Tela Quente, Supercine e Sessão da Tarde, e na lista dos que eu mais gostava constava Robocop, filme de 1987 dirigido irretocavelmente por Paul Verhoeven.
Digo irretocavelmente porque Robocop é um filme que possui uma história completa, cujo único defeito hoje são mesmo os efeitos visuais, que dataram miseravelmente, infelizmente.
Reassisti a fita recentemente e me peguei reagindo da mesma forma que antigamente ante as cenas mais violentas e emocionantes, como a morte do Murphy e quando a Polícia, a mando da OCP, fuzila o pobre Policial do Futuro. Claro que tem toda a nostalgia de estar vendo algo que fez parte da minha infância de novo, mas são raros os filmes que nos fazem ter o mesmo sentimento que da primeira vez, mesmo que revisto dezenas de vezes, e Robocop ainda é muito bom mesmo 24 anos depois de sua criação.
Digo irretocavelmente porque Robocop é um filme que possui uma história completa, cujo único defeito hoje são mesmo os efeitos visuais, que dataram miseravelmente, infelizmente.
Reassisti a fita recentemente e me peguei reagindo da mesma forma que antigamente ante as cenas mais violentas e emocionantes, como a morte do Murphy e quando a Polícia, a mando da OCP, fuzila o pobre Policial do Futuro. Claro que tem toda a nostalgia de estar vendo algo que fez parte da minha infância de novo, mas são raros os filmes que nos fazem ter o mesmo sentimento que da primeira vez, mesmo que revisto dezenas de vezes, e Robocop ainda é muito bom mesmo 24 anos depois de sua criação.
O enredo não nos traz nada de muito complexo ou original, e mostra a cidade de Detroit em um futuro próximo quase que inteiramente dominada pela violência e corrupção. A força Policial ameaça entrar de greve quando os homens que tentam defender a lei começam a ser abatidos nas ruas sem que haja qualquer repreensão a seus assassinos, e entre esses carniceiros está Clarence Boddicker (Kurtwood Smith), um poderoso traficante de drogas que parece rir da justiça e que goza de algo semelhante a uma imunidade.
Entra em jogo então a empresa OCP (Omni produtos de Consumo) cujo vice-presidente Dick Jones (Ronny Cox) pretende transformar a cidade de Detroit em Delta City, livrando-a da criminalidade com seus robôs policiais ED-209, fazendo com que a Polícia aja sob suas ordens, como uma empresa de segurança e ao mesmo tempo controlando também os bandidos da cidade, mantendo-os sob rédeas curtas.
Entra em jogo então a empresa OCP (Omni produtos de Consumo) cujo vice-presidente Dick Jones (Ronny Cox) pretende transformar a cidade de Detroit em Delta City, livrando-a da criminalidade com seus robôs policiais ED-209, fazendo com que a Polícia aja sob suas ordens, como uma empresa de segurança e ao mesmo tempo controlando também os bandidos da cidade, mantendo-os sob rédeas curtas.
O projeto Robocop que visa criar um policial perfeito que não precisa descansar ou comer e que obedece a ordens sem questionamentos, surge depois que o protótipo do ED-209 falha em uma demonstração, assassinando um dos executivos da OCP. Na carência de um voluntário para o projeto que transformaria um homem comum em um ciborgue obediente, o visionário e oportunista Bob Morton (Miguel Ferrer), criador do projeto Robocop, vê sua chance surgir quando Clarence Boddicker e sua gangue faz mais uma vítima, o policial recém admitido ao distrito de Detroit Alex Murphy (vivido por Peter Weller), que é brutalmente alvejado ao tentar deter as ações de Boddicker ao lado da parceira Anne Lewis (Nancy Allen). Murphy passa por um processo de revitalização e é transformado em um ciborgue à serviço da lei conhecido como Robocop.
A ideia de ter um robô completamente obediente e eficiente na guerra contra o crime cai por terra quando as memórias residuais de Murphy começam a voltar à tona apesar de uma lavagem cerebral feita no processo. Entre lembranças de sua esposa, filho e casa, o policial se lembra de seus assassinos e começa a caçá-los, sem imaginar que está entrando em um complexo jogo de poder em que diretores da própria OCP estão envolvidos.
O roteiro do filme, desenvolvido por Edward Neumeier e Michael Miner, nos transporta para um futuro onde a corrupção é algo inerente ao ser-humano moderno, e que pessoas boas como o capitão de polícia Warren Reed (Robert Doqui), Anne Lewis e o próprio Murphy perdem espaço, sendo tratados como idealistas de fundo de quintal.
Há o sarcasmo nas falas de alguns personagens como Bob Morton e Johnson Marison (Felton Perry), que é um dos executivos da OCP, há também o sadismo nas ações de Boddicker e seus comparsas, assim como há a prepotência de Dick Jones (Ronny Cox) em achar que ele sozinho pode controlar toda uma cidade, e do outro lado da tela nos sentimos impotentes, quase que sem esperanças quanto à realidade daquela Detroit. O quanto desse roteiro se mostra real hoje em dia em algumas cidades norte-americanas e em especial brasileiras?
O quanto desse domínio de grandes corporações que querem nos dizer como agir, como se comportar e como pensar existe atualmente?
E o quanto já estamos reféns de bandidos que agem até mesmo sob a vista-grossa daqueles que deviam fazer cumprir a justiça, recebendo propina e suborno em troca do complemento do ganha-pão do mês?
O quanto da realidade fantasiosa de Robocop se equivale ao que vemos nos recônditos mais obscuros das cidades onde moramos ou mesmo à luz do dia, onde traficantes de todo tipo de drogas nem se preocupam mais em se esconder, sabendo o quanto estão imunes pela lei, agindo com impunidade?
Talvez Robocop não seja só um filme blockbuster que fala de um robô que caça bandidos. Há uma mensagem bem interessante por trás do roteiro de Neumeier, de Miner e da direção fantástica de Paul Verhoeven.
Paul Verhoeven é um diretor holandês de 74 anos conhecido especialmente por ter dirigido Robocop, um de seus trabalhos de maior expressão ao lado de Total Recall, filme estrelado por Arnold Schwarzenegger e que no Brasil ficou conhecido como O Vingador do Futuro (afinal, o subtítulo "do futuro" parecia garantir boa bilheteria!). Além desses clássicos de ação, o diretor também esteve à frente do infame, porém divertido, Tropas Estelares e do masturbatório Instinto Selvagem, protagonizado por Sharon Stone ("gostosa") e Michael Douglas.
Em Tropas Estelares, o diretor dá um tom parecido ao que deu à Robocop, criando um clima sombrio e caótico ao filme, mostrando sua visão peculiar sobre os rumos que a sociedade tende a trilhar daqui pra frente (o que eu não duvido que se torne real). Tanto em Tropas quanto em Robocop, a corrupção parece ser o mote principal da história, e o futuro vislumbrado pelas duas fitas não nos parece muito animador.
É engraçado perceber como o diretor brinca com a questão da mídia em ambos os filmes, tratando a TV como se sua programação fosse inteiramente criada para exibir apenas atrações sensacionalistas como os programas da Sônia Abrão, do Datena e do Marcelo Rezende. Do jeito que a TV está atualmente, não me surpreenderia se daqui há alguns anos só esse tipo de coisa passasse nos canais abertos!
Verhoeven sabe trabalhar cenas de ação como poucos na indústria de cinema. As cenas que ele dirige se tornam tão impactantes que você dificilmente as esquece, mesmo se passando anos da primeira execução.
A cena em que Murphy é sadicamente fuzilado pelos capangas de Boddicker jamais saiu da minha cabeça, e ela é chocante até hoje, enquanto vemos a mão do policial ser explodida ante um tiro de doze ou seu braço arrancado do corpo por novas balas.
Eu fico imaginando como a decáda de 90 era mais liberal com relação a hoje. Robocop passava na Sessão da Tarde da Globo na época, mesmo sendo um filme que contém um altíssimo nível de violência. Me lembro que nunca antes tinha visto a mão de Murphy ser explodida até adquirir o filme em DVD, mesmo porque a cena era editada pela Globo e depois mais tarde também pela Record, mas eles não se importavam de mostrar o herói cibernético espetando o pescoço de Boddicker com sua entrada USB em forma de faca ou o capanga Antonowsky (Paul McCrane) perambulando com o corpo deformado por um produto químico e mais tarde sendo feito em pedaços, atropelado pelo próprio Boddicker. Porra! Isso era bizarro e passava 3 horas da tarde na TV!
Me lembro o quanto eu imitei essa cena, andando todo torto com a língua pra fora satirizando o Antonowsky todo esculhambado!
Talvez o Robocop seja um robô feio, bobo e com cara de melão para a nova geração massa véio, hoje acostumada com robôs gigantes com gíria de malandro e que balançam suas bolas metálicas para impor respeito, mas é indiscutível o quanto o design do personagem é bem trabalhado. Acima de tudo ele é um robô, e como tal, se move vagarosamente, sem executar peripécias físicas e contando mais com seu revestimento de titânio para se manter intacto de tiros e qualquer outro tipo de agressão.
Como disse anteriormente, o filme de 1987 hoje está datado pelos efeitos visuais contidos nele. O velho ED-209 é o que mais evidencia a idade do filme, e algumas de suas cenas em stop-motion chegam até a causar risos, vistos com mais calma atualmente (ri muito com a cena em que ele cai da escada!). Se tivessemos um Robocop nos dias de hoje (e vem por aí um remake, como já comentei aqui) ele seria recheado de efeitos especiais, talvez o ED-209 fosse mais moderno, seus movimentos seriam críveis e sua interação com o Robocop podia ser mais realista, mas será que ele conseguiria manter a aura do filme original?
No primeiro filme, o recurso stop-motion que permite inserir criaturas inexistentes no contexto das cenas é muito pouco utilizado se comparado com suas sequências (aí o Robocop voa, pula em cima de um robô gigante, é feito em pedaços, etc, etc.), o que não desabona de modo algum a qualidade técnica do filme no quesito maquiagem, por exemplo.
Eu estava falando do visual do Policial do Futuro, né?
Pois bem.
Seu exoesqueleto feito de titânio passa a noção exata de que ele é um imbatível soldado de aço, e ele passa metade do filme gozando dessa superioridade física, até levar uma surra do ED-209 quando o policial ousa enfrentar o vice-presidente da OCP.
Tudo no Robocop é funcional, desde sua interface de conexão em forma de punhal até o compartimento em sua coxa onde ele guarda a arma que não descarrega nunca!
As partes que se conectam na armadura do chassi de titânio até as partes pretas de fibra de carbono nos fazem crer que aquele é mesmo um robô e não um Homem de Ferro.
Até mesmo quando Murphy retira o elmo protetor, já na sequência final do filme, ainda existe a credibilidade que ele é um ciborgue, num misto de homem e máquina. A parte robótica de seu crânio é perfeitamente encaixada na parte do crânio que ainda tem a pele do homem e isso sem precisar mencionar a feição do ator Peter Weller que passa a frieza de um homem-máquina.
Além disso, Weller se mostrou um excelente mímico de corpo, andando e movimentando-se como um robô autêntico, girando a cabeça antes do tronco indicando a direção para onde o corpo deve seguir ao andar. Sensacional!
Seu capacete, que possui todo tipo de visão desde a térmica até a microscópica tem um dos design mais bacanas para um robô na história do cinema, e fico imaginando o quanto será difícil para José Padilha (de Tropa de Elite) e seus manipuladores colegas de set criarem algo tão icônico para o remake do século XXI quanto a aparência clássica do Policial do Futuro.
Se você não vive em Marte, deve saber que José Padilha, o diretor brasileiro de Tropa de Elite 1 e 2, foi colocado à frente da direção de um remake do filme de 1987 do Robocop, e que ele terá a ingrata missão de nos fazer esquecer de tudo que sabemos ou nos lembramos do personagem, tornando-o mais agradável para os dias atuais e remodelando os efeitos visuais, características que na minha opinião, são as únicas que não fazem com que o filme antigo seja nota 10.
A questão é: O quanto Padilha vai poder incorporar de seu estilo ao filme norte-americano sem que o estúdio ou os podutores interfiram, tranformando a fita em um Blockbuster descerebrado (Transformers, Cof! Cof!!!)?
Tropa de Elite possui quase o mesmo contexto que Robocop, com exceção da parte fantástica.
Esqueça o robô, esqueça o processo que o torna um ciborgue e se foque no que comentei anteriormente sobre corrupção e grandes corporações que dominam seu modo de pensar e agir.
Se foque na parte do policial que se deixa corromper em troca de dinheiro ou na questão de que uma empresa ou grupo específico pode dominar a Polícia, fazendo com que ela aja de acordo com o que essa empresa deseja.
Em Tropa de Elite o tráfico de drogas, bocas de fumo e traficantes não subornam policiais, fazendo com que eles façam vista-grossa ao crime?
O Capitão Rocha (Sandro Rocha) não é um policial corrupto que forma uma Milícia para lucrar com as necessidades da favela?
Não é o mesmo que Clarence Boddicker indiretamente faz em Robocop??
Ele é "financiado" por Dick Jones, e em troca presta seus serviços de mercenário e assassino, e isso tudo não está muito longe da realidade que vemos em Tropa de Elite, por exemplo. Resta saber como Padilha trabalhará com a parte fantástica da história, e como ele irá aliar isso com aquilo que ele saber lidar melhor, que é mostrar violência e corrupção nua e crua.
A identificação do universo criado por Verhoeven e seus roteiristas e o universo criado por Frank Miller na clássica Cavaleiro das Trevas publicada apenas um ano antes (1986) que o lançamento de Robocop nos cinemas foi tão grande, e a similaridade entre as histórias foi tão intensa que o escritor de HQs foi chamado para escrever o roteiro do segundo filme (Robocop 2 de 1990) e dirigir o terceiro (1993), que cá entre nós, é o pior de todos.
Em Cavaleiro das Trevas vemos a cidade do Batman, Gotham City, completamente decadente e dominada pelo crime. As ruas estão tomadas por uma gangue conhecida como "Os mutantes" que incitam a violência e a anarquia, e o Batman está aposentado, muitos anos depois da morte do segundo Robin Jason Todd (lembrando que Cavaleiro das Trevas faz parte de uma linha temporal alternativa).
Quando o justiceiro encapuzado retorna de seu auto-exílio na mansão Wayne, mais velho e longe da forma física que tivera outrora, ele volta a se dedicar a limpar as ruas da cidade que jurou proteger, exatamente como faz Alex Murphy pouco depois de ser transformado em um ciborgue.
O caos futurista de Gotham e Detroit é similar, assim como o conceito de que ambas as cidades estão sendo dominadas por uma mega corporação, OCP em Detroit e a Lexcorp em Gotham (embora isso só seja melhor esclarecido em Cavaleiro das Trevas 2).
Não deve ter sido à toa que Frank Miller pirou na direção do terceiro filme e colocou o Policial do Futuro para voar por aí com uma jetpack e enfrentar ninjas cibernéticos. Ele queria transformar o Robocop em um herói de quadrinhos e acabou misturando tudo num baita de um samba do robô doido!
Robocop marcou minha infância mais pelas explosões, tiros e cenas massa véio, óbvio, mas hoje vejo com clareza a mensagem principal que ele passa e todo o universo imundo onde a narrativa é criada e que me remete à realidade dos centros urbanos. Nossa realidade não está tão longe daquela da velha Detroit, o único problema é que não teremos um robô justiceiro para limpar nossas ruas dos traficantes ou prender aqueles que causam desordem naquilo que chamamos de Sistema.
E agora? Quem poderá nos defender?
O Sistema é foda, companheiro, e eu pago um Dólar por isso!
NAMASTE!
Só de lembrar dá saudades. Ainda bem que tenho em vídeo, e tenho também o álbum de figurinhas que saiu na época.
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