Capitã Marvel é o 21º filme da Marvel Studios, e o primeiro
deles protagonizado por uma personagem feminina. Dirigido por Anna Boden e Ryan
Fleck, hoje, enquanto escrevo esse post, o filme já rendeu algo próximo da casa
dos US$ 900 milhões em bilheteria, e deve se juntar aos outros quatro filmes da
Marvel que alcançaram US$ 1 bilhão, Pantera Negra, Vingadores - A Era de
Ultron, Capitão América - Guerra Civil e Vingadores - Guerra Infinita.
Em primeiro lugar é preciso dizer que há cinco ou seis anos
a gente não esperava ver um filme encabeçado pela Capitã Marvel nos cinemas, ou
que qualquer um desses personagens cósmicos sequer pudesse ter alguma chance de
estrelar (hãn, hãn!) uma história solo. Eu já tinha elencado a Capitã (ou Major, pra dizer a patente certa) Carol Danvers como uma das minhas vingadoras
favoritas em alguns posts do Blog, e a personagem cresceu bastante nos quadrinhos nas
últimas décadas, após um ostracismo gigantesco em que ficou lá pelos anos 90. Aqui
eu a elenquei nos 10 maiores Vingadores de todos os tempos e aqui
eu escrevi um pouco sobre minha expectativa para ver Capitã Marvel nos cinemas,
tudo isso para justificar que ela já merecia SIM um lugar ao sol no Panteão dos
principais personagens da Marvel nos cinemas há bastante tempo.
Anna Boden e Ryan Fleck não tinham a experiência
cinematográfica necessária para assumirem a direção de um barco tão grande
quanto Capitã Marvel, filme que diferente dos demais, precisava dar certo por
tudo que representaria dali para frente, porém, eles aceitaram o desafio, e
hoje o filme tem sido aclamado pelo público. Era a primeira vez que o estúdio
apostava em uma personagem feminina para chamar o filme de SEU, e por essa
simples questão, o projeto já começava a ser desenvolvido envolto de
preconceito, machismo e desconfiança. Homens brancos e heterossexuais já estão
acostumados há muito tempo de se verem representados nas séries de TV, nos
games e na tela grande do cinema, é muito comum que eles estranhem ou se
incomodem com aquilo que saia desse padrão já tão fixado na mente de todas as
pessoas, o que acaba gerando bravatas infelizes como “filmes protagonizados por
mulheres são um lixo”, “filmes com heroínas não dão dinheiro”, “filmes de ação
com mulher não prestam”. Eu particularmente conheci colegas que nunca tinham
visto Kill Bill, filme protagonizado por Uma Thurman e dirigido por Quentin Tarantino,
só porque tinha uma mulher segurando uma katana no poster, e quem nunca ouviu
falar que Mad Max – A Estrada da Fúria “era uma porcaria” só porque o
personagem título era quase suplantado pela Imperatriz Furiosa ao longo da
história?
Capitã Marvel sofreu muitos ataques mesmo antes de ser
lançado (Rotten Tomatoes recebeu críticas negativas do filme ANTES de sua
estreia!), tudo porque tinha uma mulher como protagonista. As pessoas nem
sequer conheciam o teor da história, a qualidade do roteiro ou dos efeitos
visuais, mas já podiam reclamar que “a verdadeira Capitã Marvel tem mais corpo
que a Brie Larson” ou que a atriz não sorri em nenhuma foto promocional do
filme. Cá entre nós, em uma roda de amigos héteros (e até entre mulheres TAMBÉM)
quem nunca reclamou que à Mulher Maravilha da Gal Gadot faltava um pouco de
curvas ou porte físico? Brie Larson, a mirradinha Natalie V. Adams de Scott
Pilgrim (o filme) foi a escolhida para viver uma das personagens mais
corpulentas da Marvel, e embora a nossa visão de mulher-objeto, sexy, corpuda e
gostosa não se aplique em quase nada a atriz, vendo o filme, nós entendemos que
NADA DISSO faz qualquer falta, assim como não fez a Gal Gadot no filme da
concorrente.
Até mesmo o padrão estético dos quadrinhos vem mudando
ultimamente, visto que a Carol Danvers já não usa mais um maiô apertadinho em
2019, e a tendência é que os cinemas (que atinge um público INFINITAMENTE maior
que das HQs) e suas adaptações saibam levar isso em consideração. Sem fazer
pose sexy, sem mostrar o corpo desnecessariamente, precisar ser a mocinha em
perigo ou depender de um par romântico, Capitã Marvel deve ter orgulhado um
punhado considerável de mulheres pelo mundo afora, só mostrando o quanto ela é
FODA.
Mas Rodman, e o filme? Vai acabar com esse papinho feminista
quando, e começar a falar do filme, seu arrombado?
O filme da Marvel tem um significado muito grande para as
mulheres assim como Pantera Negra acabou funcionando muito bem para as pessoas
negras e mestiças. A representatividade é algo que nós, homens brancos e
heterossexuais, não entendemos muito bem, mas que quando se tem um pouco de
empatia, somos capazes de sair da bolha em que vivemos. Dito isso, e apesar de
tudo que ele representa, não dá pra dizer que Capitã Marvel é um filme
perfeito. Até porque não é.
Os diretores erram a mão em vários momentos quando o quesito
ação precisa ser desenrolado, e talvez pela falta de experiência na área, os
combates corpo a corpo ou cenas de perseguição (de carro ou de naves espaciais)
deixam a desejar visualmente. O filme inteiro não tem UMA CENA memorável de
ação (algo que reclamei em Pantera Negra também, em especial sobre o final do
filme), nem mesmo pra gente sair com aquele sorrisão no rosto ou para estar
dentro do Metrô, a caminho de casa, após a saída do cinema lembrando. As cenas
de luta me parecem todas muito genéricas, como se já tivéssemos visto igual em outro
lugar, e quando a Capitã precisa entrar em ação, quem entra em seu lugar é sua
dublê digital. Ainda na conta dos diretores, cenas impactantes e emocionais
também são um ponto negativo, já que não conseguem empolgar como deveriam. Cito
de exemplo o reencontro da Carol com sua amiga Maria Rambeau (Lashana Lynch)
que deveria ser uma cena carregada de emoção, por uma achar que a outra estava
morta POR ANOS, e que na prática, parece só mais uma conversa casual entre duas militares.
O instante de virada de mesa da Capitã com seus raptores krees, aquele em que
pela primeira vez ela libera todo seu potencial energético, também ficou aquém
do que o momento necessitava, e foi bem estragado pela cena que já tinha sido
exibida nos trailers do filme (o famoso cai e levanta em várias fases da vida
da personagem).
Então você achou o filme uma merda, Rodman?
Claro que não! Eu assisti duas temporadas inteiras de Punho
de Ferro esperando UMA cena de ação decente sem conseguir ter. Não me chateio
fácil assim.
O roteiro, também escrito por Boden e Fleck, não é lá aquela
coisa que se possa dizer “Noooossa, que roteiro maravilhoso!”, mas para um
filme Marvel serve direitinho, tendo apenas uma grande reviravolta com relação
a quem é o verdadeiro vilão do filme. Se você considerar que todos esperavam
que houvesse um Capitão Marvel no filme, há duas reviravoltas. Em ambas as
situações, o personagem de Jude Law (Yon-Rogg) atua, mas para quem é velho e já
leu qualquer coisa sobre o Capitão Marvel nas HQs, saber que ele é vilão não
chega a ser nenhuma reviravolta.
Aiiiiinnnn! Eles mudaram a história do meu herói. Eles
apagaram o Capitão Marvel do roteiro e colocaram essa rachada horrorosa no
lugar! Odeio a Marvel!
Sobre essa reclamação temos alguns pontos a serem
discutidos. A surpresa em saber que não existe um Dr. Lawson (a alcunha usada
pelo kree Mar-Vell quando veio para Terra servir de espião) e sim uma DOUTORA
Lawson na história, é de certa forma positiva, sobretudo para quem entrou no
cinema achando que o Jude Law seria esse personagem (eu até creditei Law como “Mar-Vell”
em meu post de expectativa).
No filme, Annette Bening é a primeira Capitã
Mar-Vell, uma cientista kree que está na Terra construindo um dispositivo que
vai ajudar a população Skrull a encontrar um novo lar, disfarçada como a Dra.
Lawson. A mim, skrulls bonzinhos são muito mais surpreendentes em um roteiro do
que extinguir um Capitão Mar-Vell e substituí-lo por uma mulher!
Depois que descobrimos que o herói vermelho e azul (da qual
ninguém além de nós velhos lembramos) NÃO EXISTE no MCU, acompanhamos a saga do
skrull Talos (Ben Mendelsohn) para salvar sua família, enquanto o império kree,
liderado em campo por Yon-Rogg (Jude Law), sob o comando da Inteligência
Suprema (uma inteligência artificial que no filme não tem uma forma física
específica), tenta recuperar o controle sobre Carol Danvers, ao mesmo tempo que
pretende descobrir o paradeiro dos skrulls para eliminá-los.
No filme, a Capitã
Danvers é a primeira a tentar salvar a doutora Lawson de um ataque kree, e após
disparar contra o dispositivo construído pela alienígena, ela acaba sendo
atingida pela radiação da explosão e a absorvendo. Ao perder a memória, logo que ganha suas habilidades super-heróicas, ela
acaba recebendo uma transfusão de sangue de Yon-Rogg, e passa seis (ou sete)
anos no espaço, lutando contra skrulls ao lado de uma tropa de elite osso
duro de roer pega um pega geral e também vai pegar você kree. Como o
dispositivo era tudo que interessava a eles, os krees acabam usando Danvers
(que é chamada apenas de Vers) como uma espécie de arma secreta, embora eles
inibam seu poder total com um aparelho que fica na base de seu pescoço.
Muito se falou sobre a atuação de Brie Larson muito sisuda,
mas é total de acordo com o que a personagem exige. Nas HQs Carol Danvers
também não vive de sorrisinhos, e no filme, ela tem seus momentos de humor
muito bem inseridos na trama, sem ser nada desnecessário.
Já o Nick Fury
rejuvenescido vinte anos de Samuel L. Jackson acaba passando um pouco do ponto
do humor, se tornando quase um novo personagem, mais de bem com a vida e
alegrão. Tudo isso é facilmente justificado pela inexperiência do agente da
SHIELD, que assim como seu parceiro Coulson (Clark Gregg) está muito mais
jovem, uma vez que o filme se passa nos anos 90.
Coulson não acrescenta muito a
história, fora estar ali para dizer que ele e Fury têm muitas histórias para
contarem juntos, mas outra personagem coadjuvante que rouba a cena é mesmo a
Maria Rambeau de Lishana Lynch. Com uma atuação muito pontual, Lynch nos faz
acreditar na amizade que há entre sua personagem e a de Larson, e todo o
carisma da pequena Monica Rambeau (vivida pela atriz mirim Akira Akbar), sua
filha no filme, me fez abrir um sorriso de satisfação na primeira vez que foi mencionada. Eu fiz um post INTEIRO só falando sobre Monica Rambeau e a
importância de sua personagem nas HQs, e quando ela apareceu no filme foi um
momento de catarse!
Como o skrull infiltrado na SHIELD Talos, Ben Mendelsohn manda muito bem em suas duas fases, como o chefe de Nick Fury e com o rosto atolado de maquiagem verde, já na pele do alienígena. Ninguém esperava que no final das contas os skrulls fossem os refugiados coitadinhos oprimidos nesse filme (quase que anulando uma possível Invasão Secreta no futuro do MCU), mas Mendelsohn conseguiu nos conquistar facilmente, atuando com brilhantismo, apesar dos quilos de látex.
Salvo alguns momentos de “bonecos digitais visíveis de mais”
no filme, toda a equipe da ILM está de parabéns, tanto pelo rejuvenescimento facial
de Samuel L. Jackson e Clark Gregg para o filme, quanto pela quase perfeição do gato
flerken Goose, que alterna muito bem entre o bicho de verdade e o seu sósia digital,
sendo quase imperceptível a mudança. Os cenários espaciais, naves e planetas
também dão todo um charme especial ao filme, o que prova mais uma vez que a DC
perdeu uma chance incrível de sair na frente da Marvel quando fez seu Lanterna
Verde. Apenas comparem os dois filmes... Isso. Vai lá. Dá uma olhada em
Lanterna Verde e depois volte aqui pra comparar!
Capitã Marvel não é nem de longe um filme nota 10, mas com
certeza já deixou uma marca muito importante no hall dos filmes sobre
representatividade feminina. A personagem ao final da história mostra porque é
considerada a mais poderosa do MCU dando cabo SOZINHA de uma frota kree, e em
seu filme de origem já nos fez gostar imensamente dela. Uma das cenas
pós-crédito mostra (ENFIM) sua primeira interação com os Vingadores após a
dizimação universal causada por Thanos em Vingadores – Guerra Infinita, e chega
a dar aquela ansiedade para ver logo Vingadores – Ultimato, onde ela vai, de
fato, lutar ao lado dos heróis mais poderosos da Terra. A mais poderosa do
universo certamente é ela!
Nota: 8,5
Assim, meu ranking de produções Marvel ficou desse jeito:
P.S. – A trilha sonora assinada por Pinar Toprak é muito boa
ouvida isoladamente, num fone de ouvido tranquilamente, mas não chega a ser
marcante durante o filme. Até mesmo o tema da heroína “Captain Marvel” não
causa o mesmo impacto que “Is She With You” de Hans Zimmer para o filme da
Mulher Maravilha. As músicas dos anos 90, no entanto, são um grande acerto,
tendo várias populares como “Just a girl” do No Doubt, “Celebrity Skin” do Hole
e “Come as you are” do Nirvana.
P.S. 2 – Os momentos para ambientar os anos 90, além das
músicas, também podiam ser melhor explorados. Seja como for, a cena da Blockbuster
e do leitor de CD-ROM demorando uma eternidade para reproduzir o arquivo de
áudio diz muito sobre o quanto ESTAMOS FICANDO VELHOS, MAGNETO!
NAMASTE!
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