6 de março de 2025

Demolidor Renascido – Episódios 1 e 2 (Review)

O POST A SEGUIR CONTÉM SPOILERS!

Demolidor - Renascido


Faz tempo que não me empolgo com nada que a Marvel produz e isso se deve ao fato dessa cultura woke, desse comunismo, desse mimimimi de que eu estou velho, cansado e que para a minha idade é normal que nada mais me agrade.

A série do Demolidor, aquela que foi lançada lá na época da Netflix é, sem sombra nenhuma de dúvida, o meu conteúdo televisivo com personagens do selo Marvel preferido. Mas de muito longe! 

Talvez, o que mais tenha chegado perto dessa minha adoração foi WandaVision, mas ainda sim não considero um elemento sequer comparativo.

Quando a atual Marvel do MCU anunciou uma nova série com o personagem, mesmo considerando que parte do elenco original — aquele da Netflix — retornaria aos seus papeis, eu fiquei com um pé atrás. As produções desse universo já vinham sofrendo um declínio vertiginoso desde o fim da Saga do Infinito e eu realmente tinha medo do que os caras que produziram as séries xexelentas do Cavaleiro da Lua e da Invasão Secreta fariam ao botarem as suas mãos fétidas no Demolidor.

Foi aí que começaram os boatos preocupantes de substituição do elenco, de refilmagens, de cortes de roteiro e até de alegações sobre a série não fazer parte do MCU regular — como a da Netflix, que no começo fazia parte do MCU e que depois não fazia mais!

Bicho! Eu assinei uma petição online alarmada pelo próprio Vincent D’Onofrio para que a Marvel fizesse uma quarta temporada do Demolidor na época em que foi confirmado o cancelamento do contrato com a Netflix. Eu escrevi uma cacetada de posts comentando tudo que acontecia com relação ao personagem nas séries em que ele aparecia e torci muito para que o Kevin Feige ou alguém abaixo dele tivesse um mínimo de boa vontade com o “Atrevido”.

Então, vieram as participações do personagem em Homem-Aranha – Sem Volta para Casa, na série da Echo e em Mulher-Hulk, e o hype voltou a aumentar de maneira avassaladora. Mesmo com as notícias desanimadoras na imprensa de que a sua série própria tinha sofrido uma tonelada de reboots, reshoots e o caralho a quatro.

Demolidor - Renascido
O Demolidor em "Sem Volta para Casa", "Eco" e "Mulher-Hulk"


Quando o próprio Kevin Feige garantiu que Demolidor – Renascido seria uma continuação das três temporadas da Netflix e que o Rei do Crime apresentado na série do Gavião Arqueiro era O MESMO daquele universo, o pequeno Rodman esperançoso que ainda há em mim vibrou de felicidade. 

Demolidor - Renascido
O Rei do Crime na série do Gavião Arqueiro


As coisas só melhoraram quando os atores Deborah Ann Woll (Karen Paige), Elden Henson (Foggy Nelson) e Ayelet Zurer (Vanessa Fisk) foram confirmados nessa continuação, e a ansiedade continuou nos picos até a estreia da série.

Demolidor - Renascido
A Vanessa Fisk de Ayelet Zurer


Estou escrevendo o review na empolgação do momento. Fazem apenas algumas horas que assisti aos dois primeiros episódios, então eu posso estar um pouco fora do meu juízo normal. Mesmo assim, sigam-me os bons!

Episódio 1 – Meia hora do Céu

Foi uma experiência muito surreal começar a assistir os primeiros minutos de Demolidor – Renascido porque eu me senti transportado direto para 2015, quando estreou a primeira série ainda pela Netflix. Naquela época, eu dei play no primeiro episódio com o peito cheio de expectativas. Lembro que era de manhã e eu ainda estava me arrumando para trabalhar na escola onde dava aula. Eu me permiti atrasar para o serviço só para assistir ao primeiro episódio até o fim e, quando aquela obra-prima se findou, soltei um “UOUU” de tão impactado que fiquei.



Dez anos depois, estava largado na cama, com o projetor ligado em direção à parede e voltei a soltar aquele mesmo “UOUU” com os olhos marejados de emoção por ver os meus personagens queridos de volta…

Pelo menos, no pouco tempo em que eles ficam reunidos.

💔

A série começa mostrando uma reunião alegre entre Matt Murdock (Charlie Cox), Karen Paige (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) no bar da Josie, cenário que funcionava meio que como o Central Perk de Friends para os três amigos nas temporadas anteriores.

Demolidor - Renascido
Karen (Deborah Ann Woll), Matt (Charlie Cox) e Foggy (Elden Henson)


Ali, em meio a dois novos personagens que nos são apresentados nos primeiros minutos, Cherry (Clark Johnson), um velho policial prestes a se aposentar e Kirsten McDuffie (Nikki M. James), uma advogada “rival” dos três amigos, eles bebem e confraternizam por um breve momento, nos fazendo crer que aquele vai mesmo ser o clima de harmonia que a série vai nos engolfar.

Demolidor - Renascido
Cherry (Clark Johnson) e Kirsten (Nikki M. James)


Quando Nelson recebe um telefonema desesperado de um amigo que ele está protegendo em seu apartamento — e a identidade do cara não me ficou clara num primeiro momento —, Matt logo percebe que tem algo errado e começa a usar a sua audição super-aguçada para entender o que está havendo.

Demolidor - Renascido


Alguém está tentando invadir o apartamento de Nelson para pegar o tal amigo, o que obriga Murdock a vestir o seu traje de Demolidor e partir para salvar a vítima.

É aí que vem a minha primeira crítica à série. 

Assim como todos os outros espectadores que assistiram às séries da época da Netflix — tirando Punho de Ferro que era uma bosta sem defesa! —, eu já estava acostumado a como a praticidade — e a falta de grana — resolviam a maior parte das cenas de ação. 

Em Mulher-Hulk, já haviam tentado criar um boneco digital que tornava o Demolidor mais ágil, a um nível super-humano mais comum no MCU… e convenhamos que já tinha ficado bem ruim!



Aqui, enquanto o Demolidor tenta chegar o mais rápido possível ao apartamento de Nelson, fica MUITO CLARO o bonecão digital que usaram para fazê-lo pular entre os prédios com o auxílio do seu bastão e o cabo de aço. E, para variar, o resultado também não ficou decente.

Lembra dos super saltos desnecessários do Demolidor do Ben Affleck naquele filme medonho de 2003? Pois é! Fiquei com a mesma sensação ao ver o Charlie Cox emborrachado de CGI porco fazendo as peripécias acrobáticas que o personagem exige.

Estraga completamente a experiência da série?

É claro que não!

Até porque, logo em seguida, o público que assiste à telinha do Disney + logo percebe que o Demolidor foi atraído ao apartamento de Nelson de propósito, para que os seus amigos na portaria do bar da Josie ficassem vulneráveis ao ataque de um sniper que baleia Foggy, o tornando uma entre várias outras baixas de guerra. Esse sniper é ninguém menos do que Benjamin Poindexter (Wilson Bethel), o excelente Mercenário da terceira temporada de Daredevil.

Demolidor - Renascido
O "olho de boi" Ben Poindexter


Rapaz! Vou te dizer que segurei o cu com muito carinho na mão ao longo de toda essa sequência e não soltei mais até o desenrolar dos fatos.

Embora a luta entre o Demolidor e o Mercenário, focalizada diretamente pela câmera sem os cortes ágeis e rápidos a que estamos acostumados, seja bem qualquer coisa num primeiro momento, os diretores do episódio (Aaron Moorhead e Justin Benson) conseguem nos manter apreensivos com o entorno da briga. 

Enquanto os dois tentam se matar — com o Mercenário arremessando tudo que existe no ambiente contra o Demolidor e o transformando em "talba de tiro ao álvaro" —, nós estamos ouvindo a frequência cardíaca de Foggy diminuindo cada vez mais do lado fora, através dos super-sentidos de Matt. 

Demolidor - Renascido


Tudo só piora enquanto Karen chama desesperadamente pelo amigo caído ensanguentado no chão, ao mesmo tempo que Matt está claramente com dificuldades para derrubar o seu adversário.

Aqui temos que dar os parabéns à equipe de roteiristas da série (Dario Scardapane escreveu o 1º episódio) que conseguiram nos deixar interessados pelo enredo desde o primeiro minuto, trazendo os nossos personagens queridos de volta, nos dando aquele sentimento de nostalgia em vê-los juntos mais uma vez… e nos tirando um deles da maneira mais violenta possível logo em seguida!

Em resposta à morte do seu grande amigo, o Demolidor chega ao extremo do seu sentimento de vingança quando, num ato puramente emocional, ele simplesmente joga Poindexter do alto do Josie’s

A cena da queda do personagem no chão é seca e muito violenta. Não há nenhum corte de câmera e nós simplesmente sentimos o corpo do sujeito bater no asfalto enquanto Karen ainda lamenta o que aconteceu com Foggy.

Demolidor - Renascido


Lembrou bastante o que aconteceu ao final da batalha entre o Demolidor e o Mercenário no arco escrito pelo Frank Miller nos anos 1980, logo após a morte da Elektra. Na ocasião, o Mercenário ficou paraplégico e ele só voltou ao normal quando aplicaram placas de adamantium (?) na sua coluna, o fazendo andar novamente.



Demolidor - Renascido


Na terceira temporada, lançada em 2019 (acho), o Mercenário já tinha sido quebrado ao meio pelo Rei do Crime, mas nos últimos minutos do episódio, Poindexter aparece em uma mesa de cirurgia sendo “consertado”, para claramente voltar numa quarta temporada que nunca aconteceu.

Em Demolidor - Renascido, um ano se passa e após o trágico desenrolar do seu combate contra o Mercenário, Matt agora está associado a Kirsten McDuffie — como numa das versões mais recentes das histórias do Demolidor nos quadrinhos — e ele decidiu se aposentar — mais uma vez! — da sua vida de vigilante.

No dia do julgamento de Ben Poindexter — que como todo vaso ruim não se quebrou ao cair do telhado do Josie’s! — Matt serve de testemunha contra o cara, e quem reaparece é Karen Paige, após um afastamento de vários meses.

Demolidor - Renascido
Poindexter (Wilson Bethel)

 

Da plateia, a loira assiste à condenação perpétua de Poindexter e, ao final do veredicto da juíza, em uma conversa franca com o amigo cego, ela diz que está feliz em São Francisco e que não pretende mais ter um relacionamento próximo a ele.

Demolidor - Renascido


No arco “A Queda de Murdock”, desgostosa da sua vida em Nova York, Karen se muda justamente para São Francisco e é lá que a moça acaba se tornando uma adicta, além de se envolver com prostituição. Algum tempo depois, a ex-secretária vende a verdadeira identidade do Demolidor ao Rei do Crime, o que culmina com a derrocada do personagem.

Vale lembrar que “Born Again” é o título original de “A Queda do Murdock” e que é possível que os criadores da atual série tenham se influenciado pelo arco de Frank Miller para contar essa quarta parte na vida do personagem mais lascado do universo Marvel.

De volta ao episódio, quem também está retornando para Nova York após um longo afastamento é Wilson Fisk (o magnânimo Vincent D’Onofrio), cuja primeira visita que faz é à (ex?) mulher, Vanessa (Ayelet Zurer).

Com a ausência do marido na cidade, foi ela quem continuou comandando as famílias criminosas locais — incluindo a Gangue do Agasalho, mostrada em Gavião Arqueiro — e fica claro o desconforto que há entre os dois com a volta de Fisk à cidade.

Essa parte ficou meio que nublada para mim. É dito que Fisk ficou afastado devido ao ataque de um vigilante — provavelmente, se referindo ao tiro que ele levou na cara da Eco no final de Gavião Arqueiro —, mas a própria série da Eco nos mostra que a sua recuperação não demorou tanto assim — pelo que me lembro — e que não faz sentido que o casamento dele com Vanessa tenha ruído nesse breve período em que ele esteve fora da cidade, tentando cooptar a vigilante de origem indígena como sua aliada.

Mas, enfim…

Vanessa não quer abrir mão do seu poder à frente das organizações criminosas da cidade e não parece muito feliz com a ideia de Fisk de se tornar o prefeito de Nova York. Por causa disso, ela se afasta dele ao longo da sua campanha e o deixa praticamente sozinho a fim de realizar o seu mais novo sonho de chegar ao topo da cidade, desta vez, por meios legais.

Demolidor - Renascido


Nesse meio tempo, nós somos apresentados brevemente a mais duas novas personagens. Uma delas, é denominada BB Urich (Genneya Walton), uma “blogueirinha” que transmite pela internet as impressões da população nova-iorquina com relação ao novo candidato a prefeito da cidade. 

No segundo episódio, para os menos atentos aos detalhes, é dito com todas as letras que a menina é sobrinha de Ben Urich (Vondie Curtis-Hall), o repórter aliado do Demolidor que foi morto na primeira temporada pelo próprio Wilson Fisk.  

Eu não sei se nas HQs houve em algum momento uma BB Urich, mas eu me lembro que lá pelo final dos anos 1990, introduziram um sobrinho de Ben chamado Phil, que mais tarde acabou se tornando uma das centenas de versões do Duende Verde.

Demolidor - Renascido
Genneya Walton (BB Urich), Ben Urich (Vondie Curtis-Hall) e Phil Urich nos quadrinhos


A segunda nova personagem que surge, não é tão nova assim para quem já leu alguma HQ antiga do Demolidor. Heather Glenn fez parte do elenco das histórias do personagem também no arco escrito por Frank Miller e, no começo, ela surgiu mais como uma acompanhante de Foggy, só mais tarde vindo a se envolver romanticamente com Matthew.

Demolidor - Renascido
Margarita Levieva como Heather Glenn


Nos quadrinhos, ela era mais uma dondoca com muita grana e tempo disponível. Depois de um período do relacionamento entre os dois, ela acaba descobrindo a vida dupla do namorado cego e o seu fim é bem trágico nas HQs, aliás, como boa parte do elenco feminino que permeia as histórias do Demônio Audacioso.

Na série, Heather é interpretada pela atriz Margarita Levieva — com suas belas madeixas onduladas! — e a moça é inserida na história pela sócia de Matt, que tenta arranjar um encontro às cegas — sem trocadilho! — entre os dois. 

Heather se apresenta a ele como uma terapeuta e os dois logo desenvolvem um interesse mútuo, o que mais tarde culmina num namoro.

Cá entre nós… as mulheres devem ter um fetiche em namorar um cara cego, né não? É impressionante a facilidade que o Demolidor tem de levar no sambarilove as cocotas mais gatas dos quadrinhos!

O primeiro episódio termina mostrando a vitória de Fisk nas eleições e os dois personagens se antagonizando simbolicamente, com o Rei do Crime do alto de um prédio a assistir à festa pela sua vitória nas ruas e Matt lá de baixo, com vários contrastes de vermelho em seu rosto, “olhando” para o alto. 

Antes do resultado do pleito, os dois chegaram a sentar amigavelmente em uma lanchonete para colocar os “pingos nos is” e deixaram claro as suas intenções um para com o outro.

Matt diz ao rival que, se ele cagar fora do penico em sua posição como prefeito, o Demolidor estará de volta para estragar a sua festa, enquanto Fisk deixa muito claro que se ele vencer as eleições, uma das suas primeiras medidas vai ser proibir heróis fantasiados em sua cidade, o que mantém aquecida a rivalidade que sempre existiu entre os dois, seja nos quadrinhos ou em live-action.

Demolidor - Renascido


Sinceramente, quem não terminou esse episódio louco para ver o próximo, está completamente maluco ou não deve ser lá muito fã do Atrevido.

PONTOS POSITIVOS – Toda a tensão criada na batalha do bar da Josie e o desenrolar dos fatos com a morte de Foggy elevaram muito o nível do primeiro episódio. As atuações também estão muito boas, tanto do trio principal (Cox, Woll e Henson) quantos dos novos coadjuvantes. Charlie Cox e Vincent D’Onofrio simplesmente nasceram para interpretar o Demolidor e o Rei do Crime. Os dois brilham em cena.

A nova abertura de Demolidor - Renascido ficou com uma qualidade equivalente à anterior. Se no passado tínhamos a estátua da justiça sangrando, agora vemos símbolos em pedra ruindo para se reconstruir no final. Achei condizente com o título "born again", além do que o tema musical é agradável de ouvir, como o antigo composto por John Paesano e Braden Kimball. A música atual é composta pelos The Newton Brothers.

PONTOS NEGATIVOS – Eu me pergunto se precisava usar aquele boneco tosco de CGI para dar mais dinamicidade à corrida desesperada do Demolidor para chegar ao prédio do Foggy. Um bom atleta de parkour faria aquelas mesmas cenas com muito mais naturalidade, como já acontecia nas primeiras temporadas. 

Tem uma sequência inteira que mostra Matt Murdock DE TERNO E GRAVATA correndo e pulando entre os prédios sob a luz do dia e ninguém diz que aquele cara não é o Charlie Cox. É tudo muito bem feito, só basta ter um pouco mais de boa vontade.

Espero que não usem mais CGI de maneira banal assim no restante da série.

Episódio 2 – Ótica

O segundo episódio começa mostrando os desdobramentos da eleição de Wilson Fisk e a sua passagem de o Rei do Crime para prefeito de uma das maiores cidades do mundo. 

Demolidor - Renascido


É irônico aqui fazer um paralelo com o nosso mundo real, onde grandes bandidos e pessoas notadamente encrencadas com a lei se tornam políticos da noite para o dia, e que, pasmem, vencem as suas disputas eleitorais com facilidade, caindo nos braços do povo em seguida.

No mundo fictício da série, após uma visita de BB Urich ao seu gabinete, Fisk é alertado que terá problemas com o chefe de polícia da cidade, o comissário Gallo (Michael Gaston), que devido ao passado de bandidagem de Wilson, não o enxerga como uma figura respeitável e que não vai lhe facilitar a vida botando a sua força policial ao seu dispor.

Sem saber que o cara sentado à sua frente foi o responsável pela morte do seu tio, Ben, a blogueira diz a Fisk com todas as letras que se ele não conquistar a polícia, o seu cargo estará fadado ao fracasso, o que o deixa pensativo.

Algum tempo depois, no subterrâneo da cidade, uma briga envolvendo vários homens contra uma única vítima acaba interrompida quando Hector Ayala (Kamar de los Reyes) intervém em favor do saco de pancadas no metrô de Nova York.

Durante a briga, o homem latino consegue ajudar o rapaz espancado, mas se torna ele mesmo o alvo do grupo, tendo que se virar para se defender deles. 

Em meio à pancadaria, um dos homens acaba caindo no trilho e é atropelado por um trem. Logo em seguida, é revelado que os agressores são policiais e Ayala acaba sendo preso sob a acusação de assassinar um homem da lei.

Demolidor - Renascido
Kamar de los Reyes como Hector Ayala


Para quem não sabe, ou não assistiu ao resto do episódio, nos quadrinhos Hector Ayala é o alter-ego do Tigre Branco, herói porto-riquenho criado por Bill Mantlo e o saudoso George Pérez na década de 1970.

Demolidor - Renascido
Bill Mantlo, o Tigre Branco nas HQs e George Pérez


A morte do policial causa comoção na cidade e entre os seus amigos de farda. Para a opinião pública — e também para o juiz que advoga sobre o caso — a culpa de Ayala é muito clara e o latino logo vira almofada de sparring na cadeia, sem ter muitas chances de se defender.

Ao ver a situação vulnerável a que o homem está exposto, Matt Murdock decide interrogá-lo, logo percebendo que a sua versão sobre a morte do policial é verdadeira. Durante a luta, o “tira” perdeu o equilíbrio e acabou caindo fatalmente na frente do trem, enquanto Ayala só estava tentando proteger o sujeito que ele viu sendo covardemente comido de porrada.

Demolidor - Renascido


Apesar de acreditar na versão contada por Hector, Matt percebe que ele está escondendo alguma coisa e bota o seu amigo Cherry para investigar. O policial aposentado descobriu a identidade secreta de Matt no dia em que ele arremessou o Mercenário do alto do prédio e, depois disso, passou a trabalhar com o advogado, servindo meio que como o seu “Mike” (Jonathan Banks), o capanga faz-tudo de Breaking Bad e Better Call Saul.

Demolidor - Renascido
Cherry (Demolidor - Renascido) e Mike (Breaking Bad)


Aliás, os dois são carecas, são caladões, fazem o estilo meio linha-dura e são ex-policiais. Alguém mais notou essa semelhança? Hein? Alguém mais?

Durante a investigação de Cherry na casa onde Ayala mora com a esposa Soledad, é perceptível que o casamento dos dois está abalado pela maneira como a mulher se refere ao marido na presença de Kirsten. Com a desculpa que vai buscar o terno para o julgamento de Hector no quarto, Cherry acaba encontrando uma caixa onde ele guarda o traje e o amuleto místico do Tigre Branco, revelando assim ao público geral o que todo leitor de quadrinhos já sabia.

Todo o mistério envolvendo a briga no metrô, a identidade da vítima e a prisão de Ayala acaba sendo o mote principal do episódio 2. Além disso, vemos também a interação de Fisk com Gallo durante o funeral do policial morto e a constatação do que BB Urich já havia alertado ao Rei. 

Demolidor - Renascido
O comissário Gallo (Michael Gaston) peitando o Rei


Em uma atuação excelente de Michael Gaston diante de Vincent D’Onofrio, o comissário diz ao Rei que “uma vez bandido, sempre bandido” e que os policiais daquela cidade jamais estarão a favor de um criminoso, vestindo ou não a carapuça de prefeito.

Ainda diante desse diálogo, Gallo diz que não entende a decisão de Fisk de se tornar prefeito, uma vez que nessa posição ele tem muito menos poder e alcance do que tinha em sua época de Rei do Crime.

Hoje em dia, isso seria o equivalente a se perguntar a um jovem com idade universitária “por que você vai passar quatro anos se fodendo na faculdade se é muito mais fácil abrir uma conta no OnlyFans ou virar TikToker? Você vai ter muito mais poder e alcance do que, sei lá, virando um designer gráfico!

Desgostoso com a afronta de Gallo no cemitério, algum tempo depois, Fisk recebe o comissário em seu gabinete para aceitar a sua carta de demissão, é quando o gorducho decide voltar às suas origens e chantagear o homem lhe mostrando uma foto de uma mulher e de uma criança, que logo entendemos serem a sua família. Embora contrariado, Gallo decide continuar no cargo de comissário, mas sai da sala dizendo que a vida de Fisk não será mais facilitada por conta dessa ameaça.

Demolidor - Renascido


Com pouco tempo de tela, eu já virei fã desse personagem. Não é qualquer um que peita o Rei do Crime e sai vivo para contar a história. Sem falar que esse coroa manda muito bem na atuação. Ele daria um excelente General Ross no lugar do Harrison Ford e toda a sua má vontade de atuação característica.

O episódio termina com Matt ficando de butuca próximo ao apartamento de um dos policiais que participaram da briga no metrô, e sem outras pistas a seguir na intenção de inocentar Ayala, ele ouve que a vítima salva por Hector foi localizada, e que estão indo em seu encalço para liquidá-lo.

Enquanto liga para Cherry lhe dar apoio, Murdock consegue chegar antes ao endereço do rapaz e o encontra em pânico e escondido dentro do próprio apartamento. Matt se apresenta e lhe informa que a sua vida está correndo prerigo.



A única pessoa capaz de ajudar Ayala consegue fugir com a ajuda de Matt e, logo em seguida, o advogado fica no apartamento na intenção de atrasar os policiais que naquela situação estão agindo à paisana.

Sem qualquer tipo de peso na consciência por  baterem em um cego aparentemente indefeso, os dois policiais decidem merendar Matt na pancada, o que, num primeiro momento, é visto como uma atitude sensata por parte dele ao não reagir.

Afinal de contas, o advogado não é mais o Demolidor e uma reação sua só serviria para levantar suspeitas sobre si mesmo.

Em um último momento, um dos caras apela ao apontar uma arma para a cabeça de Matt na intenção de executá-lo a sangue frio. É aí que Matt resolve reagir e arrebenta com os dois numa das lutas mais violentas que eu já vi na tela da Disney +.

Rapaz! Tem fratura exposta sendo mostrada na nossa cara e uma cabeça sendo moída contra a porta de uma geladeira!

Para quem tinha medo que Demolidor – Renascido seria só mais uma dessas séries pau-mole que a Marvel tem feito recentemente, depois do final desse episódio, acabaram todas as dúvidas.

(Sra. Marvel. Por favor, mantenha esse mesmíssimo nível de sanguinolência até o último episódio da série do nosso amado Demônio Audacioso e esqueça que você já produziu aquelas merdas insossas de antigamente. Do seu marvete safado preferido, Rod Rodman).

Quem prestou a atenção nessa sequência de pancadaria linda de se ver, um dos policiais corruptos aparece com uma tatuagem da caveira do Justiceiro no pulso, o que levanta duas hipóteses:

1) Frank Castle vai aparecer na série (o que não é hipótese nenhuma já que o Jon Bernthal aparece no trailer);

2) O símbolo do Justiceiro vai ser usado de maneira leviana por policiais, como aconteceu na vida real nos Estragos Fudidos, quando um grupo de milicianos norte-americanos usando a caveira resolveu sair nas ruas com o intuito de “punir” a bandidagem usando requintes de crueldade como o personagem dos quadrinhos. Por um tempo, a Marvel considerou aposentar o icônico símbolo da caveira para que ela parasse de ser associada a esse tipo de violência descabida na vida real, e até um novo Justiceiro surgiu nas HQs com um símbolo bem diferente do habitual para descansar a imagem de Frank Castle.

Demolidor - Renascido


Os sinais de que o MCU vai usar isso na série estão por toda parte, vale saber se os produtores terão colhões para passarem uma mensagem mais direta sobre o assunto, da mesma maneira que usaram um personagem porto-riquenho — provavelmente imigrante — como alvo da lei sem direito a defesa e um chefão do crime organizado se tornando prefeito, num paralelo a Donald Trump, que foi eleito Presidente dos Estados Ruídos mesmo tendo sido condenado pela justiça norte-americana meses antes.

PONTOS POSITIVOS – O climão de Demolidor da Netflix está todinho lá, desde as tramas paralelas envolvendo tribunal e a carreira de advogado de Murdock até a pancadaria sangue no zóio que nóis adora. Até as citações discretas a outros personagens como “homem vestido de aranha” estão bem verossímeis às três primeiras temporadas. Naquela época, embora se dissesse que o Demolidor, a Jessica Jones, o Luke Cage e o Punho de Ferro faziam parte do mesmo universo dos Vingadores e seus derivados, eles quase nunca podiam citar sequer o nome desses personagens ao longo dos episódios. Era sempre “o cara verde”, “o maluco com o martelo”, e etc.

Demolidor – Renascido faz parte do MCU, mas, aparentemente, essas restrições de Naming Rights continuam sendo um problema!

PONTOS NEGATIVOS – O momento em que Wilson Fisk e Vanessa chegam no consultório da Heather para começarem uma terapia de casal. Ali faltou uns barracos, arranca-rabos que estamos acostumados a ver quando duas pessoas cujo relacionamento esfriou enfrentam, né? Eu queria assistir a uma coisa mais Manoel Carlos, mais novelesca com discussões em voz alta, descontrole emocional, isso tudo. Ainda mais se levarmos em consideração que, horas antes, o Rei descobriu que foi corno

Seja lá quem for esse tal de “Adam” o sujeito meteu pra dentro da senhora Fisk dicunforça! Ela pediu até pelamordedeus para que o marido não matasse o amante! Kkkkkkk!

P.S. - Enquanto eu editava o post, eu descobri que o ator Kamar de los Reyes que interpretou Hector Ayala na série faleceu vítima de um câncer em 2023, logo após as filmagens. A Marvel dedicou o episódio 2 em homenagem ao ator que tinha 56 anos.

NAMASTÊ!

3 de março de 2025

Ainda estou aqui falando dos vencedores do Oscar 2025

Oscar 2025


No último dia 02 de março rolou no Dolby Theatre a 97ª edição do Oscar e no Brasil a festa não podia ser maior. Em pleno Carnaval, o filme "Ainda Estou Aqui" levou a estatueta de Melhor Filme Internacional, desbancando entre outras produções, o “francês” Emilia Pérez.

É clima de Copa do Mundo, amigo! Haaaaja coração!


MELHOR ATOR COADJUVANTE

A noite de premiação começou com Robert Downey Jr. — vencedor do ano passado por seu papel em “Oppenheimer” — anunciando o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin por sua atuação em “A Verdadeira Dor”.

Oscar 2025
Kieran Culkin premiado por "Real Pain"


O irmão do Macaulay Kulkin já tinha vencido o Globo de Ouro pelo mesmo papel no filme dirigido e atuado por Jesse Eisenberg e repetiu a dose no Oscar com um discurso bastante espirituoso sobre o palco.

Apesar de ser o coadjuvante no filme, Culkin mostra o tempo todo porque tem sido tão premiado ultimamente por suas atuações — ele também levou o Emmy de Melhor Ator em Série Dramática por "Succession". Em “Real Pain” o seu personagem flutua o tempo todo entre o humor rasgado e a melancolia total, e a história dos dois primos — ele e o personagem de Eisenberg — que visitam os campos de concentração nazistas onde os seus avós foram torturados, exige dele uma interpretação mais densa que realmente o gabarita para vencer o Oscar.

Nessa categoria, Kulkin superou Guy Pearce ("O Brutalista"), Edward Norton ("Um Completo Desconhecido"), o competente Yura Borisov (de "Anora") e o mal-humorado Jeremy Strong ("O Aprendiz"), que ficou com uma tremenda cara de cu ao longo de toda a cerimônia!

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Na categoria Melhor Documentário, quem levou o prêmio da noite foi “No Other Land”, filme produzido por um coletivo palestino-israelense que mostra a destruição de Masafer Yatta por soldados israelenses na Cisjordânia ocupada, além da aliança que se desenvolve entre o ativista palestino Basel e o jornalista israelense Yuval.

Oscar 2025
A equipe do filme "Sem Chão"


Ao subir ao palco para receber a estatueta, a equipe do documentário pediu o fim do genocídio do povo palestino, situação trágica que tem ocorrido desde outubro de 2023, quando começaram as tensões entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Desde então, mais de 40 mil palestinos já morreram num conflito em que apenas um lado é massacrado às vistas do mundo inteiro, e nada de mais efetivo para botar um ponto final nessa guerra tem sido feito.

Assim como “Ainda Estou Aqui”, que escancara uma realidade cruel vivida no Brasil há vários anos, “No Other Land” também serve como um alerta e um pedido de socorro de um povo que vive com um alvo estampado na testa constantemente, sem que as forças internacionais sequer pensem em ajudar.

"Sem Chão", como foi traduzido por aqui, está em cartaz em alguns cinemas nacionais, sem previsão de chegar aos serviços de streaming.

MELHOR CURTA ANIMADO E MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO

Os prêmios de Melhor Curta Animado e Melhor Curta Documentário foram para “In The Shadow of The Cypress” e “The Only Girl in The Orchestra” respectivamente. A animação de 2023 é dirigida por Shirin Sohani e Hossein Molayemi, e é uma produção iraniana. Já o curta-documentário é uma produção da Netflix que foi dirigida por Molly O’Brien.

MELHOR ANIMAÇÃO

Falando em animação, quem levou o maior prêmio da noite nessa categoria foi o simpático “Flow”, da Letônia. O filme foi todo desenvolvido por meio do Blender e os criadores da produção enfatizaram que o uso da tecnologia de software livre foi essencial para que toda a composição das cenas de aventura do gatinho preto fossem realizadas.

Oscar 2025
"Flow" como Melhor Animação


Flow” desbancou grandes estúdios como a Pixar, que entrou na disputa com seu tocante “Divertida Mente 2” e bateu de frente também com outros filmes mais autorais como “Wallace & Gromit: A Vingança” e o australiano “Memórias de um Caracol”.

Apesar de ter achado a fluência de movimentos do gato e de seus amigos animais — não antropomorfizados, diga-se de passagem — excelentes, a história do gatinho perdido num mundo submerso em água não me tocou tanto quanto “Robô Selvagem” da DreamWorks.  Fazia tempo que eu não me acabava de chorar como aconteceu enquanto eu assistia a essa animação dirigida pelo competente Chris Sanders (de “Lilo & Stitch”), mas a tocante história de uma robô que se afeiçoa a um filhote de ganso me quebrou de uma maneira muito peculiar.

Oscar 2025
O emocionante "Robô Selvagem"


Apesar da rivalidade entre os dois projetos, vale a conferida em ambos. Os filmes funcionam tanto para crianças quanto para adultos, e o que não faltam são mensagens positivas nas duas histórias. “Robô Selvagem” se encontra para alugar na Amazon Prime e "Flow", por enquanto, só está nos cinemas — ou no seu aplicativo de pirataria mais próximo.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE E MELHOR CANÇÃO

Com 13 indicações no total, o francês "Emilia Pérez" chegou ao Oscar como um possível arrasa-quarteirão que iria papar todos os prêmios à vista, tal qual um “Oppenheimer”. 

No entanto, o que vimos na cerimônia de ontem foi a queda da realidade de um filme medíocre, produzido por pessoas medíocres que apostaram alto na questão de gênero para encantar os votantes da Academia, mas cuja campanha negativa facilitada pelas declarações preconceituosas de sua atriz principal acabou fazendo com que a produção naufragasse — pelo menos no tocante a cuestão do Oscar, talkey?

Apesar da nossa torcida contra disso, Zoë Saldaña confirmou o seu favoritismo levando o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel como Rita Mora, a advogada de Emilia Pérez. A atriz de ascendência porto-riquenha enfatizou as suas origens no discurso da vitória e ainda arriscou algumas palavras em espanhol, idioma que ela fala em quase 80% do filme dirigido por Jacques Audiard.

Oscar 2025
Zoë Saldaña


Saldaña desbancou as atrizes Ariana Grande (“Wicked”), Felicity Jones (“O Brutalista”), a veterana Isabella Rossellini (“Conclave”) e Monica Barbaro (“Um Completo Desconhecido”), provando após muitos anos de atuação, que era mesmo a sua hora de brilhar — apesar de ela fazer parte do elenco de três das atuais cinco maiores bilheterias do cinema por seus papeis nas franquias Avatar e Vingadores.

"Emília Pérez" também se saiu vitorioso no Oscar de Melhor Canção Original com "El Mal", repetindo o que aconteceu no Golden Globes. A música interpretada em uma parceria entre Zoë e Karla Sofía Gascón, bateu ninguém mais do que sir Elton John, que concorria com "Never Too Late", composta para o documentário homônimo sobre a sua carreira.

Aparentemente, os votantes dessa categoria não conhecem muito de música, não é mesmo?

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Com fortes chances de vencer o maior prêmio da noite, segundo alguns especialistas, “Conclave” saiu do Teatro Dolby com apenas uma estatueta debaixo do braço. O filme que fala sobre a reunião de cardeais para a escolha de um novo Papa ganhou na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (de Peter Straughan) e mais nada. A produção disputava oito categorias, entre elas, Melhor Ator (Ralph Fiennes) e Melhor Filme, mas acabou passando quase despercebida na premiação.

MELHOR FILME INTERNACIONAL

Para os brasileiros, o grande momento da noite foi mesmo a inesquecível premiação de Melhor Filme Internacional que consagrou “Ainda Estou Aqui” como o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar.



Na disputa, além do já citado “Emilia Pérez”, estavam também “A Garota da Agulha” (da Dinamarca), “A Semente do Fruto Sagrado” (do Irã) e novamente “Flow” da Letônia. Eu não me lembro de outra situação em que uma animação ocupou vaga de Melhor Filme Internacional com live-actions, mas confesso que suei frio quando “Flow” apareceu na lista e começou a despontar como favorito nos prêmios de Melhor Animação.

Oscar 2025


Para quem acompanhou a batalha de Walter Salles e de Fernanda Torres nos últimos seis meses para que a história de “Ainda Estou Aqui” fosse vista e reconhecida no circuito de festivais internacionais, a sensação de vitória dentro do peito foi quase tão grande quanto a deles.

Oscar 2025


Os momentos que antecederam a leitura do envelope feita pela atriz Penélope Cruz me causaram uma taquicardia absurda, tudo isso para explodir na catarse em que foi ouvir “I’m Still Here” soando com o sotaque delicioso da espanhola.

Cinema pra caralho


Sobre o palco, no momento do agradecimento, o diretor Walter Salles voltou a lembrar a luta de Eunice Paiva, a personagem central do longa, para o reconhecimento das barbaridades praticadas pela Ditadura Militar no Brasil, no período de 1964 a 1985, e ainda agradeceu:

“Muito obrigado em nome do cinema brasileiro. Depois de uma perda tão grande durante o regime autoritário decidiu não se dobrar e não desistir, esse prêmio vai para ela, Eunice Paiva. Pra Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”.

Na internet o frenesi foi gigantesco, e foi muito divertido comemorar feito a um Pentacampeonato de futebol a consagração de um filme que, além de servir como um recorte de um passado ainda muito presente na nossa história, é também muito bem-produzido, muito bem-filmado, muito bem-dirigido e, principalmente, muito bem-atuado por seus protagonistas. 

Oscar 2025


Não tem como não ficar orgulhoso dessa obra e também do prêmio que mostrou não só para o Brasil como também para o mundo que nós “Ainda Estamos Aqui” e lutaremos sempre contra os regimes ditatoriais recorrentes que assombram a nossa história.

MELHOR FIGURINO E MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

O filme “Wicked”, que transporta para as telas o espetáculo homônimo da Broadway e que faz parte do superestimado universo de “O Mágico de Oz”, saiu com dois prêmios, o de Melhor Figurino (para Paul Tazewell) e Melhor Direção de Arte (para Nathan Crowley e Lee Sandales).

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO

A Substância” que, antes da premiação, tinha sido elevado como o favorito do Oscar, levou apenas o prêmio de Melhor Maquiagem e Penteado, derrotando outras produções como “Nosferatu” e “Wicked” que também usaram e abusaram da maquiagem para compor os seus personagens.

Oscar 2025
Melhor Maquiagem para "A Substância"


MELHORES EFEITOS ESPECIAIS E MELHOR SOM

O espetacular e grandioso “Duna – Parte 2”, que é infinitamente mais empolgante que o primeiro, também recebeu a sua compensação em dois prêmios técnicos, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Som

Oscar 2025


O longa dirigido por Dennis Villeneuve, ainda disputava o prêmio mais cobiçado da noite, relacionado entre os dez maiores filmes, mas não teve muita chance contra o papa-Oscar de 2025.

O MELHOR DA NOITE

Então… veio “Anora”, e todos — ou quase todos — se regozijaram!

Nadando contra a maré de cinéfilos que via o longa de Sean Baker apenas como “mais uma produção misógina e superficial de Hollywood”, eu escrevi aqui antes das premiações que “Anora” era sim um dos meus favoritos entre os dez mais e que o filme, entre todos os que eu acompanhei para chegar inteirado no Oscar, foi o único que me despertou um real interesse e que eu assistiria de novo sem qualquer obrigação de “ver só por causa do Oscar”.

Oscar 2025
Mikey Madison como "Anora"


As premiações do longa começaram com a estatueta de Melhor Roteiro Original, assinado pelo próprio Sean Baker que se baseou em uma história real entre um amigo seu e uma stripper que foi sequestrada na Europa.

Logo depois, ganhou por Melhor Montagem que novamente levou Sean Baker ao palco para recebê-lo, uma vez que o diretor de 54 anos também foi responsável pela edição do longa. Aliás, nessa parte, Baker fez um comentário espirituoso sobre “ter salvado o filme na edição” e que se não fosse por ele “o diretor do filme nunca mais trabalharia em Hollywood”.

Ironicamente, ou não, Baker também venceu na categoria Melhor Direção, batendo os tarimbados James Mangold (de “Logan” e que concorreu ao Oscar por “Um Completo Desconhecido”) e Brady Corbet (de “O Brutalista”). Baker também superou a única diretora entre os finalistas, Coralie Fargeat, de “A Substância”, e para delírio geral da nação, bateu também o arrogante Jacques Audiard de “Emilia Pérez”.

Oscar 2025
Sean Baker e seus quatro Oscars


Até aí, tudo corria bem, uma vez que “Anora” merecia mesmo as premiações que disputou não só pela divertidíssima história tragicômica que proporcionou à audiência, mas também para enaltecer o trabalho triplo que Baker teve em escrever, filmar e editar o longa sozinho. Parecia de bom tamanho o que o cara já havia ganhado até ali, mas então, vieram as premiações mais surpreendentes da noite. 

Oscar 2025


Mikey Madison, que deu vida a dançarina erótica do título, venceu a categoria de Melhor Atriz, derrotando não só a favorita da noite, Demi Moore — que ganhou o Globo de Ouro por sua atuação em "A Substância" e que lhe rendeu um dos discursos mais inflamados antietarismo do ano —, como também derrotou a nossa Fernanda Torres, que era vista como a melhor entre as concorrentes depois de Moore.

Oscar 2025
Fernanda Torres e Demi Moore


Mikey é indiscutivelmente uma boa atriz que, no futuro, com certeza vai despontar como uma das melhores da sua geração, mas a meu ver — e de todo o Brasil! — premiá-la nessa noite foi um erro gravíssimo, em especial por tudo que o papel de Elisabeth Sparkle representou na carreira de Demi Moore.

Oscar 2025
Moore como Elisabeth Sparkle em "A Substância"


Premiar Madison — que só tem 25 anos! — enquanto a moça disputava com Moore que estava ali por interpretar uma personagem que sofreu de etarismo e que justamente por isso tomou a substância do título do filme para rejuvenescer e voltar às glórias do passado, foi no mínimo irônico por parte da Academia Cinematográfica. Para não dizer grosseiro.

Oscar 2025


O Oscar de Melhor Atriz foi praticamente uma assinatura e um carimbo na testa de Moore que "Sim. Você está velha mesmo e nós vamos premiar uma atriz novinha no seu lugar para colocá-la sob os holofotes que já foram seus!”.

E cá entre nós, com todo o respeito a Demi Moore e a Mikey Madison, mas a Fernanda Torres comeu as duas com farinha em matéria de interpretação em “Ainda Estou Aqui”. Nem tem o que dizer!

Coroando ainda mais as polêmicas da noite, “Anora” superou “Conclave”, “O Brutalista”, “A Substância” e o próprio “Ainda Estou Aqui” em Melhor Filme, e saiu consagrado do Dolby Theatre com nada menos do que CINCO estatuetas das seis que disputou.

Eu não vi “O Brutalista” com as suas infindáveis três horas e quarenta minutos de projeção, mas apenas analisando superficialmente as críticas ao looooonga, era bem fácil acreditar que a história que premiou Adrien Brody como Melhor Ator tinha muito mais conteúdo a apresentar do que “Anora”. Sem falar que “Conclave” era um filme muito mais com “cara de Oscar” do que a produção criada por Sean Baker.

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Adrien Brody como Melhor Ator por "O Brutalista"


Não posso negar que eu gostei muito de “Anora” e que certamente vou reassisti-lo no futuro assim que surgir em algum streaming, mas que essa premiação de “Melhor Filme” e de “Melhor Atriz” foi bastante exagerada, principalmente se levarmos em consideração que o longa já tinha sido devidamente premiado na noite, ah, isso foi!

P.S. – O prêmio de Melhor Curta-Metragem saiu para o ÚNICO filme que tive a oportunidade de assistir esse ano. “I’m Not A Robot” é um interessantíssimo curta sobre uma mulher que falha incansavelmente em provar que não é um robô para um teste de captcha de internet, o que coloca em xeque a sua própria percepção de humanidade. Aproveita que o filme está disponível no Youtube e pode ser visto agorinha, agorinha!


P.S. 2 – E o vácuo que o Walter Salles, não-intencionalmente (pelo menos eu acho!), deixou o coitado do Edward Norton na hora de receber o prêmio de Melhor Filme Internacional, hein? Eu não vi na hora, mas quando reprisou o momento na Globo, deu pra ver direitinho a cara de tacho do ator, que só pôde mesmo ser consolado por nossa Fernandinha Pikachu logo em seguida.

Oscar 2025

P.S. 3 - E o que foi o discurso interminável do "Pianista" Adrien Brody na hora de receber o seu Oscar de Melhor Ator, o segundo da sua carreira? O John Lithgow não gostou nada nada dessa demora toda!



Eu falei dos vencedores do Oscar desse ano "Anora" e "Ainda Estou Aqui" recentemente no Blog do Rodman. Para acompanhar a resenha sobre "Conclave" e "Emilia Pérez" clica no banner aí embaixo. 

Anora e Emilia Pérez no Conclave


NAMASTÊ!

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