Esse ano faz 85 anos que Bob Kane e Bill Finger criaram o Batman, um dos personagens em quadrinhos mais relevantes de toda a Cultura Pop.
E, para comemorar o aniversário do Morcego, eu resolvi
elencar o MEU Top 10 melhores — ou mais importantes NA MINHA OPINIÃO! —
desenhistas que já passaram pelas páginas do vigilante de Gotham City.
Sigam-me os bons!
10 - GREG CAPULLO
Aqui vou ser sincero: Nunca li nada do Batman que tenha sido desenhado por ele, mas tudo que vi na internet me agrada muito.
Eu já era fã do Greg Capullo na época em que ele desenhava o Spawn, logo depois que o Todd McFarlane ficou responsável apenas pelos roteiros da revista e pelo gerenciamento da Image Comics, por isso, sabia que o cara mandava bem com personagens trevosos.
A Bíblia do Spawn |
Eu era tão fã, que eu comprei “A Bíblia do Spawn”, edição da Editora Abril que era como uma espécie de manual sobre os personagens e o universo do Soldado do Inferno como um todo. A parte interna era inteira desenhado pelo Capullo. Eu adorava os ângulos estilosos que ele enquadrava os heróis e vilões. Além do que o seu traço era tão único que era difícil de copiar. E olhe eu que tentei muito!
Anos depois, quando ele começou a desenhar a fase dos Novos 52 do Homem-Morcego, aquela “estileira” que ele mandava nas histórias do Spawn deu uma amenizada e o seu traço se tornou mais sólido e limpo. Isso combinou absurdamente com a figura do Batman.
9 - JAE LEE
Assim como o Greg Capullo nessa lista, eu nunca li nada do
Batman que foi desenhado pelo americano de descendência coreana Jae Lee, mas
reconheço que a arte do cara de 52 anos que começou como ilustrador na Marvel
tem os seus atrativos.
Pela DC, ele ilustrou o especial Before Watchmen do Ozymandias
em 2012 e, logo em seguida, ficou um ano no título Batman/Superman, cujos roteiros
eram escritos pelo Greg Pak.
Por conta do seu trabalho com o Batman, a arte do cara
serviu como modelo para o desenvolvimento de variadas action-figures que usavam
o visual criado por ele. Na sua visão, o Cavaleiro das Trevas usava um traje
mais cinzento — sem cueca por cima da calça — e o capuz era mais aberto na parte do queixo, mais ou menos como
acabou sendo usado pelos figurinistas de The Batman, o filme.
O action-figure baseado no traço de Lee / Capuz do Morcego em "The Batman" |
O traço de Lee torna absolutamente tudo que ele desenha mais
realista e essa também era a proposta para o seu Batman, que possuía uma identidade muito própria.
8 - KELLEY JONES
Esse com certeza é o nome mais polêmico da lista, mas eu
tenho os meus motivos para elencar Kelley Jones como um dos meus desenhistas
favoritos do Bátema.
Esse cara nasceu em 1962, na Califórnia e começou a desenhar
para a DC Comics a partir de 1990, para o título do Sandman.
Dentre todos os que elenquei aqui nesse Top 10, certamente
ele não é um dos mais talentosos, nem um dos mais dinâmicos, porém, no
entanto, todavia, ele foi o responsável por elaborar algumas das capas mais
maneiras da revista do Batman na época do arco A Queda do Morcego.
Eu cansei de copiar os seus desenhos na minha vida de
vagabundo, quando não trabalhava e tinha tempo sobrando para pegar num lápis e
rabiscar os heróis de gibizinhos. Eu simplesmente adorava aquelas poses bizarras que ele fazia para o
Batman, e achava incrível o visual assustador que ele conseguia aplicar à figura
do Homem-Morcego, com ele sempre mesclado as sombras ou às gárgulas dos prédios de Gotham.
No auge dos anos 90, eu achava aquilo tudo “massa véio” ao
extremo. Era mais ou menos a mesma impressão que eu tinha da arte do Todd
McFarlane no Homem-Aranha, por isso o Kelley Jones merece estar nesse Top 10.
O Batman com o traje todo “preto” logo após a Queda do
Morcego e a derrota do Azrael é esculacho demais! (Anatomicamente falando aquele pescoço e
aquelas perninhas curtas não fazem sentido nenhum, mas é maneiro demais!)
7 - NORM BREYFOGLE
Norm Breyfogle nasceu em Iowa em 1960. É conhecido
fortemente no mundo da DC por ter sido o responsável pela criação do visual
inicial do Robin III Tim Drake — o meu traje preferido entre todos os Robins já existentes.
Particularmente falando de Batman, Breyfogle dava um ar
bastante sombrio e ameaçador para o herói. Em seus quadros, ele aparecia sempre
coberto por sombras, escondendo a parte evidente do rosto de Bruce Wayne, o que
dava as características essenciais que faziam dele reconhecido como “O
Cavaleiro das Trevas”.
Além disso, as suas cenas de ação eram muito fluídas.
Puxavam um pouco de Jim Aparo e de Neal Adams, mas sempre com uma identidade
única que, a meu ver, o fazia um pouco mais completo que os seus antecessores.
O formato anguloso dos olhos brancos do Batman era muito
específico e foi amplamente “copiado” pelos desenhistas que vieram depois dele
nos arcos do personagem.
Breyfogle faleceu em 2018 em decorrência de um derrame, mas
deixou a sua marca muito bem fundamentada na DC Comics.
6 - NEAL ADAMS
Como pessoa ele era meio pau no cu, mas é inegável o talento
que Neal Adams tinha com um lápis e um pincel nanquim em mãos.
Entre os anos 70 e os anos 80, ele foi o responsável por
grande parte da memória imagética que todo mundo tinha do Batman. Com a sua
definição, o personagem tinha uma postura elegante e as expressões por baixo do
capuz de morcego eram muito bem delineadas, em especial com aquelas sombras
projetadas nele e as “sobrancelhas” criando a "marra" essencial ao personagem.
Não tenho muita coisa desenhada por ele na minha coleção
pessoal do Batman, mas destaco aqui a Saga do Cabeça-do-Demônio, onde Adams tá
matando a pau em seu traço, colocando o “Detetive” para sair na mão com o
próprio Ra’s Al Ghul.
Aliás, foi dessa história que veio a ideia, mais tarde, de a
Thália Al Ghul ter ficado grávida do Batman e dado à luz secretamente ao mala
do Damian.
Neal Adams faleceu em 2022, não antes de “criar altas
confusões” na CCXP do ano anterior aqui no Brasil.
5 - FRANK MILLER
Para muita gente que lê quadrinhos — e quem lê quadrinhos é
gente? —, Frank Miller é Hors Concours no que se refere à “coestão” de melhor
desenhista de Batman. Eu concordo com essa máxima em partes, porque depois de “O
Cavaleiro das Trevas”, o véi Miller NUNCA mais fez nada para a DC que se
equiparasse à sua obra-prima da década de 1980.
Aiiin, Rodman! Ele fez O Cavaleiro das Trevas II e o III.
Ele é um gênio! Cale a sua boca!
Como eu disse, não acho DK II nem sequer próximo do que ele
fez no primeiro volume. E não digo a respeito do roteiro que, em comparação,
até que é razoável. Falo principalmente sobre a arte de Miller que acho
bastante desagradável tanto em DK II quanto em DK III.
De qualquer forma, o cara criou todo um conceito imagético
para esse Batman brucutu que continuou sendo usado como referência por anos e
anos, mesmo com a saída do autor da DC. O Batman do Ben Affleck era, no cinema, basicamente
aquela massa de músculos no corpo de um idoso que o Miller desenhou nos
quadrinhos.
O valor de O Cavaleiro das Trevas para o mundo das “Graphic Novels”
é indiscutível e é claro que muito disso se deve ao estilo de arte que o Miller
tinha antes de ficar preguiçoso e chamar qualquer rabisco de desenho.
DK (1986) / DK II (2001) / DK III (2016) |
4 - GRAHAM NOLAN
Graham Nolan é um artista norte-americano de 62 anos que não
é um dos mais conhecidos entre os fãs do Batman, mas que desenhou várias histórias
dele numa época muito importante — e polêmica — dos anos 1990 que foi "A Queda
do Morcego".
Naquele período do tempo, eu estava começando a comprar
regularmente as HQs do Batman que eram publicadas no Brasil pela Editora Abril
— "Que hoje mora lá no céu!" — e dois títulos chegavam regularmente por aqui:
“Liga da Justiça e Batman” e a revista solo do herói, “Batman”.
Esse arco que quebraria o Batman ao meio —
quase literalmente! — eram escritas por Doug Moench, Chuck Dixon e outros caras
famosos da DC nessa década, mas um desenhista que se destacava bastante era
justamente o Graham Nolan, que entre todos os que rabiscavam as figuras, era o
meu preferido.
Com um traço limpo, uma ótima construção de cenários e uma
capacidade alta de retratar as traquitanas tecnológicas do Homem-Morcego, o
Nolan dava uma dinamicidade muito grande à narrativa das histórias, por isso,
no meu ponto de vista, ele era o artista principal desse arco longo que demorou
várias edições e que contava com uns artistas bem mais capengas — Bret Blevins,
eu estou falando de você!
O segundo encontro entre o Batman e o Homem-Aranha no traço de Graham Nolan |
O quadro onde o Bane surge na mansão Wayne alguns minutos
antes de quebrar de pau o Batman é um dos mais icônicos desenhados pelo Graham, ao meu ver.
E tem também a sequência da humilhação final, quando o brucutu arremessa o Batman já com a coluna partida de cima de um prédio.
This
is Cinema!
3 - JIM APARO
Quem também desenhou por várias edições o Batman durante o
arco da Queda do Morcego foi esse cara que é um verdadeiro ícone entre os fãs
mais antigos do personagem. O felomenal Jim Aparo.
Aparo nasceu em Nova York em 1932 e teve uma extensa e
premiada carreira dedicada aos quadrinhos.
Foi ele quem ilustrou de cabo a rabo o arco “Morte em
Família”, onde tragicamente o Robin II Jason Todd é assassinado pelo Coringa a
golpes de pé-de-cabra.
As imagens onde o Jóker, o Bobo, o Palhaço, o Curinga maceta
a cabeça do Jason são tão emblemáticas que é provável que mesmo quem nem era
nascido na época da publicação do gibi já deve ter visto por aí.
Sem falar que Aparo era tão bom no que fazia, que a gente nem
precisava ver os miolos do moleque voando para entender o que estava acontecendo nos quadros
que mostravam apenas o sadismo na cara do Coringa.
A cena do Batman encontrando o Robin morto em meio aos destroços onde ele foi EXPLODIDO depois de espancado também é bastante
impactante.
Jim Aparo faleceu em 2005, mas deixou um legado inegável no
universo do Morcego e também no dos demais personagens da DC Comics.
2 - DAVID MAZZUCCHELLI
Eu conheci David Mazzucchelli na época em que ele desenhava
o Demolidor escrito pelo Frank Miller na Marvel. O cara desenhou todo o arco “A Queda de
Murdock” do herói cego nos anos 80 e, quando Frank Miller pulou o
muro das editoras e se bandeou para a DC, o sujeito tratou de levar o colega pra lá junto
com ele. Os dois trabalharam juntos em “Batman - Ano Um”, quadrinho pelo qual
Mazzucchelli acabou mais conhecido do público em geral.
Os motivos da exaltação ao desenhista são óbvios. A arte
dele fala por si.
Mazzucchelli tem um dos traços mais dinâmicos e precisos que já vi nas HQs em muitos anos como leitor. As suas cenas de pancadaria eram
exemplos raros de como contar uma história sem precisar de muitos balões e
recordatórios. Dava gosto ver o seu Batman saindo na mão com a bandidagem e ele
emprestou ao Morcego tudo que eu já gostava de ver nas histórias do Demolidor
que, como eu curtia, eram recheadas de enquadramentos cinematográficos
brilhantemente ilustrados por ele.
1 - JOSÉ GARCIA LÓPEZ
Nascido na Espanha na década de 1940, José Garcia López
começou a trabalhar como arte-finalista na DC ainda nos anos 1970, quando
trabalhou ao lado do desenhista Curt Swan numa revista do Superman.
Nos anos 80, já consolidado como um artista de estilo
próprio, ficou encarregado de ilustrar o megacrossover entre o Batman e o
Hulk, iniciativa entre a Marvel e a DC que colocou para brigar os seus
principais personagens.
Ainda nos anos 80, por conta do seu traço único — que unia
limpeza de linhas com a dinamicidade de movimento dos seus personagens —,
Garcia López ficou responsável pela estilização dos heróis DC para posterior
licenciamento da marca de brinquedos (conhecida como "Super-Powers"), jogos e outros produtos relacionados ao
Superman e aos seus amigos coloridos.
Algumas das primeiras imagens que vi do Batman, quando eu
ainda era criança, eram desenhadas por ele. Me lembro que o meu irmão mais
velho tinha um jogo de cartas da DC em que todos os personagens eram ilustrados por
ele e eu cheguei a guardar por muitos anos um recorte da caixa desse jogo que
tinha o Batman em pose heroica, com a mão na cintura e a capa azul esvoaçante
nas costas (ver a imagem acima!). Sempre achei o máximo aquele traço!
Certamente, Garcia Lopez marcou gerações com a sua arte detalhista e dinâmica e, por muitos anos, assim como foi com o John Romita Sr. na Marvel, era ele quem dava a cara definitiva dos personagens da DC Comics para o mundo além das HQs.
Grande mestre!
0 - BRIAN BOLLAND
No conjunto da obra, Bolland sempre entregou a perfeição de traço em seus desenhos, o que o eleva, com certeza, ao status de um dos maiores artistas de histórias em quadrinhos do mundo.
Para não me estender muito e para ficar só no mundo do Batman, falando da HQ mais importante desenhada por ele, todo o esculacho da precisão do cara já começa com a capa de The Killing Joke, onde o Coringa aparece fotografando sadicamente a sua vítima — que não está visível para o leitor, mas que pelo contexto da história sabemos se tratar da pobre da Bárbara Gordon — com o sorriso diabólico no rosto. A expressão na cara do maníaco de pele branca também evidencia o quanto ele se diverte com as atrocidades que comete.
(Viu, gente! É por essa e outras representações dele que NÃO DEVEMOS nunca exaltar o Coringa ao patamar de um "exemplo a ser seguido"!).
Bolland é um extraordinário capista, e basta uma "googleada" simples na internet para que você saiba exatamente do que estou falando. Além disso, o britânico é um artista extremamente metódico que sabe contar muito bem uma história. A sua narrativa é limpa e compreensível. Ele entende absurdamente de composição de cenas. Sem falar que manja de anatomia como poucos.
"A Piada Mortal" é o tipo de HQ que você pode dar 10/10 por conta da arte, da capa e, principalmente pelo roteiro. E quem conhece bem o barbudo Alan Moore sabe o quanto ele é detalhista com seus roteiros. Ele faz praticamente 70% do trabalho de descrever as cenas, os enquadramentos, cenários, poses dos personagens e até área do baloneamento. Assim, cabe aos artistas com quem ele trabalha apenas cuidar da execução dos outros 30%.
Com um cara com o talento de Bolland ao lado então, aí fica fácil ser o maior contador de histórias que o mercado de quadrinhos já teve.
Nota 10. Bolland é gênio demais!
P.S. - Vale uma
menção honrosa para o artista Brian Apthorp que não teve uma passagem muito
longa pelos títulos do Batman, mas que ilustrou uma história meio “Ano Um” do
Morcego lançada no Brasil durante a saga Zero-Hora — que tinha a função de resetar
o universo DC na época.
A história lembrava um dos primeiros encontros do Morcego
com a Hera Venenosa e os desenhos do Apthorp deixavam a perigosa vilã muito mais
sensual do que de costume. Inclusive, algumas poses da Hera eram bastante
reveladoras, assim como todo o argumento da história.
Pra um adolescente na época… ah, aquilo era mais que o
suficiente para se criar fantasias eróticas em minha cabeça com ruivas
venenosas!
Um veneno desse até eu queria tomar!