Faz tempo que não me empolgo com nada que a Marvel produz e
isso se deve ao fato dessa cultura woke, desse comunismo, desse mimimimi de que
eu estou velho, cansado e que para a minha idade é normal que nada mais me agrade.
A série do Demolidor, aquela que foi lançada lá na época da Netflix é, sem sombra nenhuma de dúvida, o meu conteúdo televisivo com personagens do selo Marvel preferido. Mas de muito longe!
Talvez, o que mais tenha chegado perto dessa minha adoração foi WandaVision, mas ainda sim não considero um elemento sequer comparativo.
Quando a atual Marvel do MCU anunciou uma nova série com o
personagem, mesmo considerando que parte do elenco original — aquele da Netflix
— retornaria aos seus papeis, eu fiquei com um pé atrás. As produções desse universo já vinham
sofrendo um declínio vertiginoso desde o fim da Saga do Infinito e eu realmente tinha medo do
que os caras que produziram as séries xexelentas do Cavaleiro da Lua e da Invasão
Secreta fariam ao botarem as suas mãos fétidas no Demolidor.
Foi aí que começaram os boatos preocupantes de substituição
do elenco, de refilmagens, de cortes de roteiro e até de alegações sobre a série não fazer
parte do MCU regular — como a da Netflix, que no começo fazia parte do MCU e que
depois não fazia mais!
Bicho! Eu assinei uma petição online alarmada pelo próprio
Vincent D’Onofrio para que a Marvel fizesse uma quarta temporada do Demolidor
na época em que foi confirmado o cancelamento do contrato com a Netflix. Eu
escrevi uma cacetada de posts comentando tudo que acontecia com relação ao
personagem nas séries em que ele aparecia e torci muito para que o Kevin Feige
ou alguém abaixo dele tivesse um mínimo de boa vontade com o “Atrevido”.
Então, vieram as participações do personagem em Homem-Aranha
– Sem Volta para Casa, na série da Echo e em Mulher-Hulk, e o hype voltou a
aumentar de maneira avassaladora. Mesmo com as notícias desanimadoras na imprensa de que a sua
série própria tinha sofrido uma tonelada de reboots, reshoots e o caralho a
quatro.
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O Demolidor em "Sem Volta para Casa", "Eco" e "Mulher-Hulk" |
Quando o próprio Kevin Feige garantiu que Demolidor – Renascido seria uma continuação das três temporadas da Netflix e que o Rei do Crime apresentado na série do Gavião Arqueiro era O MESMO daquele universo, o pequeno Rodman esperançoso que ainda há em mim vibrou de felicidade.
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O Rei do Crime na série do Gavião Arqueiro |
As coisas só
melhoraram quando os atores Deborah Ann Woll (Karen Paige), Elden Henson (Foggy
Nelson) e Ayelet Zurer (Vanessa Fisk) foram confirmados nessa continuação, e a ansiedade
continuou nos picos até a estreia da série.
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A Vanessa Fisk de Ayelet Zurer |
Estou escrevendo o review na empolgação do momento. Fazem
apenas algumas horas que assisti aos dois primeiros episódios, então eu posso
estar um pouco fora do meu juízo normal. Mesmo assim, sigam-me os bons!
Episódio 1 – Meia hora do Céu
Foi uma experiência muito surreal começar a assistir os
primeiros minutos de Demolidor – Renascido porque eu me senti transportado direto para 2015, quando estreou a primeira série ainda pela Netflix. Naquela época, eu dei play no
primeiro episódio com o peito cheio de expectativas. Lembro que era de manhã e
eu ainda estava me arrumando para trabalhar na escola onde dava aula. Eu me permiti atrasar para o serviço só para assistir ao primeiro episódio até o fim e, quando aquela obra-prima se findou, soltei um “UOUU” de tão impactado que fiquei.
Dez anos depois, estava largado na cama, com o projetor
ligado em direção à parede e voltei a soltar aquele mesmo “UOUU” com os olhos
marejados de emoção por ver os meus personagens queridos de volta…
Pelo menos, no pouco tempo em que eles ficam reunidos.
💔
A série começa mostrando uma reunião alegre entre Matt
Murdock (Charlie Cox), Karen Paige (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden
Henson) no bar da Josie, cenário que funcionava meio que como o Central Perk
de Friends para os três amigos nas temporadas anteriores.
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Karen (Deborah Ann Woll), Matt (Charlie Cox) e Foggy (Elden Henson) |
Ali, em meio a dois novos personagens que nos são apresentados
nos primeiros minutos, Cherry (Clark Johnson), um velho policial prestes a se
aposentar e Kirsten McDuffie (Nikki M. James), uma advogada “rival” dos três
amigos, eles bebem e confraternizam por um breve momento, nos fazendo crer que
aquele vai mesmo ser o clima de harmonia que a série vai nos engolfar.
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Cherry (Clark Johnson) e Kirsten (Nikki M. James) |
Quando Nelson recebe um telefonema desesperado de um amigo
que ele está protegendo em seu apartamento — e a identidade do cara não me
ficou clara num primeiro momento —, Matt logo percebe que tem algo errado e
começa a usar a sua audição super-aguçada para entender o que está havendo.
Alguém está tentando invadir o apartamento de Nelson para
pegar o tal amigo, o que obriga Murdock a vestir o seu traje de Demolidor e
partir para salvar a vítima.
É aí que vem a minha primeira crítica à série.
Assim como todos os outros espectadores que assistiram às séries da época da Netflix — tirando Punho de Ferro que era uma bosta sem defesa! —, eu já estava acostumado a como a praticidade — e a falta de grana — resolviam a maior parte das cenas de ação.
Em Mulher-Hulk, já haviam
tentado criar um boneco digital que tornava o Demolidor mais ágil, a um nível
super-humano mais comum no MCU… e convenhamos que já tinha ficado bem ruim!
Aqui, enquanto o Demolidor tenta chegar o mais rápido
possível ao apartamento de Nelson, fica MUITO CLARO o bonecão digital que
usaram para fazê-lo pular entre os prédios com o auxílio do seu bastão e o cabo
de aço. E, para variar, o resultado também não ficou decente.
Lembra dos super saltos desnecessários do Demolidor do Ben
Affleck naquele filme medonho de 2003? Pois é! Fiquei com a mesma sensação ao
ver o Charlie Cox emborrachado de CGI porco fazendo as peripécias acrobáticas que
o personagem exige.
Estraga completamente a experiência da série?
É claro que não!
Até porque, logo em seguida, o público que assiste à telinha do Disney + logo
percebe que o Demolidor foi atraído ao apartamento de Nelson de propósito, para
que os seus amigos na portaria do bar da Josie ficassem vulneráveis ao ataque
de um sniper que baleia Foggy, o tornando uma entre várias outras baixas de guerra. Esse sniper é ninguém menos do que Benjamin Poindexter (Wilson Bethel), o excelente
Mercenário da terceira temporada de Daredevil.
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O "olho de boi" Ben Poindexter |
Rapaz! Vou te dizer que segurei o cu com muito carinho na
mão ao longo de toda essa sequência e não soltei mais até o desenrolar dos
fatos.
Embora a luta entre o Demolidor e o Mercenário, focalizada diretamente pela câmera sem os cortes ágeis e rápidos a que estamos acostumados, seja bem qualquer coisa num primeiro momento, os diretores do episódio (Aaron Moorhead e Justin Benson) conseguem nos manter apreensivos com o entorno da briga.
Enquanto os dois tentam se matar — com o Mercenário arremessando tudo que existe no ambiente contra o Demolidor e o transformando em "talba de tiro ao álvaro" —, nós estamos ouvindo a frequência cardíaca de Foggy diminuindo cada vez mais do lado fora, através dos super-sentidos de Matt.
Tudo só piora enquanto Karen chama
desesperadamente pelo amigo caído ensanguentado no chão, ao mesmo tempo que Matt
está claramente com dificuldades para derrubar o seu adversário.
Aqui temos que dar os parabéns à equipe de roteiristas da
série (Dario Scardapane escreveu o 1º episódio) que conseguiram nos deixar interessados pelo enredo desde o primeiro
minuto, trazendo os nossos personagens queridos de volta, nos dando aquele
sentimento de nostalgia em vê-los juntos mais uma vez… e nos tirando um deles da maneira
mais violenta possível logo em seguida!
Em resposta à morte do seu grande amigo, o Demolidor chega ao extremo do seu sentimento de vingança quando, num ato puramente emocional, ele simplesmente joga Poindexter do alto do Josie’s.
A cena da queda do personagem no
chão é seca e muito violenta. Não há nenhum corte de câmera e nós simplesmente sentimos o corpo
do sujeito bater no asfalto enquanto Karen ainda lamenta o que aconteceu com
Foggy.
Lembrou bastante o que aconteceu ao final da batalha entre o Demolidor e o Mercenário no arco escrito pelo Frank Miller nos anos 1980, logo após a morte da Elektra. Na ocasião, o Mercenário ficou paraplégico e ele só voltou ao normal quando aplicaram placas de adamantium (?) na sua coluna, o fazendo andar novamente.
Na terceira temporada, lançada em 2019 (acho), o Mercenário já tinha sido quebrado
ao meio pelo Rei do Crime, mas nos últimos minutos do episódio, Poindexter
aparece em uma mesa de cirurgia sendo “consertado”, para claramente voltar numa
quarta temporada que nunca aconteceu.
Em Demolidor - Renascido, um ano se passa e após o trágico desenrolar do seu combate
contra o Mercenário, Matt agora está associado a Kirsten McDuffie — como numa
das versões mais recentes das histórias do Demolidor nos quadrinhos — e ele
decidiu se aposentar — mais uma vez! — da sua vida de vigilante.
No dia do julgamento de Ben Poindexter — que como todo vaso ruim não se quebrou ao cair do telhado do Josie’s! — Matt serve de testemunha contra o cara, e quem reaparece é Karen Paige, após um afastamento de vários meses.
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Poindexter (Wilson Bethel) |
Da plateia, a loira assiste à condenação perpétua de Poindexter e, ao final do
veredicto da juíza, em uma conversa franca com o amigo cego, ela diz que está feliz em São
Francisco e que não pretende mais ter um relacionamento próximo a ele.
No arco “A Queda de
Murdock”, desgostosa da sua vida em Nova York, Karen se muda justamente para São Francisco
e é lá que a moça acaba se tornando uma adicta, além de se envolver com
prostituição. Algum tempo depois, a ex-secretária vende a verdadeira
identidade do Demolidor ao Rei do Crime, o que culmina com a derrocada do
personagem.
Vale lembrar que “Born Again” é o título original de “A
Queda do Murdock” e que é possível que os criadores da atual série tenham se influenciado pelo
arco de Frank Miller para contar essa quarta parte na vida do personagem mais
lascado do universo Marvel.
De volta ao episódio, quem também está retornando para Nova
York após um longo afastamento é Wilson Fisk (o magnânimo Vincent D’Onofrio), cuja primeira
visita que faz é à (ex?) mulher, Vanessa (Ayelet Zurer).
Com a ausência do marido na cidade, foi ela quem continuou
comandando as famílias criminosas locais — incluindo a Gangue do Agasalho,
mostrada em Gavião Arqueiro — e fica claro o desconforto que há entre os dois
com a volta de Fisk à cidade.
Essa parte ficou meio que nublada para mim. É dito que Fisk
ficou afastado devido ao ataque de um vigilante — provavelmente, se referindo
ao tiro que ele levou na cara da Eco no final de Gavião Arqueiro —, mas a
própria série da Eco nos mostra que a sua recuperação não demorou tanto assim —
pelo que me lembro — e que não faz sentido que o casamento dele com Vanessa
tenha ruído nesse breve período em que ele esteve fora da cidade, tentando cooptar a
vigilante de origem indígena como sua aliada.
Mas, enfim…
Vanessa não quer abrir mão do seu poder à frente das
organizações criminosas da cidade e não parece muito feliz com a ideia de Fisk
de se tornar o prefeito de Nova York. Por causa disso, ela se afasta dele ao longo da sua campanha e o deixa
praticamente sozinho a fim de realizar o seu mais novo sonho de chegar ao topo
da cidade, desta vez, por meios legais.
Nesse meio tempo, nós somos apresentados brevemente a mais duas novas personagens. Uma delas, é denominada BB Urich (Genneya Walton), uma “blogueirinha” que transmite pela internet as impressões da população nova-iorquina com relação ao novo candidato a prefeito da cidade.
No segundo episódio, para os
menos atentos aos detalhes, é dito com todas as letras que a menina é sobrinha
de Ben Urich (Vondie Curtis-Hall), o repórter aliado do Demolidor que foi morto
na primeira temporada pelo próprio Wilson Fisk.
Eu não sei se nas HQs houve em algum momento uma BB Urich,
mas eu me lembro que lá pelo final dos anos 1990, introduziram um sobrinho de Ben
chamado Phil, que mais tarde acabou se tornando uma das centenas de versões do
Duende Verde.
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Genneya Walton (BB Urich), Ben Urich (Vondie Curtis-Hall) e Phil Urich nos quadrinhos |
A segunda nova personagem que surge, não é tão nova assim
para quem já leu alguma HQ antiga do Demolidor. Heather Glenn fez parte do
elenco das histórias do personagem também no arco escrito por Frank Miller e,
no começo, ela surgiu mais como uma acompanhante de Foggy, só mais tarde vindo
a se envolver romanticamente com Matthew.
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Margarita Levieva como Heather Glenn |
Nos quadrinhos, ela era mais uma dondoca com muita grana e
tempo disponível. Depois de um período do relacionamento entre os dois, ela acaba descobrindo a vida dupla do
namorado cego e o seu fim é bem trágico nas HQs, aliás, como boa parte do
elenco feminino que permeia as histórias do Demônio Audacioso.
Na série, Heather é interpretada pela atriz Margarita Levieva — com suas belas madeixas onduladas! — e a moça é inserida na história pela sócia de Matt, que tenta arranjar um encontro às cegas — sem trocadilho! — entre os dois.
Heather se apresenta a ele como uma terapeuta e os dois logo
desenvolvem um interesse mútuo, o que mais tarde culmina num namoro.
Cá entre nós… as mulheres devem ter um fetiche em namorar um
cara cego, né não? É impressionante a facilidade que o Demolidor tem de
levar no sambarilove as cocotas mais gatas dos quadrinhos!
O primeiro episódio termina mostrando a vitória de Fisk nas eleições e os dois personagens se antagonizando simbolicamente, com o Rei do Crime do alto de um prédio a assistir à festa pela sua vitória nas ruas e Matt lá de baixo, com vários contrastes de vermelho em seu rosto, “olhando” para o alto.
Antes do
resultado do pleito, os dois chegaram a sentar amigavelmente em uma lanchonete
para colocar os “pingos nos is” e deixaram claro as suas intenções um para com
o outro.
Matt diz ao rival que, se ele cagar fora do penico em sua
posição como prefeito, o Demolidor estará de volta para estragar a sua festa,
enquanto Fisk deixa muito claro que se ele vencer as eleições, uma das suas
primeiras medidas vai ser proibir heróis fantasiados em sua cidade, o que mantém aquecida a rivalidade que sempre existiu entre os dois, seja nos
quadrinhos ou em live-action.
Sinceramente, quem não terminou esse episódio louco para ver
o próximo, está completamente maluco ou não deve ser lá muito fã do Atrevido.
PONTOS POSITIVOS – Toda a tensão criada na batalha do bar da Josie e o desenrolar dos fatos com a morte de Foggy elevaram muito o nível do primeiro episódio. As atuações também estão muito boas, tanto do trio principal (Cox, Woll e Henson) quantos dos novos coadjuvantes. Charlie Cox e Vincent D’Onofrio simplesmente nasceram para interpretar o Demolidor e o Rei do Crime. Os dois brilham em cena.
A nova abertura de Demolidor - Renascido ficou com uma qualidade equivalente à anterior. Se no passado tínhamos a estátua da justiça sangrando, agora vemos símbolos em pedra ruindo para se reconstruir no final. Achei condizente com o título "born again", além do que o tema musical é agradável de ouvir, como o antigo composto por John Paesano e Braden Kimball. A música atual é composta pelos The Newton Brothers.
PONTOS NEGATIVOS – Eu me pergunto se precisava usar aquele boneco tosco de CGI para dar mais dinamicidade à corrida desesperada do Demolidor para chegar ao prédio do Foggy. Um bom atleta de parkour faria aquelas mesmas cenas com muito mais naturalidade, como já acontecia nas primeiras temporadas.
Tem uma sequência inteira que mostra Matt Murdock DE TERNO E GRAVATA correndo e pulando entre os prédios sob a luz do dia e ninguém diz que aquele cara não é o Charlie Cox. É tudo muito bem feito, só basta ter um pouco mais de boa vontade.
Espero que não usem mais CGI de maneira banal assim no
restante da série.
Episódio 2 – Ótica
O segundo episódio começa mostrando os desdobramentos da eleição de Wilson Fisk e a sua passagem de o Rei do Crime para prefeito de uma das maiores cidades do mundo.
É irônico aqui fazer um paralelo com o nosso mundo real, onde grandes
bandidos e pessoas notadamente encrencadas com a lei se tornam políticos da noite
para o dia, e que, pasmem, vencem as suas disputas eleitorais com facilidade, caindo
nos braços do povo em seguida.
No mundo fictício da série, após uma visita de BB Urich ao
seu gabinete, Fisk é alertado que terá problemas com o chefe de polícia da
cidade, o comissário Gallo (Michael Gaston), que devido ao passado de
bandidagem de Wilson, não o enxerga como uma figura respeitável e que não vai lhe
facilitar a vida botando a sua força policial ao seu dispor.
Sem saber que o cara sentado à sua frente foi o responsável
pela morte do seu tio, Ben, a blogueira diz a Fisk com todas as letras que se ele não conquistar a polícia, o seu cargo estará fadado ao fracasso, o que o deixa pensativo.
Algum tempo depois, no subterrâneo da cidade, uma briga
envolvendo vários homens contra uma única vítima acaba interrompida quando
Hector Ayala (Kamar de los Reyes) intervém em favor do saco de pancadas no
metrô de Nova York.
Durante a briga, o homem latino consegue ajudar o rapaz espancado, mas se torna ele mesmo o alvo do grupo, tendo que se virar para se defender deles.
Em meio à pancadaria, um dos homens acaba caindo no trilho e é atropelado
por um trem. Logo em seguida, é revelado que os agressores são policiais e
Ayala acaba sendo preso sob a acusação de assassinar um homem da lei.
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Kamar de los Reyes como Hector Ayala |
Para quem não sabe, ou não assistiu ao resto do episódio, nos quadrinhos Hector Ayala é o alter-ego do Tigre Branco, herói porto-riquenho criado por Bill Mantlo e o saudoso George Pérez na década de 1970.
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Bill Mantlo, o Tigre Branco nas HQs e George Pérez |
A morte do policial causa comoção na cidade e entre os seus
amigos de farda. Para a opinião pública — e também para o juiz que advoga sobre
o caso — a culpa de Ayala é muito clara e o latino logo vira almofada de sparring
na cadeia, sem ter muitas chances de se defender.
Ao ver a situação vulnerável a que o homem está exposto, Matt
Murdock decide interrogá-lo, logo percebendo que a sua versão sobre a morte do
policial é verdadeira. Durante a luta, o “tira” perdeu o equilíbrio e acabou
caindo fatalmente na frente do trem, enquanto Ayala só estava tentando proteger
o sujeito que ele viu sendo covardemente comido de porrada.
Apesar de acreditar na versão contada por Hector, Matt
percebe que ele está escondendo alguma coisa e bota o seu amigo Cherry para
investigar. O policial aposentado descobriu a identidade secreta de Matt no dia
em que ele arremessou o Mercenário do alto do prédio e, depois disso, passou a
trabalhar com o advogado, servindo meio que como o seu “Mike” (Jonathan Banks), o capanga faz-tudo de Breaking Bad e Better Call Saul.
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Cherry (Demolidor - Renascido) e Mike (Breaking Bad) |
Aliás, os dois são carecas, são caladões, fazem o estilo
meio linha-dura e são ex-policiais. Alguém mais notou essa semelhança? Hein?
Alguém mais?
Durante a investigação de Cherry na casa onde Ayala mora com a esposa Soledad, é perceptível que o casamento dos dois está abalado pela maneira como a mulher se refere ao marido na presença de Kirsten. Com a desculpa que vai buscar o terno para o julgamento de Hector no quarto, Cherry acaba encontrando uma caixa onde ele guarda o traje e o amuleto místico do Tigre Branco, revelando assim ao público geral o que todo leitor de quadrinhos já sabia.
Todo o mistério envolvendo a briga no metrô, a identidade da vítima e a prisão de Ayala acaba sendo o mote principal do episódio 2. Além disso, vemos também a interação de Fisk com Gallo durante o funeral do policial morto e a constatação do que BB Urich já havia alertado ao Rei.
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O comissário Gallo (Michael Gaston) peitando o Rei |
Em uma atuação
excelente de Michael Gaston diante de Vincent D’Onofrio, o comissário diz ao
Rei que “uma vez bandido, sempre bandido” e que os policiais daquela cidade
jamais estarão a favor de um criminoso, vestindo ou não a carapuça de prefeito.
Ainda diante desse diálogo, Gallo diz que não entende a
decisão de Fisk de se tornar prefeito, uma vez que nessa posição ele tem muito
menos poder e alcance do que tinha em sua época de Rei do Crime.
Hoje em dia, isso seria o equivalente a se perguntar a um
jovem com idade universitária “por que você vai passar quatro anos se fodendo
na faculdade se é muito mais fácil abrir uma conta no OnlyFans ou virar TikToker?
Você vai ter muito mais poder e alcance do que, sei lá, virando um designer
gráfico!”
Desgostoso com a afronta de Gallo no cemitério, algum tempo
depois, Fisk recebe o comissário em seu gabinete para aceitar a sua carta de
demissão, é quando o gorducho decide voltar às suas origens e chantagear o homem lhe mostrando uma foto de uma mulher e de uma criança, que logo entendemos serem a sua
família. Embora contrariado, Gallo decide continuar no cargo de comissário, mas sai da sala
dizendo que a vida de Fisk não será mais facilitada por conta dessa ameaça.
Com pouco tempo de tela, eu já virei fã desse personagem. Não é qualquer um que peita o Rei do Crime e sai vivo para contar a história. Sem falar que esse coroa manda muito bem na atuação. Ele daria um excelente General Ross no lugar do Harrison Ford e toda a sua má vontade de atuação característica.
O episódio termina com Matt ficando de butuca próximo ao
apartamento de um dos policiais que participaram da briga no metrô, e sem outras
pistas a seguir na intenção de inocentar Ayala, ele ouve que a vítima salva por
Hector foi localizada, e que estão indo em seu encalço para liquidá-lo.
Enquanto liga para Cherry lhe dar apoio, Murdock consegue chegar
antes ao endereço do rapaz e o encontra em pânico e escondido dentro do próprio
apartamento. Matt se apresenta e lhe informa que a sua vida está correndo prerigo.
A única pessoa capaz de ajudar Ayala consegue fugir com a
ajuda de Matt e, logo em seguida, o advogado fica no apartamento na intenção de
atrasar os policiais que naquela situação estão agindo à paisana.
Sem qualquer tipo de peso na consciência por baterem em um cego aparentemente indefeso, os dois policiais decidem merendar Matt na
pancada, o que, num primeiro momento, é visto como uma atitude sensata por parte
dele ao não reagir.
Afinal de contas, o advogado não é mais o Demolidor e uma reação sua só serviria para levantar suspeitas sobre si mesmo.
Em um último momento, um dos caras apela ao apontar uma arma
para a cabeça de Matt na intenção de executá-lo a sangue frio. É aí que
Matt resolve reagir e arrebenta com os dois numa das lutas mais violentas que
eu já vi na tela da Disney +.
Rapaz! Tem fratura exposta sendo mostrada na nossa cara e uma cabeça sendo moída contra a porta de uma geladeira!
Para quem tinha medo que Demolidor – Renascido seria só mais
uma dessas séries pau-mole que a Marvel tem feito recentemente, depois do final
desse episódio, acabaram todas as dúvidas.
(Sra. Marvel. Por favor, mantenha esse mesmíssimo nível de sanguinolência até o último episódio da série do nosso amado Demônio Audacioso e esqueça que você já produziu aquelas merdas insossas de antigamente. Do seu marvete safado preferido, Rod Rodman).
Quem prestou a atenção nessa sequência de pancadaria linda de se ver, um dos policiais corruptos aparece com uma tatuagem da caveira do Justiceiro no pulso, o que levanta duas hipóteses:
1) Frank Castle vai aparecer na série (o que não é hipótese nenhuma já que o Jon Bernthal aparece no trailer);
2) O símbolo do Justiceiro vai ser usado de maneira leviana por policiais,
como aconteceu na vida real nos Estragos Fudidos, quando um grupo de milicianos norte-americanos usando a caveira resolveu sair nas ruas com o intuito de “punir” a bandidagem usando requintes de crueldade como
o personagem dos quadrinhos. Por um tempo, a Marvel considerou aposentar o
icônico símbolo da caveira para que ela parasse de ser associada a esse tipo de
violência descabida na vida real, e até um novo Justiceiro surgiu nas HQs com um
símbolo bem diferente do habitual para descansar a imagem de Frank Castle.
Os sinais de que o MCU vai usar isso na série estão por toda
parte, vale saber se os produtores terão colhões para passarem uma mensagem mais direta sobre
o assunto, da mesma maneira que usaram um personagem porto-riquenho — provavelmente
imigrante — como alvo da lei sem direito a defesa e um chefão do crime
organizado se tornando prefeito, num paralelo a Donald Trump, que foi eleito
Presidente dos Estados Ruídos mesmo tendo sido condenado pela justiça
norte-americana meses antes.
PONTOS POSITIVOS – O climão de Demolidor da Netflix está
todinho lá, desde as tramas paralelas envolvendo tribunal e a carreira de
advogado de Murdock até a pancadaria sangue no zóio que nóis adora. Até as
citações discretas a outros personagens como “homem vestido de aranha” estão
bem verossímeis às três primeiras temporadas. Naquela época, embora se dissesse
que o Demolidor, a Jessica Jones, o Luke Cage e o Punho de Ferro faziam parte do mesmo
universo dos Vingadores e seus derivados, eles quase nunca podiam citar sequer o
nome desses personagens ao longo dos episódios. Era sempre “o cara verde”, “o maluco com o martelo”, e
etc.
Demolidor – Renascido faz parte do MCU, mas, aparentemente,
essas restrições de Naming Rights continuam sendo um problema!
PONTOS NEGATIVOS – O momento em que Wilson Fisk e Vanessa chegam no consultório da Heather para começarem uma terapia de casal. Ali faltou uns barracos, arranca-rabos que estamos acostumados a ver quando duas pessoas cujo relacionamento esfriou enfrentam, né? Eu queria assistir a uma coisa mais Manoel Carlos, mais novelesca com discussões em voz alta, descontrole emocional, isso tudo. Ainda mais se levarmos em consideração que, horas antes, o Rei descobriu que foi corno!
Seja lá quem for esse tal de “Adam”
o sujeito meteu pra dentro da senhora Fisk dicunforça! Ela pediu até pelamordedeus para que o marido não matasse o amante! Kkkkkkk!
P.S. - Enquanto eu editava o post, eu descobri que o ator Kamar de los Reyes que interpretou Hector Ayala na série faleceu vítima de um câncer em 2023, logo após as filmagens. A Marvel dedicou o episódio 2 em homenagem ao ator que tinha 56 anos.
NAMASTÊ!