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28 de abril de 2021

A cara do Oscar 2021



A 93ª edição do Oscar foi celebrada no Union Station  (Los Angeles) em vez do tradicional Dolby Theatre devido a pandemia de Covid-19. Num lugar mais arejado, menos opulento e incrivelmente mais sem "gramur", a cerimônia foi mesmo a cara desses tempos desgraçados que estamos vivendo e fazer qualquer coisa estava sendo mais interessante do que assistir a transmissão. 

Sem um apresentador fixo como tem sido de praxe, a festa de premiação dos melhores do cinema contou com um palco principal apenas para que os vencedores fossem receber a estatueta e discursassem pelo tempo que quisessem. Apesar disso, não houve performances individuais para a apresentação de cada uma das 5 músicas que disputavam o prêmio de Melhor Canção Original e o final da celebração foi totalmente anticlimático ao premiarem Melhor Filme antes de Melhor Atriz e Melhor Ator

A equipe de "Nomadland" o grande campeão da noite


Como já é de costume, Frances McDormand — que levou o prêmio de Melhor Atriz — fez um discurso que levou alguns segundos, — visivelmente de saco-cheio como em 2018 na hora de agradecer a estatueta que levou por sua atuação em Três Anúncios para um Crime —, sumiu do palco e depois foi a vez do igualmente entediado Joaquin Phoenix entregar o prêmio de Melhor Ator para o ausente Anthony Hopkins — que levou por Meu Pai —, também notoriamente infeliz em estar ali.

McDormand em discurso e Anthony Hopkins


Em resumo: O Oscar não tem e nunca mais vai ter o mesmo impacto que tinha anteriormente quando a soberania norte-americana no cinema era explícita em cada agradecimento e discurso inflamado. Hoje em dia, os caras dividem as atenções com chineses, sul-coreanos, dinamarqueses — para infelicidade deles, não nossa! — e Hollywood parece ter perdido o tesão na coisa. 

"Maldita" diversificação, não é mesmo?

Provando que a coisa está mesmo feia, o filme mais premiado da noite foi Nomadland, que muitos críticos qualificaram como "lento, arrastado e insosso", mas que garantiu o primeiro Oscar para uma diretora chinesa no espetáculo — a segunda mulher a ganhar na categoria, tendo sido a primeira Kathryn Bigelow por Guerra ao Terror em 2010 —, elevando o nome de Chloé Zhao ao estrelato. Zhao, que estará por trás das câmeras de Os Eternos da Marvel, fez um discurso simples que falava sobre a bondade inerente nas pessoas e mostrou muita simpatia e serenidade ao receber a estatueta. 

Chloé Zhao


Além de Melhor Direção e Melhor Atriz, Nomadland também abocanhou o de Melhor Filme, desbancando Judas e o Messias Negro, Mank e O Som do Silêncio

Fiquei muito feliz pelos prêmios de Melhor Curta-Animado que foi para o lacrimejante e lindo Se Algo Acontecer... Te amo e o Melhor Curta-Metragem em Live-action que reconheceu a força por trás de Dois Estranhos. Soul da Disney/Pixar também confirmou seu favoritismo na categoria Melhor Animação e Melhor Trilha Sonora e Mank saiu com dois prêmios técnicos embaixo do braço, o de Melhor Fotografia e o de Melhor Design de Produção

Se algo acontecer... Te amo e Dois Estranhos


As grandes decepções da noite ficaram por conta de Os 7 de Chicago, que não ganhou nenhuma categoria e Viola Davis, que merecia demais por sua atuação em A Voz Suprema do Blues, já que a Academia também não quis dar um prêmio póstumo a Chadwick Boseman pelo mesmo filme, como aconteceu no Golden Globes. Seja como for, Esquadrão Suicida vem aí... quem sabe ano que vem, Viola? 



Confira a lista completa dos vencedores abaixo:


Melhor filme

"Meu pai"

'"Judas e o messias negro"

"Mank"

"Minari"

"Nomadland"

"Bela vingança"

"O som do silêncio"

"Os 7 de Chicago"

 

Melhor atriz

Viola Davis - "A voz suprema do blues"

Andra Day - "Estados Unidos Vs Billie Holiday"

Vanessa Kirby - "Pieces of a woman"

Frances McDormand - "Nomadland"

Carey Mulligan - "Bela vingança"

 

Melhor ator

Riz Ahmed - "O som do silêncio"

Chadwick Boseman - "A voz suprema do blues"

Anthony Hopkins - "Meu pai"

Gary Oldman - "Mank"

Steve Yeun - "Minari"

 


Melhor direção

Thomas Vinterberg - "Druk - Mais uma rodada"

David Fincher - "Mank"

Lee Isaac Chung - "Minari"

Chloé Zhao - "Nomadland"

Emerald Fennell - "Bela vingança"

 

Melhor atriz coadjuvante

Maria Bakalova - "Borat: fita de cinema seguinte"

Glenn Close - "Era uma vez um sonho"

Olivia Colman - "Meu pai"

Amanda Seyfried - "Mank"

Youn Yuh-jung - "Minari"

 

Melhor ator coadjuvante

Sacha Baron Cohen - "Os 7 de Chicago"

Daniel Kaluuya - "Judas e o messias negro"

Leslie Odom Jr. - "Uma noite em Miami"

Paul Raci - "O som do silêncio"

Lakeith Stanfield - "Judas e o messias negro"

 

Melhor filme internacional

"Druk - Mais uma rodada" (Dinamarca)

"Shaonian de ni" (Hong Kong)

"Collective" (Romênia)

"O homem que vendeu sua pele" (Tunísia)

"Quo vadis, Aida?" (Bósnia e Herzegovina)

 

Melhor roteiro adaptado

"Borat: fita de cinema seguinte"

"Meu pai"

"Nomadland"

"Uma noite em Miami"

"O tigre branco"

 

Melhor roteiro original

"Judas e o Messias negro"

"Minari"

"Bela vingança"

"O som do silêncio"

"Os 7 de Chicago"

 

Melhor figurino

"Emma"

"A voz suprema do blues"

"Mank"

"Mulan"

"Pinóquio"

 

Melhor trilha sonora

"Destacamento blood"

"Mank"

"Minari"

"Relatos do mundo"

"Soul"

 

Melhor animação

"Dois irmãos: Uma jornada fantástica"

"A caminho da lua"

"Shaun, o Carneiro: O Filme - A fazenda contra-ataca"

"Soul"

"Wolfwalkers"

 

Melhor curta de animação

"Burrow"

"Genius Loci"

"If anything happens I love you"

"Opera"

"Yes people"

 

Melhor curta-metragem em live action

"Feeling through"

"The letter room'"

"The present"

"Two distant strangers"

"White Eye"

 

Melhor documentário

"Collective"

"Crip camp"

"The mole agent"

"My octopus teacher"

"Time"

 

Melhor documentário de curta-metragem

"Collete"

"A concerto is a conversation"

"Do not split"

"Hunger ward"

"A love song for Natasha"

 

Melhor som

"Greyhound: Na mira do inimigo"

"Mank"

"Relatos do mundo"

"Soul"

"O som do silêncio"

 

Canção original

"Fight for you" - "Judas e o messias negro"

"Hear my voice" - "Os 7 de Chicago"

"Husa'vik" - "Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars"

"Io sì" - "Rosa e Momo"

"Speak now" - "Uma noite em Miami"

 

Maquiagem e cabelo

"Emma"

"Era uma vez um sonho"

"A voz suprema do blues"

"Mank"

"Pinóquio"

 

Efeitos visuais

"Problemas monstruosos"

"O céu da meia-noite"

"Mulan"

"O grande Ivan"

"Tenet"


Melhor fotografia

"Judas e o messias negro"

"Mank"

"Relatos do mundo"

"Nomadland"

"Os 7 de Chicago"

 

Melhor edição

"Meu pai"

"Nomadland"

"Bela vingança"

"O som do silêncio"

"Os 7 de Chicago"

 

Melhor design de produção

"Meu pai"

"A voz suprema do blues"

"Mank"

"Relatos do mundo"

"Tenet"


O Blog do Rodman falou recentemente sobre as impressões de alguns dos indicados ao Oscar 2021. Só clicar nos banners abaixo para conferir. 






NAMASTE!

25 de abril de 2021

Oscar 2021 - A Voz Suprema do Blues, Mank e Pieces of Woman



O jabá gratuito agora é da Netflix e o Combo Breaker do Oscar dessa vez vai prestigiar três produções que constam no catálogo da locadora vermelha e que estão disponíveis para serem vistos AGORA.

Sigam-me os bons... e NETFLIX, EU TE AMO! ME BANCA!


A VOZ SUPREMA DO BLUES



Lançado direto na Netflix e dirigido por George C. Wolfe, A Voz Suprema do Blues (“Ma Raineys’s Black Bottom”) se passa nos anos 20 e narra um dia de gravação em estúdio de Ma Rainey, a cantora que é conhecida como a “Mãe do Blues” por ter popularizado o estilo musical na América. Enquanto a personagem vivida magistralmente por Viola Davis (ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2017 por “Um Limite Entre Nós”) precisa se impor para que seu trabalho não seja controlado pelos empresários brancos a seu redor, nós somos impactados pelo imenso talento da atriz que interpreta a blueseira de maneira visceral, firme e colérica.



Em paralelo à história da Mãe do Blues, nós vemos os desentendimentos da artista com seu trompetista Levee (Chadwick Boseman), um rapaz cheio de mágoas do passado que de maneira ambiciosa sonha com sua própria carreira musical, à frente de uma banda e independente de Ma Rainey.

A Voz Suprema do Blues é o clássico “filme de Oscar” cheio de diálogos intensos, interações fantásticas entre bons atores e interpretações que a gente já imagina no telão no dia do anúncio de “melhor ator/atriz”. Tanto Viola quanto Chadwick estão fulgurantes em cena e é impressionante imaginar que aqueles personagens — que são baseados em pessoas reais — não são exatamente do jeito que ambos interpretaram.



Como não podia deixar de ser — afinal é um filme com “blues” no nome — as sequências musicais são excelentes e mostram que tanto Viola quanto Chadwick se prepararam para seus papeis. Embora tenha sido dublada posteriormente pela cantora de soul music Maxayn Lewis no filme, a intérprete de Ma Rainey soltou a voz mesmo durante as gravações, tanto que é ela cantando durante a canção “Those Dogs of Mine”. Já Boseman, em pró de passar maior veracidade a seu personagem, estudou trompete antes das gravações para poder dedilhar corretamente o instrumento e passar a imagem de virtuosismo. No documentário “Chadwick Boseman Para Sempre” — também disponível na Netflix — alguns músicos instrumentistas elogiam a performance do ator no filme e comentam que ele se dedicou realmente a seu papel de Levee.



Já visivelmente abatido e ofegante em algumas cenas mais pesadas, o ator de 43 anos quis fazer de seu último papel um dos melhores de sua curta carreira e a intensidade de seu personagem tirou de Boseman uma atuação, sem meias palavras, digna de aplausos. Com o tempo a gente se acostuma a ver filmes medíocres pipocas que não exigem muito de seus atores, assim como personagens vazios que não têm nada para dizer, mas quando nos deparamos com algo como A Voz Suprema do Blues, é preciso elogiar e elogiar muito. 



Tendo como coadjuvantes nomes como Glynn Turman (o Toledo), Colman Domingo (Cutler) e Michael Potts (Slow Drag), todas as interações de Levee com seus colegas de banda são maravilhosas, bem como os diálogos e provocações entre eles até o desfecho chocante da história. O monólogo em que Levee explica sua aparente subserviência ao produtor branco Sturdyvant para os colegas, relacionando aquilo à maneira como seu pai reagiu no passado após o estupro da sua mãe por um grupo de homens brancos — e como ele os caçou um a um —  é com certeza o ponto alto do filme, e a entrega do ator fica evidente tanto em seu olhar quanto em sua voz. Se Boseman ainda tinha algo a provar para alguém sobre seu talento cênico, agora não tem mais.

A Voz Suprema do Blues disputou as categorias do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático e Melhor Ator em Filme Dramático, dando o prêmio póstumo a Chadwick, que faleceu em decorrência a um câncer em agosto de 2020. Viola Davis e Boseman também disputam o Oscar na mesma categoria e o filme ainda concorre às estatuetas de Melhor Design de Figurino, Melhor Design de Produção e Melhor Maquiagem e Penteado.


MANK



Cidadão Kane (1941) de Orson Welles, é considerado até hoje o melhor filme da história e é um consenso entre 10/10 estudantes de cinema sobre sua qualidade narrativa, sua montagem e edição pouco ortodoxa para a época. Se nós ficamos impressionados com a maneira não-linear com que Quentin Tarantino costumava contar suas histórias nos anos 90, Welles em seu primeiro filme nos anos 40 já fazia isso e de maneira muito talentosa.



O que pouca gente sabia é que muito das peripécias cinematográficas experimentadas por Welles na época provinham especialmente de um roteiro muito bem escrito que NÃO pertencia ao genioso e arrogante diretor — cria do rádio, onde fez muito sucesso com sua famosa transmissão de A Guerra dos Mundos — e sim de Herman J. Mankiewicz, um roteirista quase em fim de carreira que fez de Cidadão Kane sua obra-prima.

O filme Mank dirigido pelo badaladíssimo David Fincher (de Clube da Luta e Se7en) narra a história de Mankiewicz dos áureos anos 30 até a conclusão de seu trabalho, encomendado pessoalmente por Orson Welles. Enquanto luta contra o alcoolismo, um casamento à beira do colapso e problemas de saúde decorrentes de um acidente automobilístico, Herman se vê pressionado a escrever o roteiro que vai tirá-lo do ostracismo e devolvê-lo ao estrelato hollywoodiano onde ele já esteve diversas vezes.



Verdade seja dita, o ritmo de Mank é horrível. Com bem mais de duas horas de projeção, a história se arrasta até sua conclusão e causa bastante sono em seu longuíssimo caminho. Além de passar por nossos olhos com passos de tartaruga, o filme tem uma montagem estranha e enquadramentos de câmeras que dão pouco destaque aos atores, sempre mostrando tudo muito de longe e não se preocupando em identificar os personagens. A passagem de tempo e o vai e volta na linha narrativa mostrando em flashbacks o que levou Mank ao quase esquecimento é muito bem marcada com legendas óbvias na tela, mas isso não faz com que o ritmo melhore. 



A história tem um fundo político muito intenso, envolve nomes reais dentro da ficção, fala da eterna briga entre democratas e republicanos, comunismo, nazismo, mas passa muito superficialmente pelas características de tudo isso, deixando vago quem é quem e qual sua real importância dentro da trama. Muita coisa passou simplesmente batida por mim ao longo do filme sem que eu conseguisse sequer entender nos diálogos e isso fez com que minha experiência com Mank não fosse boa.

Então a culpa de não ter gostado é sua que é burro, Rodman!

Não discordo!

O fato de que para nós brasileiros a história americana nos pareça nublada e desconhecida ajuda bastante também a querermos ignorar todo o background político da obra de David Fincher para focarmos mais na trajetória de Mankiewicz em busca de seu roteiro perfeito — e dos créditos no material final —, mas como uma coisa está intimamente ligada a outra — o personagem Mank é extremamente politizado — a história acaba nos parecendo bem menos atrativa no final das contas.

Gary Oldman em cena com Amanda Seyfried


Em tempos, Gary Oldman está muito bem no papel do protagonista — e dizer isso é quase chover no molhado! —, mas esse claramente não é seu melhor personagem da vida. Atuações viscerais, histriônicas, escandalosas e até caricaturais é o que esperamos quando vemos seu nome no cartaz de um filme, mas seu Mank não exige nada disso, o que no frigir dos ovos, lhe rende apenas uma interpretação OK, nada muito digno de Oscar — talvez, quem sabe, pelo conjunto da obra. 

O elenco de Mank ainda conta com Tom Burke interpretando Orson Welles, Lily Collins como Rita Alexander — a grande parceira de processo criativo de Mank —, Tuppence Middleton como a “Pobre Sara”, esposa de Mank e Amanda Seyfried como Marion Davies, a atriz e consorte do poderoso empresário William Randolph Hearst (Charles Dance, o Tywin Lannister de Game of Thrones) que é a verdadeira inspiração de Mankiewics para compor seu “Cidadão Kane”.



Mank disputa 10 categorias do Oscar 2021, entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Amanda Seyfried) e claro, Melhor Ator, com Gary Oldman enfrentando outros nomes de peso como Anthony Hopkins (por “Meu Pai”), Riz Ahmed (“O Som do Silêncio”), Steve Yeun (de The Walking Dead direto para o Oscar por seu papel em “Minari”) e Chadwick Boseman, do já comentado A Voz Suprema do Blues.

E agora você, querido leitor, já pode rir à vontade da minha cara que ousou criticar David Fincher em um post!


PIECES OF WOMAN



A estreia do diretor húngaro Kornél Mundruczó em longas-metragens de sucesso não poderia ter sido mais acertada. Pieces of Woman é um drama daqueles que te deixa arrasado de ponta a ponta e que te mantém pensando na história ainda durante um tempo após a projeção, com a cabeça enfiada no travesseiro e encarando o teto.



Antes de ver o filme, eu já tinha lido e ouvido comentários sobre a tal “cena do parto” que havia tirado de Vanessa Kirby uma interpretação magnífica, por isso, quis conferir o trabalho com meus próprios olhos, o que nem de longe me preparou para o que vi. A tal cena, não é simplesmente “uma cena” e sim uma sequência INTEIRA de um parto em casa totalmente filmado em plano-sequência. Eu já tinha visto inúmeras tomadas de ação que utilizavam esse recurso narrativo que nos faz acompanhar de maneira íntima o que está acontecendo em tela — David Leitch faz isso muito bem em Atômica e Sam Hargrave segue a mesma linha em O Resgate —, mas confesso que fiquei impressionado com a maestria com que isso acontece durante um trabalho de parto.

Molly Parker e Vanessa Kirby


A todo momento eu fiquei tentando enxergar os cortes para a montagem do “plano-sequência falso” na edição ou mesmo as pausas e tiradas de câmera para que os atores pudessem trabalhar — em cena, Kirby divide espaço com Shia LaBeouf, que interpreta seu marido Sean e a parteira Eva, interpretada por Molly Parker —, mas confesso que fui derrotado. Toda a sequência leva bem mais de 10 minutos e quase não há espaço para improvisos ou distrações. A cena é bem cotidiana e se passa inteira dentro de uma casa comum. Sean arrasta os chinelos pelo corredor, ele escorrega no chão liso, se enrola todo para sair de baixo da esposa enquanto a sustenta para que Eva confira a dilatação, a câmera segue o trio pelo corredor escuro, entra com Molly dentro do quarto para que ela prepare a cama onde vai acontecer o parto e depois vai até Martha, a personagem de Vanessa, para vê-la dentro da banheira. E tudo isso sem pausas, sem que vejamos a equipe técnica por trás da gravação, sem sombra de câmera nas paredes, de gruas ou qualquer outra coisa que nos tire da imersão da história.

Mas, Rodman… você acabou de descrever 100% do que COSTUMEIRAMENTE é o cinema! Qual sua surpresa?

Essa é a magia do cinema, caro padawan! Não importa quantos filmes assistamos na vida, o cinema SEMPRE é capaz de nos surpreender, mesmo usando recursos que já vimos antes empregados de maneira ainda mais criativa!

Claro que devemos pontuar as participações de Parker e LaBeouf nessa sequência de tensão incrível, mas não tem como não elogiar e MUITO o talento de Vanessa Kirby que entrega tudo perfeitamente — trejeitos, movimentação pesada e lenta de uma gestante —, quase nos fazendo acreditar que ela está prestes a parir de verdade! Enquanto reclama que está enjoada e esbraveja por conta da dor que está sentindo, Martha ainda solta alguns arrotos pontuais, passando uma noção muito íntima de que está vivendo maus bocados internos ali, sem falar nas expressões de dor e no jeito de quem não sabe muito bem onde pôr a mão ou que fazer em seguida. Eu fiquei impressionado com toda essa sequência e tive vontade de aplaudir de pé enquanto minha mente não parava de ecoar a pergunta "como eles enfiaram um bebê de verdade nessa cena sem cortes, sem a gente perceber?"

A bebê de Martha e Sean [SPOILER] não sobrevive como vocês já devem imaginar e toda a história do restante do filme se passa durante os diferentes tipos de luto que tanto os pais da criança sofrem quanto todos a seu redor, incluindo a mãe da protagonista Elizabeth (Ellen Burstyn), sua irmã Anita (Iliza Schlesinger) e até o cunhado Chris (Ben Safdie). Enquanto o processo contra a parteira Eva transcorre de maneira bem escandalosa na mídia, com ela acusada de negligência na hora do parto em casa, nós acompanhamos o cotidiano do casal, que age de maneira distinta pela perda da filha. Enquanto Sean se descontrola totalmente, querendo com o apoio da sogra — que o odeia — que a justiça seja feita contra a parteira, a própria Martha assume uma postura mais defensiva, meio que tentando esconder o próprio luto diante das pessoas, embora diversos sinais em suas expressões indiquem ao espectador que há sim um sofrimento interno muito grande, como não poderia deixar de haver.



Toda a simbologia em volta da maçã e do depoimento sob pressão de Martha no julgamento de Eva fazem de Pieces of Woman um filme extremamente tocante e que nos faz enxergar como às vezes nossos sentimentos diante da perda podem ser completamente fora da curva, e como eles, em sua essência, são uma maneira que nosso subconsciente tem de lidar com o luto de maneira muito particular. Seguramente, o longa-metragem não é o melhor dessa safra 2020, mas com certeza é um dos mais bonitos e bem-feitos da última década.



Em tempos, a lindíssima e talentosa Vanessa Kirby disputa o Oscar de Melhor Atriz esse ano com a favorita da noite Frances McDormand (que já foi premiada em 1997 por Fargo, em 2018 por Três Anúncios de um Crime e que em 2021 concorre por seu trabalho em Nomadland) e Viola Davis de A Voz Suprema do Blues. A briga vai ser boa, mas estaremos na torcida.


P.S. – No já mencionado documentário Chadwick Boseman Para Sempre artistas como Danai Gurira (a Okoye de Pantera Negra e Vingadores: Ultimato), Spike Lee (que dirigiu Boseman em Destacamento Blood), Denzel Washington (produtor de A Voz Suprema do Blues), Glynn Turman e a própria Viola Davis falam sobre a dedicação do ator em seus trabalhos anteriores, além de prestarem uma linda homenagem a Boseman que já se enquadra na categoria de um dos melhores artistas de sua geração. Impossível não se emocionar com a história de vida do eterno Pantera Negra. Wakanda Forever!

P.S. 2 - Eu fiquei apaixonado por Vanessa Kirby desde quando a vi em Missão Impossível: Efeito Fallout e até hoje fico impactado com o sorriso dessa mulher. Uma pena que ela não tenha mostrado tanto essa bela característica em Pieces of Woman, embora tenha usado algo melhor: seu talento cênico incrível!



P.S. 3 - Amanda Seyfried disputa o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Mank esse ano e não sei se vai ganhar, mas em 2010 ela venceu dois prêmios muito importantes do Blog do Rodman, o de Beijo mais excitante da História do Cinema e Melhor Beijo que todo Nerd punheteiro sempre quis dar na Megan Fox! Puta que pariu! Que Garota Infernal!



P.S. 4 - Depois de Ninfomaníaca (2014), parece que o Shia LaBeouf se especializou em mostrar a piroca nas produções em que aparece e repetiu a dose em Pieces of Woman. Quem quiser dar uma conferida no material do rapaz, está lá pela metade do filme, embora esse seja um DETALHE PEQUENO em meio à grandiosidade do filme! 


 

NAMASTE!    

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