Mostrando postagens com marcador Review de Quadrinhos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Review de Quadrinhos. Mostrar todas as postagens

16 de dezembro de 2021

What if… O Que aconteceria se o Wolverine tivesse matado o Hulk?

What if Wolverine vs Hulk


Oi, eu sou o Rod Rodman!

Eu poderia estar fazendo vídeos de dancinha no TikTok, começando algum podcast de mesa no Youtube ou traficando metanfetamina, mas em vez disso, estou escrevendo em um Blog… em pleno ano 2021!

SIM!

Quem ainda escreve em blog? E quem ainda lê isso?

Se você está aqui, parabéns. Você é tão lamentável quanto eu!




Independentemente dessa melancolia toda, hoje estou aqui para tirar do fundo do baú uma história que me foi muito peculiar em minha longínqua infância, quando a vida era bela e eu ainda tinha todo um futuro pela frente. O Incrível Hulk, publicado no Brasil pela Editora Abril em 1985 estava em seu número 22 e custava 2100 Cruzeiros…


What if Wolverine vs Hulk


(Pois é… Essa é do fundo do baú, MESMO! Tem gente hoje em dia que não sabe nem que o Cruzeiro já foi uma moeda no Brasil, que não sabe o significado de HQ e que só conhece “Hulk” porque ele apareceu nos filmes dos Vingadores!)

Anyway

Esse gibi publicava histórias regulares do “Golias Esmeralda” da década anterior e início dos anos 80 — lembrando que havia uma defasagem de alguns anos entre o que saía nos EUA e o que era publicado no Brasil —, e lembro que essa capa me chamou bastante a atenção por conta do seu tema central: Morte!

Sim, já contei aqui algumas vezes o quanto o tema “morte” me atraía e me deixava bastante chocado nas histórias em quadrinhos durante a infância e pré-adolescência e como a personalidade do jovem Rod Rodman foi praticamente moldada pelo trauma sofrido durante a morte da Gwen Stacy e do Superman.




Era o começo dos anos 90, não sei precisar a data específica, mas eu tinha sido levado por meu irmão mais velho para a casa de alguns amigos de escola dele para jogar videogame — era uma dupla de irmãos também e eles eram donos de um Atari, se não me falha a memória — ou jogar bola no quintal. Não sei os detalhes porque eu era realmente muito pequeno… Todavia, lembro que já sofria bullying por ser inepto tanto em manipular aquele controle "bananão" do Atari quanto em jogar bola, mas esses outros traumas não vêm ao caso agora...


Não se excitem, isso não é um consolo, é um controle de Atari


Esse meu irmão foi o grande responsável por eu gostar de HQ — e de eu ter gastado o valor de alguns carros populares com essa merda desde então — e foi ele quem trouxe para casa as primeiras revistas do tipo.

Esses amigos de meu irmão também gostavam de gibizinhos e um deles possuía uma caixa de papelão grande cheia de ácaro revistas, o que, obviamente, chamava a atenção de uma criança. Dentro dessa caixa, me lembro de ter visto muita HQ que era lançada na época — e provavelmente anteriores também — tanto da Disney, da Marvel e da DC e até hoje, quando me deparo com alguma das capas que vi na época, agora em sites de download, me bate um sentimento de nostalgia.

E já que citei a morte da Gwen Stacy, a primeira vez que peguei nas mãos a edição especial da Abril que reunia todos os confrontos do Homem-Aranha com o Duende Verde e consequentemente o fim trágico da namorada de Peter Parker, foi na casa desse cara mencionado.




O incrível Hulk #22 foi uma das HQs que encontrei nessa coleção e só para galera se situar no tempo/espaço, no começo dos anos 90, para o público “civil” o Hulk era um personagem extremamente popular, já que muita gente assistia as reprises do seriado do personagem vivido tanto pelo Lou Ferrigno quanto por Bill Bixby na TV. Se você não sabe do que estou falando, dá um Google aí, mas não espere muita coisa…

Eu já conhecia "de orelhada" alguns personagens da DC como o Superman, o Batman e  o Robin por conta dos desenhos dos Superamigos e na Marvel, provavelmente, era familiarizado apenas com o Homem-Aranha porque uma das primeiras revistas que tivemos em casa era o seu título mensal, também da Abril. “Wolverine”, no entanto, era um personagem totalmente obscuro para mim.

Eu comecei a ler HQs na primeira metade dos anos 90 e nunca tinha colocado a mão em nada referente a X-Men ou outros mutantes, por isso, aquele cara com garras metálicas saltadas dos antebraços e vestindo um traje amarelo era um completo estranho… Mas ele tinha matado o Hulk — a capa da edição deixava isso explícito — e o pequeno Rodman sentiu interesse em ver como isso acontecia.

Enquanto meu irmão jogava Atari ou batia uma bola no quintal com seus amigos, obviamente, eu, que já era introspectivo, preferia ficar “devorando” os gibizinhos no quarto um por um.

História legal, Rodman… Você sempre foi freak… Mas e daí?

Daí, jovem padawan, que naquela época, eu não fazia ideia o que significava “What if…” ou mesmo a sua tradução em português, portanto, eu não entendia que o Wolverine não tinha matado, de fato, o Hulk. Eu fiquei chocado que alguém fosse capaz de acabar com o Golias Esmeralda — que nos gibis do meu irmão, surrava os Vingadores sem nem suar! — e essa é a importância dessa história para a minha cronologia pessoal.

Para escrever esse post, eu decidi reler tanto a história em que ela é baseada quanto o próprio What if… e várias recordações voltaram em minha mente. 

Além do momento em que o Logan dá cabo do abacate vitaminado da Marvel, esse mix da Abril — o famoso "formatinho" 20x13 cm — também conta com uma história da guerreira Sonja escrita por Roy Thomas e Clair Noto, com desenhos de Frank Thorne e uma história do Quarteto Fantástico — dividida em duas partes — escrita por Gerry Conway e desenhada por Rich Buckler.


What if Wolverine vs Hulk


Confesso que a minha mente obliterou qualquer lembrança da história da Sonja — nunca gostei de Conan e nem de seus derivados, por isso devo ter cagado para esse fato — e da história do Quarteto Fantástico eu me recordava apenas dessa imagem específica:


What if Wolverine vs Hulk


Eu conhecia o Namor de sunguinha verde por causa daquele seu confronto contra o Hulk — junto dos "Pesos Pesados" da Marvel — escrito por John Byrne e quando o vi com esse traje azulado, devo admitir que achei mais maneiro. Mesmo ainda criança, sempre imaginei que devia ser incômodo lutar vestindo apenas uma cuequinha de escamas!


What if Wolverine vs Hulk


Por muitos anos, achei que aquele Namor vestido adequadamente fosse alguma coisa da minha imaginação, e só quando ele voltou a usar esse uniforme — que é descrito na história citada como um “traje formal da realeza” atlante — muitos anos depois, é que eu percebi que não era um devaneio meu e que a roupa com asas embaixo das axilas era de verdade.

Obviamente, eu não me lembrava de nada sobre o conteúdo de nenhuma dessas outras duas histórias.

O que aconteceria se... O Wolverine tivesse matado o Hulk? é uma história escrita por Rich Margopoulos com arte de Bob Budiansky e Mike Esposito em 1981 — apenas 4 anos antes da sua publicação no Brasil — e como todo mundo sabe agora com por causa da exposição do seriado animado do MCU, "What if..." é um selo que visita acontecimentos passados em realidades paralelas, com narração do Vigia Uatu.

Quem são essas pessoas que você citou, Rodman?

Boa pergunta! Eu não conhecia nenhum desses escritores e desenhistas na época e continuo não fazendo a mais puta ideia de quem sejam hoje!

A história original em que o Wolverine faz a sua estreia no universo quadrinístico da Marvel, caindo no soco com o Hulk e o Wendigo AO MESMO TEMPO, se deu em 1974, com roteiros de Herb Trimpe e Len Wein — que criou o carcaju — e arte de Jack Abel.

No universo 616 tradicional — história que li a primeira vez em uma republicação feita pela própria Editora Abril na edição comemorativa de nº 100 do personagem, em 2000 — o Wolverine — que tinha um visual todo esquisito com uma máscara aberta nos olhos e “bigodinhos” — é contratado pelo governo canadense para capturar o Hulk — que está invadindo a área de uma instalação secreta — e o Wendigo, um monstro canibal que aterroriza as paragens do Canadá há algum tempo.


What if Wolverine vs Hulk


Como não podia deixar de ser, os dois monstros estão caindo de pau em meio ao cenário desolado, quando o Wolverine chega para dar um basta na contenda e acaba colocando ainda mais lenha na fogueira com seu jeitão estúpido e bronco.

Todo mundo sabe que foi o Chris Claremont, alguns anos depois da criação do personagem, que deu todas as características mais básicas que hoje identificamos no Logan em qualquer mídia que aparece e naquele início, ele era só um baixinho muito folgado que achava que podia peitar o personagem mais forte da Marvel…

Essa história envolve muito mais a mística ao redor do monstro albino da floresta do que a briga entre o Hulk e o Wolverine necessariamente e o “tão esperado” momento em que os dois caem no soco pela primeira vez é bem mais ou menos. Os desenhos de Jack Abel são apenas “OK” e o roteiro é um pouco cansativo, embora conclua bem com uma reviravolta interessante envolvendo a identidade do humano amaldiçoado que habita o corpo do Wendigo — ou seria o Wendigo que habita o seu corpo? 🤔 Enfim...

Alguns anos depois da história original que apresentou o Wolverine ao mundo, os roteiristas imaginaram o que teria acontecido se, naquele primeiro embate, o cara com ossos de adamantium já tivesse matado o Hulk, fato que ocorre logo na primeira página da HQ. 

O enredo desse "What if..." praticamente ignora a existência do Wendigo ou mesmo a razão dos dois monstros estarem lutando pouco antes da chegada de Logan ao local e em uma atitude impulsiva, o carcaju simplesmente decide cravar suas garras no pescoço do verdão, que cai mortalmente ferido.

Se eu tivesse assistido aquele “telefilme” do Hulk em que ele morre após cair de um helicóptero 🙄 eu poderia já estar preparado para um desfecho tão simplista como esse, mas naquela época, eu pensava que o Hulk era invulnerável, assim como o Superman, por exemplo…

O diálogo da cena me abalou na época:


What if Wolverine vs Hulk


“Vou rasgar sua goela!”. Imagina uma criança de 7 anos lendo isso num gibi!

Tudo depois dessa cena em diante é uma grande nuvem de lembranças esparsas em minha cabeça e só alguns anos depois — leia-se 2021 — é que fui saber o que acontece em seguida na história.

Em resumo, depois que mata o Hulk, o Wolverine é expulso da equipe tática do governo canadense e por sua atitude enérgica em resolver a questão com o monstro verde, ele acaba sendo cooptado por ninguém menos que o Magneto para integrar a sua famosa Irmandade de Mutantes.

Na época, os X-Men ainda eram formados apenas pelos cinco membros originais — Ciclope, Garota Marvel, Homem de Gelo, Anjo e Fera — e a Irmandade tinha em suas fileiras o Blob, a Lorelei, o Mestre Mental e um tal de Unus, que eu nunca tinha ouvido falar — e cujo poder é basicamente “ser intocável”.

Corta a cena e o Wolverine aparece de cara lavada sem seu traje amarelo na mansão do Professor Xavier, se oferecendo para fazer parte dos X-Men. Como estava usando um dispositivo que não permitia que o careca lesse seus pensamentos, o carcaju se infiltra no grupo mutante com facilidade e começa a ganhar a confiança de todos... menos do Ciclope.


What if Wolverine vs Hulk


O plano, óbvio, é permitir que Magneto e sua trupe consiga invadir a mansão em um momento vulnerável dos alunos de Xavier e é o Wolverine quem vai garantir isso.

Apaixonado por Jean Grey — até porque sabemos que o único ponto fraco do Logan é mulher ruiva —, o cara decide, na última hora, trair Magneto e acaba sendo morto quando o mestre do magnetismo usa seus dons para forçar o Wolverine a cravar as garras de metal em sua própria garganta… Coisa, aliás, que já devia ter acontecido desde a primeira vez que os dois se enfrentam no universo 616… Um controla o metal, o outro tem os ossos revestidos por metal… Adivinha!

O magnetismo deve deixar o Magneto meio burro…

O que aconteceria se O Wolverine tivesse matado o Hulk? é uma história maravilhosa?

Não.

Vai mudar a sua vida?

Nem um pouco.

Mas diverte durante os 10 minutos que você demora para ler. Aqui funciona apenas o fator nostalgia da coisa e também para deixar claro que um “What if…” bem contado, sempre termina com muitas mortes… Esse parecia ser o padrão da série desde a sua gênese.

Quem quiser dar uma conferida nesse clássico da Marvel — contém ironia —, fica aí embaixo no link para download.

Clica aqui

NAMASTE!

9 de março de 2021

Visão por Tom King

Tom King consegue mostrar com os 12 volumes de "Visão" a profundidade e a complexidade de um personagem que sempre esteve ali, perdido nas fileiras imensas dos Vingadores, mas que nunca recebeu uma história épica, grandiosa, só dele.

Pronto. Agora ele já tem.

Texto reflexivo, diálogos poderosos e uma arte leve que complementa o que as palavras às vezes não dizem.

Nota 10!

Visão está à venda nas principais livrarias virtuais dividido em dois volumes. O primeiro, Visão: Pouco Pior que um Homem e o segundo Visão: Eu também serei salvo pelo amor.

Eu fui até o balcão do Boteco do Infinito Podcast bater um papo com o Antonio Pereira sobre essa HQ e também sobre o “Dia das Bruxas” de Bill Mantlo, ainda no hype de WandaVision. Clica aí no banner e vai ouvir, jovem padawan!


NAMASTE!

21 de julho de 2020

Elektra Assassina de Frank Miller


Que Frank Miller foi um dos mais competentes e cultuados escritores e ilustradores de quadrinhos do Século XX isso ninguém duvida, porém, é inegável o quanto a qualidade de seu trabalho na nona arte decaiu vertiginosamente na entrada do novo século, o fazendo acometer escrever coisas como Holy Terror, All-Star Batman & Robin ou o desnecessário Batman Cavaleiro das Trevas III.

No mesmo ano em que ele trouxe ao mundo uma de suas principais obras para a DC Comics, a premiada Graphic Novel The Dark Knight Returns, Frank Miller também concebeu o roteiro de Elektra Assassina para a Marvel, um arco de histórias que ressuscitou — não definitivamente — a sensual ninja assassina das páginas da HQ do Demolidor, após sua morte pelas mãos do Mercenário em 1982.


Diferente de O Cavaleiro das Trevas que foi roteirizado e ilustrado por Miller — com cores de Lynn Varley —, Elektra Assassina foi construída à quatro mãos com o artista Bill Sienkiewicz, o que deu toda uma particularidade ao projeto. À primeira vista, os desenhos que são um misto de aquarelas, foto-montagens e colagens, causam certo incômodo, mas à medida que se mergulha na história, é difícil imaginar que a HQ funcionaria com outro desenhista mais "padrão Marvel". 

A arte fantástica de Bill Sienkiewicz

A arte interna de Elektra Assassina é de encher os olhos e a cada nova olhada nas páginas, um novo detalhe deixado lá de propósito por 
Sienkiewicz é descoberto. A narrativa cinematográfica imposta pelo texto de Miller — no auge da carreira nessa época, ali no final dos anos 80 — faz com que o leitor não consiga desgrudar o olho da história, nem para dar uma corrida até a geladeira e buscar algo para comer. É como ver um filme que te prende na ponta da cadeira a todo instante. 


Por ser uma criação sua, Miller destrói e reconstrói a Elektra ao longo de todo o enredo e nos faz descobrir até mesmo dons que nem imaginávamos que ela dominasse, fruto de seu período trabalhando com a organização maligna Tentáculo. Apesar de ser interessante ver os dois agindo juntos — e às vezes até um contra o outro —, aqui fica bem claro que a ninja assassina não depende do Demolidor para protagonizar uma ótima história, ganhando ares de estrela com brilho próprio. As participações de outros personagens conhecidos como o Nick Fury — diretor da S.H.I.E.L.D — são pontuais e não desviam as atenções de Elektra e sua missão de eliminar a Besta que pretende exterminar a vida na Terra. 


Vale lembrar, que Elektra Assassina é um conto que mostra uma missão do passado da ninja grega e que foi escrita muito antes de Frank Miller FINALMENTE trazê-la de volta dos mortos, na complicada — porém perfeitinha —Graphic Novel escrita e ilustrada por ele — também com cores de Lynn Varley — Elektra Vive (de 1990). Depois de sua ressurreição, à partir dos anos 90, a personagem virou figurinha carimbada em zilhões de sagas envolvendo a SHIELD, o Wolverine, o Tentáculo, os Skrulls e claro, o próprio Demolidor, seu principal amante e parceiro de atividades porradeiras.

Eu fui mais uma vez até o podcast Boteco do Infinito, do site Caras da TI para bater um papo com meu chapa Antonio Pereira sobre Elektra Assassina e falamos também sobre a revitalização do Conan, agora pela Marvel Comics. Lá eu declarei todo meu amor à Elektra e claro, aproveitei para falar mal do Frank Miller véio reaça. 

Clica aí no banner para visitar o site dos Caras da TI e ouvir o podcast com a minha participação. É de graça e é gostosinho.



NAMASTE!   

28 de junho de 2020

Review - Harleen e Destino Adiado


Para quem acompanha o Blog, não é nenhuma novidade que a minha mídia preferida é a textual. Desde criança sempre me expressei MUITO melhor escrevendo do que falando, cantando ou interpretando — Sim, pra quem não sabe, eu fui ator dramático por três anos e encenei duas peças na Broadway* —, mas de vez em quando eu acabo me arriscando por outros caminhos e saio das trevas para levar meu — parco — conhecimento aos ouvintes de podcast



A convite do meu amigo de longa data Antonio Pereira dos Caras da TI, eu escapei da quarentena e arrastei minha pança lá para o balcão do Boteco do Infinito, desta vez para recomendar a HQ Harleen do ilustrador e roteirista croata Stjepan Šejić. A obra faz parte do selo Black Label da DC, e mostra uma história de origem da Arlequina ANTES dela conhecer a loucura desencadeada pelo Coringa



O primeiro de três volumes mostra uma faceta pouco explorada nos quadrinhos da psiquiatra Harleen Quinzel e como seu trabalho a levou a conhecer de perto os mais perigosos internos do Asilo Arkham



Para quem é fã das histórias do Batman, a HQ tem uma cacetada de citações e inserções de personagens muito conhecidos do universo do morcego, mas para quem está chegando agora, caindo de paraquedas somente após os filmes do Esquadrão Suicida e Aves de Rapina — ambos estrelados pela Arlequina — também consegue acompanhar tranquilamente, não sendo necessário nenhum conhecimento adicional de mais de 80 anos de gibis. 



No segundo bloco do bate-papo de boteco, o Antonio recomenda a Graphic Novel Destino Adiado (Le Sursis) de Jean-Pierre Gibrat, artista francês — ah, vá! — que assina a arte e o roteiro da HQ. Muito além das histórias de linha com super-heróis, Gibrat leva o leitor a mergulhar no drama do personagem Julien Sarlat, um jovem soldado francês que é dado como morto numa malfadada missão e que é obrigado a assistir por de trás de uma persiana, do local onde está escondido, o próprio funeral além de ter que espiar de longe sem poder tocar Cécile, sua grande paixão. 



O autor conduz a narrativa de forma sublime, reflexiva e intimista, dando ao leitor um espetáculo visual de raríssima qualidade com seus desenhos realistas e a colorização aquarelada. A arte de Gibrat é um caso à parte dessa grandiosa obra — tida por muitos como a mais importante criada pelo artista — que o pessoal do Pipoca e Nanquim trouxe ao Brasil com exclusividade, tendo à venda também no site da Amazon


Quer saber mais detalhes das duas obras? 

Dá uma conferida lá na nossa conversa no Boteco do Infinito, bloco especial de quadrinhos do site Os Caras da TI. Puxa uma cadeira, pede uma cerveja e seja bem-vindo! 


Clique na imagem para ouvir o podcast

Quem quiser conferir, eu estive no Boteco do Infinito também para falar sobre Desafio Infinito e Black Hammer na edição número 1 do programa:






E na edição 2 eu fui lá falar sobre Homem Aranha: Negócios de Família e Conan, o Bárbaro






P.S. - Pra quem achou a arte de Destino Adiado semelhante a do Milo Manara, o rei europeu do quadrinho de putaria, o Jean-Pierre Gibrat também assina as ilustrações da HQ erótica Pinocchia:




* Sério que cê acreditou que eu fui ator de peça na Broadway? Sério mesmo? Fui nada. Era meu sonho ter participado de Cats... Mas pensando bem... Melhor não!



NAMASTE! 

19 de junho de 2020

Do Fundo do Baú - O Mal no Coração dos Homens

AVISO DE GATILHO EMOCIONAL: TEMA SENSÍVEL


Eu comecei a acompanhar os gibis do Homem Aranha no começo dos anos 90 e tudo que chegava às minhas mãos na época eram edições antigas de sebo, publicações dos anos 80 da Editora Abril em sua grande maioria. Naquele início de coleção eu ainda não sabia a importância que Gwen Stacy ou Mary Jane tinham na vida pregressa do velho Amigão da Vizinhança, mas eu conhecia bem a Gata Negra


O alter ego da lindíssima Felicia Hardy aparecia com grande frequência nas histórias do Homem Aranha que eu lia e aquilo criou uma predileção da minha parte por ela, mesmo sabendo que a mina era uma ladra e que vivia tentando carregar o Aranha para o mal caminho. E quem nunca se apaixonou por uma bandida antes, não é mesmo? 

Trecho de "Identidades Trocadas" desenhada por Al Milgrom com roteiro de Bill Mantlo

O Mal no Coração dos Homens é um arco de histórias protagonizado pelo Homem Aranha e a Gata Negra, escrito em seis partes por Kevin Smith, desenhado e arte-finalizado pelo casal Terry e Rachel Dodson. A saga começou a ser desenvolvida em 2002 nos Estados Unidos e as três primeiras partes foram publicadas por lá entre esse ano e 2003. Um atraso gigantesco fez com que o restante do arco só fosse concluído três anos depois, em fevereiro. Em agosto de 2006, a Panini publicou a primeira das três edições que contariam a história toda no Brasil e foi quando eu comecei a acompanhar. 



Kevin Smith é um dos nerds fãs de quadrinhos e filmes que mais deu certo no mundo. O cara não só tem um podcast onde entrevista zilhões de artistas famosos como também trabalha quase que ininterruptamente para o mercado, dirigindo filmes, produzindo roteiros, fazendo pontas em produções de Hollywood, protagonizando séries e até aparecendo como animação em alguns desenhos. Como roteirista, para a Marvel, seu trabalho de maior destaque talvez seja O Diabo da Guarda protagonizado pelo Demolidor, já para a DC, o cara reformulou o Arqueiro Verde na série Ano Um, embora também tenha roteirizado a polêmica HQ Cacofonia do Batman, que não agradou muitos fãs.


Seja como for, Smith fez mais um trabalho excelente em O Mal no Coração dos Homens - The Evil That Men Do, no original -, levando o leitor a mergulhar fundo numa história recheada de menções a drogas, piadinhas sexuais e até mesmo abusos, algo que não é muito costumeiro especialmente nas HQs do Homem Aranha. O começo dos anos 2000 foi marcado pela fase em que a Marvel - após a quase falência - começou a produzir séries mais adultas com seus principais personagens, e o selo Marvel Knight onde essas histórias passaram a ser publicadas, teve início justamente com o arco de Kevin Smith para o Demolidor. 

Aqui, Felicia Hardy é incitada a sair da aposentadoria da Gata Negra para ajudar uma amiga a localizar uma conhecida de ambas, uma super-modelo que desapareceu após um encontro com um famoso ator de cinema chamado Hunter Todd. De volta à Nova York, a Gata se hospeda num luxuoso hotel da cidade e começa a investigar o tal artista, quando então seu destino se cruza com seu ex-namorado, o Homem Aranha. 


Após um de seus alunos mais exemplares ter morrido supostamente por uma alta dosagem de heroína, Peter Parker, como seu espetacular alter ego, sai para investigar possíveis ligações criminosas que o estudante poderia ter e é quando ele descobre que o rapaz também teve contato com o megastar Hunter Todd, que parece ter predileções por garotos

A Gata Negra e o Aranha percebem que estão em busca de um mesmo alvo - o tal traficante que assassinou tanto a amiga de Felicia quanto o aluno de Peter - e quando ambos veem Todd ser morto na frente deles com uma inexplicável overdose de heroína que pareceu ter sido aplicada à distância no ator, um nome vem a tona: Senhor Brownstone.


O texto de Smith é incrível e os diálogos são cheios de sacadas muito bem inseridas que fazem o leitor rir às vezes só pelo ridículo. A sequência em que Peter e Felicia têm uma DR pelo relacionamento antigo deles é sensacional:

"Quer dizer que um de nós aqui, e eu não tô citando nomes, mas um de nós aqui terminou o namoro porque estava apaixonada pelo espetacular Homem Aranha... Não pelo bom e simples Peter Parker."

"Meu Deus, isso de novo!"

"Só tô falando."

"O que cê quer de mim? Eu era uma menina! Não fui eu quem fugiu e se casou com a namorada do colégio, OK? Se você tivesse sido um pouco mais paciente comigo, eu teria me acalmado e podia ter voltado, mas não... você tinha que estar com a Mary Jane."  
  

Esse diálogo pareceu ter saído de uma conversa de WhatsApp, ou da boca de um casal comum num bar de tão realista. Embora a perseguição ao tal Sr. Brownstone seja o mote principal da história, são esses pequenos detalhes nos diálogos que fazem com que o texto de Kevin Smith se diferencie daquilo que estamos acostumados a ler em HQs. 


Após a DR, Peter e Felicia meio que fazem as pazes e aí começam as insinuações sexuais entre eles. Ela dizendo que tem certeza que ele está excitado a vendo de tão perto naquele traje de couro apertado e ele admitindo que é perigoso DEMAIS ficar muito perto dela, que é fácil se perder com Felicia. Vale lembrar que Peter Parker era um senhor casado resistindo à tentação nessa época.

"Sentido de Aranha vibrando..."

"É assim que cê tá chamando isso agora, é?"


Felicia ainda admite que está a fim dele enquanto os dois começam a se balançar pela cidade rumo ao hotel onde ela está hospedada e ele admite que ela foi a garota mais inteligente e divertida que ele conheceu "dentro ou fora do uniforme", ambos em pensamento. É muita tensão sexual

O Mal no Coração dos Homens começa a rumar para caminhos mais obscuros após a pausa de três anos pela qual a história passou, e após deter a Scorpia juntos e descobrir que ela tinha sido contratada para eliminar o "novo" Rei do Crime da cidade, Garrison Klum, Peter e Felicia divergem quanto a esperar ou agir logo para deter Klum, uma vez que eles descobrem que o cara é o tal Sr. Brownstone. 


Sem muito planejamento ou mesmo sem saber o que podia estar esperando por ela lá dentro, Felicia decide invadir o prédio do empresário sozinha e acaba sendo surpreendida por Klum, que a imobiliza com uma dosagem específica de heroína. Esse capítulo se encerra nos dando a certeza que a Gata seria estuprada por Klum, ali indefesa, mas é aí que uma reviravolta completa ocorre, dando foco agora ao irmão mais novo de Klum, Francis

Após ser encontrada seminua embaixo do corpo de Garrison, sem mais nenhuma evidência de que uma terceira pessoa teria estado ali no apartamento, Felicia acaba sendo incriminada e presa pela morte do empresário. Peter pede ajuda ao amigo e advogado Matt Murdock para livrar a ex-namorada e de forma muito inteligente, Smith acaba inserindo o Demolidor na história. 


Juntos, os dois tentam provar que Hardy é inocente do assassinato brutal de Klum, mas quando ela se recusa a alegar em julgamento que teria sido estuprada e que o teria matado em legítima defesa, o Aranha e o Demolidor não veem outra solução senão tirá-la da prisão


Durante o mal fadado resgate, Peter e Matt descobrem que Francis Klum é o verdadeiro responsável pela morte de Garrison e que tanto ele quanto o irmão eram mutantes capazes de manipular um baixo grau de poderes de teleporte - Garrison capaz de teleportar pequenas doses de líquido e Francis capaz de se teleportar a curtas distâncias. Após uma vida inteira de abusos sexuais por parte de Garrison, Francis decidiu acabar com sua vida ao flagrá-lo prestes a estuprar Felicia, e prometeu buscá-la na prisão mais tarde após salvá-la. 


Enquanto Francis conta a ela todos os abusos pelo qual foi forçado a passar por Garrison, Felicia acaba confessando a ele que também tinha sido abusada por um ex-namorado na época da faculdade e como aquilo a tinha abalado profundamente. 


O final de O Mal no Coração dos Homens é um dos mais trágicos e chocantes que eu já li numa história do Aranha - jamais superando a morte de Gwen Stacy, óbvio - mas apesar de uma ou outra deslizada no roteiro - como a forma idiota com que o Aranha e o Demolidor decidem invadir a prisão pra soltar Felicia - essa é uma das mais maduras histórias que eu já li com o Aranha. 


Por abordar temas tão sensíveis como drogas e abuso sexual de uma maneira limpa - nunca mostrando as vias de fato - Kevin Smith acabou criando um pequeno marco nos quase 60 anos de histórias do Escalador de Paredes, e um aviso de que às vezes, o perigo está dentro da nossa própria casa. 

Sobre Felicia e Peter, eles acabam se entendendo no final. Ela enfim admite que quando ele revelou sua identidade secreta a ela, aquilo a ensinou a confiar de novo nas pessoas, algo que ela tinha perdido quando foi abusada pelo ex-namorado na faculdade.

Página de Homem Aranha #59 (1988) da Editora Abril

Eu adorei essa série porque envolve três dos meus personagens preferidos da Marvel e além do que os desenhos de Terry Dodson com a arte final de Rachel Dodson fazem com que cada quadro seja um deleite em detalhes. Conhecido por desenhar silhuetas bem voluptuosas em suas personagens femininas, Dodson trabalha a Gata Negra como ela deve parecer aos olhos... Uma gata


A Salvat relançou O Mal no Coração dos Homens há algum tempo em formato encadernado com capa dura na Coleção Definitiva do Homem Aranha, e ainda pode ser encontrada no site da editora por módicos R$ 50,00. Vale muito a pena pra quem é fã do Aranha das antigas ou novato. A história não está datada e ainda pode ser lida tranquilamente nos dias de hoje.   

NAMASTE! 

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...