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5 de maio de 2021

Adeus a Paulo Gustavo



Vou começar o post com uma frase clichê que sempre é dita quando um humorista se vai, mas que representa exatamente o momento atual: hoje o Brasil ficou mais triste com a passagem de Paulo Gustavo.

É muito complicado tentar exprimir em palavras o que a gente sente quando alguém tão popular, que de certa maneira faz parte da nossa vida, se vai e é preciso ter um poder muito raro de concisão para colocar num texto tudo que acaba saindo no calor do momento, por isso, eu nem vou tentar. Vou falar aqui com o coração mesmo, desprovido de coesão, razão ou qualquer poder de síntese. Vai ser no improviso.

Eu conheci o Paulo Gustavo, até meio tardiamente, já no palco do Vai que Cola  humorístico do canal Multishow —, vários anos depois dele já ter despontado com suas peças teatrais de sucesso e os filmes estrelados no cinema nacional. Eu chegava do trabalho mais ou menos por volta das 20:00, às vezes mais tarde, tomava um banho, esquentava alguma coisa pra comer e ia pra frente da TV assistir ao programa basicamente todos os dias da semana. Em pouco tempo, virou um vício na casa da minha mãe e a gente ria muito assistindo os improvisos e a “trocação” que o ator fazia “ao vivo” com os colegas de humor Samantha Schmütz, Marcus Majella e — na época da 1ª temporada — Fernando Caruso. Aliás, por mais que o texto do sitcom brasileiro fosse realmente engraçado e a direção de cena muito competente, eram mesmo as falas fora do script que davam o verdadeiro tom da atração. Era impossível não cair no riso.



Fazia muito tempo que eu não assistia TV e menos ainda programas ditos humorísticos com aquela coisa mais quadrada cheia de bordões ensaiados como “A Praça é Nossa” ou o antigo “Zorra Total”. Eu já não achava mais graça de coisas assim e nem perdia meu tempo vendo. O Vai que Cola e em especial o humor “bagaceiro” do Paulo Gustavo é que me fez gostar novamente de atrações assim e ele com seus personagens caricatos e exagerados nos fazia rir genuinamente, sem aquela forçada — o sorrisinho amarelo — que às vezes nos permitimos só para não admitir que estamos é constrangidos pelas piadas sem graça. E nem estou falando do Valdomiro, o personagem pilantra que Paulo interpretava no sitcom desde a primeira temporada, aquele que adorava falar mal do bairro do Méier do Rio de Janeiro — onde se passava a história — de sacanagem. Como ele mesmo costumava brincar com o amigo Majella — e esse diálogo aparece até no primeiro filme baseado no programa — os dois não sabiam interpretar personagens héteros. O grande talento de Paulo estava mesmo em fazer graça na pele de mulheres ou gays rasgadíssimos, algo no qual ele era insuperável.

A gente nem mede o sucesso de Paulo Gustavo ou sua importância para o mundo do humor por ele fazer a nossa geração rir, mas sim dele ter uma capacidade impressionante de atingir as nossas mães, as nossas avós, um público mais antigo que não está acostumado ou mesmo faz esforço para entender que homossexuais existem e merecem tanto espaço quanto qualquer outra pessoa, seja de qual orientação for. A gente que teve tempo de se informar mais, de procurar entender o outro com empatia vê em Paulo Gustavo — homossexual assumido desde sempre — apenas um cara engraçadíssimo que tem uma facilidade fenomenal de causar risos falando de sexualidade, mas nossos pais são da época em que “viado”, “sapatão” ou qualquer outro apelido mais pejorativo eram comuns e que “esse tipo de gente” não deveria ter tanto espaço. Em rede nacional, quase no horário nobre, Paulo Gustavo foi lá e fez as nossas mães rirem com piadas sobre sexualidade, com shows de drags e muita “pinta”, coisas impensáveis há vinte, talvez trinta anos.     

Minha mãe já disse frases como “eu não vejo nenhuma graça nesse novo Zorra”, quando o programa tentou uma abordagem menos machista, menos homofóbica e fazendo um humor mais consciente nas noites de sábado da Globo. Ela dava risada vendo o Didi chamar o Mussum de “urubu” na época dos Trapalhões, gostava de quadros como “dá uma subidinha” — cheio de sexismo — protagonizados no Zorra Total pelo também saudoso Agildo Ribeiro e odeia programas como Casseta & Planeta e o humor mais atual de atores como Marcelo Adnet, Tatá Werneck ou Rodrigo Sant'Anna. Ah, mas do Paulo Gustavo ela gostava. E muito! Eu ouvi da boca dela que o Vai que Cola só tinha graça quando tinha o Valdomiro e que quando ele saiu lá pela terceira ou quarta temporada, sei lá, segundo ela, o humorístico tinha perdido a graça.



A catarse e a entrega total pelo talento do humorista de 42 anos veio mesmo com seu papel essencial da carreira e quando eu coloquei para passar Minha Mãe é uma Peça para a MINHA mãe assistir, não tinha mais como negar ao vê-la gargalhar em frente à TV: Paulo Gustavo tinha mesmo o poder de reunir várias gerações com sua interpretação PERFEITA da matriarca ciumenta, desbocada e barraqueira, mas que tinha em sua essência aquele coração enorme que a gente identificava também em nossas mães. Há um pouquinho da Dona Hermínia na minha mãe e tenho certeza que quem está lendo esse texto vai balançar a cabeça nesse momento, concordando com o que digo e pensando “na minha também! ”. O talento de se entregar tanto ao seu trabalho ao ponto de abraçar virtualmente inúmeras pessoas de credos, culturas e orientações diferentes é raríssimo. Talvez eu tenha visto em alguma figura do esporte, da política ou mesmo de outras áreas da TV que não a das artes cênicas, mas nesse ramo do humor jamais.

O dublador e ator Guilherme Briggs sintetizou esse pensamento de maneira muito lúcida em sua conta do Twitter e eu não teria maneira de incorporar em meu texto sem usar suas palavras exatas, por isso farei um quote direto do que ele disse:

“O objetivo do artista é dar mais do que aquilo que tem. E assim fez o amado Paulo Gustavo, que se doou de tal forma, com tanto amor e intensidade, com tanta entrega e desenvoltura, que agora ele se transferiu de corpo e alma para dentro do coração do Brasil, para sempre. ❤”

E é isso! É uma tristeza muito grande ver um artista com um talento tão grande ser levado dessa maneira tão brutal por uma doença que já arrastou com ela mais de 400 mil vidas e que pasmem, já tem uma vacina. Enquanto choramos a morte de Paulo Gustavo, mais outras 400 mil famílias também choram por seus entes queridos, pais, mães, avós, irmãos, namoradas e tias, todos levados, sobretudo, pela negligência de um governo negacionista que podia ter feito muito mais pela população em todos esses meses e que preferiu se omitir, fingindo que tudo não passava de uma marolinha no oceano e não o verdadeiro tsunami que acabou sendo a pandemia de Covid-19.

Estamos tristes, machucados e já sentimos muito a perda de Paulo Gustavo, mas ao mesmo tempo, esperamos que depois de tanta luta, que depois de mais de 50 dias de internação, ele possa enfim descansar em paz e que lá de cima esteja olhando por seus entes queridos, a mãe — a grande inspiração para a Dona Hermínia —, sua irmã, seu marido e os dois filhos que infelizmente crescerão sem a sua presença maravilhosa aqui na Terra. Um cara gay que conseguiu reunir inúmeras tribos fazendo rir e que arrecadou com um filme mais de 140 milhões em bilheteria — a maior do Brasil — num país que nem sequer valoriza o próprio cinema. Isso não é pra qualquer um! Sua passagem por nossas vidas foi breve, como um meteoro no céu, mas seu trabalho jamais será esquecido. Descanse em paz, querido. Obrigado pelas noites de gargalhadas.


 

“… contra o preconceito, a intolerância, a mentira a tristeza já existe vacina: é o afeto, é o amor! ”.

NAMASTE!

31 de dezembro de 2019

Top 10 – Outros filmes de 2019



2019 foi um ano muito bem servido de lançamentos cinematográficos, e como tirei uma espécie de “ano sabático” para recarregar as baterias e recuperar um pouco da sanidade mental, foi possível ver muitos desses filmes no cinema. Tirei da lista aqueles que já ganharam posts próprios ou que já foram comentados no Blog anteriormente, por isso, esse Top 10 tem a tarefa de fazer um resumão sobre o que esse não tão nobre escritor achou das estreias desse ano que já está indo para vala! Sigam-me os bons!

Obs.: A ordem do TOP 10 NADA tem a ver com preferência pessoal (qual é melhor ou pior) e segue as datas de lançamento no Brasil.

COMO TREINAR O SEU DRAGÃO 3


Eu sou incrivelmente apaixonado pelas animações da PIXAR e consumo muito do que o estúdio de animações (hoje da Disney) lança, mas é muito importante mencionar que nesse mercado tão competitivo a Dreamworks faz frente à PIXAR de forma muito competente. Hoje a qualidade técnica do estúdio fundado em 1994 por Steven Spielberg é de dar inveja a qualquer outro estúdio, e isso fica muito nítido em TODA a trilogia de Como Treinar o seu Dragão. Claro que para falar de Soluço, Banguela e companhia não dá só pra citar a parte técnica da animação, que sim, é FANTÁSTICA, mas também é preciso falar de quão bem feito são os personagens e como é emocionante acompanhar a saga desse povo viking que DESISTE de caçar dragões e se alia a eles quando percebe o quão amáveis os bichos que cospem fogo podem ser.

O terceiro filme pega firme em nosso emocional e não larga mais até o fim, evoluindo a história de Soluço (agora como o Rei da bagaça, no lugar de seu pai), fazendo-o casar com Astrid e dando uma parceira para o Banguela, que achava que era o último dragão Fúria da Noite da Terra.

Ver as peripécias do simpático dragãozinho para conquistar o coração da fúria da noite branca é um dos melhores momentos do filme, só superado pela sequência que separa a antes inseparável dupla formada por Soluço e Banguela, cada um seguindo seu caminho natural. Chorei e não foi pouco no desfecho desse filme, quando os dois se reencontram depois de anos, agora cada qual com sua família já formada. Como Treinar o seu Dragão 3 é filme pra ver com toda a família reunida na sala e guardar de recordação como um dos mais tocantes finais de saga que já vi em uma animação. Lindo demais.

O filme faturou US$ 520 milhões mundialmente e merece a indicação ao Oscar 2020, já que Como Treinar o seu Dragão 2 perdeu INJUSTAMENTE o troféu de Melhor Animação em 2015 para o insosso Big Hero 6 da Pixar.

JOHN WICK 3 – PARABElLUM


Quando surgiu na Netflix (confesso que nem sei se foi lançado no cinema) De volta ao Jogo (2014) tinha a maior cara daqueles filmes B que são lançados só para “Home Vídeo”, mas lembro que depois de assistir, eu estava catando partes do meu cérebro no teto. Fazia muito tempo que eu não via um filme de ação tão visceral e com cenas de tiroteio e pancadaria tão francas e realistas, o que automaticamente me fez fã da franquia. À princípio, claro, eu nem imaginava que John Wick seria uma franquia. Para mim o filme era redondinho e acabava por ali. Um cara de passado misterioso é atacado dentro de casa, tem o cãozinho que a esposa lhe deu, como um último presente antes de falecer por doença, morto na sua frente e os bandidos além de lhe aplicarem uma surra, ainda queimam sua casa e roubam seu carro. Carro aliás, que é o motivo de toda essa sacanagem. Após esse ato covarde, o sujeito quer vingança e revive seus melhores momentos de assassino de aluguel, caçando um a um os responsáveis pelo que lhe aconteceu.

Dito assim parece um filme raso qualquer do Liam Neeson, mas a grande vantagem de John Wick é a precisão com que as cenas de ação são construídas, colocando o espectador para acompanhar tudo de perto e vendo cada tiro sendo dado na cara dos inimigos. Em tempos de “bandido bom é bandido morto” é até estranho dizer isso, mas É MUITO BOM!

O primeiro filme teve direção de Chad Stahelski e supervisão direta de David Leitch nas coreografias de luta. Como fez um relativo sucesso (US$ 86 milhões) e graças ao carisma de seu protagonista Keanu Reeves, logo John Wick 2 chegou aos cinemas, mostrando uma história que dava margem para uma continuação. John Wick 3 – Parabellum, lançado em 2019, é continuação direta do segundo filme (inclusive a cena inicial complementa a última do John Wick 2) e coloca toda a confraternização de assassinos de aluguel contra Wick, que está com a cabeça à prêmio.

A história soa tão exagerada desde o início, que em poucos minutos de projeção já começamos a duvidar que John conseguirá se safar, já que aparentemente toda a cidade faz parte da organização secreta para a qual ele trabalhava antes de se aposentar. 

Sério! Começa a sair caçador de recompensa até do esgoto para matar John e qualquer pessoa andando na rua passa a ser uma ameaça. Desarmado e arrebentado com os tiros, quedas e atropelamentos que sofreu no filme anterior, o cara faz de tudo para escapar e põe à prova toda sua fama de Baba Yaga (que no filme eles tratam como uma espécie de Bicho Papão, mas que nos contos eslavos faz referência a uma espécie de bruxa).

Sabe aqueles filmes que chega um momento que você está cansado de tanto ver cena de ação?

Esse é um retrato bom para Parabellum. Como é basicamente isso que faz sucesso na franquia, o diretor Stahelski eleva a décima potência esses elementos, colocando sequências de porradaria, perseguição de carro e tiroteio intermináveis no filme. Ainda é bom de ver? Sim, claro, mas como a história só se sustenta com isso, chegamos tão extenuados quanto Wick na última cena de ação em que ele luta com dois peritos em artes marciais em uma construção toda feita de vidro criada especialmente para o filme.

Em sua volta ao mundo de mercenário para tentar se redimir ante a organização onde foi criado, e onde fez sua fama de Baba Yaga, John tenta recorrer a alguns aliados, como a diretora da Máfia Russa vivida por Anjelica Huston, Sofia (Halle Berry) e o Rei dos Mendigos (Laurence Fishburne), que já tinha aparecido em John Wick 2. Para se salvar, Wick acaba tendo que enfrentar o Berrada (Jerome Flynn, o Bronn de Game of Thrones) e Zero (Mark Dacascos), como um ninja assassino da Alta Cúpula. A obsessão do personagem de Dacascos com John Wick chega a ser hilária, e apesar dele ser obrigado a matar o cara, é visível a imensa admiração que ele nutre por John. Há quanto tempo eu não via Mark Dacascos em um filme no cinema!

A recepção do público foi excelente ao terceiro filme, que teve como receita um total de US$ 326,7 milhões (quase o triplo de John Wick 2) e claro, uma QUARTA parte confirmada, a estrear em 2021 com outro sucesso também estrelado por Reeves: Matrix 4.

Parece que o desgaste das cenas de ação aconteceu somente na minha cabeça, não é mesmo?

John Wick tem tudo para virar uma nova franquia popular (e interminável) assim como Velozes e Furiosos e Missão Impossível. Keanu Reeves é um grande entusiasta do projeto e se dedica bastante ao papel, tanto que no primeiro filme, ele filmou 90% das cenas de pancadaria sem usar dublê. O resultado disso é a tal franqueza que elogiei no começo do post.

P.S. – Eu ia me amarrar num encontro do John Wick com a Atômica Blonde da Charlize Theron. Sei que algumas décadas separam os dois personagens, mas já imaginaram que louco seria colocarem um CONTRA o outro num filme de tiroteio e pancadaria sendo filmadas em plano sequência pelo David Leitch?  

ALADDIN


Confesso que nunca assisti o longa-metragem Aladdin da Disney de 1992, mas tinha alguma simpatia pelo desenho animado que passava no SBT. Tanto que foi lá que conheci os personagens que em 2019 vi trazidos para a vida real (ou quase isso) para o filme em live action dirigido por Guy Ritchie. Visualmente, a produção é um desbunde inacreditável tanto de cenários, indumentárias e maquiagem, mas deixa bastante a desejar em alguns aspectos como caracterização e interpretação. O tão comentado Gênio, interpretado agora por Will Smith, é bem ruim, em especial quando ele está em sua forma azul de CGI. Toda a fluidez e malícia que o personagem tinha na animação não conseguiu ser transposta para a tela nessa adaptação e o personagem parece sempre muito rígido e mal renderizado. Ao contrário de sua versão azul, Will Smith se sai muito bem quando está em cena só como ele mesmo, porém, o mesmo não pode ser dito de seus companheiros de elenco.

Tirando Naomi Scott que interpreta a princesa Jasmine, o restante do elenco é bem mais fraco. A gente não se importa muito com o Aladdin de Mena Massoud e MENOS AINDA com o Jafar de Marwan Kenzari que pouca imponência nos passa em cena. Para um vilão, ele é bem pouco assustador e o que ele não tem de carisma Massoud tem de canastrice. Claro que os números musicais do filme e as sacadas engraçaralhas acobertam muito bem esses defeitos de elenco, e o filme passa tão bem como um produto nostálgico quanto para um lançamento para as crianças atuais. Em suma, Aladdin 2019 faturou mais de 1 bilhão mundialmente, e figura como um dos grandes sucessos da Disney desse ano, junto com Vingadores Ultimato, O Rei Leão, Frozen 2 e Toy Story 4, todos tendo faturado mais de 1 bilhão em renda. Vocês acham que o Mickey está feliz nesse fim de ano ou não?



HOMENS DE PRETO – INTERNACIONAL


Eu não gosto muito da franquia MIB e tenho no máximo uma simpatia pelo primeiro filme de 1997 que já assisti algumas vezes. Fui ao cinema esperando que MIB – Homens de Preto Internacional fosse pelo menos divertido, já que trazia em seu elenco Chris Hemsworth e Tessa Thompson, dupla que já tirou muitos risos da plateia em Thor Ragnarok. Hemsworth em especial tem se mostrado um ator de comédia muito melhor do que de drama nos últimos anos, e além de Thor (que virou galhofa a partir de Ragnarok) o cara se deu muito bem como o “loiro burro” do elenco de As Caça-Fantasmas (2016).

Pois é, né.

Dirigido por F. Gary Gray, MIB – Internacional fica só na promessa de diversão e não consegue nos fazer esquecer do carisma de Will Smith como o agente J dos filmes anteriores. A ideia era expandir a agência de regulamentação alien para outros pontos do globo terrestre, algo como uma franquia, mas a história de invasão alienígena do filme é tão genérica que não consegue chamar a atenção. Juro que se eu tivesse em casa, e não tivesse pagado caro para estar ali no cinema, eu puxaria o celular no meio da sessão e entraria, sei lá, no Twitter, de tão desinteressante que é o enredo.

O pior é que tanto Hemworth quanto Thompson estão bem em cena. É a história que é fraca mesmo. A única cena que vale mesmo a pena é a da referência a Thor, quando o personagem de Hemsworth se vê desarmado e acha um martelo de construção no chão para arremessar contra o alienígena e claro... erra!

Fora isso, nota 5 e olhe lá.

O filme rendeu US$ 253 milhões mundialmente de um orçamento de US$ 94 milhões. Quase deu prejú!

TOY STORY 4


A trilogia Toy Story não precisava de uma continuação e o final de Toy Story 3, com o garoto Andy crescido passando para frente seus queridos brinquedos, encerrava de forma gloriosa uma das franquias mais amadas da Pixar. Eu perdi as contas de quantas vezes eu chorei assistindo esse filme, relembrando minha própria infância com meus brinquedos velhos.

Aí a Pixar teve a infeliz ideia de fazer uma quarta parte, prometendo que seria ainda mais emocionante.

Não foi.

Com todo o elenco de volta, o enredo agora fala da sazonalidade infantil da pequena Bonnie, com relação a seus brinquedos, se apegando muito a eles por um período e logo trocando-o por outro. O brinquedo da vez é o Garfinho, personagem que ela mesma cria em uma aula de artes na escola e com a qual se apega de forma apaixonante. Ao se aproximar dos outros brinquedos de Bonnie, o Garfinho “cria consciência”, mas se nega a aceitar que é um brinquedo, se vendo mais como um monte de... lixo. Nessa crise de consciência, Garfinho faz de tudo para voltar para a lixeira, onde acredita que pertence, e com essa ideia fixa acaba fazendo com que ele e o valente Xerife Woody se percam no meio do caminho, após um passeio de Bonnie com os pais. Nessa aventura longe de casa e dos demais amigos, Woody acaba reencontrando seu antigo amor Betty (a boneca pastora de porcelana) e junto dela ele começa a questionar a sua importância como brinquedo de uma só criança, querendo se tornar também um brinquedo de várias crianças.

Quer dizer... O Woody acabou mudando completamente o pensamento que tinha nos demais filmes em que ele sempre fez de tudo para voltar para o seu dono Andy, querendo agora se tornar um boneco de várias crianças e abandonando o amigo Buzz, assim como os demais brinquedos. Final bem melancólico para a série.

Eu chorei quando Woody prefere ficar com a Betty e os brinquedos “de rua”, se separando para sempre de Buzz e companhia? Pra caralho! Mas nada que se compare ao final de Toy Story 3. Taí um filme que não precisava existir. 
       
HOBBS AND SHAW


A treta entre The Rock e Vin Diesel nos bastidores de Velozes e Furiosos 8 acabou gerando essa cisma entre o elenco, o que resultou em anos mais tarde na criação de Hobbs & Shaw. Dirigido por David Leitch, o filme tenta elevar AINDA MAIS os absurdos da franquia Velozes e Furiosos e consegue!

Depois de deter um submarino russo (e apostar corrida com ele em Velozes e Furiosos 8!), é hora de Hobbs e Shaw voltarem a trabalhar juntos para deter uma nova organização que está usando tecnologia avançada para aprimoramento cibernético de seres humanos e a disseminação de um vírus mortal. Com ajuda da irmã de Shaw (a linda Vanessa Kirby), a dupla de brucutus investe pesado contra a organização, mas acaba batendo de frente com o autodenominado “Super-Homem Negro” vivido por Idris Elba, um ex-agente do serviço inglês que agora tem super-força e vigor acima da média devido experimentos feitos em seu corpo.

Tal qual a franquia Velozes e Furiosos, Hobbs e Shaw é repleto de cenas absurdas e pouco convincentes de ação, mas dessa vez nem o talento de David Leitch de dirigir ótimas cenas de pancadaria salva o filme. A química entre Dwayne Johnson e Jason Statham funciona muito bem, a inserção de Vanessa Kirby ao elenco também é muito acertada, mas o roteiro do filme é um “pau de dar em doido”. É uma loucura desenfreada que infelizmente não vale nem pelas cenas de ação. Como o cara chama bilheteria, é mais um filme para mostrar The Rock como o grande action hero da época, mas eu mesmo já estou bem farto de ver o samoano gigante interpretando todas as vezes o mesmo papel.

Outro ponto positivo ao elenco é a carismática Eliana Su’a que interpreta a filha de Luke Hobbs. A garota rouba a cena todas as vezes em que aparece contracenando com The Rock, e faz uma ótima ponte também entre o personagem dele e o de Ryan Reynolds, o contato da CIA que ajuda Hobbs com o caso do Black Superman. Além de Su’a e Reynolds (que faz praticamente um papel dele mesmo!) tem também a participação de Kevin Hart no filme.

O filme rendeu US$ 758 milhões e ficou bem abaixo de VF 8 que chegou a render mais de US$ 1 bilhão mundialmente, motivo mais do que claro para que o ator Tyrese Gibson (o Roman) viesse fazer chacota na internet e acusasse The Rock de “separar a família” Velozes e Furiosos.

IT – A  COISA – PARTE 2


Muitas pessoas dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar... E no caso de It, realmente não cai não!

O primeiro filme de 2017 foi um sucesso estrondoso e fez até mesmo quem não gostava muito de palhaço ou que não gostava de filme de terror ir para o cinema. Fiz a primeira crítica ao longa aqui, e sou um dos que adorou o filme. A química entre as crianças do elenco funciona muito bem e nos remete aquele clima “oitentista” de filmes de crianças como Goonies, Conta Comigo e ET, do qual a série Stranger Things também bebe muito.

A segunda parte do filme, tal qual no livro escrito por Stephen King, mostra os personagens Beverly (Jessica Chastain), Bill (James McVoy), Richie (Bill Hader), Eddie (James Ransome), Ben (Jay Ryan) e Stanley (Andy Bean) já adultos e longe da cidade de Derry. O único remanescente do Clube dos Otários é Mike (Isaiah Mustafa), que jamais saiu da cidade e que por isso, se lembra de todo o terror causado pelo palhaço Pennywise (Bill Skarsgard) 27 anos atrás. Quando outra onda de assassinatos e desaparecimentos começa a acontecer na cidade, Mike se vê na obrigação de convocar os amigos de volta a Derry, e é lá que todos eles (com exceção de Stanley que comete suicídio) revivem seus maiores traumas e medos de infância, enfrentando novamente a loucura representada por Pennywise.

Assim como a primeira parte, It – A Coisa Parte 2 tinha tudo para ser um excelente filme que fala de como o ser humano pode ser cruel e perverso e que Pennywise só traz à tona toda essa podridão humana. Mas não consegue. Com os personagens agora adultos, é hora de mostrar como a relação entre eles e a cidade decadente de Derry na infância os tornou pessoas inseguras e cheias de medo, mas o filme decide mesmo que quer chocar com cenas repletas de CGI e fazer de tudo para causar um jump scare atrás de outro na plateia. Temos ótimas nuances de como as escolhas feitas pelos personagens em sua vida adulta refletem muito bem os traumas que eles tinham quando crianças (Beverly se casa com um sujeito tão agressivo quanto seu pai), mas essas nuances se perdem em meio aos efeitos especiais exagerados.

O filme ainda vale, para quem gostou da primeira parte, ver como a evolução dos meninos aconteceu, e tem participação do elenco juvenil quase que o tempo todo, nos mostrando momentos que não foram mostrados no filme anterior. Arrastado e looooongo, o filme tem uma conclusão razoavelmente melhor que o livro, mas não faz muito jus ao primeiro It.

CORINGA


Falando em palhaço...

O filme dirigido por Todd Phillips chegou com os dois pés na porta de 2019 e arrastou uma multidão para o cinema. Com mais de um US$ 1 bilhão em bilheteria, Coringa foi um sucesso tanto de crítica quanto de público e tornou ainda mais popular a história do grande adversário do Batman.

Aliás, Batman, Gotham e tudo que costuma acompanhar o Palhaço do Crime se torna apenas elemento de pano de fundo enquanto mergulhamos fundo na psique abalada do homem conhecido como Arthur Fleck. Diferente do que se temia antes do lançamento do longa nos cinemas, a loucura de Fleck fica clara desde o início da história, e não o vitimiza em nenhum momento. Quem decide torcer por ele ao longo do filme o faz por pura falta de caráter, já que Todd Phillips não tenta manipular ninguém em nenhum momento com sua direção. Como já se previa, é dito sim que as circunstâncias de sua vida o levam à loucura, e o ambiente doentio de uma Gotham falida potencializam essa loucura, mas ele não é um homem são que é corrompido. Ele já é maluco desde o início.

Joaquim Phoenix está excelente em cena. Entrega um Coringa como poucas vezes vimos na telona e é bem certo que ele vai papar algumas estatuetas, seja de Globo de Ouro ou do Oscar. No Globo de Ouro, tanto o filme quanto Phoenix estão indicados aos prêmios de Melhor Filme de Drama, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Diretor (para Todd Phillips) e Melhor Ator de Drama (Phoenix).

Se o filme peca em alguns momentos é por querer dar foco demais para a (inventada) relação entre Fleck e Thomas Wayne e para a família Wayne em si, relembrando até mesmo o já surrado momento em que os pais do jovem Bruce são assassinados. É filme autoral? Quer se afastar o máximo possível do Universo DC pra não ser filme de heroizinho? Então esquece essa porra de Batman! Se eu fosse o Phillips eu ainda daria um tiro na cara do Bruce Wayne no beco para afastar o filme ainda mais do DCU. Wayne bom é Wayne morto.

EXTERMINADOR DO FUTURO – DESTINO SOMBRIO


A Paramount passou anos tentando revitalizar a franquia o Exterminador do Futuro depois do terceiro filme (2003), e após inúmeras tentativas frustradas (incluindo aí uma série de TV) James Cameron decidiu voltar ao mundo dos androides futuristas, agora como produtor, para tornar a franquia relevante novamente. E nem ele salvou o velho T-800.

A ideia de Cameron era ignorar completamente tudo que tinha acontecido depois de Terminator 2 (último filme que dirigiu) e recomeçar a porra toda, dando novos destinos tanto para Sarah Connor, John Connor e até mesmo para o T-800. Até certo ponto a ideia funciona, mas aí a direção de Tim MillerMATA John Connor nos primeiros minutos do filme, mudando RADICALMENTE tudo que se conhecia dos filmes até então. Um T-800 vindo do futuro para (adivinha!) matar Connor encontra ele e sua mãe em uma praia caribenha e executa seu último comando, mesmo sem existir uma SKYNET no futuro a qual obedecer. Como tanto Sarah quanto John destruíram as possibilidades de existir uma Skynet no futuro em 1997 (em T2), a morte de John no presente não modifica muita coisa e a linha temporal segue naturalmente, até que outra empresa cria um outro supercomputador do mal no futuro (chamado agora de Legião) e outro “messias” precise ser criado para salvar a humanidade, agora na figura da mexicana Dani Ramos (Natalia Reyes).

Assim como em todo filme de Exterminador do Futuro, um androide de metal líquido (Gabriel Luna, o Motorista Fantasma de Agents of SHIELD) é enviado ao passado para assassinar Dani, enquanto outra humana aprimorada (Grace, vivida por Mackenzie Davis) é enviada para salvar Dani. No meio dessa quizomba entre robôs e pessoas aprimoradas, surge Sarah Connor (Linda Hamilton), que continua na ativa pronta para eliminar ameaças temporais que surgem pelo mundo, agora não mais para salvar o filho ou ela mesmo. Sarah é guiada por mensagens que recebe dizendo com precisão onde e quando as ameaças vão aparecer no presente, e ao longo do filme descobrimos que quem manda essas mensagens é o próprio T-800 (Arnold Schwarzenegger) que assassinou John em 1998, arrependido de seu último ato e agora vivendo pacificamente entre os humanos casado e com filho.

Não sei até que ponto Cameron aprovou esse roteiro maluco, mas as cenas de ação dirigidas por Miller são muito boas. Infelizmente estamos em uma época em que qualquer filme meia-boca de super-herói entrega a mesma coisa que vimos nesse filme e isso faz com que Terminator não tenha mais espaço no cinema atual. Até mesmo se considerarmos somente a franquia Terminator, tirando a morte de John Connor, Terminator 6 não traz nada de muito inovador, e a recepção do público só prova que a franquia desgastou a um ponto irreversível.

Terminator 6 (ou 3.1) rendeu apenas US$ 261 milhões de um orçamento de quase US$ 196 milhões.   

PS.: A cena inicial reconstruindo digitalmente Linda Hamilton, Edward Furlong e Arnold Schwarzenegger com suas aparências de 1992, ano em que Terminator 2 foi lançado, ficou excelente. Esses rejuvenescimentos digitais estão ficando cada vez mais populares no cinema e a qualidade técnica também está cada vez melhor. 
  
ZUMBILÂNDIA 2 - ATIRE DUAS VEZES


Eu adoro o primeiro Zumbilândia de 2010, e se eu fizesse uma lista de melhores comédias de todos os tempos, com certeza ele estaria nas primeiras posições. Novamente dirigido por Ruben Fleischer, Zumbilândia 2 – Atire Duas Vezes dá seguimento nas aventuras do grupo formado por Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone), Columbus (Jesse Eisenberg) e Little Rock (Abigail Breslin) atravessando um Estados Unidos tomado por uma praga zumbi. Já acostumados a sua rotina de matar zumbis, seguindo as regras de Columbus, os viajantes agora encontram novos sobreviventes pelo caminho, incluindo uma dupla que é uma espécie de cópia de Tallahasse e Columbus, vividos por Luke Wilson e Thomas Middleditch, um novo amor para Tallahasse vivido por Rosario Dawson e uma pretendente ao coração de Columbus, a engraçadíssima patricinha Madison (Zoey Deutch), que sobreviveu tanto tempo na praga zumbi por puro acaso.

O filme é tão hilário quanto o primeiro e é um daqueles casos de sequência que vale muito a pena ser feita. Todos no elenco estão tão afiados quanto na primeira parte, e é difícil não cair na gargalhada em alguns momentos.

TOP EXTRA 1 – FORD VS FERRARI


Dirigido por James Mangold (de Wolverine Imortal e Logan) o filme mostra a história real em que o dono da Ford na época da história (1966) se vê desafiado a criar um carro de corrida tão competitivo quanto o da Ferrari para o clássico circuito de Le Mans. Após comentários de que os carros que produz são feios e sem estilo pelo chefão da Ferrari Enzo, o herdeiro de Henry Ford forma uma equipe capaz de elevar o nome da montadora em disputas pelo mundo. 

Assim, Carroll Shelby (Matt Damon) fica encarregado de criar o melhor carro de corrida de todos os tempos, contando com a ajuda do colega piloto e mecânico Ken Miles (Christian Bale) e lutando para a equipe de marketing liderada por Lee Lacocca (Jon Bernthal) não estragar seus planos.

O filme é emoção pura e não tem como não mergulhar fundo na história desses dois caras vividos brilhantemente por Damon e Bale. Ford vs. Ferrari é um daqueles raros filmes que te ganham logo pelo cartaz de divulgação e eu tinha certeza que veria um enredo brilhante quando comprei o ingresso. Bale está incrível em cena e sua interpretação magistral como o piloto rabugento foi indicada ao Globo de Ouro 2020 como Melhor Ator de Drama (o que vai colocar Batman e Coringa um contra o outro novamente na disputa pela estátua!). O filme está na minha lista de melhores do ano com certeza!

TOP EXTRA 2 – BACURAU


“Quem nasce em Bacurau é o que?”

“Gente!”

A grande surpresa do cinema nacional de 2019 com certeza foi o premiado Bacurau, filme que venceu o prêmio do júri do Festival de Cannes e que é dirigido pela dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. A história gira em torno de uma cidade fictícia do sertão do nordeste brasileiro que da noite para o dia desaparece dos mapas. Enquanto drones disfarçados de disco voador sobrevoam a cidade, alguns moradores começar a ser atacados misteriosamente, colocando em alerta os defensores do povoado que se juntam para deter uma invasão estrangeira que visa eliminá-los.    

O filme é uma porrada na cara de quem se acha superior a outras pessoas só por causa da cor da pele e da região do país onde mora, e funciona como uma crítica social excelente, além de apresentar cenas de ação e tiroteio muito bem filmadas e editadas. Por ser regional demais (apesar de mostrar americanos invasores) Bacurau não tinha muita chance de disputar o Oscar como filme estrangeiro, mas a história fala muito com quem sempre se viu como minoria seja lá onde mora, fazendo sua crítica valer além-filme, independente de prêmios que a produção ganhe. Num país onde atualmente se caga para cinema nacional e que tem um governo que segue firme na batalha contra a cultura, extinguindo até mesmo a Ancine, Bacurau é um exemplo perfeito de como ainda se pode contar ótimas histórias no cinema do Brasil. Quer o governo queira ou não!

Bacurau faturou 3,277 milhões em bilheteria.

NAMASTE!   

20 de junho de 2013

Faroeste Caboclo - O Review



“Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam...”.

Dirigido pelo estreante René Sampaio e escrito por Paulo Lins (autor do livro Cidade de Deus que inspirou o filme), o longa-metragem Faroeste Caboclo chegou aos cinemas depois de um grande período de espera desde que foi anunciado, e arrebatou um público surpreendente (em torno de 1,3 Milhões de espectadores) logo no primeiro mês da estreia.

Baseado na música homônima de Renato Russo (líder da Legião Urbana falecido em 1996) o filme conta a história de João (Fabrício Boliveira), um rapaz negro, pobre e nordestino que decide mudar sua própria sorte indo de Santo Cristo para Brasília, a capital de seu país. Cansado de sua vida dura e sofrida, João passa por diversas provações enquanto procura seu lugar ao sol próximo do Planalto Central, local bastante retratado nas canções de Renato Russo à frente da Legião. 

"Ele ficou bestificado com a cidade"

Os fãs fervorosos de Renato e da Legião Urbana talvez se decepcionem com a montagem adaptativa que René Sampaio procurou fazer para a música, que muitos apontavam como um roteiro pronto de cinema devido sua qualidade descritiva, e já em seus primeiro minutos, a narrativa visual do longa deixa bem clara as intenções do diretor em transformar Faroeste Caboclo (o filme) em algo além do que um simples videoclipe da música.




O elenco do filme é integrado por bons nomes como o ator baiano Fabrício Boliveira, a atriz Isis Valverde, Marcos Paulo (ator falecido no final de 2012 que interpreta o Senador pai de Maria Lúcia) e Antônio Caloni, o diretor até consegue conduzir boas cenas de drama e de ação utilizando o talento do elenco, porém o filme carece de um ritmo definido, o que faz com que alguns momentos-chaves sejam quebrados o tempo todo por flashbacks inesperados e cortes secos em cenas mais movimentadas.

"Quando criança só pensava em ser bandido..."

A montagem de Sampaio tem um quê de cinema americano, em alguns momentos somos transportados para o clima de velho-oeste (com boa trilha incidental), em outros somos surpreendidos por angulações de câmeras em locais inesperados (como dentro de um balde d’água vindo de um poço artesiano), mas na maioria das vezes ele torna as cenas um tanto quanto monótonas, com uma película envelhecida que dá ao filme aquele clima tão característico de desolação nordestina, do qual já estamos meio fartos de assistir desde a infância. Afinal, o que é que o cinema brasileiro produzia antigamente além de filmes sobre o Nordeste brasileiro?

Mas, Rodman... O João é nordestino! Como você queria que fosse a retratação do Nordeste no filme?

O problema nem é com a retratação do Nordeste, e sim com o tipo de montagem que o diretor escolheu, fazendo com que o filme não possuísse características próprias.

"Era o terror da cercania onde morava..."

A falta de trilha sonora na maioria das cenas incomoda. Ouvimos acordes de Faroeste Caboclo no início do filme, algumas músicas que remetem a filmes de velho-oeste (por vezes cortadas secamente ao estilo Tarantino) e há também o bom Rock N’ Roll brasileiro (músicas da Plebe Rude e do próprio Aborto Elétrico, antiga banda de Renato Russo), mas na maioria das cenas só o que escutamos é o silêncio. Até mesmo nas mais tensas demonstrações dramáticas.  

"Coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu..."

O texto de Paulo Lins constrói uma narrativa objetiva e de fácil digestão, porém muda (como toda boa adaptação) pontos principais da música da qual se baseia, o que faz com que tenhamos surpresas na linha de roteiro com a qual já estávamos acostumados desde que decoramos a letra de nove minutos para cantar nas rodas de violão da hora de intervalo da escola. Não, João de Santo Cristo não sobrevive nessa versão, se é o que você está pensando, jovem padawan, mas existem sim muitas alterações na história

"Maria Lúcia era uma menina linda..."

Seja por redução de custos (o filme tem apenas 1h40 e iniciou com um orçamento de 6 Milhões) ou por questões de alteração de mídia (da música pro cinema) algumas soluções encontradas foram interessantes, como a razão da traição de Maria Lúcia (Isis Valverde), o desenvolvimento da personalidade do primo Pablo (César Troncoso) ou a criação dos coadjuvantes que cercam os personagens que aparecem na letra da música (como o “padrinho” do Jeremias vivido por Antonio Caloni). Outras, no entanto, enfraqueceram a história original e não apresentaram inovações, como a mudança de cenário para o duelo entre João e Jeremias (Felipe Abib). Cadê as bandeirinhas, o povo a aplaudir, o sorveteiro, as câmeras e a gente da TV que filmavam tudo ali?

Achei desnecessária essa alteração.

"Jeremias maconheiro sem vergonha organizou a Roconha e fez todo mundo dançar..."

Por falar no duelo final, o que me levou a dar a nota que darei ao filme ao fim do post foi justamente o clímax dessa cena. Eu encarei todas as alterações de roteiro ao material original como “licença poética”, aceitei as cenas corta-tesão, ignorei o fato do filme ter um ritmo meio cansativo e aceitei até a falta de trilha-sonora impactante... Mas não consegui engolir a sequência final, onde (sem nenhum Spoiler) Jeremias mata João, que mata Jeremias que mata Maria Lúcia.

"Maria Lúcia pra sempre vou te amar..."

Esse trecho da música, a elevação do som, dos acordes mais agressivos marcam a mudança de clima da trajetória de vida do personagem principal. João perdeu tudo que mais amava para seu pior inimigo, ele não está satisfeito e chama o traficante para um duelo em plena Brasília. Ceilândia. Lote 14. 

Essa parte da história dá praticamente o título da música. É o que esperamos ver desde o começo do filme (que numa bela montagem, mostra o desfecho logo no primeiro minuto da reprodução), e aí René Sampaio numa falta de colhões épica tira todo o impacto da cena para que ela fique mais “romântica”?

"... e um filho com você eu quero ter."

Cadê todo aquele “ódio por dentro”? Cadê a frase “Olha pra cá filho da puta sem vergonha Dá uma olhada no meu sangue E vem sentir o meu perdão” que funcionaria como um tremendo bordão para desfecho de cena? Cadê o sangue no “zóio” do Santo Cristo por tudo que Jeremias lhe fez ao longo da história?

Achei o final bem apagado para a minha expectativa, e em minha opinião não fez jus ao desfecho grandioso da obra de Renato Russo. A meu ver, faltou colhões para fazer de Faroeste Caboclo um filme muito mais corajoso do que o que acabou saindo. No final, percebemos que a história tinha grande potencial, mas acabou se rendendo ao clichê, não permitindo um desenvolvimento melhor e mais aprofundado.


"Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu..."

Faroeste Caboclo não é nem de longe um filme juvenil como muitos que são lançados no Brasil todos os anos, ele possui cenas fortes de violência, mostra sexo de maneira quase explícita (e sim! Tem peitinhos de Isis Valverde!) e tira ótimas atuações de seus atores, porém, deixa a desejar em vários aspectos, o que o permite figurar apenas na média de bons filmes fracos que o país verde e amarelo produz.

"Mas Pablo trouxe uma Winchester .22"

Não li nenhum crítica ao filme, favorável ou não, portanto não faço ideia como ele foi recebido aí fora. Como grande fã da música da Legião Urbana o filme não me agradou muito, e como apreciador de cinema, apenas o deixei na categoria de filmes bons, mas nem um pouco memoráveis.

NOTA: 7 


PS.: Nada contra a atuação de Fabrício Boliveira, mas eu torceria muito mais para o João de Santo Cristo se ele fosse vivido pelo Seu Jorge. Aí sim teríamos um Santo Cristo foda, a nível Django do Tarantino!

NAMASTE!

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