No último dia 02 de março rolou no Dolby Theatre a 97ª edição do Oscar e no Brasil a festa não podia ser maior. Em pleno Carnaval, o filme "Ainda Estou Aqui" levou a estatueta de Melhor Filme Internacional, desbancando entre outras produções, o “francês” Emilia Pérez.
É clima de Copa do Mundo, amigo! Haaaaja coração!
MELHOR ATOR COADJUVANTE
A noite de premiação começou com Robert Downey Jr. —
vencedor do ano passado por seu papel em “Oppenheimer” — anunciando o prêmio de
Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin por sua atuação em “A Verdadeira Dor”.
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Kieran Culkin premiado por "Real Pain" |
O irmão do Macaulay Kulkin já tinha vencido o Globo de Ouro
pelo mesmo papel no filme dirigido e atuado por Jesse Eisenberg e repetiu a
dose no Oscar com um discurso bastante espirituoso sobre o palco.
Apesar de ser o coadjuvante no filme, Culkin mostra o tempo
todo porque tem sido tão premiado ultimamente por suas atuações — ele também
levou o Emmy de Melhor Ator em Série Dramática por "Succession". Em “Real Pain” o
seu personagem flutua o tempo todo entre o humor rasgado e a melancolia total, e a história
dos dois primos — ele e o personagem de Eisenberg — que visitam os campos de concentração nazistas onde os seus
avós foram torturados, exige dele uma interpretação mais densa que realmente o gabarita para vencer o Oscar.
Nessa categoria, Kulkin superou Guy Pearce ("O Brutalista"), Edward Norton ("Um Completo Desconhecido"), o competente Yura Borisov (de "Anora") e o mal-humorado Jeremy Strong ("O Aprendiz"), que ficou com uma tremenda cara de cu ao longo de toda a cerimônia!
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Na categoria Melhor Documentário, quem levou o prêmio da
noite foi “No Other Land”, filme produzido por um coletivo palestino-israelense
que mostra a destruição de Masafer Yatta por soldados israelenses na
Cisjordânia ocupada, além da aliança que se desenvolve entre o ativista palestino
Basel e o jornalista israelense Yuval.
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A equipe do filme "Sem Chão" |
Ao subir ao palco para receber a estatueta, a equipe do
documentário pediu o fim do genocídio do povo palestino, situação trágica que
tem ocorrido desde outubro de 2023, quando começaram as tensões entre Israel e
o grupo terrorista Hamas. Desde então, mais de 40 mil palestinos já morreram
num conflito em que apenas um lado é massacrado às vistas do mundo inteiro, e
nada de mais efetivo para botar um ponto final nessa guerra tem sido feito.
Assim como “Ainda Estou Aqui”, que escancara uma realidade cruel vivida no Brasil há vários anos, “No Other Land” também serve como um alerta
e um pedido de socorro de um povo que vive com um alvo estampado na testa constantemente, sem
que as forças internacionais sequer pensem em ajudar.
"Sem Chão", como foi traduzido por aqui, está em cartaz em alguns cinemas nacionais, sem previsão de chegar aos serviços de streaming.
MELHOR CURTA ANIMADO E MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO
Os prêmios de Melhor Curta Animado e Melhor Curta
Documentário foram para “In The Shadow of The Cypress” e “The Only Girl in The
Orchestra” respectivamente. A animação de 2023 é dirigida por Shirin Sohani e
Hossein Molayemi, e é uma produção iraniana. Já o curta-documentário é uma
produção da Netflix que foi dirigida por Molly O’Brien.
MELHOR ANIMAÇÃO
Falando em animação, quem levou o maior prêmio da noite nessa
categoria foi o simpático “Flow”, da Letônia. O filme foi todo desenvolvido por
meio do Blender e os criadores da produção enfatizaram que o uso da tecnologia
de software livre foi essencial para que toda a composição das cenas de aventura do
gatinho preto fossem realizadas.
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"Flow" como Melhor Animação |
“Flow” desbancou grandes estúdios como a Pixar, que entrou
na disputa com seu tocante “Divertida Mente 2” e bateu de frente também com
outros filmes mais autorais como “Wallace & Gromit: A Vingança” e o
australiano “Memórias de um Caracol”.
Apesar de ter achado a fluência de movimentos do gato e de
seus amigos animais — não antropomorfizados, diga-se de passagem — excelentes,
a história do gatinho perdido num mundo submerso em água não me tocou tanto
quanto “Robô Selvagem” da DreamWorks.
Fazia tempo que eu não me acabava de chorar como aconteceu enquanto eu
assistia a essa animação dirigida pelo competente Chris Sanders (de “Lilo &
Stitch”), mas a tocante história de uma robô que se afeiçoa a um filhote de
ganso me quebrou de uma maneira muito peculiar.
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O emocionante "Robô Selvagem" |
Apesar da rivalidade entre os dois projetos, vale a conferida em ambos. Os filmes
funcionam tanto para crianças quanto para adultos, e o que não faltam são
mensagens positivas nas duas histórias. “Robô Selvagem” se encontra para alugar
na Amazon Prime e "Flow", por enquanto, só está nos cinemas — ou no seu
aplicativo de pirataria mais próximo.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE E MELHOR CANÇÃO
Com 13 indicações no total, o francês "Emilia Pérez" chegou ao Oscar como um possível arrasa-quarteirão que iria papar todos os prêmios à vista, tal qual um “Oppenheimer”.
No entanto, o que vimos na cerimônia de ontem foi a queda da realidade de um filme medíocre, produzido por pessoas medíocres que apostaram alto na questão de gênero para encantar os votantes da Academia, mas cuja campanha negativa facilitada pelas declarações preconceituosas de sua atriz principal acabou fazendo com que a produção naufragasse — pelo menos no tocante a cuestão do Oscar, talkey?
Apesar da nossa torcida contra disso, Zoë Saldaña confirmou o seu favoritismo
levando o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel como Rita Mora, a
advogada de Emilia Pérez. A atriz de ascendência porto-riquenha enfatizou as suas
origens no discurso da vitória e ainda arriscou algumas palavras
em espanhol, idioma que ela fala em quase 80% do filme dirigido por Jacques
Audiard.
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Zoë Saldaña |
Saldaña desbancou as atrizes Ariana Grande (“Wicked”),
Felicity Jones (“O Brutalista”), a veterana Isabella Rossellini (“Conclave”) e
Monica Barbaro (“Um Completo Desconhecido”), provando após muitos anos de
atuação, que era mesmo a sua hora de brilhar — apesar de ela fazer parte do
elenco de três das atuais cinco maiores bilheterias do cinema por seus papeis
nas franquias Avatar e Vingadores.
"Emília Pérez" também se saiu vitorioso no Oscar de Melhor Canção Original com "El Mal", repetindo o que aconteceu no Golden Globes. A música interpretada em uma parceria entre Zoë e Karla Sofía Gascón, bateu ninguém mais do que sir Elton John, que concorria com "Never Too Late", composta para o documentário homônimo sobre a sua carreira.
Aparentemente, os votantes dessa categoria não conhecem muito de música, não é mesmo?
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Com fortes chances de vencer o maior prêmio da noite,
segundo alguns especialistas, “Conclave” saiu do Teatro Dolby com apenas uma
estatueta debaixo do braço. O filme que fala sobre a reunião de cardeais para a escolha de
um novo Papa ganhou na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (de Peter
Straughan) e mais nada. A produção disputava oito categorias, entre elas, Melhor
Ator (Ralph Fiennes) e Melhor Filme, mas acabou passando quase despercebida na
premiação.
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Para os brasileiros, o grande momento da noite foi mesmo a
inesquecível premiação de Melhor Filme Internacional que consagrou “Ainda Estou
Aqui” como o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar.
Na disputa, além do já citado “Emilia Pérez”, estavam também
“A Garota da Agulha” (da Dinamarca), “A Semente do Fruto Sagrado” (do Irã) e novamente “Flow”
da Letônia. Eu não me lembro de outra situação em que uma animação ocupou
vaga de Melhor Filme Internacional com live-actions, mas confesso
que suei frio quando “Flow” apareceu na lista e começou a despontar como
favorito nos prêmios de Melhor Animação.
Para quem acompanhou a batalha de Walter Salles e de
Fernanda Torres nos últimos seis meses para que a história de “Ainda Estou Aqui”
fosse vista e reconhecida no circuito de festivais internacionais, a sensação de vitória dentro do peito foi quase tão grande quanto a deles.
Os momentos que antecederam a leitura do envelope feita pela
atriz Penélope Cruz me causaram uma taquicardia absurda, tudo isso para
explodir na catarse em que foi ouvir “I’m Still Here” soando com o sotaque
delicioso da espanhola.
Sobre o palco, no momento do agradecimento, o diretor Walter
Salles voltou a lembrar a luta de Eunice Paiva, a personagem central do longa,
para o reconhecimento das barbaridades praticadas pela Ditadura Militar no
Brasil, no período de 1964 a 1985, e ainda agradeceu:
“Muito obrigado em nome do cinema brasileiro. Depois de uma
perda tão grande durante o regime autoritário decidiu não se dobrar e não
desistir, esse prêmio vai para ela, Eunice Paiva. Pra Fernanda Torres e
Fernanda Montenegro”.
Na internet o frenesi foi gigantesco, e foi muito divertido comemorar feito a um Pentacampeonato de futebol a consagração de um filme que, além de servir como um recorte de um passado ainda muito presente na nossa história, é também muito bem-produzido, muito bem-filmado, muito bem-dirigido e, principalmente, muito bem-atuado por seus protagonistas.
Não tem como não ficar orgulhoso dessa obra e também do prêmio que mostrou não só para o Brasil como também para o mundo que nós “Ainda Estamos Aqui” e lutaremos sempre contra os regimes ditatoriais recorrentes que assombram a nossa história.
MELHOR FIGURINO E MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
O filme “Wicked”, que transporta para as telas o espetáculo
homônimo da Broadway e que faz parte do superestimado universo de “O Mágico de
Oz”, saiu com dois prêmios, o de Melhor Figurino (para Paul Tazewell) e Melhor
Direção de Arte (para Nathan Crowley e Lee Sandales).
MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO
“A Substância” que, antes da premiação, tinha sido elevado como o favorito do Oscar, levou apenas o prêmio de Melhor Maquiagem e Penteado, derrotando outras produções como “Nosferatu” e “Wicked” que também usaram e abusaram da maquiagem para compor os seus personagens.
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Melhor Maquiagem para "A Substância" |
MELHORES EFEITOS ESPECIAIS E MELHOR SOM
O espetacular e grandioso “Duna – Parte 2”, que é infinitamente mais empolgante que o primeiro, também recebeu a sua compensação em dois prêmios técnicos, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Som.
O longa
dirigido por Dennis Villeneuve, ainda disputava o prêmio mais cobiçado da noite,
relacionado entre os dez maiores filmes, mas não teve muita chance contra o
papa-Oscar de 2025.
O MELHOR DA NOITE
Então… veio “Anora”, e todos — ou quase todos — se regozijaram!
Nadando contra a maré de cinéfilos que via o longa de Sean
Baker apenas como “mais uma produção misógina e superficial de Hollywood”, eu
escrevi aqui antes das premiações que “Anora” era sim um dos meus favoritos entre os dez mais e
que o filme, entre todos os que eu acompanhei para chegar inteirado no Oscar,
foi o único que me despertou um real interesse e que eu assistiria de novo sem
qualquer obrigação de “ver só por causa do Oscar”.
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Mikey Madison como "Anora" |
As premiações do longa começaram com a estatueta de Melhor
Roteiro Original, assinado pelo próprio Sean Baker que se baseou em uma
história real entre um amigo seu e uma stripper que foi sequestrada na Europa.
Logo depois, ganhou por Melhor Montagem que novamente levou Sean
Baker ao palco para recebê-lo, uma vez que o diretor de 54 anos também foi
responsável pela edição do longa. Aliás, nessa parte, Baker fez um comentário
espirituoso sobre “ter salvado o filme na edição” e que se não fosse por ele “o
diretor do filme nunca mais trabalharia em Hollywood”.
Ironicamente, ou não, Baker também venceu na categoria Melhor
Direção, batendo os tarimbados James Mangold (de “Logan” e que concorreu ao
Oscar por “Um Completo Desconhecido”) e Brady Corbet (de “O Brutalista”). Baker
também superou a única diretora entre os finalistas, Coralie Fargeat, de “A
Substância”, e para delírio geral da nação, bateu também o arrogante Jacques
Audiard de “Emilia Pérez”.
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Sean Baker e seus quatro Oscars |
Até aí, tudo corria bem, uma vez que “Anora” merecia mesmo as premiações que disputou não só pela divertidíssima história tragicômica que proporcionou à audiência, mas também para enaltecer o trabalho triplo que Baker teve em escrever, filmar e editar o longa sozinho. Parecia de bom tamanho o que o cara já havia ganhado até ali, mas então, vieram as premiações mais surpreendentes da noite.
Mikey Madison, que deu vida a dançarina erótica do título, venceu a categoria de Melhor Atriz, derrotando não só a favorita da noite, Demi Moore — que ganhou o Globo de Ouro por sua atuação em "A Substância" e que lhe rendeu um dos discursos mais inflamados antietarismo do ano —, como também derrotou a nossa Fernanda Torres, que era vista como a melhor entre as concorrentes depois de Moore.
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Fernanda Torres e Demi Moore |
Mikey é indiscutivelmente uma boa atriz que, no futuro, com certeza vai
despontar como uma das melhores da sua geração, mas a meu ver — e de todo o
Brasil! — premiá-la nessa noite foi um erro gravíssimo, em especial por tudo que o papel
de Elisabeth Sparkle representou na carreira de Demi Moore.
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Moore como Elisabeth Sparkle em "A Substância" |
Premiar Madison — que só tem 25 anos! — enquanto a moça disputava com Moore que estava ali por interpretar uma personagem que sofreu de etarismo e que justamente por isso tomou a substância do título do filme para rejuvenescer e voltar às glórias do passado, foi no mínimo irônico por parte da Academia Cinematográfica. Para não dizer grosseiro.
O Oscar de Melhor Atriz foi praticamente uma assinatura e um
carimbo na testa de Moore que "Sim. Você está velha mesmo e nós vamos premiar uma
atriz novinha no seu lugar para colocá-la sob os holofotes que já foram seus!”.
E cá entre nós, com todo o respeito a Demi Moore e a Mikey
Madison, mas a Fernanda Torres comeu as duas com farinha em matéria de
interpretação em “Ainda Estou Aqui”. Nem tem o que dizer!
Coroando ainda mais as polêmicas da noite, “Anora” superou “Conclave”,
“O Brutalista”, “A Substância” e o próprio “Ainda Estou Aqui” em Melhor Filme, e
saiu consagrado do Dolby Theatre com nada menos do que CINCO estatuetas das seis
que disputou.
Eu não vi “O Brutalista” com as suas infindáveis três horas e
quarenta minutos de projeção, mas apenas analisando superficialmente as
críticas ao looooonga, era bem fácil acreditar que a história que premiou
Adrien Brody como Melhor Ator tinha muito mais conteúdo a apresentar do que “Anora”. Sem
falar que “Conclave” era um filme muito mais com “cara de Oscar” do que a
produção criada por Sean Baker.
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Adrien Brody como Melhor Ator por "O Brutalista" |
Não posso negar que eu gostei muito de “Anora” e que
certamente vou reassisti-lo no futuro assim que surgir em algum streaming, mas que essa premiação de “Melhor Filme”
e de “Melhor Atriz” foi bastante exagerada, principalmente se levarmos em
consideração que o longa já tinha sido devidamente premiado na noite, ah, isso
foi!
P.S. – O prêmio de Melhor Curta-Metragem saiu para o ÚNICO
filme que tive a oportunidade de assistir esse ano. “I’m Not A Robot” é um
interessantíssimo curta sobre uma mulher que falha incansavelmente em provar
que não é um robô para um teste de captcha de internet, o que coloca em xeque a
sua própria percepção de humanidade. Aproveita que o filme está disponível no
Youtube e pode ser visto agorinha, agorinha!
P.S. 2 – E o vácuo que o Walter Salles, não-intencionalmente
(pelo menos eu acho!), deixou o coitado do Edward Norton na hora de receber o
prêmio de Melhor Filme Internacional, hein? Eu não vi na hora, mas quando
reprisou o momento na Globo, deu pra ver direitinho a cara de tacho do ator, que
só pôde mesmo ser consolado por nossa Fernandinha Pikachu logo em seguida.
P.S. 3 - E o que foi o discurso interminável do "Pianista" Adrien Brody na hora de receber o seu Oscar de Melhor Ator, o segundo da sua carreira? O John Lithgow não gostou nada nada dessa demora toda!
Eu falei dos vencedores do Oscar desse ano "Anora" e "Ainda Estou Aqui" recentemente no Blog do Rodman. Para acompanhar a resenha sobre "Conclave" e "Emilia Pérez" clica no banner aí embaixo.
NAMASTÊ!
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