22 de julho de 2012

E aí... Comeu?


Pense se algum cineasta maluco acordasse em uma bela manhã e decidisse registrar a conversa de três amigos em um bar, sem censura, sem cortes ou edições que mascarassem qualquer opinião ou comentário dos amigos.
Pensou?
Pois é. E aí... Comeu? é exatamente isso. Uma conversa sincera e direta entre três amigos sobre mulheres, relacionamentos e qualquer outra coisa que envolva esse riquíssimo (e às vezes picante) universo da guerra dos sexos.
Dirigido por Felipe Joffily, que entre outros filmes da sua curta filmografia dirigiu também a comédia Muita Calma Nessa Hora, E aí... Comeu? é baseado na peça de Marcelo Rubens Paiva, que também roteiriza o longa. O elenco principal conta com Bruno Mazzeo (figurinha carimbada em praticamente todas as últimas comédias lançadas no Brasil), Marcos Palmeira (à vontade no papel) e Emilio Orciollo Netto.


Feito para agradar tanto os machões quanto a mulherada que não costuma se ofender com palavrões ou insinuações sexuais, o filme atinge de forma direta seu público, e desde o primeiro minuto de execução já dispara uma enormidade de diálogos pesados, daqueles que você não conseguiria assistir na sala da sua casa com a sua mãe ao lado, por exemplo. Na verdade, essa sinceridade e essa liberdade de expressão é que configura a parte mais interessante da história, uma vez que embora todo mundo adore falar besteiras com os amigos na mesa de um bar, poucos o conseguem ou admitem fazer em público.  Difícil imaginar que não teve um ali na plateia que não virou para o lado e falou “Ei, é isso mesmo!”.
A história mostra o cotidiano de três personagens e suas vidas amorosas, fazendo um paralelo simples com o público. Honório (Marcos Palmeira) é um homem casado e pai de família que vê a esposa Leila (Dira Paes) sair de casa todas as noites arrumada e perfumada, o que logo o faz desconfiar que esteja sendo traído por ela. Enquanto ele se queixa aos amigos, sua desconfiança se acentua, e ele começa a pensar em botar um detetive atrás dela.


Afonsinho (Emílio Orciollo Netto) é um bon vivant, bem abastado economicamente e que tira uma onda de escritor, embora não consiga terminar um livro há vários anos, sempre inventando um novo final para o texto. Solteiro, ele costuma se relacionar com garotas de programa com a qual tenta, em vão, manter uma relação mais madura, e acaba sendo frustrado pelos planos pessoais delas.
Fernando (Bruno Mazzeo) está em processo de divórcio com Vitória (Tainá Muller), e não se conforma com a separação, enquanto afoga as mágoas no bar onde ouve dos amigos aqueles velhos incentivos como “Não fica assim não. Você vai arrumar outra!”, “Vamos sair e fazer um surubex!”. Incapaz de aceitar a separação, Fernando nem consegue dormir na cama de casal que compartilhava com Vitória, e vive solitário, esperando que alguma coisa aconteça para que ele saia daquela deprê.


Pra quem gosta desse tipo de humor mais ácido e não se incomoda com palavras de baixo calão, o filme é muito divertido, e não foram raros os momentos em que a plateia veio a baixo de tanto rir na sessão em que vi. Confesso que tinha bastante tempo que eu não ria tanto no cinema, e a graça era tanto por causa das piadas quanto da realidade da coisa. Em vários momentos é possível se identificar com alguma situação pelo qual os personagens passam, e achei interessante a forma como o diretor encontrou de humanizar os três amigos (e também as mulheres da história), de forma que conseguimos nos ver na pele de qualquer um deles.


Embora o elenco global do filme não conte com grandes nomes da teledramaturgia brasileira, e que por causa disso o mesmo tenha aquela cara de novela das oito (o que faz muito crítico torcer o nariz por aí), ninguém se sai mal no quesito interpretação, e os atores conseguem nos passar aquilo que se propõem de forma natural, como uma boa conversa de bar deve ser. Difícil dizer quem dos três principais do elenco se saí melhor, mas por ora é o suficiente dizer que Marcos Palmeira está bem diferente do eterno pescador Guma que sempre costuma fazer nas novelas da Globo.
Emílio Orciollo tem bastante destaque na trama sem precisar falar com sotaque italiano (alguém se lembra dele interpretando alguma outra coisa além do “italianinho” da novela das oito?) e seu personagem é um dos mais divertidos, ao lado de Bruno Mazzeo que não herdou o mesmo talento interpretativo do pai Chico (falecido em 2012 e homenageado ao fim do filme), mas que mesmo sendo canastrão, sabe causar risos como poucos. Seu diálogo com Marcos Palmeira sobre as razões pelas quais uma mulher pode vir a trair um homem renderam uns cinco minutos ininterruptos de risadas dentro do cinema.
As participações especiais também são outro ponto positivo do filme. Seu Jorge, o agora sempre presente cantor/ator, interpreta um garçom do Bar Harmonia (local onde os amigos se encontram) que parece... O próprio Seu Jorge! Suas falas são curtas e calculistas, mas em quase todas elas a galera caía no riso com a naturalidade e a simpatia que ele imprimia em suas falas.


Outro que dá as caras brevemente é Zé de Abreu, que interpreta o tio de Afonsinho, um editor de livros responsável pela “caída na real” do personagem, fazendo o refletir se escrever é mesmo sua praia, além de Murilo Benício, que representa um publicitário conhecido de Afonsinho, que é o novo namorado de Vitória, a ex de Fernando.
Não posso deixar de citar também as gracinhas Laura Neiva, que representa Gabi, a vizinha novinha adolescente de Fernando que acaba mexendo com a cabeça do cara e de Juliana Schalch, que vive Alana, a garota de programa dos sonhos de Afonsinho. Pros machões de plantão, dois belos incentivos para assistir o filme, além, claro, do mais puro e simples desejo de dar boas risadas.


No desenrolar da trama os dramas e adversidades dos três amigos vão se resolvendo e acompanhamos de perto como eles resolvem seus problemas, deixando de lado seus medos, reconhecendo suas fraquezas e admitindo afinal que sem a mulher, o homem não consegue nem desenhar o “O” com o cu na areia.
Sim, não parece, mas E aí... Comeu? É uma homenagem à mulher, apesar de tratá-la quase que o tempo todo como que um objeto de veneração. As piadas sobre mulheres que jogam os cabelos, matas atlânticas, ruivas, mulatas e loiras não conseguem obscurecer a visão do espectador com relação ao objetivo do filme que é mostrar, afinal, como realmente funciona a cabeça de um homem e o que se passa lá dentro quando o assunto é mulher. Nós homens, ao contrário do que muitas mulheres imaginam, somos práticos, e não há nada que nos incentive mais ou nos motive mais do que um belo par de peitos ou de uma bunda formosa. Entendemos, claro, que só a beleza física não basta, queremos também a sua compreensão, seu carinho, sua inteligência e sua percepção, e por isso somos tão devotos do ser mais maravilhoso que Deus já colocou no mundo. Por elas sorrimos, por elas choramos e nos desesperamos, mas não dá pra viver sem elas.


E aí... Comeu? Bateu a marca de mais de um milhão de ingressos vendidos no Brasil, isso em semana de concorrência com fortes candidatos como O Espetacular Homem Aranha e Era do Gelo 4. O sucesso é irrefutável, e muito disso se deve também ao boca-a-boca da galera que sai do cinema elogiando o longa. Até mesmo parte da crítica se rendeu ao humor escrachado do filme, e E aí... Comeu? Recebeu quatro estrelas de cinco de Rubens Ewald Filho, três estrelas e meia da revista Rolling Stone e duas estrelas e meia do Cinema com Rapadura.
Dedico esse post a minha querida Mariane Marques, que se divertiu junto comigo na sessão e deu muitas risadas, provando que mulher inteligente sabe sim rir até mesmo de humor ácido e pesado. 

NAMASTE!

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