2 de janeiro de 2016

REVIEW: O Despertar da Força


O ano era 1999, e lá estava eu numa sessão matinê de cinema, antes do horário da escola para ver um Star Wars pela primeira vez em tela grande. A Ameaça Fantasma havia acabado de estrear, e aquele filme trazia de volta um clima de aventura e ficção que não se via desde 1983, ano em que O Retorno de Jedi aportou nos cinemas, encerrando aquela trilogia clássica criada por George Lucas. Ninguém sabia o que esperar de A Ameaça Fantasma, apenas que ele contaria uma história dos primórdios de Uma Nova Esperança, na época em que Darth Vader ainda era só o Anakin Skywalker, um pequeno escravo que vivia em Tatooine junto da mãe.

A minha situação?

Eu NUNCA havia assistido um Star Wars antes disso, tudo o que eu tinha eram alguns flashes de memória de um cara grande vestido uma armadura preta e que em algum momento havia cortado a mão de um outro cara loiro com uma “espada laser”, mas além disso, tudo o que eu sabia era o que havia lido em jornais que foram publicados na época falando sobre o que significava Star Wars para a cultura pop. Tatooine, Skywalker, sabres de luz... Tudo isso não passava de nomes para mim, sem significado algum. E então a magia me capturou!


Quem é fã desde sempre DETESTA a chamada “trilogia nova”, essa iniciada em 1999, mas para mim, mesmo hoje sabendo da qualidade inferior dos três filmes com relação aos da trilogia clássica, foi ali que tudo começou. Eu estava numa sessão em que deviam ter mais umas cinco ou seis pessoas ocupando os demais lugares, e até o final do filme eu estava SOZINHO no cinema, curtindo cada cena, cada momento da aventura daqueles jedis e daqueles seres de outro mundo (ou outros mundos). Eu não ia ao cinema desde 1994, quando vi Rei Leão pela primeira vez, e a magia de Star Wars me capturou de uma forma muito precisa, me fazendo querer saber mais sobre aquele universo e aqueles personagens. 


Numa época em que DVDs ainda nem existiam e que fitas cassetes eram caras, me contentei em esperar o SBT reprisar os três primeiros filmes já remasterizados e com uma nova dublagem que colocava, por exemplo, Guilherme Briggs no lugar de Francisco Milani para dar voz ao mercenário Han Solo vivido por Harrison Ford. Esses filmes que passaram no SBT já faziam parte da restauração feita por George Lucas em comemoração aos vinte anos da saga, e incluíam cenas digitais (como a cena em que Han encontra o Jabba) e novos cortes como “Greedo atirou primeiro”.


Dali pra frente eu me tornei um fã incondicional da saga estelar, e não parei mais de acompanhar cada filme que era lançado ou novidade que surgia a respeito de Star Wars. Tinha muita vontade de saber mais sobre o universo expandido e seus livros, e me lembro que uma das primeiras vezes que tive acesso a Internet, corri para colher textos que falavam sobre esse universo expandido, e o que havia além da morte do Imperador e de Darth Vader. Quando o episódio III acabou, senti um vazio imenso com relação à saga, e as palavras de George Lucas “esse é o último filme” me fizeram acreditar que Star Wars estava acabado para sempre e que nada novo com relação a filmes seria criado dali para frente. Então veio a Disney, e todos se regozijaram.

O DESPERTAR DA FORÇA

Sempre achei injusta a expressão “Star Wars só fica bom quando sai das mãos do George Lucas”, até porque, querendo ou não, o papudinho barbudo era o grande criador da porra toda. Como ele podia não saber o que estava fazendo se ELE HAVIA INVENTADO todo aquele universo do qual éramos fãs? Ele havia criado um dos vilões mais épicos de todos os tempos, ele havia desenvolvido a arma “mais elegante” do cinema (ou vai dizer que você nunca quis ter um sabre de luz??), o conceito de planetas, de uma guerra entre República e Império, entre a Força e o Lado Sombrio... Além disso, ele criou os personagens mais carismáticos de todos os tempos. Han Solo, Chewbacca, RD-D2, C3-PO... Até mesmo Luke Skywalker, interpretado por Mark Hamill, que era um ator BEM RUIM na época, tinha seus momentos, e sempre achei bem injusto a forma como começaram acusar Lucas de ser o grande “merdeiro” por trás da nova trilogia. Desde a escolha do elenco até algumas decisões equivocadas (Midi-Chlorian?? Jar-Jar Binks?) Lucas errou muito nos episódios I, II e III, porém isso não podia apagar os méritos que ele havia conquistado com os episódios IV, V e VI.


Logo que a Disney comprou os direitos da franquia e todos os estúdios (Rancho Skywalker e a ILM) de George Lucas, e anunciou que colocaria J.J. Abrams à frente do filme, o mundo Nerd entrou em polvorosa, e durante os últimos três anos não se falou em outra coisa além de Star Wars. A marca se mostrou tão forte que revitalizou todos os setores em que ela podia ser utilizada, e se você não vive em Marte ou em algum planeta da Orla Exterior, deve ter notado o aumento do termo “Star Wars” em tudo que envolve séries, jogos e brinquedos.


É gostoso viver em uma época em que TODO MUNDO sabe o que é Star Wars, ou que pelo menos já tenha ouvido falar. Até quem nunca tinha visto nenhum dos seis filmes anteriores entrou no Hype de O Despertar da Força e o filme funcionou como um imenso catalisador, já que pegou os novatos, os velhotes e até mesmo quem só vai ao cinema de vez em quando pra ver “qualquer coisa”. J.J. e sua equipe, conseguiram fazer um filme grandioso que homenageia a trilogia clássica, nos faz esquecer da “nova” e isso sem esquecer de apresentar elementos novos que vão compor o futuro da saga. Está tudo lá em um pouco mais de duas horas, e nas duas sessões em que vi o filme, não havia um lugar vazio sequer. O público queria ver, afinal, que furdunço era esse aí de que tanto falavam.

OS PERSONAGENS

J.J. Abrams sabia que para conquistar vários públicos distintos ele precisaria mesclar o velho com o novo, e com relação aos personagens isso funcionou MUITO BEM. Os fãs antigos bateram palmas quando Han Solo (Harrison Ford) e Chewie (Peter Mayhew) entraram em cena, dentro da Millenium Falcon que acabara de ser recuperada depois de anos perdida, e ouviu-se interjeições de felicidade quando os androides R2-D2 e C3-PO (Anthony Daniels) voltaram a aparecer, mesmo que por pouco tempo em cena. A mesma coisa aconteceu no reencontro de Leia Organa (Carrie Fisher) e Han Solo depois de anos separados, e até mesmo o fan-service de J.J. que mostrou objetos da trilogia clássica, como a esfera de treinamento do Luke no Episódio IV e o xadrez de monstros holográficos do Chewie serviu para alegrar os fãs mais velhos. Nós precisávamos dessa ligação com a trilogia clássica para saber que Star Wars estava de volta, mas ao mesmo tempo precisávamos de coisas novas. O que viria dali pra frente?


A introdução dos protagonistas foi certeira, e em vinte minutos de filme não tinha um ser humano na plateia que não estava torcendo efusivamente pelo stormtrooper FN-2187 (John Boyega) e pela catadora de lixo de Jakku Rey (Daisy Ridley) ou que não tivesse lamentando a “morte” do carismático piloto Poe Dameron (Oscar Isaac). 


Diferente de Hayden Christensen que era um protagonista horrível nos episódios II e III, e do qual mais sentíamos ódio do que amor, Finn, Rey e Dameron criaram empatia com o público logo em sua primeira aparição. Eles eram personagens que nos contavam muito mesmo em silêncio, e isso fez com que criássemos ligações afetivas com eles. Antes mesmo de Finn tirar seu capacete, nós sabíamos que ele não queria fazer parte daquilo, e que ele era um cara diferente daqueles soldados vestindo armadura branca e que seguiam ordens sem pestanejar. Já Rey, não há como não nos comovermos com aquela situação em que ela vive, num planeta deserto tendo que trabalhar arduamente para garantir a “meia porção” que vai alimentá-la naquele dia. Fazia tempo que eu não via personagens tão bem construídos em um filme de aventura, e muito disso se deve também ao elenco.


À vontade em seus papeis, tanto Daisy Ridley quanto John Boyega agarraram sua oportunidade em dar as caras em uma produção gigantesca quanto Star Wars e não soltaram, dando veracidade a seus personagens. Apesar de ser um desertor que precisa fugir de sua antiga vida (a única que ele conhece) a todo custo, Finn não se restringe a ser um personagem dramático, e graças ao talento de Boyega, o personagem ganha uma personalidade única, que nos faz vê-lo como a nós mesmos dentro da tela, soltando um “uhuuu” no interior de uma Tie-Fighter ou soltando uma piada ocasional disfarçada de comentário sério. Muito se questionou sobre o fato de Finn ser um protagonista negro em meio ao universo caucasiano criado por George Lucas, mas se você está imerso na aventura desde o início, e preocupado com a história, não faz qualquer diferença o personagem ser branco, negro ou azul. Finn não é um “personagem negro” interpretado por um “ator negro” e sim um personagem interpretado por um ator negro que merece todos os méritos pelo carisma de seu FN-2187.


O sotaque britânico de Daisy Ridley dá um charme a mais a sua Rey, e nos remete a outros atores ingleses que deram vida a personagens das trilogias anteriores. Ridley demonstra logo que não é só uma menina bonita, e sua personagem mesmo sem qualquer fala nos primeiros minutos em que aparece nos convence de o quanto é batalhadora e corajosa, vivendo em um planeta inóspito e árido. Ao mesmo tempo em que sua vida parece ser dura, ela continua demonstrando ter esperança quanto à volta dos familiares que a deixaram ali para ser cuidada por um dono de ferro-velho, e embora seja uma “mulher” sozinha num mundo de machões, ela consegue se virar muito bem, cuidando do próprio nariz (e quebrando o dos outros!).


Ainnn Rodman! Uma protagonista mulher que só está ali para preencher cotas!

Sério, gente! O mundo se tornou um lugar muito chato de se viver. Quem foi o filho da puta que foi assistir O Despertar da Força e se incomodou com o fato da protagonista ser uma menina? Ou que ficou torcendo CONTRA ela por ela ter uma pepeca em vez de uma piroca?

Pelamor de Odin!


Rey é uma das personagens femininas mais bem construídas da saga Star Wars inteira, e não falo só por ela ser “corajosa e impetuosa”, até porque Leia e Amidala também eram e possuíam a profundidade de um pires! Ela conquista seu espaço com pouquíssimo tempo em tela, e não só nos faz torcer por ela como nos faz acreditar que ela MEREÇA segurar a lightsaber de Luke Skywalker no final do filme. Rey com certeza terá um futuro brilhante nos dois próximos filmes que vão fechar mais essa trilogia, e não tenho dúvidas que por muito tempo ela vai ser a PRINCIPAL heroína do cinema, servindo de exemplo para gerações e gerações de meninas que vão poder se espelhar nela assim como nós meninos crescemos mirando no exemplo de Luke Skywalker. 

E o BB-8, hein?


Eu achei que seria impossível substituir em nossos corações o bom e velho R2-D2, mas depois de ver o pequeno BB-8 rolando pela tela cheio de personalidade, eu devo admitir que fiquei dividido. É impressionante como a magia do cinema consegue imprimir tanto carisma em uma personagem que é uma bola metálica e que não tem expressão facial. Durante todos os momentos fiquei me lembrando de Wall-E, o primeiro robô que me fez chorar aos soluços no cinema, e BB-8 foi tão bem construído que por diversos momentos vi o cinema entoar um “Oooiiiinnnnnnn” em uníssono quando o pequeno robozinho aparecia em cena. Além de ser muito importante para a trama inicial do filme (já que ele esconde dentro de si o pedaço de um mapa que vai conduzir a Resistência até o paradeiro do desaparecido Luke Skywalker), BB-8 é o personagem mais fofo do filme, ainda mais quando ele parece ter uma verdadeira devoção ao R2-D2 que está desativado desde a partida de seu mestre Skywalker. Devo confessar que não gostava da ideia de ter um substituto do “Arthur” na nova trilogia, mas com o desenrolar da história faz sentido que outro robô faça parte da aventura, já que R2 está desativado.

A AÇÃO

Uma das primeiras dicas que dou, se é que você ainda não viu o filme, é: Veja em IMAX!
Depois que conheci a reprodução em IMAX nunca mais achei qualquer graça no 3D tradicional, e não consegui ter qualquer imersão no filme da primeira vez que o assisti. A direção de J.J. é precisa no quesito “te colocar dentro da ação”, e é impressionante o quanto o IMAX potencializa essa característica. 


Em vários momentos me senti fugindo das explosões causadas pelos Tie-Fighters e voando junto com as X-Wings, isso porque as cenas te colocam DENTRO do filme pela forma como J.J. optou filmá-las. Um dos grandes problemas da trilogia “nova” de George Lucas foi exagerar no CGI e ser incapaz de gravar qualquer cena, por mais simples que fosse, SEM a muleta dos efeitos digitais. Revendo os três filmes, dá pra notar que o velho Lucas colocou CGI até mesmo em lutas que podiam ser apenas coreografadas com atores reais, isso sem falar na imensidão dos cenários de chroma-key que tornaram os filmes datados e falsos ao extremo. Nesse sentido, Abrams ganhou vários pontos, aumentando as cenas com efeitos práticos e em locações reais, que não nos davam aquela sensação de “cacete! Que bagulho falso!”.


Pensando por alguns minutos, consigo pensar em pelo menos uma cinco ou seis cenas impactantes de o Despertar da Força em que o cenário é real e em que as lutas e batalhas foram filmadas em lugares que existem de verdade. Aposto que você também pode fazer esse exercício.


Sem as firulas de saltos exagerados que pareciam cutscenes de videogame, as lutas com sabres de luz remeteram diretamente aos episódios IV, V e VI, algo mais grosseiro, com menos técnica, mas que se assemelham mais a uma batalha de “espadas” realista. 


E fazia sentido, já que nenhum dos protagonistas era um exímio jedi ou velhos experientes no uso da Força... Exceto, o vilão do filme Kylo Ren!

PROBLEMAS DO FILME

Não é a primeira vez que o vilão do filme consegue estragar quase que por completo uma história esse ano, e senti que Vingadores e o Homem Formiga padeceram do mesmo mal, colocando inimigos fracos diante de heróis tão mais carismáticos. Kylo Ren (Adam Driver) é um vilão medíocre, e as coisas só pioram quando ele decide tirar seu elmo diante de Rey, procurando de alguma forma... Hã... Assustá-la com sua feiura???


OK. Digam o quanto quiser que ele ainda é um vilão em formação e que os sentimentos contrastantes com relação a Luz e o Lado Sombrio o fazem se comportar feito um adolescente mimizento (o que de fato ele é!), mas seja como for, é difícil engolir que um dos maiores anti-heróis da história do cinema tenha perecido pelas mãos desse bosta!


Seu comportamento durante o filme todo só me faz pensar que se Leia e Han tivessem dado uma boa surra nesse merdinha quando ele era menor teria resolvido à maioria de seus problemas. Ele começa o filme muito bem, comandando a missão mais sangrenta que já vi um grupo de stormtrooper participar, matando aldeões a rodo e sem qualquer remorso, e nos primeiros minutos acreditamos fielmente que aquele cara imponente vestindo preto e falando com voz eletrônica é REALMENTE digno da herança de Darth Vader. A imponência vai pra vala, no entanto, quando ele decide tirar o capacete e demonstrar o quanto ele é só um moleque birrento que odeia os pais sem qualquer razão aparente. O Anakin pelo menos tinha uma razão pra ser um cara revoltado!


O fato dele levar uma surra da Rey no final da história não o deixa em melhor situação, já que ao contrário dela, ele tinha treinamento jedi há muito mais tempo, com o agravante de ter cedido ao lado negro, o que o deixa MUITO MAIS overpower. O que explica o fato dele ter sido deixado no chão por uma aspirante a Miss-Gari sem treinamento jedi? Apenas o ódio pelo qual todos os espectadores estavam sentindo dele pelo que tinha aprontado minutos antes na cena da ponte?


Outro grande problema do filme foi o péssimo aproveitamento da tão badalada Capitã Phasma, interpretada por Gwendoline Christie, a Brienne de Game of Thrones. A personagem apareceu em tudo quanto foi poster, fazendo pose de quem ia mandar na porra toda e tudo que ela fez no filme inteiro foi dar um esporro em Finn por ele ter esquecido a bandoleira da arma tirado o capacete. Não participou de nenhuma batalha, não foi decisiva em nenhum momento e ainda entregou a rapadura para que Han e Finn exprudissem a Starkiller. Qual foi a importância dela mesmo para o roteiro? 


Como era de se esperar de uma primeira parte de uma trilogia, O Despertar da Força deixou várias pontas soltas que serão respondidas nos próximos filmes (esperamos!), e uma delas é, quem afinal é o Supremo Senhor Fodão Snoke (Andy Serkis), que aparece em projeções holográficas comandando as ações de Kylo Ren e do General Hux (Domhnall Gleeson). Pouco sabemos do que aconteceu entre o vácuo do episódio VI e o VII, e esperamos ávidamente por respostas que digam o que Diabos aconteceu na Academia Jedi fundada por Luke, o que Snoke tem a ver com isso e como ele conseguiu fundar a Primeira Ordem com o poder bélico suficiente para criar a Starkiller, a irmã anabolizada da Estrela da Morte.

Já foi complicado esperar 10 anos desde o final de A Vingança dos Sith até que alguém resolvesse fazer outro Star Wars, e agora que gostamos do resultado de O Despertar da Força, nos parece meio incômodo ter que esperar até 2017 para que parte destas perguntas sejam respondidas. Mas o que há se fazer, não é mesmo?

NOTA: 8,5

QUE A FORÇA ESTEJA COM VOCÊ!

Um comentário:

  1. Concordo com tudo o que você disse cara. Realmente, tinha me esquecido o quanto foi mal aproveitada a capitã Phasma, mas acho que ela ainda vai render muito nos próximos filmes. Kylo Ren eu penso que não foi lá muito bem feito, mas tenho esperança de que os próximos filmes vão mostrar um bom motivo para ele ser assim, e motivos melhores que os de Anakin.

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