29 de dezembro de 2020

A guerra do streaming e o fim do cinema



O Covid-19 vai deixar marcas profundas em todos nós e não é de se espantar que até mesmo as grandes corporações estejam sofrendo com essa pandemia que se alastra desde meados de março de 2020 pelo mundo. Tendo em vista que as principais salas de cinema mundiais não retornarão às suas atividades normais num futuro próximo e que mesmo após a vacina ter sido sintetizada nossas vidas ainda estarão bastante tumultuadas por conta do coronavirus, a Warner decidiu dar um passo além e anunciou no começo de dezembro que TODOS seus grandes blockbusters estarão disponíveis em sua plataforma de streaming SIMULTANEAMENTE ao lançamento dos cinemas. 



O primeiro grande teste da Warner foi com o filme Mulher Maravilha 1984 que estreou nas salas de cinema e no HBO Max no dia 17. Até o presente momento, a produção dirigida por Patty Jenkins — que deveria ter estreado em abril — teve uma bilheteria mundial de US$ 85 milhões — US$ 16 milhões dos quais só nos EUA — e já foi visto por metade dos assinantes do serviço de streaming da Warner, o que obviamente é algo bem considerável.



Ainda é cedo para se dizer se a ideia de lançar grandes produções tanto no streaming quanto nos cinemas vai ajudar a salvar os cofres bilionários das empresas de entretenimento durante a pandemia, mas a Warner já anunciou que além de Mulher Maravilha 1984, todos seus grandes blockbusters previstos para 2021 também serão lançados nesse mesmo esquema. Filmes como Matrix 4, Duna, Godzilla vs Kong, Tom e Jerry (o filme) e o novo Esquadrão Suicida também constarão no catálogo da HBO Max logo que os filmes forem lançados no cinema e o mais importante: sem que o assinante precise pagar mais por isso. 



Na guerra do streaming, a Disney, assim como a Warner, tem feito experimentações com seu Disney + e foi a primeira empresa a colocar um de seus grandes blockbusters online durante a pandemia. A versão live-action da clássica animação Mulan teve lançamento exclusivo na plataforma em setembro e causou bastante burburinho por não ser uma adaptação fiel a animação de 1998. Além disso, o filme só podia ser visto em streaming se o assinante do Disney + adicionasse um valor extra ao que já pagava mensalmente — algo como se você só pudesse ver o filme no cinema se comprasse o combo com refri+pipoca — e no Brasil isso causou certo incômodo.



A Disney vai manter estratégia parecida com seus próximos lançamentos em streaming — pelo menos com aqueles que serão lançados simultaneamente com os cinemas — e já anunciou que a animação Raya and the Last Dragon será adicionada ao catálogo a partir de março de 2021, com um acréscimo de US$ 30 (R$ 150,00) à mensalidade para quem quiser ver na estreia em casa, em vez de ir ao cinema. 



A Disney ainda não se pronunciou quanto à sua estratégia para enfrentar a pandemia ou sobre os filmes que estão na geladeira por enquanto — como Viúva Negra, por exemplo —, mas nas últimas semanas anunciou 10 novas séries dentro do Universo Marvel dos cinemas e mais 10 sobre Star Wars, o que nos leva a crer que seu foco agora vai ser em seu serviço de streaming e não tanto nas grandes produções hollywoodianas. 



Com a normalização dos serviços de streaming, com lançamentos exclusivos sendo feitos diretamente para essas plataformas ao longo de todo o próximo ano, qual será o futuro das salas de exibição e dos grandes operadores de cinema?  

Falando agora particularmente, se tem uma coisa que eu gosto é de ficar em casa curtindo um filminho ou uma série no som bacanudo do meu home theater, mas mesmo com a facilidade que os serviços de streaming proporcionam —incluindo aí os preços mais baixos em comparação com todo o rolê que inclui uma "simples" ida ao cinema — na minha visão, nada se compara à experiência de ver um filme na telona.



Em minha infância eu não tive muitas oportunidades de ir ao cinema — toque a música triste do Hulk em sua cabeça. O primeiro filme que assisti em tela grande foi O Rei Leão (1994) e só consegui ir de novo no final do século para assistir Star Wars - Episódio I e o Fim dos Dias com o Schwarzenegger. Já no século XXI, quando consegui ir assistir o Homem Aranha (2002) no cinema, a experiência foi inacreditável e tenho lembranças até hoje da sensação incomparável de estar em uma sala confortável, com ar condicionado, ouvindo a reação das pessoas ao meu redor com as cenas impactantes e o cheiro da pipoca no nariz. Acho todo o clima do cinema algo maravilhoso até hoje e a menos que eu ganhe na Mega Sena e possa construir uma sala de cinema em casa, nunca vou poder reproduzir toda essa experiência, por melhor que seja a banda de internet ou melhor que seja o áudio de meu home theater

Você é velho, Rodman! Ninguém gosta mais de cinema lotado, gente levantando no meio do filme, falando alto, usando o celular! O esquema é streaming! 

Tô ligado, jovem padawan!

Eu mencionei antes a sensação de poder ouvir a reação das pessoas ao meu redor ao filme, mas até mesmo quando a sala do cinema está quase vazia AINDA assim vale a experiência. Em 2019 posso dizer que não encarei mais do que duas ou três sessões cheias em cinema e a grande maioria foi na tranquilidade. Ar condicionado no talo, som mais alto que a mastigação da pipoca e uma tela gigante em minha frente me fazendo esquecer dos problemas por duas horas.



Eu tenho quase um caso de amor com o cinema e até mesmo os filmes mais horríveis parecem ganhar uma aura diferenciada na projeção. É algo difícil de explicar. 

A explosão dos serviços de streaming vai trazer uma comodidade que muita gente sempre quis ter de ver seus filmes preferidos em casa, esticadão no sofá ou na cama, sem precisar enfrentar filas, sem ter que procurar vagas de estacionamento ou do incômodo que é ter gente falando alto enquanto o filme está sendo projetado. No entanto, não há como negar que daqui a pouco tempo, pagar uma sessão de cinema não vai ser quase nada comparado aos valores acumulados que vão acarretar assinar três, quatro serviços diferentes para se ter o privilégio de ver um filme em seu lançamento, sem falar nas taxas extras (não é mesmo dona Disney?).  

Você pode estar lendo esse artigo em seu celular com uma banda de fibra ótica de 200 milhões de megas, mas é importante lembrar que tem lugar no Brasil que mal chega 1 Mb de velocidade, além do que a interrupção de banda causa um desconforto inacreditável no meio de um filme ou de um episódio de série. Para quem não tem uma internet decente em casa ou sequer pode se dar ao luxo de assinar Netflix, Amazon Prime Vídeo, Globoplay, Disney + e a vindoura HBO Max — ainda sem data de estreia no país da antivacina — todas de uma vez, uma sessão de quarta-feira a R$ 10,00 no cinema viria muito bem a calhar!

Por enquanto, ainda não está declarado o fim oficial dos cinemas, que continuarão moribundos no próximo ano ainda sob efeito da pandemia do Covid-19, mas se você tem algum bom senso e preza pela vida de seus entes queridos — pelo menos aqueles que não são bolsominions — não vai ser tão cedo que iremos rever cenas como o cinema levantando de emoção enquanto o Capitão América empunha o Mjolnir em Vingadores - Ultimato.

Fala a verdade... nenhum serviço de streaming jamais vai proporcionar a emoção de ver uma cena como aquela em meio a uma galera tão emocionada e vibrante quanto você. Esse tipo de coisa nunca mais vai acontecer. Uma pena.

Estamos ficando velhos, Magneto!

P.S. - Eu não sou muito bom de matemática, mas tendo em vista que você seja um entusiasta dos serviços de streaming e não queira ficar para trás nas rodas de conversas sobre os filmes e séries mais comentados da semana, você teria que desembolsar os já costumeiros R$ 32,90 da Netflix — afinal, você não quer perder Os Cambitos da Rainha e nem a última temporada de La Casa de Papel! —, os R$ 9,90 da Amazon Prime, os R$ 37,90 da Disney + — pra deixar o Mickey ainda mais rico e também para ver o Baby Yoda — e se quiser aproveitar o combo Disney + e o Globoplay, R$ 43,90. Dá para ver o Faustão ao vivo no domingo, conferir a excelente série Desalma e ainda rever o Pescador Parrudo em Kubanacan. Como disse, sou péssimo em contas, mas chutando por alto, se você quiser mesmo ser O entusiasta do streaming — e sem contar com a sua conta no Spotify ou no Deezer — você vai ter que desembolsar o valor módico de R$ 86,70 mensais... ou algo próximo a isso. Se você tiver namorada (o), é mais ou menos o que gasta a uma ida com ela (o) ao cinema, mas sem as experiências já comentadas anteriormente.

P.S. 2 - Rod Rodman ainda não assinou o Disney +... quem sabe ele se decida quando chegarem as séries da Marvel por lá! 

NAMASTE!   

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