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21 de março de 2014

O dia em que Michael Jackson QUASE comprou a Marvel


Quem via Michael Jackson apenas como o ícone genial da música ou a pessoa excêntrica que causava furor por onde quer que passava, pouco sabia de seu talento incrível para os negócios, bem como seu impressionante faro para aquisições milionárias. O mesmo homem que adquiriu o catálogo ATV na década de 80, contendo quase todas as canções dos Beatles, numa época em que nem mesmo Paul McCartney se interessava por ele (ou quisesses desembolsar alguns milhões por ele!), esteve bem perto de comprar no final da década de 90, uma das empresas mais famosas do mundo Nerd (e que hoje vale alguns bilhões de Dólares!), a Marvel.


A Marvel conheceu seu céu no início dos anos 90, fazendo seus principais títulos baterem recordes e mais recordes de vendagens trazendo à baila artistas hoje consagrados, mas que na época não eram nada mais do que boas promessas. Caras como Todd McFarlane e Jim Lee fizeram com que o Homem Aranha e os Fabulosos X-Men se tornassem ícones de massa definitivos, e fizessem com que a editora fixasse seu nome no topo das vendas de quadrinhos por muito tempo, fazendo a DC/Warner amargar um incômodo segundo lugar até o final da primeira década dos anos 2000. Prestigiados, vaidosos e capazes de expandir seu sucesso por conta própria, McFarlane e Lee resolveram sair da Marvel para andar com suas próprias pernas, criando assim a Image Comics, editora que num primeiro momento chegou a ofuscar o brilho da própria Casa das Ideias, começando aí sua derrocada.


 Além dos dois artistas, nomes como Rob Liefeld, Marc Silvestri e Erik Larsen, que também trabalhavam em títulos importantes e ajudavam a manter seu sucesso com seus traços dinâmicos e expressivos, também se mandaram da Marvel, deixando a editora em uma situação muito difícil para manter seus super-heróis ainda interessantes. Nessa época surgiram vários artistas genéricos que tentavam emular os traços dos desenhistas famosos que haviam abandonado a empresa, mas a queda parecia ser sem fim, fazendo com que o próprio rendimento das vendas não bancasse mais as dívidas. Na tentativa de recuperar a editora, vários investimentos malsucedidos feitos pelo então presidente da empresa Robert Perelman decretaram a banca rota da Marvel, que chegou a pedir falência em 1996, mesmo tendo em seu catálogo personagens muito famosos como Capitão América, Hulk e Homem de Ferro. No final da mesma década, Ike Perlmutter, um israelense que já fazia parte do Conselho de Administração da Marvel desde 1993, e Avi Arad, ambos sócios da empresa Toy Biz de brinquedos licenciados da Marvel, assumiram a dianteira da empresa e lhe deram uma sobrevida, pelo menos até a chegada do novo milênio.


O fato é que mesmo salva parcialmente da falência, a Marvel entrou nos anos 2000 meio que capenga, foi quando a dona do Homem Aranha fez os olhos do Rei do Pop brilharem com a possibilidade de que a editora de quadrinhos se tornasse seu novo catálogo ATV (levando-se em conta o potencial que os personagens sob licença da mesma possuíam). Em um encontro com o próprio Stan Lee, criador da maioria dos heróis que formam o Panteão Marvel, Michael Jackson pediu que Lee o ajudasse a administrar a empresa, caso de fato, conseguisse adquiri-la, e segundo Dieter Wiesner (empresário de Michael na época) em entrevista a Randall Sullivan para o livro INTOCÁVEL, uma biografia sobre os últimos anos de Michael Jackson, as negociações entre o Rei do Pop e Ike Perlmutter estiveram muito próximas de se chegar a um acordo, no que o dono da empresa pedia a bagatela de 1 Bilhão de Dólares por ela. Segundo Wiesner, Stan Lee havia topado ajudar Michael a administrar a Marvel, e, além disso, o cantor estava disposto a oferecer bem mais do que a empresa valia a Perlmutter, tudo isso para que ele, enfim, começasse seus projetos cinematográficos.


Na época, devido os diversos escândalos da qual havia sido vítima, Michael Jackson queria se manter afastado dos palcos e dos holofotes, trabalhando com aquilo que para ele, seria um grande motivo de realização: O cinema. Com a compra da Marvel, Michael tinha em mente o lançamento de um filme do Homem Aranha (muito antes de um filme do Homem Aranha ser imaginado), e ele passou três anos com a ideia obstinada de realizar seu sonho. Embora tivesse feito a exigência, no mínimo bizarra de ele mesmo viver Peter Parker (alguém consegue imaginar isso?) nos cinemas, Michael sabia o potencial midiático que o personagem possuía (algo que a própria Marvel duvidava), e ele estava disposto a bancar suas ideias. A Sony, no entanto, detentora do contrato de Michael e real dona de sua marca, não permitiu que o artista desse o catálogo ATV dos Beatles como garantia pela compra da Marvel, e esse foi o real empecilho para que ele virasse dono da Casa das Ideias. Frustrado pelas barreiras impostas por sua gravadora, Michael ainda tentaria outras inserções no mundo do cinema e do entretenimento audiovisual, embora sem sucesso.


O mais irônico é que, para sanar suas dívidas e não voltar a pedir falência, Perlmutter e Avi Arad venderam os direitos de seus personagens para vários estúdios de cinema diferentes, fazendo com que o Quarteto Fantástico, Demolidor, Motoqueiro Fantasma e os X-Men ficassem com a Fox e o Homem Aranha (pasmem) com a Sony. A empresa que também gerenciava a carreira musical de Michael Jackson, com o aval da Marvel, lançou o primeiro filme do Homem Aranha dirigido por Sam Raimi e estrelado por Tobey Maguire em 2002, o mesmo ano em que Michael tentou pela última vez adquirir a Marvel. O filme, como Michael parecia prever, foi o primeiro sucesso estrondoso da empresa nos cinemas, o que ajudou a salvá-la da sarjeta e que ainda pavimentou um caminho brilhante que se segue até hoje com os filmes da Marvel Studios como Homem de Ferro e Vingadores. É estranho imaginar isso hoje, mas será que as coisas para a Marvel teriam acontecido diferentes se Michael Jackson fosse seu dono na época conhecida como a grande volta por cima? Toque de Midas ao menos o artista possuía, pena que poucos acreditavam no real potencial empresarial que Michael tinha, ou fizessem de tudo para ofuscá-lo e depois se aproveitarem de suas ideias. Pena mesmo.

Fontes:

Intocável - A Estranha Vida e a trágica morte de Michael Jackson (Randall Sullivan), Editora Companhia das Letras.





NAMASTE!            

17 de março de 2013

Chorão - Só os Loucos Sabem

 
O ano de 1997 foi uma espécie de hiato para o Rock N’ Roll brasileiro. Ainda estávamos de luto por causa dos Mamonas Assassinas, os Raimundos já faziam algum sucesso, mas permaneciam no underground, A Legião Urbana havia se desfeito devido a morte de seu líder e vocalista Renato Russo, o Capital Inicial estava no ostracismo e bandas como O Rappa  e Detonautas ainda não tinham estourado para o grande público. Havia apenas o silêncio musical, e ele incomodava.

O álbum Transpiração Contínua Prolongada do Charlie Brown Jr. lançado nesse mesmo ano e produzido por Rick Bonadio (também produtor dos Mamonas) veio para mexer as estruturas do Rock no Brasil, iniciando um crescente que ainda duraria longos anos, todos eles aproveitados por mim em minha adolescência de ouvinte da 89 FM, a Rádio Rock!



Músicas como o “Coro vai comê”, “Proibida pra mim” e “Tudo que ela gosta de escutar” começaram a estourar na maioria das rádios do país, e os garotos de Santos começaram a ganhar projeção nacional com seu som que misturava punk rock, reggae e skate music. As letras, em sua grande maioria escritas por Chorão, tratavam da realidade daqueles moleques de baixa renda que já haviam vivido várias mazelas em sua vida, e essa foi uma das grandes razões pela qual o público se identificou com o Charlie Brown Jr. Havia muito de verdade naqueles versos.  
  

O segundo disco, lançado em 1999 Preço Curto... Prazo Longo é pra mim, o melhor da carreira de quase 20 anos da banda, e possui uma porção dos maiores sucessos dos caras como “Vou te levar” (tema da Malhação durante 7 anos), “Zóio de Lula” (que imortalizou a célebre frase “meu escritório é na praia, e eu tô sempre na área”), “Confisco”, “Não deixe o mar te engolir” e “O Preço”, onde Chorão conta sua história de garoto pobre que se tornou um astro do rock. 



Dificuldade então
Passava eu, meu pai, minha família e meus irmãos
Sem perceber larguei a escola
E fui pra rua aprender
Andar de skate, tocar, é
Corre pra ver o mar


Nessa época as letras das músicas do Charlie Brown já estavam na ponta da língua, e embora eu nunca tivesse passado fome na infância, vivido nas ruas, andado de skate e nem tampouco me juntado a galera “maloqueira” (tipo a turma do fundão das escolas) eu também me identificava com suas canções, em especial pelo tom de protesto que elas traziam, algo que naquele mesmo período só era possível se escutar com o Rap, na boca de caras como Mano Brown (dos Racionais Mc’s) e do Gabriel, O Pensador, outro que fez o caminho inverso, foi do asfalto para o morro para ver “qualé que é”. 


Chorão possuía toda a atitude Rock N’ Roll já tradicional de astros que, como ele, subiam ao palco e faziam a galera pular com seu som. Ele nos passava a imagem de “marrento” e encrenqueiro, e não fugiu dos estereótipos, arrumando confusão com outros artistas (Marcelo Camelo manda abraços), com fãs que questionavam as escolhas que ele e a banda haviam feito em sua carreira, e com os próprios amigos de grupo, ocasionando até a separação do Charlie Brown Jr. em 2005. Tudo isso, no entanto, era apenas uma imagem externa e precipitada de um cara, apontado por pessoas próximas, como sendo o contrário disso. Nós que não tivemos uma convivência com o cara, não precisamos nos ater apenas a relatos de familiares ou amigos para sabermos quem, afinal, foi Alexandre Magno. Sua obra era um diário aberto de sua vida. Suas músicas diziam tudo que ele pensava, sentia e fazia, e não é difícil fazer uma bela análise da vida de Chorão apenas ouvindo as músicas que ele escrevia.

 
 
Se por um lado “Rubão” ("Pago pra vê tcharroladrão"), “Confisco” ("Eu sou da lei seu trouxa, eu confisco") “Papo Reto” ("Eu vou fazer de um jeito Que ela não vai esquecer") nos inspiram a gritar e entrar num bate-cabeça, Chorão sempre soube dosar seu lado, digamos assim, mais sensível e romântico em letras que todo cara gostaria de cantar um dia para uma garota. “Hoje eu acordei feliz”, “Como tudo deve ser” e “Vícios e Virtudes” são bons exemplos que a “mente nem sempre tão lúcida” de Chorão às vezes não queria tão somente protestar contra as injustiças do mundo. Ele também era o cara que mesmo “achando legal ser errado” queria conquistar a garota dos sonhos, e que a queria “levar dali”, para um lugar melhor. Esse era o Chorão que nós aprendemos a gostar, e nenhum de nós imaginava que seu fim seria tão semelhante ao de vários astros de rock em decadência com a qual fomos obrigados a entrar de luto ao longo dos tempos. Uma pena.



O dia 06 de Março começou triste com a notícia de que Chorão havia sido encontrado morto em seu apartamento de Pinheiros. Recebi a notícia logo de manhã pelo Twitter, e acompanhei por todo aquele dia o desenrolar dos fatos, até saber que as circunstâncias de sua morte eram bem parecidas com a de outros roqueiros como Kurt Cobain, que também havia sido encontrado morto em seu apartamento depois de alguns dias. Embora algumas letras de suas músicas ("parecia inofensiva, mas te dominou") e sua atitude bad boy dessem indícios, eu nunca imaginei que Chorão fosse um usuário de drogas hardcore, e demorei a acreditar que essa fosse a principal causa de sua morte prematura. Infelizmente, todos aqueles problemas que ele parecia ter superado vieram à tona ("o homem quando está em paz não quer guerra com ninguém"), e ele se rendeu diante de um inimigo muito poderoso que parecia ter combatido a vida todo e nos ensinado a também combater com sua música: As Drogas



A meu ver o suicídio não é um ato de fraqueza extrema como muitos apontam, e sim um ato de liberdade. A vida nos dá diversas maneiras de “lutar pelo que é meu” e de encarar nossos problemas com coragem, mas nem sempre somos fortes o suficiente, e todo mundo tem o direito de se render diante de uma derrota iminente. Chorão se rendeu, e não acho que sua decisão deva ser julgada, e sim tomada como lição. Se a separação da esposa Graziela Gonçalves, que muitos apontavam ser seu Porto Seguro, o levou ao fundo do poço, talvez isso pudesse ser reversível, mas ele decidiu não lutar contra isso e se libertou. Só podemos desejar sorte a esse cara que inspirou grandes pensamentos e muita diversão com sua música. Que agora ele encontre a paz que almejava, e que esteja “livre pra poder sorrir, livre pra poder buscar o seu lugar ao sol”.



As músicas que Chorão escreveu continuarão a tocar ad infinitum enquanto seus fãs recorrerem a seus versos para exprimirem algum sentimento reprimido, e assim como todas as lendas do Rock, ele vai ser lembrado mais por sua obra do que pelas circunstâncias trágicas de sua morte. Com certeza ele já deixou saudades.

Por um longo período, Chorão, Champignon, Pelado, Castanho e todos que vieram depois do fim da formação original do Charlie Brown Jr. fizeram parte de nossas vidas, e continuarão fazendo, até mesmo porque a música e o Rock N' Roll são elementos que nenhuma droga pode corromper, e isso só os loucos sabem


NAMASTE!

28 de janeiro de 2013

Top 10 – A Trilha Sonora de Tarantino



É quase impossível desassociar os filmes de Quentin Tarantino das trilhas sonoras que ele meticulosamente seleciona para as cenas que escreve. O diretor de 49 anos nascido no Tennessee já divulgou em entrevistas que chegou a basear cenas de seus filmes em músicas que ouvia desde moleque (quando em geral, acontece o contrário no processo de criação de filmes), e olhe que o repertório musical de Tarantino é tão vasto quanto seu conhecimento de cinema!

Quem não se lembra logo de Tim Roth e Amanda Plummer (Pumpkin e Honey Bunny) anunciando um assalto na lanchonete em Pulp Fiction quando toca "Misirlou" de Dick Dale, ou sai pra dançar um Twist ao som de "You never can tell" de Chuck Berry feito John Travolta e Uma Thurman? Ou ainda, quem é que não se lembra logo de Elle Driver caminhando pelo corredor de um hospital vestida de enfermeira pronta a dar cabo de Beatrix Kiddo enquanto assovia o infernal "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann na primeira parte de Kill Bill?

Os filmes de Tarantino estão intimamente ligados à música, e a dura missão desse Top 10 é elencar as melhores trilhas dentre tantas (deixando com um grande pesar obras-primas de fora da lista), as que mais possuem significado para as cenas ou simplesmente aquelas que não podiam ser deixadas de fora.

Aumente o volume e divirta-se!



Death Proof (Prova de Morte) faz parte de um projeto em que Tarantino aliou-se ao amigo (menos talentoso) Robert Rodriguez para recriar filmes de gênero Grindhouse, aqueles em que normalmente as mulheres protagonizam e que são produzidos com um baixo orçamento. 

Apesar de ser o filme menos inspirado da carreira do diretor, Death Proof ainda traz cenas memoráveis, entre elas a embalada pela música “Hold Tight” da banda britânica dos anos 60 Beaky/Dave Dee/Dozy/Mick/Tich, ou simplesmente “DDDBMT”.

Como não podia deixar de ser, Tarantino coloca seu conhecimento musical em jogo, e uma das personagens conta a história que envolve a música e o vocalista do The Who, que chegou a ser chamado para integrar a tal DDDBMT. É impossível não mexer a cabeça pra cima e pra baixo enquanto esperamos o choque eminente do carro à prova de morte do Dublê Mike (Kurt Russel) e o das amigas da Julia Selvagem (Sydney Tamiia Poitier) ao som de “Hold Tight”!



Essa é sem dúvida uma das cenas de acidente de carro mais fantásticas do cinema!



Se Death Proof é o filme menos inspirado da carreira de Tarantino, Jackie Brown é aquele que tem menos a cara de Tarantino, e isso se deve bastante ao fato de que o roteiro não é escrito baseado em uma história criada por ele.

Apesar do ritmo bem mais lento de Jackie Brown, o filme é recheado de referências ao universo “nigger” e a Blaxploitation, movimento cinematográfico voltado especificamente ao público negro norte-americano, o que inclui muita música Soul e Black.

Enquanto os letreiros sobem (ou descem, vão pra esquerda, direita... enfim!), já somos logo sacudidos pela balada “Across 110th Street” de Bobby Womack, cantor negro cujas músicas principais fizeram grande sucesso nas décadas de 60 e 70. A música conta o cotidiano de um personagem negro do gueto onde vive.



Interessante que o filme começa e se encerra embalado por "Across 110th Street", e rola uma certa melancolia enquanto a Jackie Brown (Pam Grier) dirige seu carro cantando tristemente a letra da música, se despedindo do público.



Django, você sempre foi solitário?
DJANGO!
Django, você nunca mais amou novamente?
O amor viverá, oh oh oh...
A vida deve continuar, oh oh oh
Pois você não pode passar o resto da vida se arrependendo

Pra quem não sabe, Django foi um personagem vivido pelo ator italiano Franco Nero na década de 60, e o Django de 2013 dirigido por Tarantino é mais uma homenagem do diretor ao cinema que ele tanto venera.
O tema de Django criado por Luis Bacalov & Rocky Roberts também era o tema do filme original, e a letra da música acabou casando bem com esse novo Django escravo que se livra das correntes para ir atrás de sua amada esposa Brunhilde.

A música é um verdadeiro chiclete, e não há como se livrar de seu refrão e da voz grave de Rocky Roberts uma vez que se ouve.




Django!
Django!



Quem mais além de Quentin Tarantino conseguiria imaginar uma luta entre duas samurais em um cenário cheio de neve, embalado por uma música Disco dos anos 70?

Uma das razões do sucesso desse maluco é justamente essa habilidade única que ele tem em criar esse tipo de amálgama entre coisas que aparentemente não possuem qualquer relação, e que em suas mãos acabam dando certo, a ponto de rolar aquela pergunta “Por que ninguém pensou nisso antes?”.

E não é que "Don’t let me be misunderstood" funcionou direitinho como fundo sonoro para a luta decisiva entre Beatrix Kiddo e O-Ren-Ishii?



Peço perdão por ter zombado de você!”.



"Stuck in the Middle With You" com certeza não é a música mais emblemática do longa metragem Cães de Aluguel (Reservoir Dogs - 1992), o primeiro como escritor e diretor de Tarantino. Quem se lembra do filme com certeza pensa em “Little Green Bag” de George Baker como a trilha definitiva da película, até porque a cena em que os Cães de Aluguel andam em câmera lenta enquanto os atores que os interpretam são apresentados ao público (logo após o diálogo na lanchonete sobre Like a Virgin), ao som da canção, fixa melhor na memória.

A cena onde o psicótico Mr. Blonde (Michael Madsen) tortura e mutila um policial preso a uma cadeira enquanto faz uma dancinha desengonçada ao som de "Stuck in the Middle With You", no entanto, é pra mim, a principal marca de Cães de Aluguel, razão pela qual escolhi essa música para integrar ao Top 10.

Todo o desenvolvimento da cena é espetacular, sem falar na interpretação do ator Kirk Baltz que vive o policial Marvin Nash e a frieza de Michael Madsen, que aliás, vive personagens filhos da puta como ninguém em Hollywood!!



A música cantada pela banda de folk escocesa Stealers Wheel possui trechos como “Estou tão assustado no caso de eu cair da minha cadeira”, “Sim, eu estou preso no meio com você e eu estou me perguntando o que eu deveria fazer” e “Tentando fazer algum sentido de tudo mas vejo que isso não faz sentido”, o que nos faz ter certeza de que as músicas escolhidas por Tarantino não são aleatórias. Elas estão sempre dentro do contexto da história.



Confesso que as trilhas de Tarantino me trouxeram o conhecimento de vários artistas dos quais eu nunca havia ouvido falar (perdão, Mundo!), entre elas The Coasters, a banda de Rhythm and Blues dos anos 50 que toca a deliciosa "Down in Mexico".

A cena antológica onde a personagem Arlene “Butterfly” (Vanessa Ferlito) sensualiza diante de Dublê Mike (Kurt Russel) em um show de Lap Dance ao som de "Down in Mexico" em Death Proof já entrou para os “anais” da história do cinema! E como entrou!



“De repente, caminhando com essa garota
Joe começa a tocar com uma Latina
Em torno de sua cintura ela usava três meias arrastão
Ela começou a dançar com as castanholas
Eu não sabia exatamente o que esperar
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço
Começamos a dançar por todo o chão
E então ela fez uma dança que eu nunca vi antes


Dança nota 10!


Kill Bill é o filme com o maior repertório musical de Tarantino, e penso cá comigo que daria para fazer um Top 10 apenas da Trilha Sonora dos dois filmes sobre a Noiva. Exatamente por essa dificuldade em escolher as melhores músicas do filme, deixei me guiar pelo meu instinto, e a meu ver, não há música presente em Kill Bill mais emblemática que "Malaguena Salerosada banda “chicana” Chingon, de Robert Rodriguez.

A letra fala de um pobre rapaz que é feito de gato e sapato por uma garota rica, e mesmo não tendo porra nenhuma a ver com o enredo do filme e só tocar na cena final, quando então Beatrix já derrotou Bill e recuperou a linda B.B, mesmo assim ela representa a alma do filme, que é um misto absurdo de várias culturas, bem ao estilo Tarantino de fazer cinema.  



“Que bonitos ojos tienes
Debajo de esas dos cejas”


Patti Smith é considerada a “poetisa do punk” e começou a fazer sucesso na década de 70, onde então despontou para ser uma das cantoras mais influentes do Rock and Roll.
Minha paixão por “Baby It’s You”, que faz parte da trilha de Death Proof foi imediata, e desde então a música não sai mais da minha playlist diária, entrando inclusive nesse Top 10 na posição de Bronze




Que voz maravilhosa tem essa mulher!


Hoje não existe viva alma que não conheça a balada “Girl, You'll Be a Woman soon”, mas na década de 90 nem mesmo o Urge Overkill devia acreditar nessa canção, algo que foi completamente alterado quando Tarantino decidiu acrescentá-la ao soundtrack daquele que viria a ser seu filme de maior sucesso.

Pulp Fiction é meu filme favorito da carreira de Tarantino, acho difícil que o diretor consiga superar algum dia o que ele fez com esse longa, mas além de toda a estética criada, da popularização do roteiro não-linear e da restauração das carreiras de vários artistas, Pulp Fiction deixou marcado em nossas vidas principalmente as canções que embalam suas cenas.



Como esquecer a overdose de Mia Wallace e as divagações de Vincent Vega sobre comer ou não comer a mulher do chefe enquanto "Girl, You'll Be a Woman soon" toca na vitrola?


Mia Wallace e Vincent Vega são chamados ao palco do Jack Rabbit Slim’s para um desafio de Twist. A esposa de Marsellus Wallace os apresenta, e enquanto a banda se prepara para tocar, Vega tira os sapatos, iniciando em seguida uma das cenas mais reconhecidas e imitadas do cinema. A carreira decadente de John Travolta sofreu um "Boom" e Quentin Tarantino havia criado uma verdadeira obra-prima, nos dando doses cavalares de drogas, rock and roll e violência. Muita violência.  

Chuck Berry é considerado um dos pais do Rock N' Roll, uma lenda da música mundial e dispensa apresentações, e "You Never can tell" é com certeza uma das suas obras mais memoráveis de todos os tempos, que acabou sendo imortalizada de vez em uma das cenas mais emblemáticas do cinema. Palmas para Tarantino pela escolha. 



Confessa que você já imitou os passos do Travolta nessa cena alguma vez na vida, vai!



Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:






NAMASTE!

13 de julho de 2012

O Diabo é o pai do Rock?



"Então é everybody rock
O diabo é o pai do rock
Enquanto Freud explica
o diabo dá os toques"

Pensei numa forma atrativa e instigante de começar esse texto, e procurei encontrar algo que representasse a essência do estilo musical a ser abordado, então pensei “por que não usar uma pergunta polêmica e os versos de um dos maiores representantes brasileiros desse gênero tão querido (e maldito) chamado Raul Seixas”? Voilá! Eis o início perfeito de um post em homenagem ao Rock n’ Roll.
Sim, meninos e meninas. Tirem as camisetas pretas do armário, coloquem suas munhequeiras de espinhos metálicos, usem seus coturnos, espetem seus moicanos atochem a calça de couro, porque hoje nós vamos falar de Rock n’ Roll.


Pra quem viveu em Marte nos últimos cinquenta anos, cabe lembrar que o Rock nasceu da mistura de outros gêneros musicais muito difundidos da cultura negra norte-americana, o Blues, o Jazz e o Country. Naquela época, música de branco era música de branco e música de negro era música de negro, e nenhum dos dois procurava uma união ou mesmo algo em comum que pudessem compartilhar. O mundo vivia o pós Guerra, a sombra nazista de Hitler havia imposto o caos e a desconfiança em cada recôndito mais escuro do mundo, e as pessoas precisavam de referências, de algo com o qual pudessem se apegar para esquecer do terror da ameaça nuclear e da separação de etnias e classes. O Rock n’ Roll serviu como uma luva a esse propósito. 

É necessário ressaltar que o Rock que conhecemos hoje não existiria se não tivesse sido criado pelos negros com todo seu ritmo e ginga naturais. Usado a princípio como uma forma de protesto contra o mundo que desde sempre os escravizava, o Rock surgiu da mescla das letras melancólicas do Blues, o som das guitarras elétricas e da voz poderosa dos negros, ganhando suas mais reconhecidas características ainda na década de cinquenta.
A fórmula perfeita para sacudir as estruturas do mundo estava criada, agora só faltava um meio que a divulgasse.


Curiosamente (ou ironicamente) foi o rosto de um homem branco que ficou mais conhecido por representar o poder do Rock, e muitos anos mais tarde, após a criação desse “ritmo quente”, Elvis Presley, o garoto caipira de Mississipi, serviu como o veículo que levou ao conhecimento massivo do público aquilo que chamavam de Rock n’ Roll. O próprio Elvis dizia que não estava fazendo nada diferente do que caras como Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holly ou Jerry Lee Lewis já não o tinham feito, e o assim mais tarde conhecido como “Rei do Rock”, reconhecia as origens daquilo que ele ajudara a popularizar, dando total valor aqueles que o haviam precedido.
Elvis podia não ser o mais talentoso de todos os artistas da época (em início de carreira ele não passava de um caipira carismático!), podia não ser o mais importante do gênero, mas foi o cara que fez com que o mundo conhecesse o Rock em toda sua glória, por isso merece todas as honrarias e festejos em sua homenagem.
 
Desde sua origem nos guetos dos Estados Unidos, o Rock soava como algo transgressor cujo caráter “moderninho” incomodava e causava arrepios por onde era executado. Mesmo depois de cair nas graças dos brancos, que viram na figura de Elvis um motivo para requebrar seus quadris ao som das guitarras elétricas, o Rock continuou a soar como algo marginal, que ia contra a moral e os bons costumes. Enquanto os jovens vibravam em bailes e em shows, seus pais e avós maldiziam aquela “música do Capeta” que instigava o mau comportamento e a rebeldia de seus filhos, o que desde sempre impôs uma sombra de maldição sobre o ritmo, sombra essa enxergada até mesmo por artistas já célebres da época como o cantor Frank Sinatra, que chegou a declarar: Rock n’ Roll é a coisa mais brutal, feia e degenerada que eu já tive o desprazer de ouvir.
Se você queria transgredir leis, regras e mandamentos, você deveria tocar Rock.
Com o passar das décadas, com a morte dos principais representantes negros da música e a vertiginosa queda do Rei para o mundo das drogas, o Rock parecia ter encontrado seu derradeiro fim, quando então novos nomes e símbolos decidiram assumir o bastão da contraversão, surgindo também em outros lugares do mundo. Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, The Doors, Janis Joplin e tantos outros assumiram a batuta, e mantiveram o legado, criando e influenciando a perpetuação de novos segmentos dentro do próprio Rock.
Sim, meus amigos. O Rock havia encontrado uma forma de se tornar imortal, diferente de seus representantes.


O poder autodestrutivo que os astros do Rock acabaram assumindo para suas personas começou a se tornar algo comum a todos eles, e após a melancólica morte de Elvis Presley (que fora encontrado em sua mansão no dia de sua morte com diversos tipos de drogas circulando em seu corpo), várias outras mortes trágicas acabaram marcando o mundo do Rock, como a de Jimi Hendrix, Janis Joplin e o polêmico líder do The Doors Jim Morrison, todos com 27 anos e por efeito das drogas. Por ora odiado ao ensinar trejeitos sexuais aos jovens com o requebrar dos quadris de Elvis, outras vezes adorado por dar ao gênero um visual “engomadinho” com os meninos de Liverpool em começo de carreira, o Rock sofreu altos e baixos em sua popularidade desde sempre, o que de maneira alguma permitiu que ele fosse exaltado ou considerado um ritmo “do bem” durante um período muito longo. 


Nem os próprios Beatles conseguiram sustentar por muito tempo a cara “limpinha” que eles trouxeram ao estilo, e quando na década de 70, por influência de drogas alucinógenas misturada a uma visão mais pacifista eles deixaram os cabelos e as barbas crescerem, assumindo seu lado “riponga”, os ingleses, embora reverenciados por sua música, também caíram no espectro negativo do Rock, e se juntaram a todos os demais “filhos do Capeta”. Impossível negar as inúmeras referências ocultistas que os quatro roqueiros começaram a inserir em suas canções, nas capas de seus álbuns e em suas próprias vidas pessoais a partir de então.

Foi na mesma década com Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple que o Rock ganhou de vez o rótulo de maldito, e para desespero das carolas, beatas e defensores da moral e bons costumes o ritmo passou a defender a liberação do Sexo e das drogas, aliada ao próprio estilo musical. Com essa trinca sendo difundida mundo afora, a preocupação dos pais com seus filhos e o temor que eles começassem a não só adorar aqueles “cabeludos”, mas que também seguissem seus “ensinamentos” era crescente, e o cenário se virou completamente contra a música que nascera como uma forma de protesto contra a opressão. 


A atitude Rock n’ Roll, o consumo excessivo de drogas pesadas como LSD e Ácido, as bebedeiras homéricas e a lascívia dos bastidores dos shows contribuíram e muito para sua má fama, e atualmente não há quem consiga botar a mão no fogo por qualquer um dos integrantes da sua banda favorita. “Os meus ídolos não se drogavam”. “O meu cantor favorito jamais faria isso!”. Não se engane, jovem padawan. Ninguém entra na chuva para não se molhar, e usar pelo menos cinco tipos de drogas diferentes é pré-requisito básico para se tornar um astro do rock.

Além da perversão, o mau costume do uso desenfreado de alucinógenos e das quebradeiras costumeiras em hotéis onde as bandas se hospedavam antes e depois das turnês, outro estigma que marca até hoje as bandas de Rock é o do satanismo. O Rock nasceu como um grito de independência sobre dogmas e religiões, mas isso foi muitas vezes confundido com adoração ao lado negro da Força, o que não deixa de ser um exagero. Nem todo mundo que não possui uma religião definida é adorador do demo.


Quem nunca ouviu falar do pacto demoníaco feito por Gene Simmons e sua trupe do KISS para alcançar o sucesso ou os rituais satanistas que a banda teoricamente executava no palco em pleno show?
Quem nunca experimentou girar o LP (os velhos bolachões) ao contrário para ouvir as mensagens subliminares deixadas pelos integrantes do Led Zeppelin nas faixas de suas músicas?
Quem aí não se arrepiou com o lanchinho da tarde que o velho Ozzy Osbourne fez no palco com a cabeça de um morcego?
E a história de que os caras do Slipknot (banda contemporânea e um dos últimos resquícios de Rock moderno) usam máscaras por causa de um pacto que eles fizeram para conseguir sucesso e fama? 


Histórias de rituais, pactos e ofertas de almas ao Coisa Ruim feitas por astros do Rock povoam o imaginário do público há décadas, e muito de fantasia acabou se criando ao redor desses diversos relatos. Mas afinal, o que é verdade e o que é mito nesse papo de Rock do Diabo?
Tenho uma história de infância com o clássico do Led Zeppelin "Stairway to Heaven", música cujos versos falam de uma dama misteriosa que quer encontrar sua escada para o céu. Interpretações para o que a música realmente quer dizer também existem aos montes (ocultismo e uso de drogas são algumas delas), mas é fato notório que a banda de Robert Plant e Jimmy Page sempre esteve no topo das mais relacionadas a satanismo e outros tipos de bruxarias. Os fatos macabros que ocorreram com integrantes do grupo ao longo de sua carreira como o acidente que deixou Plant longe dos palcos por um bom período além da morte estúpida do baterista John Bonham, são só algumas das passagens bizarras envolvendo a banda, mas o que fica mais evidente são mesmo as mensagens subliminares deixadas pelas letras de suas canções. 


Page chegou a comprar a mansão e alguns pertences de Aleister Crowley (o “Mr. Crowley” da canção do Ozzy e o criador da frase “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei” da música “Sociedade Alternativa” do Raul Seixas), um reconhecido bruxo e filósofo inglês do século XIX. Stairway to Heaven, uma de minhas músicas favoritas, segundo pesquisadores, possui diversas reverências ao Você-sabe-quem, e embora saibamos que religiosos acabam forçando a barra de vez em quando para que essas mensagens subliminares apareçam (quem vai ficar procurando mensagens virando um disco de trás pra frente durante horas??), alguns trechos são intrigantes.
No trecho da música em que Robert Plant canta "Your stairway lies on the whispering wind" a mensagem que dizem se conseguir ouvir ao inverso é: "I will sing because I live with Satan" (Eu vou cantar porque vivo com Satan. Aqui o arquivo em MP3 do trecho para baixar).
Só mesmo um cara possuído pra ter essa capacidade de criar uma frase que tenha um significado falada normalmente e outro completamente diferente falado de trás pra frente! Criatividade do capeta, literalmente!


Se destrinchado, esse papo sobre mensagens subliminares vai longe, portanto vou me ater apenas ao que foi falado até aqui, deixando para falar mais sobre isso num post vindouro.
O fato é que, assim como tudo no mundo, o Rock n’ Roll também possui seu lado negativo, e o negócio é se preocupar apenas com a parte boa. O Rock é acima de tudo um ritmo contagiante, feito também para entreter, e é isso que atrai tantas pessoas há cinco gerações. Para mim, o Rock é uma forma de abstrair do mundo quando este me parece demasiadamente injusto, e tem dia que não há nada melhor do que colocar um fone de ouvido e descarregar toda a tensão enquanto um riff furioso ou melódico atinge o tímpano, te fazendo sacudir a cabeça e embalar o corpo num balanço que te faz bem. Rock é bem estar. Rock é um alimento para alma.
Com certeza existe Rock do Diabo e feito para o Diabo, mas duvido muito que o mesmo tenha sido criado pelo dito cujo. Ele não teria a capacidade de criar algo tão empolgante. 


Viva o Rock n’ Roll, e que Deus abençoe todos os roqueiros! Amém!


Feliz Dia Mundial do Rock!


NAMASTE!

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