19 de janeiro de 2011

Eu li: A Saga do Clone - Versão Definitiva

Vamos ser sinceros. Se era para mostrar essa versão definitiva horrorosa e apressada da já malfadada Saga do Clone, era melhor ter deixado como estava. Em outras palavras, Tom DeFalco, o criador e editor original da primeira Saga (lá dos longínquos anos 90), perdeu uma boa oportunidade de ficar quietinho no canto dele, e ouso dizer que o resultado desta edição é bem medíocre se comparado ao material original.
Vamos começar do começo. A Saga do Clone foi produzida para ser um arco curto que traria de volta alguns personagens dos anos 70 do Homem Aranha na esperança de se criar alguma reviravolta na vida do Escalador de Paredes, colocando em xeque sua própria identidade. E se o clone de Peter Parker criado pelo Professor Miles Warren (também o vilão Chacal) derrotado e jogado numa chaminé aparentemente morto, fosse o verdadeiro Peter Parker?

Essa era uma premissa que colocaria muito mistério nas histórias do personagem e deveria render um bom arco, só que como todos sabem, o tiro saiu pela colatra. A história acabou se arrastando mais do que devia por motivos editoriais da época (e olhe que o Quesada nem estava lá!) e o negócio todo degringolou virando um samba do aranha doido. O estica e puxa foi tanto, que começaram a aparecer personagens que não tinham nada a ver com o assunto e a Saga do Clone tornou-se enfadonha. O resultado final acabou sendo aquém do esperado e muitos fãs odeiam essa fase do Aranha com todo seu ódio até hoje. Curiosamente eu não me incluo nesse hall.

Antes de falar um pouco do enredo fraco criado pelo DeFalco e que ficou engavetado todos esses anos, é necessário falar da falta de cuidado da Senhora Panini com as edições que tem sido lançadas por aqui. Além do fato do preço da bagaça ser bem salgado (Tome-lhe R$ 14,90) a revista vem plastificada o que dificulta que o consumidor veja o conteúdo da edição e em especial a qualidade da impressão, que no meu caso (toma! quem manda ainda comprar na banca!) saí bem prejudicado.
A revista que comprei veio com um refilamento que meu estilete cego conseguiria ter feito muito melhor. Além das páginas ruídas e cortadas que nem o nariz (pra não dizer rabo) de quem o fez, muitas delas vieram coladas e menores do que as demais. Um caderno inteiro a partir da página 75 é menor do que os demais e nos cantos inferiores em alguns momentos a leitura tornou-se difícil. Trocando em miúdos: Um belo serviço de merda da Dona Panini.
 

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Saindo da reclamação de consumidor e passando para a história, tenho que assinalar em especial as semelhanças e as divergências da história "definitiva" e da original para que o texto fique claro.

Na história dos anos 90 o clone foi trazido de volta à Nova York, onde não dava as caras desde que havia sido jogado na chaminé pelo Homem Aranha, graças ao infarto que a Tia May sofreu. Preocupado com o estado de saúde da velhinha, que nas sua memórias implantadas (as mesmas do Peter original) era a mulher que o criou como uma mãe, Ben Reilly, nome que ele assume em homenagem ao tio (Ben) e ao sobrenome de solteira da tia May, volta para visitá-la no hospital e acaba dando de cara com o verdadeiro Homem Aranha no telhado do lugar. Claro, o pau come entre eles. Não é todo dia que vemos alguém com as nossas fuças por aí, não é mesmo?

Mais tarde, decidido a ficar na cidade até que a saúde da tia se reestabeleça, Reilly cria uma própria identidade heróica e lhe criam a alcunha de Aranha Escarlate, o aracnídeo com seu colete de mano que chega até a ter suas histórias solos, no Brasil publicadas pela Abril na revista A Teia do Aranha.
Na versão "definitiva" é bem parecido. Ben volta pra NY por causa do estado da tia May, só que é revelado que o clone sempre (!) teve contato com a velhinha, se passando por um primo distante. Peter e Ben também saem na porrada, só que se aliam muito mais rápido (cheios de piadinhas insuportáveis) quando Kaine surge atacando ambos. Pra quem não lembra, Kaine é na verdade o primeiro clone de Peter Parker feito pelo Chacal e que foi rejeitado por apresentar uma degeneração celular, o que o deixou com a cara deformada e com um toque mortal nas palmas das mãos.



Na HQ original Peter vinha de um inferno astral constante, por isso o clima da revista era bem dark. Seus pais, supostamente mortos desde os primórdios haviam retornado misteriosamente para sua vida apenas para se revelarem, edições mais tarde, que não passavam de unidades robóticas programadas pelo Camaleão a mando de Harry Osborn. O cara pirou, chegou a abandonar a Mary Jane, entrou numa fase bem EMO e violenta e a gota d'água foi o ataque cardíaco da Tia May. A Saga do Clone pegou esse embalo, por isso não tinhamos um Aranha engraçadinho e sim um personagem transtornado e sombrio. Lendo a versão "definitiva", mesmo depois do caso dos pais e com a tia moribunda, o Aranha solta piadinha a cada quadro, o que torna sua atitude irritante e não só para os vilões, também para os leitores. Marca das histórias atuais também, após o Pacto com o Capeta.

O Chacal volta dos mortos nas duas versões com aquele seu humor de encher o saco que mistura o Coringa com o Duende Verde, explica toda a história dos clones e põe em dúvida qual dos dois é o verdadeiro Parker. Até boa parte do enredo Miles Warren afirma que Ben é o original e Peter a cópia, mas toda a verdade vem à tona logo. Na edição "definitiva" Peter, na verdade nem parece estar preocupado em saber a verdade, e busca desesperadamente por um antídoto para a degeneração celular que tanto Tia May (o papo do ataque cardíaco é furado) quanto a Mary Jane (que está grávida) estão sofrendo. Se você não está entendendo nada, não se preocupe. Achei esse argumento ridículo também.

Trocando em miúdos, Warren tem em mãos o antídoto, Peter e Ben ficam em dúvida quem é o verdadeiro, Kaine entra no jogo apenas para atrapalhar e descobrimos que a grande sombra por trás de tudo, o cara que está manipulando as cordinhas das marionetes, não é Norman Osborn, como na versão original, e sim seu filho Harry, que está de volta dos mortos sem nem sequer apresentar uma explicação decente. A clonagem de Warren e o estabilizador (que na verdade serve de antídoto para MJ e a Tia May) tornam as pessoas imortais, e por isso Harry está de volta... (?). Não faz o menor sentido!
O plano de Harry, além de matar o Homem Aranha e seu alter-ego, é trazer seu pai de volta à vida (!). O filhinho do papai faz isso, traz o pai de volta e o velho tem uma crise de consciência, se voltando contra o filho e ajudando seu maior arquinimigo contra ele. Nesse meio tempo Kaine sequestra a pequena May, a filha de Peter e MJ que nasce no hospital, a mando de Harry, mas o vilão assume sua "porção Peter Parker" e devolve a criança. O clone de Norman (o renascido não é o de verdade) se joga na frente do planador salvando o Aranha e morre empalado, assim como o verdadeiro Osborn no passado. Harry desaparece, Ben se recupera após ser espancado pelo Duende Verde, a tia May fica boa de novo e Peter e MJ terminam bem, unidos ao bebê May. Reilly que até então havia assumido o papel de Homem Aranha no lugar de Peter, quando esse decidiu viver uma vida tranquila ao lado da esposa sem grandes responsabilidades de herói, devolve o cargo ao seu "primo" e parte para sempre. Fim.


O que eu acho? Diz aí Alborghetti:



Embora tenha se estendido mais do que devia, a Saga do Clone original teve um final bem plausível, sem grandes forçadas de barra (veja bem, eu disse o final, só o final). Norman Osborn era o grande articulador, ele não havia morrido porque o soro Duende havia agido como uma espécie de regenerador para ele (mais ou menos como o do Capitão América) e ele agira nos bastidores tentando acabar com a vida de seu maior inimigo ao mesmo tempo que vingava a morte de seu filho Harry, que ele com sua mente insana achava ter sido causado pelo Aranha.
Ben Reilly se sacrifica por Peter após levar uma baita surra do Duende Verde, morre após salvar o Clarim Diário e ser empalado pelo planador Duende e Peter descobre que Ben era o clone ao vê-lo se dissolver. A filhinha de Peter e MJ é sequestrada por uma assecla de Norman e a menina acaba desaparecendo depois que Kaine a sequestra. A tia May morre várias edições antes (na verdade ela é uma atriz que esteve fingindo ser a tia May... hã. Deixa pra lá) e o casal Parker lamenta sua perda, embora consigam refazer sua vida depois disso.
Tanto a saga original quanto essa engavetada por Tom DeFalco tem falhas lastimáveis, assim como situações estrambólicas (seja lá o que isso quer dizer), mas, na minha humilde opinião de leitor e fã do Homem Aranha há quase 20 anos, essa segunda versão só foi publicada para que DeFalco tirasse aquele peso na consciência, e para falar "ei, a minha ideia era muito melhor. A pequena May fica viva, Ben Reilly não morre e Norman Osborn tem o que merece." Ben Reilly ficar vivo, assim como a tia May e o bebê de Peter e MJ e todo esse final feliz barato não justifica o enredo tosco que se desenrola antes disso. Chacal vive, cria uma fórmula de clonagem perfeita, Harry usa a fórmula para tornar as pessoas imortais, ele cria um clone cheio de princípios de seu pai, o velho morre de novo... Blergh!Uma porção de besteiras que não levam a nada. O clima de tensão na edição final da Saga original vale muito mais a pena, sem falar nos desenhos batutas do Romita Jr. e naquela que para mim deveria ter sido a batalha final entre o Aranha e o Duende Verde.

A edição "definitiva" é desenhada por Todd Nauck (??) que tem os traços bem parecidos com os do falecido Mike Wieringo misturados com os de Steve Skroce, outro rabiscador regular do Aranha pouco depois da Saga do Clone. O roteiro ficou a cargo de Howard Mackie (que assinava também na década de 90) e do próprio DeFalco, que por mim, podia dormir sem essa.
História interessante apenas pela curiosidade mórbida de se saber o que teria acontecido, mas depois de lida, altamente dispensável.

NAMASTE!

Um comentário:

  1. quanto ao plástico, essa medida é ótima, pois conserva a HQ; contra umidade, e contra o mal condicionamento em bancas, fora que várias HQs tem sua distribuição setorizada, é lançada em São Paulo, e Rio de janeiro, e o que sobra é vendido nos demais estados do país, e o que sobra disto, é vendido em lojas especializadas, e eventos temáticos, como o Fest Comix.

    quanto aos cadernos menores, isto é culpa da gráfica, não da panini; era só ter trocado na própria banca alegando defeito, ou entrando em contato com a editora para trocar um novo exemplar.

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