Você
ainda mantém viva a criança que existe dentro de você?
Quando
eu era criança eu sempre procurava imaginar como seria quando eu enfim me
tornasse um adulto, e a imagem mental que eu fazia de mim mesmo era um homem
sério, de terno e gravata com uma pasta executiva em mãos e sem nenhuma
característica agradável no rosto.
É
sério! Eu me via como uma pessoa austera, de semblante duro, e acho que era
assim que eu enxergava os adultos quando eu era criança.
Mas
ser um adulto significa necessariamente que temos que perder a nossa alegria de
viver? Que só temos que pensar em trabalho, dinheiro e contas pra pagar?
Talvez
não, mas o mundo moderno exige que você seja assim se quiser galgar posições
sociais e manter um status dito como aceitável na sociedade, fato esse que invariavelmente
acaba prolongando, nos dias atuais, por medo de assumir essas
responsabilidades, a adolescência de algumas pessoas, fase onde todo ser humano
tem que crescer e aprender a se tornar um adulto.
Essa tendência a não querer crescer é conhecida como Síndrome de Peter Pan.
Essa tendência a não querer crescer é conhecida como Síndrome de Peter Pan.
Era
sabido até alguns anos atrás que a fase da adolescência, segundo o enfoque da psicanálise, ia dos 13 anos até
próximo dos 17, e os 18 anos marcavam o começo da vida adulta do indivíduo,
tornando-o apto e responsável o suficiente para dirigir, se alistar no exército
ou exercer seu direito ao voto.
Do ponto de vista médico, a adolescência dura dos 12 aos 20 anos, já sob o enfoque da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a chamada adolescência se prolonga um pouquinho, indo
até os 25 anos, ora vejam vocês!
No
tempo de nossos pais e avós isso seria inconcebível, uma vez que antes mesmo
dos 18 anos, a maioria dos filhos já estava aprendendo a ter responsabilidades
em casa ou fora dela, e começava a trabalhar muito cedo. Há vinte anos, eram
poucos aqueles que podiam se dar ao “luxo” de fazer faculdade, e a maioria de
nossos pais, tios ou irmãos mais velhos já estavam pegando no batente há muito
tempo. Adolescência até os 25? Nem pensar!
Mas
e aí? Você ainda mantém viva a criança dentro de você?
Esse
questionamento me surgiu quando revi depois de muitos anos o filme Hook – A
volta do Capitão Gancho, produção e direção de Steven Spielberg e texto
retirado das ideias do livro Peter e Wendy escrito pelo próprio criador do
menino que não queria crescer J.M. Barrie. A pergunta me fez refletir por algum
tempo e resolvi escrever um post sobre isso.
No
filme, os roteiristas James V. Hart (história e roteiro), Nick Castle
(história), Malia Scotch Marmo (roteiro) imaginaram o que aconteceria se num
belo dia o personagem icônico Peter Pan, reconhecido por ser uma eterna criança
que vive na Terra do Nunca, resolvesse viver a maior aventura de todas,
crescer, e de que forma essa decisão iria afetá-lo.
Peter (vivido por Robin Willians) é adotado por uma
família americana, cresce e se torna um importante advogado. Ele se casa com Moira
(Caroline Goodal) que é a neta de Wendy (Maggie Smith, a Profª McGonagall da série de filmes
Harry Potter) e tem dois filhos, Jack (Charlie Korsmo) e a pequena Maggie
(Amber Scott).
Atarefado em seu trabalho, Peter não tem tempo para a família, e ele se transforma em um “Pirata” nas palavras de sua esposa, que em suas aventuras infantis eram os adultos da Terra do Nunca. Em sua nova vida, Peter deixou morrer a criança que havia dentro dele, e esqueceu-se completamente do que era, se tornando uma pessoa muito mais triste. Peter Pan se tornou um adulto.
Atarefado em seu trabalho, Peter não tem tempo para a família, e ele se transforma em um “Pirata” nas palavras de sua esposa, que em suas aventuras infantis eram os adultos da Terra do Nunca. Em sua nova vida, Peter deixou morrer a criança que havia dentro dele, e esqueceu-se completamente do que era, se tornando uma pessoa muito mais triste. Peter Pan se tornou um adulto.
As metáforas que o filme utiliza para equipararmos
a realidade de Peter com nossas vidas são profundas, e nos fazem remeter a
nosso próprio cotidiano. Afinal não é exatamente o que estamos fazendo de
nossas vidas?
Não estamos deixando nossas famílias, as pessoas
que amamos, de lado para continuarmos nessa busca desenfreada e interminável
pelo sucesso, pela segurança financeira que imaginamos ser o “bem estar” dessas
mesmas pessoas? E não estamos fazendo isso sem nem pensarmos que esse tempo
perdido em busca do status que mencionei no início do post nunca mais voltará?
Nossos pais e avós já não são mais os mesmo que eram outrora, a maioria deles
agora é idosa, e esse tempo que estamos perdendo, o tempo em que não estamos a
seu lado não voltará mais. E a troco de quê estamos nos deixando levar por essa
necessidade impiedosa de conseguir mais e mais bens materiais?
O mesmo vale para nossos filhos e sobrinhos. Quando iremos recuperar o tempo em que não passamos com eles, em que não vimos eles darem o seu primeiro passo, não ouvimos eles balbuciarem suas primeiras palavras ou que não os levamos pela primeira vez na escola para dar-lhe força e prometer que estaríamos lhes esperando quando desse o horário de saída?
Esse tempo nunca mais voltará.
O mesmo vale para nossos filhos e sobrinhos. Quando iremos recuperar o tempo em que não passamos com eles, em que não vimos eles darem o seu primeiro passo, não ouvimos eles balbuciarem suas primeiras palavras ou que não os levamos pela primeira vez na escola para dar-lhe força e prometer que estaríamos lhes esperando quando desse o horário de saída?
Esse tempo nunca mais voltará.
Na história do filme, é necessário que o Capitão James Gancho (Dustin
Hoffman) venha para a realidade e rapte seus filhos para que Peter comece a ter
que puxar da memória quem ele foi na juventude. O pequeno Peter Pan, menino
aventureiro que só queria saber de se divertir e nunca crescer está perdido
dentro de Peter Banning, o advogado, e sua chama está apagada. É preciso que a
fadinha Sininho (Julia Roberts), companheira de aventuras, venha em seu auxílio
para tentar fazê-lo se lembrar da criança que ele era, e para que ele tenha coragem,
enfim, de resgatar os filhos das garras (nesse caso do gancho) do terrível
pirata Capitão Gancho.
O filme é um conto de fadas no sentido amplo da
palavra, e os roteiristas criam uma história inteira baseada em metáforas que
nos fazem entrar em diversos questionamentos ao longo dele. Engana-se quem
acredita que Hook é um filme para crianças. Há muitos detalhes escritos nas
entrelinhas, e os sentimentos tocados em quase sua totalidade só podem ser
percebidos por um adulto.
Levado de
volta à Terra do Nunca por Sininho, Peter é obrigado a sair em busca de seus
filhos, o que o leva a confrontar o próprio Capitão Gancho, que não o reconhece
naquele corpo adulto. Tanto ele quanto seus fieis piratas, incluindo Sr. Smith
(“Barrica” na versão dublada), vivido por Bob
Hoskins, caçoam do velho e fora de forma Peter Pan, e nem mesmo ele acredita
que um dia fora um garoto ágil e aventureiro que desafiava o Capitão Gancho. O
advogado tenta pagar pela libertação de seus filhos, presos em uma rede de
pesca, e então o pirata o obriga a subir em um mastro de navio e tocar os dedos
de seus filhos caso os queira em segurança. Peter, porém, não possui mais
coisas boas em seu coração e não sabe mais voar, o que o leva ao fracasso.
É engraçado como a história nos leva a crer que,
quase definitivamente, Peter Pan realmente se tornou um “garoto perdido” dentro
de Peter Banning, e que para resgatar seus filhos ele terá que resgatar primeiro
o menino Pan de dentro de si mesmo.
Com um prazo de três dias para tentar “recuperar” o jovem Peter Pan,
Sininho faz um trato com Gancho, que os deixa ir, na esperança de que haja a
sua tão sonhada batalha final com seu arqui-inimigo. Sem Peter em sua vida, o
velho pirata parece ter perdido sua razão de viver e é quase como se ele
sentisse necessidade de ter um desafio, daí a razão pelo qual ele viajou além
da Terra do Nunca para sequestrar os filhos de Pan.
Cabe
à fada Sininho e aos garotos perdidos a dura tarefa de fazer com que o velho
Peter volte a acreditar em coisas boas, e que recupere a criança que há em seu
coração e a alegria de viver desafiando o perigo.
É
ou não é uma grande metáfora para um adulto que leva a vida à sério demais?
O
filme
Hook
– A volta do Capitão Gancho é um filme de 1991 e que possui todos os elementos
característicos de uma produção de Steven Spielberg. O filme tem crianças, tem
aventura e tem aquele clima fantástico da maioria dos longas de Spielberg. Em
alguns momentos lembra Goonies (quem viveu nos anos 90 conhece esse!) e em
outras tem a magia de ET – O Extraterrestre, e é impossível não reconhecer a
marca do velho Spielberg nas cenas deliciosamente aventurescas de Hook.
Aquele
climão de pirataria, pra quem vê o filme nos dias atuais, lembra e muito a
série da Disney Piratas do Caribe, e duvido que o filme não tenha servido de
inspiração para a criação do cenário de Jack Sparrow e seus companheiros.
Aliás, em alguns momentos, o Capitão Barbossa (Geoffrey Rush), adversário de
Sparrow no primeiro filme, lembra e muito o próprio Capitão Gancho de Dustin
Hoffman, mas há quem diga que Hoffman poderia ter sido mais assustador em sua
interpretação, afinal ele é um pirata, e piratas são tendenciosamente rudes e
desprezíveis.
Para
ver Hook nos dias de hoje, é necessário estar focado na história e na
interpretação teatral de Robin Willians, até porque os efeitos visuais estão
pra lá de datados.
As
cenas de voo de Peter Pan são vergonhosas e o mesmo pode ser dito dos efeitos
criados para nos mostrar que Sininho é menor do que os demais personagens.
Claro
que há de se levar em conta que o filme tem mais de vinte anos (ai, meus
cabelos brancos!), mas o que importa mesmo é a mensagem que ele nos passa. Nós
que hoje somos os adultos atarefados e sem tempo para vivermos com nossas
crianças interiores, podemos fazer um paralelo de como era nossa vida quando
vimos o filme pela primeira vez lá nos anos 90 e como ela é agora. Na época
víamos tudo pelos olhos do jovem Peter Pan, e hoje vemos mais como o velho
Peter Banning, o que não necessariamente é algo bom.
Envelhecer
é inevitável, por isso devemos deixar que o tempo transcorra da melhor forma
possível sem deixarmos que nossa criança interna, aquela que permite que
sejamos felizes e tenhamos alegria de viver, seja esquecida em meio as
decepções, tristezas, frustrações e aos rancores da vida moderna.
Não
precisamos ser eternos adolescentes como muitos tentam ser, mesmo na casa dos
trinta ou quarenta anos, mas envelhecer não quer dizer que precisamos nos
tornar pessoas chatas e rabugentas que vivem reclamando de tudo.
Não
sou exatamente um exemplo de pessoa otimista e de bem com a vida que vive
saltitando por aí espalhando o amor, mas eu sei a importância que tem manter
meu lado Peter Pan sempre iluminado em minha vida. O dia que ele se apagar, sei
que estarei me tornando aquele advogado frio e sem tempo para a família
representado no filme, e que fará com que uma fada morra cada vez que disser que
não acredita nela.
Prefiro
continuar acreditando no Peter Pan que há em mim, portanto aconselho que sempre
que bater aquela falta de esperança, olhe para o céu, para a segunda estrela a
direita e siga sempre em frente até o amanhecer.
Curiosidades
- O
resultado final de Hook não agradou o exigente Steven Spielberg, que não vê o
filme como um de seus melhores trabalhos.
- Embora
acredite-se no contrário, é a história do filme que serviu como base para que
Terry Brooks escrevesse o livro homônimo à película.
- Michael
Jackson chegou a se oferecer ao papel principal, que acabou ficando com Robin
Willians. A fixação do cantor pelo personagem Peter Pan era notória, tanto é que seu
famoso rancho se chamava “Neverland” por conta da Terra onde as crianças nunca
cresciam. Michael era um Peter Pan em vida. Um garoto preso em um corpo adulto.
- O
papel de Peter também foi oferecido a Tom Hanks (que já tinha feito algo
parecido em Big – Quero ser Grande) e a Kevin Kline, mas ambos recusaram.
Na
época, poucos atores conseguiriam encarnar melhor o personagem do que Robin
Willians.
Admita,
vai. Não te incomoda o fato de Julia Roberts, uma das atrizes mais tarimbadas e
badaladas de Hollywood da atualidade ter participado em um filme como Hook e
ainda no papel de um ser mágico??
Quando que hoje em dia ela se prestaria a um papel desses e...
Quando que hoje em dia ela se prestaria a um papel desses e...
Err...
Deixa pra lá!
NAMASTE!
excelente texto, me lembro quando assisti HOOK pela primeira vez na minha infancia e fiquei fascinado, gosto muito dese filme ate hoje.
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