13 de fevereiro de 2014

Não Liga pra Justiça: WAR


Como muita gente já deve saber, a DC decidiu rebootar seu universo inteiro dos quadrinhos após a saga Flashpoint, criando assim o que começou a ser chamado de Novos 52 (uma referência a quantidade de títulos que a editora passaria a publicar com seus personagens). Assim sendo, tudo que os leitores mais velhos conheciam, ou pensavam que conheciam foi para a vala, e após as confusões do Flash com as linhas temporais (o que pode ser visto no arco Flashpoint e também na animação homônima), tudo se renovou, inclusive os conceitos de personagens que não se alteravam há anos, como o Superman e o Batman.


A animação Liga da Justiça: WAR  leva para a tela o primeiro arco da maior equipe de super-heróis da DC escrita por Geoff Johns e desenhada por Jim Lee nos quadrinhos, e salvo algumas alterações e adaptações necessárias para caber em um desenho de quase duas horas, a bagaça consegue ser bem fiel aos conceitos (ou a falta de) criados por Johns, além de manter a já costumeira qualidade DC de animação, que sempre superou e MUITO a da concorrência.


Para assistir WAR, em primeiro lugar é necessário se desprender de tudo o que você achava que sabia sobre os principais personagens da DC. Esse desprendimento deve ser ao nível mais básico mesmo. As mudanças são tantas, que eu não me surpreenderia em, de repente, saber que o Batman agora se chama João da Silva e que ganhou seus poderes de morcego após sofrer uma mutação benigna!


Sem KY, a introdução da história já nos coloca bem no meio de uma perseguição a uma criatura “morceguística” que começa a assombrar Gotham City, raptando pessoas de forma aleatória na cidade. Enquanto a mídia dá destaque a um suposto “Batman” que começou a tocar o terror na cidade gótica, cabe ao Lanterna Verde do Setor 2814 Hal Jordan investigar e caçar essa criatura das trevas. Quando Jordan consegue surpreender o tal “morcego”, o verdadeiro Batman surge para dizer quem é que manda nessa porra, começando claro, um conflito com ele (e olhe que dessa vez ele nem se pintou de amarelo para poder sentar o braço no Lanterna). 


O tal morcego assustador na verdade é um parademônio a serviço de um tal de Darkseid (“O que é Darkseid? Uma banda?”, pergunta Jordan), que assim como outros de sua raça estão na Terra, espalhados em diversas cidades como Metrópolis, Central City, etc, etc, para instalar Caixas Maternas que irão abrir portais para o mundo de Darkseid (que nem sei se ainda se chama Apokolips!) e começar uma invasão.

A velha história de invasão alienígena que reúne uma pá de heróis para detê-la, nada muito original.


Enquanto a tal invasão começa a se desenhar ao redor do mundo, a animação começa a nos apresentar os demais personagens. Vemos Diana, a princesa guerreira em busca de uma conferência com o Presidente dos EUA, Victor Stone, um astro do futebol americano em busca do reconhecimento do pai, que é um cientista mega-antenado nos paranauês quânticos e nanotecnológicos, vemos um Superman pra lá de boçal, que a meu ver, só serve para exibir seus imensos e inigualáveis superpoderes enquanto come os parademônios de porrada e Billy Batson, um impetuoso garoto (aparentemente órfão), fã de futebol que esconde seu poderoso alter-ego Shazam (esqueçam essa de “Capitão Marvel”), o libertando nos momentos mais desesperadores.


Enquanto posiciona seus soldados meio demônios, meio robôs, meio a puta que o pariu (sério, não dá pra saber o que eles são!) para abrir tubos de explosão que darão passagem de seu mundo para a Terra, o onipotente Darkseid observa tudo de seu universo, lambendo os beiços e mal podendo esperar para casar com a Mulher Maravilha dominar o planeta azul (sabe-se lá Deus porquê!).


Sério. A história é toda muito superficial. Não rola nem a menor tentativa de um aprofundamento sequer razoável acerca do posicionamento dos personagens ou mesmo de suas características mais básicas. Quem diabos é Darkseid (“um gigante mau em quem nós vamos sentar a porrada!”), o que diabos são os parademônios (“soldados rasos que nós vamos despedaçar!”) e o que diabos esses putos querem com nosso planeta. Há apenas uma linha finíssima de roteiro que diz “então vem um ser superpoderoso que vai querer dominar a Terra” e mais nada. 


É muito maniqueísmo até mesmo para uma animação infantil!

Outra coisa que incomoda e muito no desenho, é a personalidade dos heróis da Liga da Justiça. O intuito dos Novos 52 nos quadrinhos foi principalmente o de rejuvenescer seu panteão principal de personagens e mantê-los atraentes para a nova geração de fãs (mais ou menos o que Joe Quesada e a Marvel fez com o Homem Aranha e o lance do Pacto com o Mephisto), o que de certa forma funcionou, já que novos leitores foram atraídos e muitos dos velhos leitores continuaram lendo apenas porque são vermes desprezíveis para falar mal do material. 


A questão é que com esse rejuvenescimento, todos os personagens (com exceção do Batman, que continua sisudo e mal-humorado) se tornaram um bando de adolescentes imaturos com poderes. Não há nada do velho escoteirismo característico na persona do Superman. Ele se assemelha muito mais a um bombadão descerebrado que quer mostrar que seu braço é maior do que os demais do que um defensor da paz e da harmonia. Hal Jordan mais parece um garotão inconsequente do que um verdadeiro protetor de todo um setor espacial (ainda mais do que ele já era nos primórdios de sua carreira ainda nos “velhos 52”). A Mulher Maravilha é uma explosão de impetuosidade e brutalidade, e age mais como uma bárbara do que uma guerreira treinada, pronta para brandir sua espada e decepar cabeças sem medir as consequências. Enquanto pouco do Flash brincalhão do antigo desenho da Liga da Justiça é mostrado, o personagem mais consciente de seu papel de super-herói da animação é mesmo o Cyborg, embora ele se torne um “ciborgue” da forma mais inverossímil possível, após um acidente com uma caixa materna no laboratório onde seu pai trabalha.


Não... Sério? Ele morre na mesa de cirurgia e seu corpo danificado é reconstituído por tecnologia de Apokolips?

Sério?

A maior decepção da animação, no entanto, é com relação ao Shazam. Até entendo ele parecer um grandão bobo quando assume o corpo do garoto Billy Batson (afinal, é isso que ele é, um adulto com mente de criança), mas nem mesmo os poderes dele parecem condizer com o que eram antes. Pra começar, sua escala de super-força parece BEM ABAIXO da do Superman (que na animação possui um nível imbatível de força), uma vez que ele nem faz cócegas em Darkseid quando começa a trocar socos com ele. Sem falar que agora ele mais parece um “Homem Elétrico” soltando faíscas a todo tempo ou um “Deus do Trovão” disparando relâmpagos do que um ser mágico, fonte natural de seus dons. Se antes o velho Capitão Marvel conseguia fazer frente aos poderes do Superman, nessa nova versão ele mais parece que foi rebaixado para a segunda divisão dos heróis, servindo como um saco de pancadas humano.


Falando em pancadas, a violência assume níveis altíssimos à medida que os heróis percebem que estão perdendo o controle da invasão alienígena, e que o próprio Darkseid é uma ameaça grande demais para que eles possam enfrentar. Em um dado momento, Superman é capturado por Desaad, o puxa-saco principal de Darkseid, e o Homem-de-Aço começa a ser controlado pelas forças do mal. Enquanto seus acólitos levam o kryptoniano para o lado de lá da lei, o soberano de Apokolips enfrenta os amigos do Azulão no mano-a-mano, provando que ele é mais do que eles podem suportar, mesmo todos juntos. Enquanto o Batman deduz que sem o Superman não há como vencer a luta, e parte sozinho para tentar libertá-lo, seus Superamigos fazem de tudo para derrotar Darkseid (inclusive destruir toda a cidade!), chegando aos extremos da violência após um plano porcamente engendrado pelo imaturo Hal Jordan. 


Destaque para o que eles fazem com os olhos do gigante cinza.

Liga da Justiça: WAR  é um apanhado de clichês mal desenvolvidos que chega a causar desconforto em certo ponto. Os heróis não demonstram em nenhum momento sua bravura em combate ou mesmo utilizam de estratégia para vencer Darkseid. Porra nenhuma! A treta é resolvida na grosseria mesmo, e perto de seu clímax, o combate chega a ser vergonhoso. Os personagens estão descaracterizados, e para atingir um público maior, os executivos da DC decidiram torná-los pitboys anabolizados que não se importam com as consequências de seus atos, e sim com o resultado imediato. O roteiro parece que foi escrito por um moleque de dez anos. Eu sei porque nessa idade escrevi muitos assim!


Não gostei da postura de nenhum dos personagens. Se outrora eu costumava me sentir inspirado pela força de vontade do Lanterna Verde ou pela força do caráter do Superman, terminei de ver WAR como se eu tivesse assistido uma briga de bar sem sentido, onde vilões combatem vilões piores ainda apenas para medir quem tem o pau maior!



Se esse é o futuro das animações da DC, agora que eles deixaram para trás de vez todo o passado glorioso da editora, eu prefiro não fazer parte dele. WAR ainda vale a pena como entretenimento puro. Como de costume, o ritmo a animação é de tirar o fôlego, os desenhos empolgam bastante, mas o roteiro é uma bosta. Se você não se importa em ver o Superman matando parademônios sem qualquer remorso ou ver a Mulher Maravilha feito uma bárbara em meio a soldados bersekers, você vai adorar WAR. Caso você seja um cara que, assim como eu, está velho demais para essa merda, passe longe. Vá ver o filme do Pelé! 



NOTA: 5

NAMASTE!

6 comentários:

  1. Cara, acho que uma explicação possível para a DC ter se tornado essa porcaria é a de que ele reflete o que eu chamo de "pegada da molecada atual". Cá pra nós, as gerações de adolescentes nos últimos anos estão cada vez mais descerebradas. Consegue imaginar algum moleque nos dias de hoje lendo A Piada Mortal, Watchmen ou Sandman? Eu, particularmente, não conheço nenhum.

    A verdade é que a DC morreu e se enterrou há muito tempo. O que é natural, já que os personagens deles se transformaram de personagens icônicos a puros produtos para render grana.
    Um bom exemplo disso é o que você escreveu sobre O Homem de Aço, sobre aquele negócio do Azulão matar o General Zod no final.

    Muita gente fala mal dos anos noventa, mas ela rendeu algumas coisas boas, como Reino do Amanhã, por exemplo. As últimas histórias realmente boas que me lembro do Universo DC foram Silêncio e Cidade Castigada, do Batman. Tô afastado do universo de heróis desde 2007.

    O que ainda salva é a Vertigo. E a DC fez o favor de tirar o "Constantine" dela e mandá-lo pro universo dos heróis.

    Sinal dos tempos. Uma pena.

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    1. Concordo com você em gênero, número e grau, Augusto.
      O público atual é que faz a demanda dessas histórias medíocres que são apresentadas, e está sobrando bem pouco para os antigos leitores acompanharem. A Marvel fez a mesma coisa com o Homem Aranha, e por causa disso, estou me afastando cada vez mais dos Quadrinhos. Depois de Vingadores Vs X-Men decidi parar com séries mensais...

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  2. Achei esta animação um lixo , concordo com o autor do blog ,os personagens foram totalmente descaracterizados ,nós fãs fomos totalmente desrespeitados .odiei esta animação e detalhe nos quadrinhos o Aquaman faz parte da história ,no filme ele sumiu...

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  3. para entender a animação tem q ler OS NOVOS 52 em q os herois ainda são jovens e inexperientes, com os passar das edições eles vão amadurecendo e se tornando os herois que conhecimos, concordo q umas coisa são horriveis como a edição dos Novos Titãs mas revista como:Os melhores do mundo:Caçadora e Poderosa,Superman,Superman e Batman,Superman e Mulher Maravilha e etc são otimas,realmente com o reboot os personagens mudaram de caracteristica como o superman mais agressivo e mulher maravilha mais ligada as suas origens gregas, mais o motivo do reboot e isso inovar, eu sinceramente ninca gostei do superman todo certinho e a mulher maravilha controlando seus instintos de guerrera

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  4. Nada contra os antigos leitores mas só falta comentarem assim ''No meu tempo não era assim...'' fala serio, podem me chamar ate de fanboy, mas a realidade e q a DC precisava do reboot, vem me dizer q preferia a historia de uma cara com cueca por cima da calça e todo dia bate em um robô q por algum caralho d motivo qer destruir a cidade volta pra jantar com a esposa(wtf?) nada contra mas em comparação com novo Superman mais jovem,impulsivo, agressivo e principalmente distante da humanidade no Universo DC ele é um DEUS, e não tem nada q ficar pagando pau pra tanta humanidade(os únicos humanos q prestam na vida dele é os Kents q o criaram e o fizeram o homem de hoje e Lana Lang q tiro sua virgindade) vou adimitir nunca tinha lido nenhuma HQ mas sabia das historias dos heróis e vagando pela net achei um site falando dos Novos 52 e com uma foto da edição 12# com Superman beijando a Mulher Maravilha e isso me atraiu consequentemente li todas as HQS DA Liga da justiça, o q me levou a ler todas do Superman, Batman, mulher maravilha e etc, não satisfeito li as atingas pre-novos 52 e me decepcionei um Superman todo certinho uma diana versão fêmea do superman o aquaman nem se fala inutil, porra tinha uma q o clark deixava d c o superman pra ser so clark kent ,a realidade e q anos anteriores deram alegria, Reino do Amanhã, Novos titans , Liga da Justiça da America mas chega um ponto q fica insuportável, se eu na banca de jornal pega-se uma revista do super era visto como imatura hoje tenho orgulho de dizer sou fã do SUPERMAN(NOVOS 52)

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    1. O que eu penso sobre essa mudança de status de heróis eu escrevi nesse post aqui:
      http://blogdorodman.blogspot.com.br/2013/08/a-corrupcao-do-heroismo.html

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