18 de novembro de 2018

Até logo, Stan Lee!



No final dos anos 80 e por toda a década de 90, era muito comum eu comprar minhas revistas em quadrinhos em sebos de revistas usadas, e foi assim que comecei minha coleção. Já disse aqui no Blog algumas vezes que foi graças a meu irmão mais velho que comecei a gostar de gibis, e posso dizer até que minha alfabetização começou com eles. Por mais que o primeiro gibi que tenha tido contato na vida tenha sido um da DC (o famigerado Superamigos nº 19 da Editora Abril), foi com os da Marvel que encontrei meu lugar. 


Demorou um pouco para eu entender que DC e Marvel eram editoras rivais (como entender isso de primeira sendo quem o segundo gibi que chegou lá em casa estampava na capa o Superman e o Homem Aranha JUNTOS?), mas quando eu percebi as diferenças, comecei a notar um padrão em todo começo de história. Havia sempre um texto no cabeçalho das HQs escrito “Stan Lee Apresenta”, e isso se repetia em todas as revistas que chegavam lá em casa, seja as do Capitão América, as do Hulk, do Homem Aranha e até as Heróis da TV



Foi na edição de nº 100 do Capitão América que FINALMENTE descobri quem era aquele tal de Stan Lee, com um editorial explicando como ele havia criado os principais personagens retratados naquele gibi e com a colaboração de quem. 


Eu nunca tinha lido texto simples em gibi, e aquele em especial me chamou a atenção por se tratar do criador falando de suas criaturas. Percebi no mesmo instante que aquela era uma edição especial e rara (em formatinho com mais de 160 páginas), e foi aí que li pela primeira vez as origens do Quarteto Fantástico, do Hulk, do Homem Aranha e do Thor.


Depois da edição de nº 100 de Capitão América, alguns anos depois eu encontrei a Heróis da TV de nº 100 na banquinha de revistas usadas, e ela também contava a origem dos demais personagens criados por Stan Lee: O Doutor Estranho, o Homem de Ferro, os X-Men e os Vingadores


Todas as histórias de origem vinham antecedidas com um texto assinado por Lee (e aquele seu lado bonachão) explicando o que o levou a criar suas figuras fantásticas, e foi dessa forma que descobri a importância que esse cara tinha para aquele universo com a qual eu tanto me identificava, mas não sabia bem (na época) o porquê.


Por mais que se diga hoje que ele “não criou nada de verdade” e que o verdadeiro criador é Jack Kirby (que esteve ao lado dele como desenhista na invenção do Quarteto, do Hulk, dos X-Men e dos Vingadores), é inegável dizer o quanto Stan Lee ajudou a popularizar o gênero de literatura tão marginalizado que sempre foram as histórias em quadrinhos. Quantas vezes eu ouvi na minha própria casa que gibi “era besteira”, “um monte de lixo” e que “essas asneiras vão te deixar retardado” (bem, isso eu não discordo totalmente), e quantas vezes eu tive que esconder que gostava dessas “asneiras” na escola para não ser zoado até a morte por gostar de algo “tão infantil e sem propósito” quanto uma HQ. 


Hoje, em parte graças aos esforços de Lee em dar palestras e entrevistas, explicando o quanto uma HQ pode ser importante na vida de uma pessoa, em especial aquelas mais retraídas, mas introvertidas que não são as mais populares na escola, o público em geral consegue enxergar esse gênero com um pouco mais de respeito do que antes, e isso já é um grande avanço. 


Para mim, na década de 90, os gibis dos personagens inventados por Lee foram meu grande alento em uma família que não era muito conhecida por dar atenção ou por ensinar valores as crianças e adolescentes, e muito do que sou hoje, como véio adulto, se deve ao que aprendi nas HQs do Homem Aranha ou do Capitão América (que não foi criado por Stan Lee, mas que retornou do gelo graças a ele!). Embora eu nunca tenha tido grandes poderes, a frase “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” me ensinou que nós nunca devemos pisar ou maltratar alguém só PORQUE PODEMOS, e algo assim é difícil de se esquecer, mesmo vindo de um gibi. 


Sempre admirei os personagens dos quadrinhos por não ter alguém na vida real para admirar, e minha personalidade acabou sendo moldada por essas criaturas fantásticas que me acompanharam a vida toda. Parece babaca? Pode até ser, mas hoje tenho mais a agradecer a Stan Lee do que se imagina, e é com grande pesar que escrevo essa homenagem a ele que nos deixou no último dia 12 de Novembro


Com 95 anos não dá pra dizer que ele não aproveitou a sua vida, e ele deve ter se divertido um bocado nos últimos 10 anos de Marvel Studios em que esteve presente (fazendo participações) em todos os 20 filmes do estúdio, com os personagens que ele mesmo escreveu ganhando vida. Que lá de onde ele estiver ele conceda criatividade e sabedoria aos escritores e desenhistas que vão continuar contando as histórias de seus personagens na Marvel, e que por mais singela que possa ser essa minha homenagem ao que ele me ensinou em vida, espero que ele possa receber essa energia positiva.

PS.: Quase não deu para conter as lágrimas lendo as homenagens que Stan recebeu através do Twitter essa semana. Como fã, me emocionei verdadeiramente. Foi duro!

Excelsior!    

18 de setembro de 2018

CAPITÃ MARVEL – O TEASER TRAILER



O que sabemos até aqui sobre o filme da Capitã Marvel é bem pouco, visto que somente nas últimas semanas a Marvel começou a lançar o material de divulgação. O aguardado primeiro teaser trailer caiu feito uma bomba nas redes sociais, e a galera pirou com o visual do filme e o contraste planeta Terra e Espaço que fica evidente no vídeo. Chega de blábláblá e bora assistir a bagaça:


Claro que por um trailer não tem como formar uma opinião a respeito da direção do filme, que está a cargo de Anna Boden (Se enlouquecer não se apaixone) e Ryan Fleck (Half Nelson), dois diretores que já estão acostumados a trabalharem juntos e que são quase desconhecidos do grande público, mas as cenas de ação parecem bem dinâmicas. Depois dos Irmãos Russo ficamos mal-acostumados a cenas de ação inventivas de nos fazer cair o cu da bunda, portanto, vai ser difícil aceitar algo que não seja NO MÍNIMO parecido. Torcemos para que a dupla Boden/Fleck seja feliz nesse quesito.



Além de Brie Larson, que está com uma tremenda cara de militar fodona badass motherfucker nas cenas em que aparece em treinamento, temos no elenco o Samuel L. Jackson como um Nick Fury quase vinte anos mais novo do que o que vimos em Homem de Ferro 1 (2008), temos Jude Law (Mar-Vell), Ben Mendelsohn (Talos), Lee Pace (de volta ao papel de Ronan), Digimon Hounson (como Korath, o braço direito de Ronan), Clark Gregg (o Agente Coulson que aparece no trailer de topetinho) e Lashana Lynch, creditada como Maria Rambeau. Eu disse RAMBEAU!! Quem vocês conhecem nos quadrinhos que tem esse sobrenome?



O teaser ainda não nos mostra muita coisa de concreto sobre o roteiro, e apesar de algumas imagens lançadas há alguns dias mostrarem a cara dos skrulls e dos krees, ainda não sabemos se haverá MESMO uma Guerra Kree-Skrull logo no primeiro filme da heroína. 



Seja pelas fotos ou pelo teaser, ainda não sabemos também quão grande será a participação do Capitão Marvel na história, já que é mencionado que Carol Danvers ganha suas habilidades por causa da fisiologia kree do alienígena (assim como nos quadrinhos), mas nada além disso. 



As cenas com Jude Law também são bem escassas nesse primeiro trailer, o que aumenta a dúvida sobre o papel do personagem que ele interpreta e sua importância.



Considerando que o filme deve ter uma média de duas horas (que é mais comum), resta saber como será dividido o tempo de tela da história entre as aventuras da heroína na Terra e no espaço (é possível ver alguns segundos de uma cidade futurista no trailer que NÃO DEVE pertencer a Terra, já que o enredo se passa nos anos 90), SE É QUE teremos grande tempo de tela no espaço. 



É possível que a história toda se desenrole na Terra, com Carol tendo a ajuda da SHIELD para desvendar quem são os skrulls infiltrados no planeta quase como uma Invasão Secreta.



 A cena em que a Capitã senta o braço numa IDOSA dentro do metrô deve significar isso. “Skrull safado!”.



Além das conjecturas, podemos elogiar a fotografia do filme e os cenários que estão espetaculares. Brie Larson parece bem à vontade no papel da Capitã Marvel, e o finalzinho com ela emanando energia transparecendo todo o poder que ela manipula é de querer urrar de empolgação!



Já foi dito que esse filme será mais sobre a Carol Danvers do que a Capitã Marvel, o que deve significar um foco maior na personalidade da personagem do que em seus poderes (que são poucos, ela só tem superforça, voo, resistência a maior parte das toxinas e venenos existentes, controla e manipula energias estelares, tem controle sobre calor, espectro eletromagnético, gravidade, pode sobreviver no vácuo do espaço e viajar à velocidade da luz). 

Criada nos quadrinhos durante os anos 70 por Roy Thomas e Gene Colan, a Capitã Marvel nasceu como “Miss Marvel”, após ser atingida por uma explosão que a fez adquirir os mesmos poderes que o Capitão Marvel. Ela não demorou a fazer parte dos Vingadores e com eles viveu os grandes momentos de sua carreira, desde ser abduzida por um alienígena até perder os poderes (e a vida) quase que permanentemente após um quebra-pau com a Vampira dos X-Men



Nos anos 2000, após enfrentar um ostracismo GIGANTESCO, ela foi trazida de volta ao universo Marvel, dessa vez com status de A MAIOR super-heroína da editora, continuou usando seu maiô preto por um bom tempo até se tornar a CAPITÃ Marvel, nome pelo qual é mais conhecida hoje. Acho justo que ela seja a primeira super-heroína a estrear um filme solo pela Marvel em especial pelo potencial que tem a personagem, só é uma pena que ela não tenha aparecido antes em nenhum momento, nem que fosse apenas como sua persona humana em qualquer um dos filmes do MCU. Pelo trailer, é possível notar que ela esteve um bom tempo no espaço antes de cair de volta a Terra, e que ela não se lembra com detalhes de ter realmente vivido aqui. Vamos ver como isso tudo se encaixará no restante do MCU e como ela vai CHUTAR A BUNDA do Thanos em Vingadores 4!



O filme deve estrear em 7 de março de 2019.

PS.: Em tempos de empoderamento feminino e igualdade de gênero é importante notar que não há QUALQUER destaque nos dotes físicos da personagem no trailer, sem close na bundinha ou no peitinho, focando a história na personalidade da Capitã Marvel e em seus poderes.  

NAMASTE!

1 de agosto de 2018

Que Deus Salve o Rei!


Aiiinnn, Rodman! Você falando de novela?? Esse Blog não é mais o mesmo!

Aff! Vou cancelar a assinatura do Padrim!

Título de post citando “Deus”, é isso mesmo?????

Caaaalma, haters! Eu SEMPRE fui noveleiro, e isso nunca foi um segredo. Em minha época de criança (toca aquela música triste do Hulk) a nossa TV de casa sintonizava uns quatro ou cinco canais apenas, não existia TV por Assinatura ou Internet e uma das únicas formas de entretenimento audiovisual que tínhamos era a boa e velha novela. Mas eu tinha meus critérios de qualidade também. Não era assim bagunçado, assistindo tudo que passava! Eu vi os grandes clássicos da teledramaturgia da televisão brasileira junto de Babãe, e até hoje tenho boas lembranças de Renascer (aquela do Zé Inocêncio e o Pé de Jequitibá-Rei), Rei do Gado (ambas escritas por Benedito Ruy Barbosa) e os clássicos do horário das 7 protagonizados pelo Pescador Parrudo, Kubanacan e Uga-Uga.



Eu particularmente SEMPRE tive mais interesse nas histórias fantasiosas (Renascer tinha muito disso), e até hoje minhas novelas preferidas foram Vamp (de Antônio Calmon), O Beijo do Vampiro (mesmo autor) e Kubanacan (Carlos Lombardi) por causa do fantástico.

Por mais que a gente critique e exija uma qualidade que mesmo a Globo sendo a potência televisiva que é (sendo Iluminatti ou não!) AINDA não consegue atingir (se compararmos com produções estrangeiras!), temos que admitir que aquilo que os produtores, diretores e roteiristas conseguem fazer DIARIAMENTE é quase um milagre (e fica aqui a segunda citação religiosa do post!). Vocês se deram conta que uma novela tem mais de 150 capítulos que são transmitidos de segunda a sábado quase que ininterruptamente por MESES? Levando em consideração que uma produção como Game of Thrones (série que foi usado para vender Deus Salve o Rei como um produto similar), por exemplo, gasta quase US$ 15 Milhões por episódio (valor estimado para a última temporada da série que terá apenas 6 episódios) e que tem um tempo de criação muito mais extenso em relação a uma novela, a gente até entende que as vezes os efeitos visuais usados no Brasil não ficam tão bons ou que a história não engrene como se deve por causa da pressão diária a que os escritores acabam sendo submetidos. 



Daniel Adjafre que o diga!



Considerado ainda novato no meio, Daniel Adjafre até então tinha escrito episódios para séries como Cidade dos Homens, A Cara do Pai e SOS Emergência. Como novela mesmo havia trabalhado em Sete Vidas e A Vida da gente (que eu nem sei que novela é essa!), sendo Deus Salve o Rei seu grande desafio até então. Em meados de Abril de 2018, com a novela já no ar, Adjafre descobriu que não teria vida fácil na TV do Plim-Plim (essa entrega a idade!), com os números da audiência não agradando a emissora platinada e a história não conseguindo emplacar junto ao público, ele teve  que reescrever vários capítulos e aceitar ser supervisionado por Silvio de Abreu (que agora é diretor de teledramaturgia da Globo). Além disso, outro escritor foi chamado para auxiliá-lo, e assim Ricardo Linhares (de Rock Story) usou de sua experiência para corrigir os rumos que o enredo criado por Adjafre estava tomando, segundo a Globo, erroneamente. Algumas dessas correções foram a eliminação de personagens coadjuvantes em excesso (lembram da Peste que tomou alguns reinos da Cália?? Serviu para fazer essa eliminação!), a extinção de cenas que não deixavam a história seguir seu rumo de forma objetiva e a adição de um vilão de verdade à história com a chegada do Rei Otávio (Alexandre Borges) da Lastrilha, já que Rodolfo (Johnny Massaro) não estava dando conta desse posto. Os números da audiência deram uma estabilizada e a novela se manteve com uma média de 25,5 no Ibope, um pouco abaixo de Rock Story, que fechou com 25,9.



Mas e aí, Rodman, por que afinal você decidiu falar dessa novela em específico? Vai começar uma nova sessão para fazer reviews de novelas?

Em primeiro lugar, fazia muito tempo que eu não acompanhava uma novela do primeiro ao último capítulo (nem lembro qual foi a última que fiz isso!), e o motivo pelo qual me interessei por essa história é muito simples: O tema medieval!



As comparações exageradas com Game of Thrones e Vikings no início da divulgação da novela serviram, claro, para ao menos aguçar minha curiosidade, e decidi parar para dar uma olhada no dia da estreia do folhetim (isso também entrega a idade!) lá em Janeiro de 2018.

Mas Rodman, seu boçal! Você vive falando que não tem tempo para nada, como consegue parar para ver novela??

Nesse caso o GloboPlay disponibilizar os capítulos via streaming logo após sua exibição ajudou um bocado, e foi assim que consegui dar conta de todos os mais de 100 episódios, fora que abdiquei de várias séries esse ano como The Flash, Arrow, Agents of SHIELD e Supergirl, o que fez com que sobrasse um tempinho para ver Deus Salve o Rei.     

Vamos ao que interessa?

A novela não é nenhuma obra de ficção que se possa dizer “noooossa, que obra de ficção magnífica!”, mas distrai bem, como poucas novelas. Os personagens centrais também deixam bastante a desejar, mas a história é bem atraente e faz com que nos importemos com o destino de todos eles. O enredo se passa no reino de Montemor, onde a rainha soberana Crisélia de Monferrato (Rosamaria Murtinho) começa a preparar o neto Afonso (Romulo Estrela) para assumir o trono agora que sua idade já se encontra avançada. 



Dependente da água que vem do reino vizinho de Artena, Crisélia opta por encontrar novas fontes de água para matar a sede da sua população, e o próprio neto sai em expedição para encontrá-la junto ao fiel amigo Cássio (Caio Blat). Tudo dá errado quando a caravana de Afonso é atacada por ladrões perto de Artena, e ele acaba se perdendo de seus soldados, desfalecendo ferido em um campo após levar uma flechada. O destino faz com que Amália (Marina Ruy Barbosa) o encontre ali indefeso, e com a ajuda de seu irmão Tiago (Vinícius Redd) ela o leva para casa, onde começa a cuidar dele, sem saber que ele é o futuro governante de Montemor. Enquanto se recupera, sem dizer que ele é o príncipe de Montemor, Afonso sente uma forte atração pela plebeia, e ambos acabam se apaixonando. Claro. Senão isso não seria uma novela.



Dado como morto, Afonso fica desaparecido por bastante tempo, e à contragosto, Crisélia começa a considerar a hipótese de seu segundo neto assumir o trono após sua morte, embora ela saiba que essa não é a melhor ideia. O próprio Rodolfo (Johnny Massaro) vê a possibilidade com terror, já que seu grande talento é a esbórnia e não governar.  



Enquanto isso, no reino vizinho a ambiciosa princesa Catarina de Lurton (Bruna Marquezine) almeja o lugar do pai, o Rei Augusto (Marco Nanini), com todas as forças, entrando em conflito com ele por este ser benevolente em excesso. Sua visão é a de que Artena deve ser um reino forte e com um exército poderoso, mas Augusto e seu conselheiro Demétrio (Tarcísio Filho) discordam, entendendo que manter a paz entre os reinos vizinhos é a melhor forma de conduzir as coisas. 



Dessa forma, para a história ter algum atrativo, Afonso volta a Montemor recuperado, mas seu amor por Amália faz com que ele abdique do trono logo que sua avó falece, deixando-o para seu irmão Rodolfo, enquanto ele decide viver como um plebeu e ferreiro em Artena, junto a Amália. Catarina se alia ao perigoso Constantino (José Fidalgo) a fim de forçar Augusto a entrar em guerra, e assim começa a saga da princesa de Artena em busca de sentar em um trono, nem que para isso ela tenha que enganar, trair e até matar.



Dirigidos por Fabrício Mamberti, os capítulos da novela até que possuem um ritmo agradável, mas os atores não parecem tão bem dirigidos quanto poderiam. Se compararmos o grau de emoção que um ator de uma novela das 9, por exemplo, é capaz de expressar, com um de novela das 7, a diferença é gritante. É claro que os públicos são diferentes, e a novela das 7 é sempre feita mais para entreter, cabendo assim exagerar bastante no humor e trazer uma história mais leve e de fácil aceitação do que levantar questões polêmicas. Sempre foi assim.

Mas o que isso impede de exigir atuações mais verossímeis de seus atores?



Veteranos no elenco só mesmo Marco Nanini, Marcos Oliveira (Heráclito, mais conhecido como o Beiçola da Grande FamíliaWalter Breda (Enoque, que faz só pontas) e Betty Gofman (Naná), e mesmo esses atores parecem apenas ligados no modo automático de atuação, sem nos brindar com cenas mais emocionantes ou marcantes. Aos jovens atores, destaque mesmo somente para Johnny Massaro e Tatá Werneck (Lucrécia), que juntos protagonizaram as melhores cenas de humor da novela, extrapolando até mesmo o tema medieval com piadas cheias de referências modernas de memes e citações a Internet. 



O humor de Tatá nunca me agradou, nem mesmo na época de Comédia MTV, e de lá pra cá tem-se a impressão que ela faz sempre o mesmo tipo de personagem, o que não foi diferente da sua Lucrécia. Apesar disso, ela soube dosar muito bem momentos de drama a sua personagem quando foi necessário, e seu humor autêntico trouxe um frescor aos episódios da novela, o que fez falta quando Lucrécia se exilou em um convento após o fim do casamento com Rodolfo e acabou sumindo por alguns dias. Por sua vez, Massaro também tem uma boa veia cômica, o que deve ser explorado mais vezes pela Globo no futuro. O grande fracasso de seu Rodolfo como vilão foi essa mudança muito brusca de um palhaço para um tirano impiedoso, e exatamente por isso que ele não deu conta de assumir esse novo papel, o que não é culpa dele e sim do autor.



Chamados de “o casal sem sal” na Internet, Romulo Estrela e Marina Ruy Barbosa não conseguiram emplacar como os eternos apaixonados Afonso e Amália (ou Afonsalia), e pra muita gente, Amália nem era tudo isso para que um Rei abdicasse de um reino por causa dela! Econômica na sua interpretação, por vezes, vimos só uma sombra da menininha que estreou como atriz “encarando” Fernanda Montenegro em cena na novela Belíssima (2005), ou que encantou a todos como a lutadora Eliza de Totalmente Demais (2016). As vezes achamos que porque um ator ou uma atriz tem facilidade para chorar em cena ou demonstrar emoção é sinal de que ele é bom na sua profissão, mas nem sempre isso é tudo. Marina chora fácil, mas ela demonstra que ainda tem muito a aprender na arte de interpretar ou que talvez não tenha sido exigido muito dela nesse papel da plebeia guerreira. 



Não tinha nenhum instrutor de arco e flecha nesse estúdio para ensinar ela a segurar certo o arco?

No caso de Estrela, o papel lhe caiu no colo DO NADA quando o ator Renato Góes se desentendeu com o diretor Fabrício Mamberti logo no início das gravações e acabou saindo da novela. Estrela havia feito testes para viver o irmão de Amália Tiago, e com a saída de Góes ele acabou ficando como o Rei Afonso, o que ele fez da mesma forma que todos os outros atores da novela, de forma econômica. Bem nas cenas de ação, Estrela acabou mostrando a postura física certa para viver o herdeiro dos Monferrato, mas por alguma razão, ele não tinha química nenhuma com seu par romântico. A gente torce para os dois porque afinal, eles são os protagonistas... Mas lá pela metade da novela a gente começa a se perguntar se valeu a pena largar um trono por causa da Amália. Se ainda fosse pela Brice!

Falando em interpretações ruins, Vinícius Redd (Tiago) e Giovanni di Lorenzo (Ulisses) merecem juntos um Prêmio Cigano Igor de péssima atuação. Jesus! (Terceira citação religiosa do post!). 



Sem destaque na novela até se encantar por Selena (Marina Moschen) durante o Torneio da Cália, onde ele compete como arqueiro contra ela, e quando depois ele entra para o exército de Montemor após a devastação de Artena, Tiago tem cenas sofríveis de se ver em se tratando de atuação. Ele só se destaca mesmo nas cenas de ação, e deveria dar algumas dicas a Marina Ruy Barbosa de como se empunhar um arco! Já Giovanni di Lorenzo nem isso, já que ele interpreta o filho do Capitão do exército de Montemor que não tem talento nenhum para ser um soldado, preferindo se tornar um cozinheiro do castelo. A atitude do personagem em enfrentar o pai pela busca dos seus sonhos é louvável, só que o ator não dá conta, já que ele é inexpressivo e nos faz torcer por qualquer outro candidato ao coração de Selena do que ele mesmo. O Saulo (João Vithor Oliveira) merecia muito mais ela do que o Ulisses, e olhe que eu sempre torço para o fracote!



Ulisses e Selena ficarem juntos no final da novela quase não faz sentido, já que ela mesmo diz que gosta dele como AMIGO, e na vida real, quem só serve para ser amigo NUNCA vai ser namorado! 

Por falar em Selena, outra jornada bacana de acompanhar é o da cozinheira órfã do castelo que decide se aventurar ao treinamento da academia militar e largar a cozinha, para o qual, diferente de Ulisses, ela não tem a menor aptidão. Graças a seu esforço, Selena se torna a primeira mulher a entrar para a academia militar na história da Cália, e surpreende seus superiores mostrando habilidade no combate com bastão, ao manusear espadas e até mesmo no arco e flecha. 



Durante a novela são dadas algumas dicas de o que aconteceu a sua mãe, mas o passado da garota é um grande mistério, até que ela começa a desenvolver habilidades sobrenaturais que ela não compreende, e que atrai a bruxa Brice (Bia Arantes) para perto dela. Selena acaba descobrindo que ela é filha de uma bruxa que acabou sendo queimada viva por um inquisidor através de Brice, e a partir daí as duas acabam criando uma relação de amizade. Marina Moschen demonstrou bastante personalidade com sua Selena, e ela é uma das únicas personagens que nos fazem torcer por ela desde a descoberta de seus poderes místicos de manipular a natureza até seu destino como a Rainha da Lastrilha. Olhando para trás a gente percebe o quanto a personagem evoluiu, e em tempos de empoderamento feminino, ela é a grande vencedora dessa novela.



Destaque nas redes sociais e no ar em dois canais de TV AO MESMO TEMPO, Bia Arantes surgiu quebrando tudo na novela com sua bruxa Brice. Enquanto vivia uma noviça em Carinho de Anjo do SBT, Bia apareceu na novela das 7 da Globo para dar o pontapé inicial ao lado sobrenatural da história, que até então estava firmada na realidade. Aparecendo para o mulherengo Rodolfo e fazendo-o cair de amores por ela (que coisa difícil, né??) em seu período de soberano de Montemor, a bruxa causou altas confusões (leia isso com a voz do narrador da Sessão da Tarde) no castelo, enfeitiçando não só o Rei como também seus conselheiros Petrônio (Leandro Daniel) e Orlando (Daniel Warren). 



Após a quebra do feitiço feita pelo escultor e pintor Osiel (Rafael Primot) que era imune a bruxa por ser bom de coração, a mesma foi expulsa do castelo e proibida de pisar ali novamente. Alguns capítulos mais tarde, ela voltou a agir, e ajudou Virgílio (Ricardo Pereira) a reconquistar Amália, enfeitiçando a ruiva e fazendo-a se esquecer de Afonso, retornando sua mente para o período onde ela era noiva do comerciante. Nesse período a Amália se tornou INSUPORTÁVEL, e o Afonso pagou seus pecados sendo obrigado a ver sua amada nos braços do ex dela. Quem nunca, né?



Além de linda, Bia Arantes mostrou bastante talento ao dar vida a sua bruxa Brice, e ela se destacou tanto na história, que ganhou enredo próprio com a história dramática da perda de sua filha recém-nascida e da busca incessante pela mesma ao longo dos últimos vinte anos. Deve ter sido divertido gravar as cenas onde ela faz as coisas voarem pela casa e onde portas de fecham só com um empurrão mental!



Já que tocamos no assunto sobrenatural, me permito viajar um pouco aqui. Na novela é dito que Brice tem mais de 100 anos de experiência e isso por si só explica como ela é tão poderosa, sendo capaz de se transfigurar (mantendo sua aparência mais jovem ao “consumir” a essência dos homens), capaz de se teleportar a longas distâncias, assumir o corpo de outra pessoa (como ela faz com a Lucíola no último capítulo) e ainda possuir poderes telecinéticos. Sua única fraqueza parece ser o ferro (e em muitas histórias antigas é dito que as bruxas não possuem imunidade ao ferro). 



Já Selena parece ser capaz de manipular apenas os elementos e a natureza, e não faz mais nada que Brice faz. A pequena Agnes (Mel Maia) é capaz de ler pensamentos e de projetar seus pensamentos através de sonhos, e por fim, a mãe de Selena demonstra ter habilidade em atravessar barras de ferro (ou qualquer objeto sólido), o que ela usa para escapar do cárcere e fugir com sua filha das garras de Otávio. Achei interessante o combo místico ser dividido entre as bruxas da história e não torná-las capazes de fazer QUALQUER COISA, como seria mais fácil de explicar num roteiro mais preguiçoso.



Dizem por aí que é bom viver um “mocinho”, mas que todo ator/atriz se realiza mesmo é fazendo um vilão. Ao que parece, a única que não curtiu muito foi a Bruna Marquezine!
Criticada no início da novela por sua interpretação robótica e inexpressiva, Bruna mostrou que a culpa de sua Catarina ser daquele jeito não era bem dela e que o papel vinha escrito assim. Na intervenção feita por Ricardo Linhares ao roteiro de Daniel Adjafre, Bruna pode se soltar um pouco mais em cena, e apesar de não parecer mais que ela estava atuando em câmera lenta, sua vilã não foi tão mais convincente do que sua rival Amália em cena. 



Com uma cara de deboche inacreditável toda vez que tinha que contracenar com Marina Ruy Barbosa (já que o papel pedia isso) nas cenas em que Catarina rivalizava com a plebeia ruiva dos infernos Amália, ela conseguiu conduzir sua personagem até o final da trama, embora sua vida pessoal (em especial o namoro com o Neymar) estivesse mais em evidência do que seu papel. Se olharmos para trás da história da teledramaturgia brasileira nós conseguimos lembrar de vários vilões que conquistaram seu espaço em nossas memórias e que desempenharam um papel tão bom como antagonistas que nos fizeram (nem que por um breve momento) torcer para o lado errado, mas Catarina de Lurton certamente não estará nesse hall. Os pontos positivos de sua atuação ficaram nos encontros de Catarina com Lucrécia, onde tanto Marquezine quanto a Tatá Werneck deram show numa química muito boa de humor onde certamente teve uma improvisação muito grande para que a cena funcionasse. Essas cenas fizeram a estadia de Catarina no castelo de Montemor valer a pena.



Deus Salve o Rei termina com um saldo positivo apesar de todos os percalços, em especial pela ousada temática num horário tão concorrido por outras atrações. O mesmo que me aproximou da novela deve ter afastado muitas senhoras espectadoras que só querem ver o mocinho beijando a mocinha no final da história, na velha briga entre ricos e pobres e nas lindas paisagens de Angra dos Reis, mas para mim valeu bastante a pena acompanhar a história fantástica de um reino tão tão distante. Os efeitos visuais da novela atenderam aquilo que se propuseram fazer, e algumas cenas de combates com espadas e lutas corporais foram bem coreografas, sem falar que o cenário e as vestimentas medievais ficaram bem decentes. Quanto a qualidade nesse nível ninguém pode criticar a Globo. Os caras são bons no que fazem. Que Daniel Adjafre tenha instigado outros autores a ousarem em seus roteiros também a partir de agora, e que claro, todos em casa curtam o bastante para que essas ideias possam continuar existindo, fazendo as novelas saírem um pouco do mesmo padrão onde estão há uns 60 anos!



Imaginem o estrago que Deus Salve o Rei teria feito na audiência se tivesse sido exibida no horário (proibidão) das 23 h??

Imaginem se o nível de violência das batalhas estivesse liberado (e olhe que mesmo no horário das 7 rolaram umas cabeças e alguns litros de sangue digital!) tal qual Game of Thrones e que o sexo e a nudez fizessem parte do roteiro? Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa estariam sendo vistas de outra forma num momento desses, sem falar que o horário em que a novela é exibida também influencia na atuação dos atores. Os grandes clássicos da TV são os que foram transmitidos no horário nobre e não as 7!



PS.: No último capítulo teve casamento, teve mulher parindo (como é padrão nas novelas) e teve... A VILÃ SENDO ENFORCADA! :O



PS.2: Algumas cenas de batalha da novela foram espetaculares, e a galera dos efeitos visuais da Globo mandou muito bem a novela toda, recriando cenários medievais, nos efeitos de magia da Brice e até mesmo no sangue digital. 

PS.3: Os temas musicais da novela também são muito bons, começando pela abertura ("Scarborough Fair" - Aurora) que dá toda aquela sensação de magia (que combina com aquela abertura linda da novela cheia de referências visuais) e o tema de Afonsália "Watch it All fade") interpretada por Gavin James que inclusive embalou a minha fossa dos últimos meses... 


:'(
PS.4: O que dizer do elenco da novela caindo no funk? :D

NAMASTE!     

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