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25 de abril de 2021

Oscar 2021 - A Voz Suprema do Blues, Mank e Pieces of Woman



O jabá gratuito agora é da Netflix e o Combo Breaker do Oscar dessa vez vai prestigiar três produções que constam no catálogo da locadora vermelha e que estão disponíveis para serem vistos AGORA.

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A VOZ SUPREMA DO BLUES



Lançado direto na Netflix e dirigido por George C. Wolfe, A Voz Suprema do Blues (“Ma Raineys’s Black Bottom”) se passa nos anos 20 e narra um dia de gravação em estúdio de Ma Rainey, a cantora que é conhecida como a “Mãe do Blues” por ter popularizado o estilo musical na América. Enquanto a personagem vivida magistralmente por Viola Davis (ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2017 por “Um Limite Entre Nós”) precisa se impor para que seu trabalho não seja controlado pelos empresários brancos a seu redor, nós somos impactados pelo imenso talento da atriz que interpreta a blueseira de maneira visceral, firme e colérica.



Em paralelo à história da Mãe do Blues, nós vemos os desentendimentos da artista com seu trompetista Levee (Chadwick Boseman), um rapaz cheio de mágoas do passado que de maneira ambiciosa sonha com sua própria carreira musical, à frente de uma banda e independente de Ma Rainey.

A Voz Suprema do Blues é o clássico “filme de Oscar” cheio de diálogos intensos, interações fantásticas entre bons atores e interpretações que a gente já imagina no telão no dia do anúncio de “melhor ator/atriz”. Tanto Viola quanto Chadwick estão fulgurantes em cena e é impressionante imaginar que aqueles personagens — que são baseados em pessoas reais — não são exatamente do jeito que ambos interpretaram.



Como não podia deixar de ser — afinal é um filme com “blues” no nome — as sequências musicais são excelentes e mostram que tanto Viola quanto Chadwick se prepararam para seus papeis. Embora tenha sido dublada posteriormente pela cantora de soul music Maxayn Lewis no filme, a intérprete de Ma Rainey soltou a voz mesmo durante as gravações, tanto que é ela cantando durante a canção “Those Dogs of Mine”. Já Boseman, em pró de passar maior veracidade a seu personagem, estudou trompete antes das gravações para poder dedilhar corretamente o instrumento e passar a imagem de virtuosismo. No documentário “Chadwick Boseman Para Sempre” — também disponível na Netflix — alguns músicos instrumentistas elogiam a performance do ator no filme e comentam que ele se dedicou realmente a seu papel de Levee.



Já visivelmente abatido e ofegante em algumas cenas mais pesadas, o ator de 43 anos quis fazer de seu último papel um dos melhores de sua curta carreira e a intensidade de seu personagem tirou de Boseman uma atuação, sem meias palavras, digna de aplausos. Com o tempo a gente se acostuma a ver filmes medíocres pipocas que não exigem muito de seus atores, assim como personagens vazios que não têm nada para dizer, mas quando nos deparamos com algo como A Voz Suprema do Blues, é preciso elogiar e elogiar muito. 



Tendo como coadjuvantes nomes como Glynn Turman (o Toledo), Colman Domingo (Cutler) e Michael Potts (Slow Drag), todas as interações de Levee com seus colegas de banda são maravilhosas, bem como os diálogos e provocações entre eles até o desfecho chocante da história. O monólogo em que Levee explica sua aparente subserviência ao produtor branco Sturdyvant para os colegas, relacionando aquilo à maneira como seu pai reagiu no passado após o estupro da sua mãe por um grupo de homens brancos — e como ele os caçou um a um —  é com certeza o ponto alto do filme, e a entrega do ator fica evidente tanto em seu olhar quanto em sua voz. Se Boseman ainda tinha algo a provar para alguém sobre seu talento cênico, agora não tem mais.

A Voz Suprema do Blues disputou as categorias do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático e Melhor Ator em Filme Dramático, dando o prêmio póstumo a Chadwick, que faleceu em decorrência a um câncer em agosto de 2020. Viola Davis e Boseman também disputam o Oscar na mesma categoria e o filme ainda concorre às estatuetas de Melhor Design de Figurino, Melhor Design de Produção e Melhor Maquiagem e Penteado.


MANK



Cidadão Kane (1941) de Orson Welles, é considerado até hoje o melhor filme da história e é um consenso entre 10/10 estudantes de cinema sobre sua qualidade narrativa, sua montagem e edição pouco ortodoxa para a época. Se nós ficamos impressionados com a maneira não-linear com que Quentin Tarantino costumava contar suas histórias nos anos 90, Welles em seu primeiro filme nos anos 40 já fazia isso e de maneira muito talentosa.



O que pouca gente sabia é que muito das peripécias cinematográficas experimentadas por Welles na época provinham especialmente de um roteiro muito bem escrito que NÃO pertencia ao genioso e arrogante diretor — cria do rádio, onde fez muito sucesso com sua famosa transmissão de A Guerra dos Mundos — e sim de Herman J. Mankiewicz, um roteirista quase em fim de carreira que fez de Cidadão Kane sua obra-prima.

O filme Mank dirigido pelo badaladíssimo David Fincher (de Clube da Luta e Se7en) narra a história de Mankiewicz dos áureos anos 30 até a conclusão de seu trabalho, encomendado pessoalmente por Orson Welles. Enquanto luta contra o alcoolismo, um casamento à beira do colapso e problemas de saúde decorrentes de um acidente automobilístico, Herman se vê pressionado a escrever o roteiro que vai tirá-lo do ostracismo e devolvê-lo ao estrelato hollywoodiano onde ele já esteve diversas vezes.



Verdade seja dita, o ritmo de Mank é horrível. Com bem mais de duas horas de projeção, a história se arrasta até sua conclusão e causa bastante sono em seu longuíssimo caminho. Além de passar por nossos olhos com passos de tartaruga, o filme tem uma montagem estranha e enquadramentos de câmeras que dão pouco destaque aos atores, sempre mostrando tudo muito de longe e não se preocupando em identificar os personagens. A passagem de tempo e o vai e volta na linha narrativa mostrando em flashbacks o que levou Mank ao quase esquecimento é muito bem marcada com legendas óbvias na tela, mas isso não faz com que o ritmo melhore. 



A história tem um fundo político muito intenso, envolve nomes reais dentro da ficção, fala da eterna briga entre democratas e republicanos, comunismo, nazismo, mas passa muito superficialmente pelas características de tudo isso, deixando vago quem é quem e qual sua real importância dentro da trama. Muita coisa passou simplesmente batida por mim ao longo do filme sem que eu conseguisse sequer entender nos diálogos e isso fez com que minha experiência com Mank não fosse boa.

Então a culpa de não ter gostado é sua que é burro, Rodman!

Não discordo!

O fato de que para nós brasileiros a história americana nos pareça nublada e desconhecida ajuda bastante também a querermos ignorar todo o background político da obra de David Fincher para focarmos mais na trajetória de Mankiewicz em busca de seu roteiro perfeito — e dos créditos no material final —, mas como uma coisa está intimamente ligada a outra — o personagem Mank é extremamente politizado — a história acaba nos parecendo bem menos atrativa no final das contas.

Gary Oldman em cena com Amanda Seyfried


Em tempos, Gary Oldman está muito bem no papel do protagonista — e dizer isso é quase chover no molhado! —, mas esse claramente não é seu melhor personagem da vida. Atuações viscerais, histriônicas, escandalosas e até caricaturais é o que esperamos quando vemos seu nome no cartaz de um filme, mas seu Mank não exige nada disso, o que no frigir dos ovos, lhe rende apenas uma interpretação OK, nada muito digno de Oscar — talvez, quem sabe, pelo conjunto da obra. 

O elenco de Mank ainda conta com Tom Burke interpretando Orson Welles, Lily Collins como Rita Alexander — a grande parceira de processo criativo de Mank —, Tuppence Middleton como a “Pobre Sara”, esposa de Mank e Amanda Seyfried como Marion Davies, a atriz e consorte do poderoso empresário William Randolph Hearst (Charles Dance, o Tywin Lannister de Game of Thrones) que é a verdadeira inspiração de Mankiewics para compor seu “Cidadão Kane”.



Mank disputa 10 categorias do Oscar 2021, entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Atriz Coadjuvante (Amanda Seyfried) e claro, Melhor Ator, com Gary Oldman enfrentando outros nomes de peso como Anthony Hopkins (por “Meu Pai”), Riz Ahmed (“O Som do Silêncio”), Steve Yeun (de The Walking Dead direto para o Oscar por seu papel em “Minari”) e Chadwick Boseman, do já comentado A Voz Suprema do Blues.

E agora você, querido leitor, já pode rir à vontade da minha cara que ousou criticar David Fincher em um post!


PIECES OF WOMAN



A estreia do diretor húngaro Kornél Mundruczó em longas-metragens de sucesso não poderia ter sido mais acertada. Pieces of Woman é um drama daqueles que te deixa arrasado de ponta a ponta e que te mantém pensando na história ainda durante um tempo após a projeção, com a cabeça enfiada no travesseiro e encarando o teto.



Antes de ver o filme, eu já tinha lido e ouvido comentários sobre a tal “cena do parto” que havia tirado de Vanessa Kirby uma interpretação magnífica, por isso, quis conferir o trabalho com meus próprios olhos, o que nem de longe me preparou para o que vi. A tal cena, não é simplesmente “uma cena” e sim uma sequência INTEIRA de um parto em casa totalmente filmado em plano-sequência. Eu já tinha visto inúmeras tomadas de ação que utilizavam esse recurso narrativo que nos faz acompanhar de maneira íntima o que está acontecendo em tela — David Leitch faz isso muito bem em Atômica e Sam Hargrave segue a mesma linha em O Resgate —, mas confesso que fiquei impressionado com a maestria com que isso acontece durante um trabalho de parto.

Molly Parker e Vanessa Kirby


A todo momento eu fiquei tentando enxergar os cortes para a montagem do “plano-sequência falso” na edição ou mesmo as pausas e tiradas de câmera para que os atores pudessem trabalhar — em cena, Kirby divide espaço com Shia LaBeouf, que interpreta seu marido Sean e a parteira Eva, interpretada por Molly Parker —, mas confesso que fui derrotado. Toda a sequência leva bem mais de 10 minutos e quase não há espaço para improvisos ou distrações. A cena é bem cotidiana e se passa inteira dentro de uma casa comum. Sean arrasta os chinelos pelo corredor, ele escorrega no chão liso, se enrola todo para sair de baixo da esposa enquanto a sustenta para que Eva confira a dilatação, a câmera segue o trio pelo corredor escuro, entra com Molly dentro do quarto para que ela prepare a cama onde vai acontecer o parto e depois vai até Martha, a personagem de Vanessa, para vê-la dentro da banheira. E tudo isso sem pausas, sem que vejamos a equipe técnica por trás da gravação, sem sombra de câmera nas paredes, de gruas ou qualquer outra coisa que nos tire da imersão da história.

Mas, Rodman… você acabou de descrever 100% do que COSTUMEIRAMENTE é o cinema! Qual sua surpresa?

Essa é a magia do cinema, caro padawan! Não importa quantos filmes assistamos na vida, o cinema SEMPRE é capaz de nos surpreender, mesmo usando recursos que já vimos antes empregados de maneira ainda mais criativa!

Claro que devemos pontuar as participações de Parker e LaBeouf nessa sequência de tensão incrível, mas não tem como não elogiar e MUITO o talento de Vanessa Kirby que entrega tudo perfeitamente — trejeitos, movimentação pesada e lenta de uma gestante —, quase nos fazendo acreditar que ela está prestes a parir de verdade! Enquanto reclama que está enjoada e esbraveja por conta da dor que está sentindo, Martha ainda solta alguns arrotos pontuais, passando uma noção muito íntima de que está vivendo maus bocados internos ali, sem falar nas expressões de dor e no jeito de quem não sabe muito bem onde pôr a mão ou que fazer em seguida. Eu fiquei impressionado com toda essa sequência e tive vontade de aplaudir de pé enquanto minha mente não parava de ecoar a pergunta "como eles enfiaram um bebê de verdade nessa cena sem cortes, sem a gente perceber?"

A bebê de Martha e Sean [SPOILER] não sobrevive como vocês já devem imaginar e toda a história do restante do filme se passa durante os diferentes tipos de luto que tanto os pais da criança sofrem quanto todos a seu redor, incluindo a mãe da protagonista Elizabeth (Ellen Burstyn), sua irmã Anita (Iliza Schlesinger) e até o cunhado Chris (Ben Safdie). Enquanto o processo contra a parteira Eva transcorre de maneira bem escandalosa na mídia, com ela acusada de negligência na hora do parto em casa, nós acompanhamos o cotidiano do casal, que age de maneira distinta pela perda da filha. Enquanto Sean se descontrola totalmente, querendo com o apoio da sogra — que o odeia — que a justiça seja feita contra a parteira, a própria Martha assume uma postura mais defensiva, meio que tentando esconder o próprio luto diante das pessoas, embora diversos sinais em suas expressões indiquem ao espectador que há sim um sofrimento interno muito grande, como não poderia deixar de haver.



Toda a simbologia em volta da maçã e do depoimento sob pressão de Martha no julgamento de Eva fazem de Pieces of Woman um filme extremamente tocante e que nos faz enxergar como às vezes nossos sentimentos diante da perda podem ser completamente fora da curva, e como eles, em sua essência, são uma maneira que nosso subconsciente tem de lidar com o luto de maneira muito particular. Seguramente, o longa-metragem não é o melhor dessa safra 2020, mas com certeza é um dos mais bonitos e bem-feitos da última década.



Em tempos, a lindíssima e talentosa Vanessa Kirby disputa o Oscar de Melhor Atriz esse ano com a favorita da noite Frances McDormand (que já foi premiada em 1997 por Fargo, em 2018 por Três Anúncios de um Crime e que em 2021 concorre por seu trabalho em Nomadland) e Viola Davis de A Voz Suprema do Blues. A briga vai ser boa, mas estaremos na torcida.


P.S. – No já mencionado documentário Chadwick Boseman Para Sempre artistas como Danai Gurira (a Okoye de Pantera Negra e Vingadores: Ultimato), Spike Lee (que dirigiu Boseman em Destacamento Blood), Denzel Washington (produtor de A Voz Suprema do Blues), Glynn Turman e a própria Viola Davis falam sobre a dedicação do ator em seus trabalhos anteriores, além de prestarem uma linda homenagem a Boseman que já se enquadra na categoria de um dos melhores artistas de sua geração. Impossível não se emocionar com a história de vida do eterno Pantera Negra. Wakanda Forever!

P.S. 2 - Eu fiquei apaixonado por Vanessa Kirby desde quando a vi em Missão Impossível: Efeito Fallout e até hoje fico impactado com o sorriso dessa mulher. Uma pena que ela não tenha mostrado tanto essa bela característica em Pieces of Woman, embora tenha usado algo melhor: seu talento cênico incrível!



P.S. 3 - Amanda Seyfried disputa o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Mank esse ano e não sei se vai ganhar, mas em 2010 ela venceu dois prêmios muito importantes do Blog do Rodman, o de Beijo mais excitante da História do Cinema e Melhor Beijo que todo Nerd punheteiro sempre quis dar na Megan Fox! Puta que pariu! Que Garota Infernal!



P.S. 4 - Depois de Ninfomaníaca (2014), parece que o Shia LaBeouf se especializou em mostrar a piroca nas produções em que aparece e repetiu a dose em Pieces of Woman. Quem quiser dar uma conferida no material do rapaz, está lá pela metade do filme, embora esse seja um DETALHE PEQUENO em meio à grandiosidade do filme! 


 

NAMASTE!    

24 de abril de 2021

Indicações ao Oscar 2021



O cinema costuma refletir o que acontece na vida real e como não podia deixar de ser, esse ano o Oscar vai premiar ótimas obras de ficção baseadas na realidade, entre elas, três produções que falam de racismo e preconceito étnico: Judas e o Messias Negro, Os 7 de Chicago e Dois Estranhos.

Sigam-me os bons!


Fundado em 1966 pelos estudantes negros de Oakland (Califórnia) Huey Newton e Bobby Seale, o grupo dos Panteras Negras foi criado para combater a violência policial praticada sobretudo contra os afro-americanos, ação que na época, estava se intensificando devido a luta pelos direitos civis. Vendo seus pares recebendo um tratamento cada vez mais agressivo na sociedade à medida que tentavam reivindicar por melhores condições humanitárias, Newton e Seale decidiram igualar suas forças com a Polícia, tornando os Panteras Negras, à princípio, um grupo armado que monitorava as ações truculentas contra negros, coibindo também qualquer manifestação de racismo.   

Nos primeiros anos da fundação dos Black Panther, o grupo não só conseguiu mais adeptos de seus ideais na própria Califórnia, como também acabou ganhando projeção nacional, espalhando células por todo os Estados Unidos. As ações radicais — incluindo as armadas — começaram a se tornar mais sociais e o grupo logo transformou-se num partido, passando a usar sua influência para construir clínicas médicas populares — que atendiam a comunidade pobre, negra e latina —, escolas e até organizando mutirões para entrega de alimentos. Entre suas muitas ideologias, os Panteras Negras pregavam a sociedade autogestionária — onde os negros governariam a si mesmos —, crítica aberta ao sistema capitalista, liberdade para determinar o destino da comunidade, moradia, educação decente e isenção do serviço militar para homens negros.

A expansão das células do partido pelo país claramente passou a incomodar o governo da época — liderado na Casa Branca por J. Edgar Hoover — que via na sua influência um perigo para a sociedade branca predominante. Apoiados por grande parte da população que via na segregação racial o status quo que deveria ser seguido em seu país, os governantes usaram o FBI para implodir a organização dos Panteras Negras, implantando agentes infiltrados em suas células e enfraquecendo o grupo ano após ano. Dois dos casos mais emblemáticos envolvendo membros do partido foram o de Bobby Seale durante o julgamento dos “7 de Chicago” em que o cofundador dos Panteras Negras foi amarrado e amordaçado perante a corte a mando do juiz responsável pelo caso e o do jovem líder do partido em Illinois Fred Hampton que foi assassinado à queima-roupa pela Polícia em sua casa, diante da esposa grávida de oito meses. Ambas as histórias reais estão sendo retratadas em filmes distintos e concorrendo ao Oscar de 2021.


JUDAS E O MESSIAS NEGRO



Dirigido pelo norte-americano Shaka King de 41 anos, Judas e o Messias Negro conta sem grandes filtros a dramática ascensão e queda do líder carismático Fred Hampton, que aos 21 anos veio a se tornar um dos mais importantes e influentes líderes do partido dos Panteras Negras. Interpretado na tela por Daniel Kaluuya (do excelente Corra!), Hampton era um orador talentoso que baseava seus discursos, sempre bastante inflamados frente a sua comunidade, em nomes como o de Malcolm X e do pastor Martin Luther King, ambos assassinados por suas crenças ainda durante a década de 60. Como o “Presidente” do partido em Illinois, Hampton usou de sua persuasão para abraçar outros grupos em pró da sua causa — seguindo a ideologia já comentada dos Panteras — como os porto-riquenhos e os sulistas, que tal qual os negros, eram marginalizados e condenados à extrema pobreza no estado americano.

Judas e o Messias Negro


Em paralelo à ascensão de Hampton junto aos Panteras Negras, o filme acompanha também a vida de William O’Neal (LaKeith Stanfield), um ladrão de carros trapaceiro que acaba sendo cooptado por um agente do FBI chamado Mitchell (vivido pelo comumente conhecido “Matt Damon genérico” Jesse Plemons) para trabalhar infiltrado junto à célula de Hampton. Se vendo sem saída e aceitando trabalhar para o governo em troca de um salvo-conduto, “Wild Bill” acaba entrando para os Panteras Negras, chegando a se tornar o chefe de segurança do partido enquanto espiona secretamente as ações de Hampton.

Judas e o Messias Negro


Apesar de não impressionar tanto em seu início lento ou ousar com tomadas de câmaras mirabolantes — e nesse caso desnecessárias — Judas e o Messias Negro compõe muito bem seus personagens principais, tornando bastante imersivas suas jornadas pessoais. É impossível não reagir positivamente às sequências em que Hampton discursa diante de uma plateia exultante ou que ele simplesmente convence novos adeptos à sua causa — entre eles a célula conhecida como “The Crowns”, que eram rivais aos Panteras em essência, mas que partilhavam de vários de seus ideais — e exatamente por isso, o filme se coloca como um elemento importantíssimo para entendermos melhor essa época tão conturbada da história americana e cujas consequências se estendem até os dias atuais. De certo modo, a luta de Hampton contra o racismo perdura até hoje, travada agora por outras pessoas.

É importante salientar que em vários momentos do filme nos é mostrado em detalhes que, apesar das ações sociais em pró da comunidade carente da região onde a sede do partido está instalada, os Panteras Negras consideram o uso da força contra a Polícia para se fazer entender, mas que isso em nenhum momento desabona o motivo pela qual eles se organizaram. O endosso pela causa antirracista ganha ainda mais intensidade conforme mergulhamos no plano sujo do agente Mitchell e seus superiores para destruir Fred Hampton — com o óbvio aval do Presidente J. Edgar Hoover, em tela vivido por Martin Sheen — usando a figura de O’Neal, e simplesmente não tem como não nos colocarmos do lado dos oprimidos. Nesse sentido, Judas e o Messias Negro presta um excelente serviço de conscientização às causas raciais e nos faz ter empatia não só ao que Fred Hampton representava na vida real, como também a todas as pessoas que sofreram injúrias e acabaram pagando com suas próprias vidas acima de tudo pela cor de sua pele.

O assassinato brutal de Fred Hampton estimulou diversos protestos na comunidade negra dos Estados Unidos ao final da década de 60 e somente muitos anos depois é que foi pago uma indenização à sua família e a dos outros membros do partido mortos durante a ação desproporcional da Polícia, que disparou quase 100 tiros na invasão à casa, contra um disparado em autodefesa. Apesar disso, não houve qualquer declaração de desculpas ou de arrependimento por parte das autoridades após a derrota nos tribunais. 

É impossível não comparar Judas e o Messias Negro com outra grande porrada visual que é Infiltrados na Klan (comentado aqui) de Spike Lee, o vencedor de Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2020, já que ambos falam de assuntos semelhantes — racismo, infiltração de agentes em grupos rivais... —, mas apesar de ser um material mais cru de uma realidade sem floreios, o filme de Shaka King carece de ritmo em certos momentos comparado ao de Lee, o que felizmente é compensado pela brilhante atuação do protagonista Daniel Kaluuya, que desponta como um dos mais importantes atores negros de Hollywood. Toda a motivação de Hampton está entranhada na interpretação do ator e ele chega ao Oscar 2021 como um forte candidato ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, ao lado do parceiro em tela LaKeith Stanfield.

Além de Melhor Ator Coadjuvante, a produção disputa também Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia. Se destacando como o primeiro filme a ser produzido inteiramente por negros (entre eles Ryan Coogler, diretor de Creed e Pantera Negra da Marvel), Judas e o Messias Negro não concorreu ao prêmio máximo do Globo de Ouro desse ano, mas Daniel Kaluuya foi premiado como Melhor Ator Coadjuvante na categoria.

Judas e o Messias Negro não está disponível em nenhuma plataforma de streaming no Brasil e atualmente pode ser visto apenas em alguns cinemas do país, com todas as restrições atuais por conta da pandemia de Covid-19.

NOTA: 9


OS 7 DE CHICAGO



Tanto Judas e o Messias Negro quanto Os 7 de Chicago se passam praticamente na mesma época dos anos 60 e chegam mesmo a “compartilhar” alguns personagens, visto que Bobby Seale — que é apenas mencionado em Judas — faz parte inicialmente do julgamento dos "7 de Chicago" e é orientado, na ausência de seu advogado na corte, pelo próprio Fred Hampton, nesse filme, interpretado pelo ator Kelvin Harrison Jr.. 

Os 7 de Chicago


A participação de Seale (vivido por Yahya Abdul-Mateen II, o Arraia Negra de Aquaman) na produção dirigida por Aaron Sorkin é bem mais intensa, visto que é protagonizada por ele a cena absurda — e revoltante — em que o juiz tendencioso Julius Hoffman (Frank Langella), na tentativa de calá-lo por sua insistência em querer se representar sozinho diante do júri — doente, o advogado de Seale está ausente do julgamento —, manda que os seguranças batam, amarrem e amordacem o homem diante de todos, numa tentativa truculenta de “manter a ordem” no tribunal. 

Assim como os outros réus do famoso caso, Seale é acusado de causar tumultos em protestos contra a obrigatoriedade do alistamento de jovens para combater na Guerra do Vietnã e apesar de não estar necessariamente aliado aos demais, acaba sendo julgado em paralelo, até ser absolvido de todas as acusações posteriormente. É notório no filme o desprezo que o juiz Hoffman sente pela figura de Seale e é bem claro o tratamento diferenciado que ele, por ser preto, recebe do magistrado, incluindo aí a ordem de violência física.

Os 7 de Chicago


De maneira bem didática em forma de flashbacks e da narração sucinta do personagem Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen, de Borat) em um show de stand-up, Sorkin mostra toda a trajetória de cada um dos 7 membros até sua chegada ao fatídico dia do confronto com a Polícia, durante a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago, Illinois. Acusados de conspiração e incitação à revolta contra a Guerra do Vietnã — em que os EUA estavam presentes desde 1964 —, Tom Hayden (Eddie Redmayne), Abbie Hoffman (o já citado Sacha Baron Cohen), Rennie Davis (Alex Sharp), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Lee Weiner (Noah Robbins) e John Froines (Daniel Flaherty) passam por um extenuante julgamento que demora seis meses e em que a promotoria tenta de várias maneiras comprovar a culpa deles em toda a ação que levou ao uso excessivo de força por parte da Polícia. Representados pelo advogado William Kunstler (Mark Rylance) e procurando comprovar sua inocência enquanto dezenas de testemunhas são ouvidas, os 7 são interpelados pelo promotor Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt), que apesar de toda a pressão para que faça-se cumprir a lei, no filme, não acredita 100% na culpa dos rapazes.

Os 7 de Chicago


O longa tem uma montagem dinâmica entre as cenas e a história é conduzida sem grande barriga no miolo, fazendo com que até mesmo o espectador mais leigo em direito penal consiga acompanhar do preâmbulo da narrativa até seu desfecho, em tela, apoteótico. Embora conte com vários floreios que servem para uma condução mais adequada da trama — algo bastante comum em adaptações de histórias reais para o cinema — Os 7 de Chicago é até bastante fiel ao que aconteceu de fato em 1968, incluindo as piadas da dupla Abbie e Jerry com o juiz Hoffman e a leitura dos nomes dos mais de 5 mil soldados americanos mortos no Vietnã durante o julgamento. Filmes que narram julgamentos sempre me atraíram desde a adolescência — e Hollywood sabe bem transformar qualquer caso em espetáculo! —, mas costumeiramente eles são chatos e arrastados, algo que não acontece aqui.

Na festa do Oscar, além de Melhor Filme, The Trial of the Chicago 7 concorre a Melhor Ator Coadjuvante (com Sacha Baron Cohen, que realmente está incrível como o provocador Abbie Hoffman), Roteiro Original, Fotografia, Montagem e Canção Original (“Hear My Voice”, interpretada pela cantora Celeste).

Assim como outros 17 títulos que disputam o Oscar esse ano, Os 7 de Chicago está disponível na Netflix e pode ser assistido até a noite da premiação.

NOTA: 8,5


DOIS ESTRANHOS



Dirigido por Martin Desmond Roe e escrito por Travon Free, Dois Estranhos (no original “Two Distant Strangers”) é um daqueles curtas que possivelmente nunca iríamos dar uma chance de assistir se por um acaso não fosse indicado ao Oscar, mas que é uma bofetada na cara de quem acha que cinema tem que ser obrigatoriamente apenas diversão. Confesso que não sou muito de assistir curtas-metragens e que ignorava completamente a existência de Dois Estranhos até muito recentemente, mas agradeço muito a facilitação que hoje os serviços de streaming como a Netflix trazem ao disponibilizar esse tipo de material, os tornando mais acessíveis para um público como eu.

Produzido na onda de choque que foi o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e tendo como enfoque principal o racismo, Dois Estranhos narra em 32 minutos — menos que muito episódio de série — a desventura do personagem Carter James (Joey Bada$$) que após acordar no apartamento de uma namorada casual, decide seguir para sua casa tranquilamente, tendo a infelicidade de topar com o policial linha-dura vivido pelo ator Andrew Howard no caminho. 

Joey Bada$$ e Andrew Howard de Dois Estranhos


Por puro e simples preconceito racial, o homem aborda Carter de maneira intimidatória, usando de argumento o cigarro que ele está fumando, além do maço de dinheiro que ele guarda na mochila, fruto de seu trabalho como designer gráfico. Sem dar qualquer chance do rapaz se explicar, o policial entra em conflito físico com Carter o derrubando no chão e o asfixiando, de maneira muito semelhante ao que Derek Chauvin fez com George Floyd em maio de 2020 em Minneapolis. A sensação ao assistirmos a cena fictícia é tão assustadora quanto a que tivemos com o vídeo real — incluindo a mesma frase de súplica "I can't breathe!" — e após a “morte” de Carter, o personagem entra num looping temporal — como no Dia da Marmota — que o leva sempre ao mesmo desfecho violento: com ele sendo vítima fatal do policial branco.

Apesar de ser um filme curto com poucos personagens, “Two Distant Strangers” é de uma carga emocional muito grande que nos faz enxergar pela ótica de uma pessoa negra os preconceitos e infortúnios diários com que eles convivem, sendo sempre vítimas de desconfiança, de olhares tortos e da completa desumanização por parte de quem não é dito “de cor”. No curta, mesmo tentando abordagens mais brandas e procurando evitar o confronto a cada nova chance de vida, Carter acaba percebendo que o policial não está a fim de ser empático com a sua figura — mesmo ele provando se tratar de uma pessoa boa cujo cão o está esperando para ser alimentado em casa — e mesmo quando tudo aponta para um desfecho colorido e reconfortador, a dura realidade volta a bater em nossa cara, mostrando que nem todo mundo consegue ter um final feliz numa sociedade tão racista e preconceituosa.

De uns tempos pra cá, eu tenho tentado estudar sobre direitos civis e entender mais sobre o racismo estrutural que permeia o nosso meio — e casos como o João Alberto Silveira Freitas do Carrefour nos mostram que a realidade está bem mais próxima de nós do que imaginamos —, mas é cada dia mais complicado tentar entender o que leva o ser humano em pleno século XXI ainda querer que haja segregação racial ou a querer que as pessoas negras aceitem que o seu “não gostar de negros” é a sua opinião e não estupidez pura e simples. Enquanto os corpos de novos George Floyd e outros João Alberto vão sendo empilhados, a sociedade continua negando a existência de um preconceito racial, inflamando cada dia mais um discurso vazio e rasteiro para justificar a sua ignorância.

Mais do que nunca, é preciso que seja dito… Vidas Negras Importam!

Dois Estranhos disputa o Oscar de Melhor Curta-Metragem em live-action e tem tudo para fazer história na premiação em tempos tão necessários de obras diretas e concisas como essa. Fica nossa torcida.

NOTA: 10 


P.S. – O Pantera Negra da Marvel chegou a ser chamado de “Black Leopard” em 1972 para que houvesse uma dissociação do Rei de Wakanda com o partido político homônimo do personagem e tanto Jack Kirby quanto Stan Lee, os criadores dele, sempre negaram a influência dos Panteras Negras para o desenvolvimento de T’Challa. Em tempos, a primeira menção a um grupo denominado “Panteras Negras” surgiu nos EUA em 1965, mas o grupo criado por Huey Newton e Bobby Seale só surgiu um ano depois, na mesma época em que o Pantera Negra da Marvel fez sua estreia nas HQs do Quarteto Fantástico.

Pantera Negra socando nazista

 

P.S. 2 - A cena em que o cachorro do personagem Carter James de Dois Estranhos é focalizado esperando ele enquanto seu dono é baleado pelo policial filho da puta deu um gatilho foda! Ainda estou de luto pelo meu amigo Peter e cada referência canina na ficção me causa um turbilhão de lágrimas!


Fontes:

Para entender os Panteras Negras

Quem foi o Messias Negro

Quem foram os The Crowns

O Pantera Negra da Marvel e seu contexto político

O Caso João Alberto Silveira Freitas

O Caso George Floyd


NAMASTE!

9 de março de 2021

10 Melhores momentos de WandaVision



Antes de começar meu texto propriamente dito, quero deixar aqui uma salva de palmas para a Marvel Studios pela ousadia de parir esse projeto chamado WandaVision!




Tendo homenageado a empresa devidamente, é hora de relembrar um pouco dos 10 momentos mais marcantes dessa série do Disney + que já entrou para a história da TV e dos serviços de streaming

Sigam-me os bons!

Homenagens e referências



Criada inicialmente para parecer uma sitcom americana, WandaVision nos apresenta um primeiro episódio carismático que remete aos anos 50, prestando homenagens a seriados como “I Love Lucy”, que entre outras coisas, mostrava o cotidiano de um casal suburbano. O mistério sobre o que está acontecendo e porque Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e o Visão (Paul Bettany) estão dentro de uma sitcom permanece até o fim de “Gravado ao vivo com plateia”, quando então nos é mostrado que existe vida fora da exibição em preto e branco.



Os episódios a seguir, mostram saltos temporais específicos e a cada nova atração, o casal aparece referenciando uma década diferente, dos anos 60 (em episódio inspirado em “A Feiticeira”), aos anos 2000 (com referência a “Modern Family”). Os diversos penteados, as vestimentas e toda a ambientação da sempre pacata cidadezinha de Westview são pontos muito importantes dentro de WandaVision, uma vez que além de situar o espectador em suas diferentes épocas, servem também para dar o tom de cada episódio, da comédia pastelão dos áureos anos 50, passando pelo caos dos anos 80 e acabando mais deprimente e dramática nos anos 2000.



Tenho dificuldade para escolher em qual dos visuais que a Elizabeth Olsen usou durante os 9 episódios ela ficou mais charmosa — já que essa mulher é maravilhosa de qualquer jeito — mas se fosse elencar meu top 5, a versão gravidinha anos 70 seria um forte candidato ao pódio!



Darcy e Woo em ação



A Dra. Darcy Lewis (Kat Dennings) foi uma das únicas coisas realmente engraçadas em Thor: Mundo Sombrio (2013) e trazê-la de volta em WandaVision foi um grande acerto da produção, já que ela serviu como a ponte entre o mundo criado por Wanda e a nossa "realidade". Contatada pela E.S.PA.D.A (Equipe de Supervisão, Pesquisa, Avaliação e Defesa Armada), a astrofísica mostra logo de cara todo seu talento em detectar anomalias — algo que ela já fazia como a anteriormente estagiária de Jane Foster em Thor 1 — e não demora a sacar o que realmente está acontecendo dentro do — batizado por ela — “Hex”. 



Em parceria com o gentil agente do FBI Jimmy Woo (Randall Park) que nos foi apresentado em Homem Formiga e a Vespa (2018), Darcy é com certeza um dos grandes destaques da série, dando o tom de comédia certo nos momentos necessários. Esperamos vê-la novamente no futuro da Marvel, quem sabe agora num cargo mais importante dentro da S.W.O.R.D?


Monica Rambeau ganha poderes



Eu já declarei aqui todo o meu amor pela personagem Monica Rambeau e falei como a heroína acabou sendo injustiçada nos quadrinhos pela Marvel após os anos 90, por isso, esse momento é meu!



Interpretada em sua infância pela fofíssima Akira Akbar em Capitã Marvel (2019), a Monica já havia ganhado nossos corações em tela e despertado aquele desejo de vê-la em uma possível continuação, quem sabe em Capitã Marvel 2. Na época, ninguém imaginava que a Marvel a traria de volta já adulta antes do cinema, e em WandaVision, ela fez sua estreia interpretada agora por Teyonah Parris. E foi em grande estilo!



O episódio 4 “Interrompemos este programa” é o primeiro que nos mostra realmente o que está acontecendo fora da realidade da Wanda e tudo acontece quando Monica é atirada através das paredes do Hex, quando demonstra lá dentro ter ciência de que algo está errado. A série então mostra toda a trajetória da capitã Monica Rambeau desde seu retorno do “blip” — o estalar de dedos de Tony Stark em Vingadores – Ultimato — até ela se aventurar pelo campo vibracional criado pela Wanda ao redor de Westview. Uma vez dentro do Hex, Monica acaba “entrando para o elenco” da sitcom como a personagem Geraldine e faz descobertas importantes que são usadas mais tarde por Darcy e o General Hayward (Josh Stamberg), o diretor interino da E.S.P.A.D.A.



Tendo atravessado o campo vibracional do Hex mais vezes do que qualquer um — já que depois de ser jogada de lá, ela decide retornar depois —, Monica apresenta uma anomalia em seu DNA, o que é detectado por Darcy. A capitã faz relação com o câncer que vitimou a sua mãe Maria (Lashana Lynch) durante os cinco anos que durou o “blip”. Para sorte dela, Rambeau acaba desenvolvendo habilidades especiais que a tornam capaz de suportar a pressão causada pelo agora reforçado campo de Wanda e até consegue peitar a protagonista.



O momento em que Monica desafia seus próprios limites ouvindo as vozes de sua mãe e da Carol Danvers em sua mente é uma das grandes cenas da personagem na série. Chega a dar aquele quentinho no coração só em saber que agora, mais do que nunca, a Capitã Marvel DE VERDADE existe no MCU.

Como deixar de lado a referência ao uniforme branco e preto usado por ela nos quadrinhos ou o codinome “Fóton” na foto de sua mãe na parede da S.W.O.R.D? Já queremos Monica de volta pra ONTEM em Capitã Marvel 2 e na série Invasão Secreta!  


O aparecimento do "Fietro"



Fora trailers e algumas notícias esporádicas sobre roteiro, eu procuro me manter afastado de histórias de bastidores de produções que pretendo assistir futuramente para evitar spoilers. Eu não fazia ideia que Evan Peters estava no elenco de WandaVision e vê-lo aparecer à porta do casal título em Westview foi um dos grandes momentos “que porra está acontecendo aqui? ” em minha cabeça.

Era muito natural que acabassem usando o ator Aaron Taylor-Johnson no casting, uma vez que ele era o Pietro Maximoff — até então — oficial do MCU. Trazer o Pietro do universo dos X-Men da finada FOX no lugar de Taylor-Johnson, no entanto, foi uma sacada genial, mesmo que ele não estivesse ali exatamente para conectar os universos cinematográficos, como quase todo mundo especulou no lançamento do episódio.



Eu sempre tive o meu pé atrás quanto a overpowerização da supervelocidade do Mercúrio usada em X-Men – Dias de um Futuro Esquecido e em suas sequências, uma vez que ele não é tão rápido nas HQs — mimimi de véio chato —, mas é inegável que o “Peter” de Evan Peters é imensamente mais carismático que o de Taylor-Johnson, apresentado em Vingadores – A Era de Ultron. As cenas da interação do “tio Pietro” com os gêmeos de Wanda talvez não fossem tão engraçadas se ali em seu lugar tivesse o Mercúrio mais ranzinza de A Era de Ultron, por isso, valeu e muito essa participação especial.

Quem diria que o tal marido “Ralph” que tanto Agatha citava nos primeiros episódios era o tempo todo o fake Pietro!


Wanda dá à luz aos gêmeos



Agora em cores” é um dos episódios mais engraçados da fase sitcom de WandaVision e também um dos que melhor afloram a veia cômica de Elizabeth Olsen, Paul Bettany e Teyonah Parris. Toda a situação em torno da gravidez de Wanda, o desespero do Visão em ver que a barriga da esposa cresce cada vez mais em questão de horas e o corre-corre para garantir um parto saudável me tiraram risadas genuínas ao longo do capítulo.



As expressões de Olsen, seus trejeitos e entrega artística às cenas de humor fazem a grande diferença desse terceiro episódio. O momento de “escada” de Teyonah em que Geraldine conta sobre seu novo trabalho enquanto Wanda tenta afugentar a pintura de uma cegonha que ganhou vida na sala é hilária, assim como os efeitos drásticos nos móveis da casa quando os poderes de Wanda escapam de seu controle com as dores do parto.



Wanda fazendo a respiração “cachorrinho” é um dos pontos altos do episódio e a surpresa em seu rosto ao perceber que ela deu à luz a gêmeos, causa aquele “ohhhh” nos espectadores. Como leitor velho de HQs, jamais achei que um dia ia ver em tela o nascimento dos filhos imaginários da Feiticeira Escarlate com o Visão... Ainda mais “Agora em Cores”! (Hein? Hein?)

Ver os moleques crescidos e usando trajes que remetem à sua personalidade heroica dos gibis também foi massa demais.



O surgimento do Visão... Branco!



A fase das HQs em que o Visão é desmantelado por um grupo governamental que começa a enxergá-lo como uma ameaça após o sintozóide ter tentado dominar os computadores mundiais é com certeza um dos grandes momentos do personagem, criado por Roy Thomas em 1968. John Byrne, no final dos anos 80 era o grande cara das HQs, escrevendo e desenhando quase tudo que se podia imaginar tanto para a Marvel quanto para a Divina Concorrente. Foi ele quem criou o arco “Busca pelo Visão” que retirou completamente os traços mais emotivos do personagem — os mesmos que fizeram a Wanda se apaixonar e casar com ele — o dando uma aparência pálida e mais robótica.



A vinda do Visão Branco no MCU já era comentada desde a época de Vingadores – Guerra Infinita, quando um cadáver acinzentado do Visão é deixado aos pés do vilão Thanos, que consegue na testa do sintozóide a última gema do infinito que faltava em sua coleção. Muito se especulou que ele acabaria voltando no futuro sem seus traços de personalidade mais comuns, e até que faria sentido, já que aquilo que lhe dava vida era a joia da mente. A própria Shuri, a irmã do Pantera Negra, havia dito que era possível SIM remover a joia sem matá-lo e se tivesse mais tempo, a garota teria separado o Visão do poderoso artefato. Quem poderia saber que tipo de personalidade ele iria adquirir depois disso?

Nos instantes finais de “Nos capítulos anteriores...”, o episódio 8 da série, o general Hayward enfim consegue reativar o Visão, cujo corpo ele recuperou após os eventos de Guerra Infinita, e ele é… Branco!

Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo. Não vou dizer em qual foi!


É tudo culpa da Agatha



Nas HQs, Agatha Harkness é uma bruxa muito antiga que aceita ser a tutora de Wanda Maximoff quando enfim a menina decide abraçar as tradições ciganas de seu povo em Wundagore e aprender a feitiçaria, a magia de camponês. Wanda é uma mutante cujo dom a permite alterar as probabilidades a seu bel prazer, mas sua alcunha “feiticeira” não é por acaso. É a Agatha quem ensina os principais truques e feitiços à moça, algo que mais tarde, a torna a vingadora mais poderosa — e perigosa — de todas.



Na série, Agatha se infiltra no Hex como Agnes para entender melhor quem é a Wanda e como pode existir um ser tão poderoso capaz de manipular a realidade a seu redor. A personagem vivida por Kathryn Hahn dá as caras em praticamente todos os episódios, agindo sempre como a vizinha enxerida que aparece em todos os momentos de necessidade, como que prevendo o que está acontecendo dentro da casa de Wanda e Visão.

O final de “Derrubando a quarta parede” é catártico, já que nos mostra que, afinal, a vizinha safada e Zé-Povinho é na verdade Agatha Harkness, uma bruxa ambiciosa que esteve por trás de todos os eventos que desestabilizaram a família Maximoff, e que estava ali o tempo todo para vigiar Wanda. Agatha All Along!



O momento flashback de “Nos capítulos anteriores...” que mostra Agatha absorvendo a magia de todo seu Coven na Salem de 1693 começa a nos preparar para o que vem pela frente e o tamanho da encrenca que espera nossa mocinha Wanda.

Em tempo, Kathryn Hahn é com certeza uma das principais novidades de WandaVision e entrega ótimos momentos de atuação com Elizabeth Olsen, seja no drama ou na comédia. Esperamos também vê-la mais vezes no futuro do MCU.

 

Wanda constrói o Hex



Chegamos ao pódio dos grandes momentos de WandaVision e não há como não citar uma das cenas mais emblemáticas da série, que é quando Wanda em todo seu sofrimento, usa a Magia do Caos para criar o seu próprio universo particular.

“Nos capítulos anteriores...” nos faz voltar no tempo para entendermos o que, afinal, motivou Wanda a criar o Hex, sequestrando mais de 3 mil pessoas que moravam naquela cidade e as usando como fantoches de sua narrativa. Enquanto Agatha a força a reviver suas tragédias, nós mergulhamos de cabeça no mundo de Wanda, assistindo de camarote tudo que foi tirado dela desde a infância humilde em Sokovia, passando pelo afloramento de seus dons místicos — potencializados pela joia da mente — e chegando até seu envolvimento com o Visão. 

Wanda ficou órfã num atentado terrorista, perdeu o irmão gêmeo durante a batalha contra Ultron e foi obrigada a ver seu amado Visão morrer DUAS vezes diante de seus olhos na Guerra Infinita. Não é como se justificássemos o sequestro de milhares de pessoas inocentes, mas a gente consegue entender o desespero que a levou a criar todo um mundo de fantasia a partir do terreno em que ela e o Visão pretendiam levar uma vida tranquila em Westview — provavelmente após a viagem que eles fazem juntos para a Europa, no começo de Vingadores 3 — e ainda trazer seu marido de volta à vida. Wanda perdeu tudo e ela tem os poderes para mudar isso.



O que você faria em seu lugar?

Eu não sofri perdas como as de Wanda na série, mas se eu pudesse alterar a realidade a meu redor para tornar minha vida um pouco mais aceitável — e porque não dizer, fugir da realidade? —, é bem certo que eu também ia criar o meu próprio mundinho e nunca mais ia querer sair lá de dentro.

  

Wanda reencontra o Visão



O episódio 8 de WandaVision me fez chorar em várias oportunidades e não foi pouco.

Um dos momentos mais tocantes desse capítulo, é quando Wanda invade a sede da S.W.O.R.D a fim de recuperar o corpo do Visão e acaba o encontrando inteiramente desmontado sobre uma mesa. É claro que nem preciso dizer que o pequeno Rodman de 10 anos gritou aprisionado  dentro do meu atual corpo velho e putrefato com a referência icônica dos quadrinhos, mas a cena vai muito além disso. Elizabeth Olsen entrega uma interpretação comovente quando sua personagem se depara com os restos do sintozóide e percebe que não sobrou nada do Visão que ela amava naquele corpo destruído. A frase “Eu não consigo sentir você” é de partir o coração. Chorei e não foi pouco.

A cena de Wanda na SWORD remete a um momento semelhante ocorrido em "A Busca pelo Visão" de John Byrne


Elizabeth Olsen mostra toda a sua versatilidade como atriz ao longo dos 9 episódios. Ela vai do tom cômico — que prova dominar bem — ao drama com o mesmo talento e não seria de se espantar se ela levasse um Emmy em 2021 por sua atuação primorosa. Depois de WandaVision, é certeza que sua personagem vai se tornar o ponto central do MCU, além do que o status de atriz de Olsen vai receber uma elevação muito merecida por sinal. 

 

Wanda se torna a Feiticeira Escarlate



Nunca houve em minha cabeça uma dissociação dos nomes “Wanda Maximoff” e “Feiticeira Escarlate” por conta da minha relação com os quadrinhos dos Vingadores, mas no MCU, a personagem de Elizabeth Olsen ainda não tinha sido chamada por sua alcunha heroica e havia uma razão para isso.

A batalha entre Wanda e Agatha de “O Grande Final” serve para mostrar ao espectador que a personagem título sempre esteve predestinada a ocupar o posto avançado da Feiticeira Escarlate, que segundo Harkness, é alguém de extremo poder natural destinado a destruir o mundo. Disposta a absorver para si toda a Magia do Caos controlada por Wanda, Agatha leva a moça a seu limite durante o combate e é quando a verdadeira personalidade de Maximoff assume o controle, transformando-a na lendária Feiticeira Escarlate!



Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo outra vez nessa hora... Eu sei, eu tava lá!

É de aplaudir de pé todo o esmero que a Marvel teve em escrever a saga dessa personagem que já era tão querida nas HQs agora também nas telas. WandaVision não é apenas um “TV Show” raso de entretenimento barato, mas sim um produto raro que soube lidar com temas como depressão, luto e fuga da realidade com uma sensibilidade muito apurada, isso envolto em um enlatado americano fabricado para ser sim, “apenas” entretenimento.

O que será do Visão Branco? O que aconteceu com Agatha? Como será o desenvolvimento da capitã Monica Rambeau? O que Wanda está buscando na cena pós-crédito do último episódio? Como o Doutor Estranho vai se envolver nessa história toda?

Não sabemos e isso é ótimo, já que nos mantem com esperanças de vivermos um novo dia e aguardar os próximos capítulos dessa maravilha que é o MCU. Bora curtir então o luto pelo fim da série.


“E o que é o luto senão o amor que perdura? ”

(VISÃO)


P.S. – Eu fui até o balcão do Boteco do Infinito Podcast bater um papo com o Antonio Pereira sobre as HQs “Visão” de Tom King e “Dia das Bruxas” de Bill Mantlo, ainda no hype da série. No final do programa, falamos de WandaVision (com spoilers) até o episódio 7, depois especulamos como seria o final da série... erramos TODAS as teorias, mas ainda assim vale ouvir o episódio que está massa demais. Clica aí no banner e vai ouvir, jovem padawan!



P.S. 2 – O Blog do Rodman também é um universo particular criado por mim e aqui eu vivo numa bolha perdida na internet, como se milhões de pessoas estivessem lendo meus posts e rindo das minhas piadas ruins ad eternum, quando na realidade estou falando sozinho... É pena que não posso controlar essas pessoas de verdade...

HA HA HA HA HA!



NAMASTE!

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