Após os acontecimentos do episódio 2 “Ótica”, Matt Murdock (Charlie Cox) e
Kirsten McDuffie (Nikki M. James) estão preparando a defesa de Hector Ayala (Kamar
de los Reyes)e, para isso, é
necessário manter Nick Torres (Nick Jordan), a única testemunha capaz de impedir a condenação
do porto-riquenho, em segurança.
Nick Torres (Nick Jordan)
Enquanto Matt visita Ayala na Ilha Rykers e ele lhe conta a
história sobre a espécie de sapo monogâmica, Cherry (Clark Johnson) mantém Torres sob
vigilância em seu esconderijo. Em um diálogo rápido entre eles, nós finalmente começamos a
entender a relação de Nick com os policiais Powell (Hamish Allan-Headley) e Shanahan (Jefferson Cox) que o espancavam
na estação de metrô.
Powell, o personagem de Hamish Allan-Headley
Ex-traficante, Nick se tornou informante da polícia após um acordo feito entre eles, e na
noite que Ayala tentou impedir que ele fosse morto, o homem se recusava a passar informações a Powell e seu parceiro.
No primeiro dia de julgamento, Matt e Cherry precisam criar
uma série de distrações para que Torres consiga chegar vivo ao tribunal, onde
irá servir de testemunha do réu. Ele é a única chance de Ayala e, pouco antes
da chegada do informante à corte, Matt ouve murmúrios na plateia de policiais
que assistem ao julgamento de que “Torres não pode testemunhar”.
Powell intercepta Cherry a caminho do tribunal, mas não
consegue impedir que Torres chegue ao local. Uma vez sentado no banco das
testemunhas, o próprio Murdock o interroga, mas inesperadamente, no momento
decisivo do seu testemunho, se sentindo acuado pelos policiais presentes, o informante muda de
ideia e alega que estava em casa na noite em que o policial Shanahan morreu
atropelado por um trem. Logo, não teria como testemunhar a favor de Ayala.
Sem outro recurso que possa usar para defender Hector, já
que Torres era a única possibilidade mais palpável de isso acontecer, Matt então apela em revelar
a identidade secreta do porto-riquenho diante do juiz. Ele alega em alto e bom
tom que o homem sentado no banco dos réus é, na verdade, o vigilante Tigre
Branco.
A ideia de Matt é causar simpatia no júri ao usar o passado
de Hector como prova do seu caráter altruísta, onde por várias vezes, ele
arriscou a própria vida para salvar terceiros. Após uma discussão entre ele, o
juiz e o advogado de acusação, Matt escolhe usar a imagem do Tigre Branco como argumento de defesa e, já no
segundo dia do julgamento, consegue trazer como testemunhas inúmeras pessoas que
foram salvas pelo Tigre Branco e que o reconhecem como a um herói.
A estratégia de Matt funciona e, independentemente das
acusações do advogado de acusação que alega que “pessoas boas também podem
fazer coisas ruins” — logo em seguida descrevendo aos presentes o que acontece a um ser humano que é atropelado por um trem —, o júri decide dar causa favorável a Ayala, o julgando
inocente da acusação de assassinato do policial Shanahan.
Entre as cenas de julgamento do episódio, é importante citar um dos
depoimentos veiculados no blog da BB Urich (Genneya Walton), onde um cidadão comum diz que Ayala
não teria um julgamento justo apenas e tão somente por ser um latino imigrante. Esse discurso foi um paralelo muito forte com a atual realidade dos Estragos Fudidos onde não
só a polícia oficial como também a polícia de imigração — o tal ICE — têm interceptado imigrantes nas ruas na intenção de expulsá-los do país.
Hector Ayala
Para a atual gestão governamental de Donald Trump, não há
lugar para estrangeiros ilegais — e mesmo os legais — em seu país e a situação
de Hector Ayala na ficção, se fosse trazida para a vida real, teria fortes
chances de acabar em condenação perpétua ou pena de morte.
Aí tá vendo? A gente abriga esses latinos e agora eles vêm
aqui matar os nossos policiais!
O episódio termina de maneira chocante, com Hector Ayala
sendo baleado a sangue frio quando, livre de qualquer acusação criminal, decide sair uma vez mais às ruas em seu
traje de Tigre Branco na intenção de ajudar pessoas necessitadas. Ao mesmo tempo, Wilson
Fisk (Vincent D'Onofrio) discursa em seu gabinete para BB Urich a respeito da sua lei de tolerância zero para os
vigilantes em Nova York, totalmente insatisfeito com o resultado do julgamento
de Ayala.
Nas HQs, a morte do personagem criado por Bill Mantlo e
George Pérez se deu de maneira semelhante à da série. Na ocasião, o Tigre
Branco foi acusado de assassinar um policial ao tentar impedir um assalto a uma
loja de penhores e acabou parando no banco dos réus de maneira similar ao que
aconteceu em Demolidor – Renascido.
Na história escrita por Brian Michael Bendis — que é
consultor da série atual — e desenhada pelo talentoso Terry Dodson em 2003, é a dupla
Luke Cage e Punhode Ferro quem sai em defesa ao Tigre e os Heróis de Aluguel pedem para que Matt Murdock represente Ayala
diante da corte. O advogado cego de Hell’s Kitchen decide aceitar o pedido dos seus colegas e começa a trabalhar em seu caso em seguida.
Brian Michael Bendis (autor) e Terry Dodson (artista)
O desfecho dessa história é ainda mais dramático, porque nos quadrinhos Ayala é considerado culpado pelo júri e, num ato impensado, acaba roubando a
arma de um policial ao tentar fugir do tribunal. Hector é alvejado
por vários policiais e termina os seus dias de vigilante morto a tiros na escadaria do local.
Mais tarde, Murdock descobriria provas de que ele era mesmo inocente.
Na série, vemos mais indícios de que o símbolo do Justiceiro
foi tomado por uma facção de policiais corruptos que andam fazendo justiça com
as próprias mãos em Nova York. Um dos policiais no julgamento tem uma tatuagem
da caveira no pescoço. Uma parede também aparece pichada com o logo durante o episódio e o homem que
baleia o Tigre Branco simplesmente usa um colete com o símbolo pintado em cima.
Meu amigo… eu mal posso esperar para o especial do
Justiceiro que a Marvel está prometendo para logo mais e pela aparição do próprio
Frank Castle na série Born Again. Se o personagem de Jon Bernthal já não era muito são antigamente,
imagina agora que a polícia está usando o seu símbolo para cometer barbaridades
por aí!
Perdeu o review dos dois primeiros episódios de Demolidor - Renascido? Clica no banner aí embaixo.
Quer ver o que eu achei da série do Gavião Arqueiro? Clica na imagem aí embaixo.
Não leu a minha opinião sobre a última temporada do Demolidor e do Justiceiro lá na Netflix? Sinta-se à vontade.
Faz tempo que não me empolgo com nada que a Marvel produz e
isso se deve ao fato dessa cultura woke, desse comunismo, desse mimimimi de que
eu estou velho, cansado e que para a minha idade é normal que nada mais me agrade.
A série do Demolidor, aquela que foi lançada lá na época da Netflix
é, sem sombra nenhuma de dúvida, o meu conteúdo televisivo com personagens do selo
Marvel preferido. Mas de muito longe!
Talvez, o que mais tenha chegado pertodessa minha adoração foi WandaVision, mas ainda sim não considero um elemento sequer comparativo.
Quando a atual Marvel do MCU anunciou uma nova série com o
personagem, mesmo considerando que parte do elenco original — aquele da Netflix
— retornaria aos seus papeis, eu fiquei com um pé atrás. As produções desse universo já vinham
sofrendo um declínio vertiginoso desde o fim da Saga do Infinito e eu realmente tinha medo do
que os caras que produziram as séries xexelentas do Cavaleiro da Lua e da Invasão
Secreta fariam ao botarem as suas mãos fétidas no Demolidor.
Foi aí que começaram os boatos preocupantes de substituição
do elenco, de refilmagens, de cortes de roteiro e até de alegações sobre a série não fazer
parte do MCU regular — como a da Netflix, que no começo fazia parte do MCU e que
depois não fazia mais!
Bicho! Eu assinei uma petição online alarmada pelo próprio
Vincent D’Onofrio para que a Marvel fizesse uma quarta temporada do Demolidor
na época em que foi confirmado o cancelamento do contrato com a Netflix. Eu
escrevi uma cacetada de posts comentando tudo que acontecia com relação ao
personagem nas séries em que ele aparecia e torci muito para que o Kevin Feige
ou alguém abaixo dele tivesse um mínimo de boa vontade com o “Atrevido”.
Então, vieram as participações do personagem em Homem-Aranha
– Sem Volta para Casa, na série da Echo e em Mulher-Hulk, e o hype voltou a
aumentar de maneira avassaladora. Mesmo com as notícias desanimadoras na imprensa de que a sua
série própria tinha sofrido uma tonelada de reboots, reshoots e o caralho a
quatro.
O Demolidor em "Sem Volta para Casa", "Eco" e "Mulher-Hulk"
Quando o próprio Kevin Feige garantiu que Demolidor –
Renascido seria uma continuação das três temporadas da Netflix e que o Rei
do Crime apresentado na série do Gavião Arqueiro era O MESMO daquele universo,
o pequeno Rodman esperançoso que ainda há em mim vibrou de felicidade.
O Rei do Crime na série do Gavião Arqueiro
As coisas só
melhoraram quando os atores Deborah Ann Woll (Karen Paige), Elden Henson (Foggy
Nelson) e Ayelet Zurer (Vanessa Fisk) foram confirmados nessa continuação, e a ansiedade
continuou nos picos até a estreia da série.
A Vanessa Fisk de Ayelet Zurer
Estou escrevendo o review na empolgação do momento. Fazem
apenas algumas horas que assisti aos dois primeiros episódios, então eu posso
estar um pouco fora do meu juízo normal. Mesmo assim, sigam-me os bons!
Episódio 1 – Meia hora do Céu
Foi uma experiência muito surreal começar a assistir os
primeiros minutos de Demolidor – Renascido porque eu me senti transportado direto para 2015, quando estreou a primeira série ainda pela Netflix. Naquela época, eu dei play no
primeiro episódio com o peito cheio de expectativas. Lembro que era de manhã e
eu ainda estava me arrumando para trabalhar na escola onde dava aula. Eu me permiti atrasar para o serviço só para assistir ao primeiro episódio até o fim e, quando aquela obra-prima se findou, soltei um “UOUU” de tão impactado que fiquei.
Dez anos depois, estava largado na cama, com o projetor
ligado em direção à parede e voltei a soltar aquele mesmo “UOUU” com os olhos
marejados de emoção por ver os meus personagens queridos de volta…
Pelo menos, no pouco tempo em que eles ficam reunidos.
💔
A série começa mostrando uma reunião alegre entre Matt
Murdock (Charlie Cox), Karen Paige (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden
Henson) no bar da Josie, cenário que funcionava meio que como o Central Perk
de Friends para os três amigos nas temporadas anteriores.
Karen (Deborah Ann Woll), Matt (Charlie Cox) e Foggy (Elden Henson)
Ali, em meio a dois novos personagens que nos são apresentados
nos primeiros minutos, Cherry (Clark Johnson), um velho policial prestes a se
aposentar e Kirsten McDuffie (Nikki M. James), uma advogada “rival” dos três
amigos, eles bebem e confraternizam por um breve momento, nos fazendo crer que
aquele vai mesmo ser o clima de harmonia que a série vai nos engolfar.
Cherry (Clark Johnson) e Kirsten (Nikki M. James)
Quando Nelson recebe um telefonema desesperado de um amigo
que ele está protegendo em seu apartamento — e a identidade do cara não me
ficou clara num primeiro momento —, Matt logo percebe que tem algo errado e
começa a usar a sua audição super-aguçada para entender o que está havendo.
Alguém está tentando invadir o apartamento de Nelson para
pegar o tal amigo, o que obriga Murdock a vestir o seu traje de Demolidor e
partir para salvar a vítima.
É aí que vem a minha primeira crítica à série.
Assim como todos os
outros espectadores que assistiram às séries da época da Netflix — tirando Punho
de Ferro que era uma bosta sem defesa! —, eu já estava acostumado a como a
praticidade — e a falta de grana — resolviam a maior parte das cenas de ação.
Em Mulher-Hulk, já haviam
tentado criar um boneco digital que tornava o Demolidor mais ágil, a um nível
super-humano mais comum no MCU… e convenhamos que já tinha ficado bem ruim!
Aqui, enquanto o Demolidor tenta chegar o mais rápido
possível ao apartamento de Nelson, fica MUITO CLARO o bonecão digital que
usaram para fazê-lo pular entre os prédios com o auxílio do seu bastão e o cabo
de aço. E, para variar, o resultado também não ficou decente.
Lembra dos super saltos desnecessários do Demolidor do Ben
Affleck naquele filme medonho de 2003? Pois é! Fiquei com a mesma sensação ao
ver o Charlie Cox emborrachado de CGI porco fazendo as peripécias acrobáticas que
o personagem exige.
Estraga completamente a experiência da série?
É claro que não!
Até porque, logo em seguida, o público que assiste à telinha do Disney + logo
percebe que o Demolidor foi atraído ao apartamento de Nelson de propósito, para
que os seus amigos na portaria do bar da Josie ficassem vulneráveis ao ataque
de um sniper que baleia Foggy, o tornando uma entre várias outras baixas de guerra. Esse sniper é ninguém menos do que Benjamin Poindexter (Wilson Bethel), o excelente
Mercenário da terceira temporada de Daredevil.
O "olho de boi" Ben Poindexter
Rapaz! Vou te dizer que segurei o cu com muito carinho na
mão ao longo de toda essa sequência e não soltei mais até o desenrolar dos
fatos.
Embora a luta entre o Demolidor e o Mercenário, focalizada
diretamente pela câmera sem os cortes ágeis e rápidos a que estamos acostumados, seja bem qualquer coisa num primeiro momento, os diretores do episódio (Aaron Moorhead e Justin Benson) conseguem nos
manter apreensivos com o entorno da briga.
Enquanto os dois tentam se matar — com o Mercenário
arremessando tudo que existe no ambiente contra o Demolidor e o transformando em "talba de tiro ao álvaro" —, nós estamos
ouvindo a frequência cardíaca de Foggy diminuindo cada vez mais do lado fora,
através dos super-sentidos de Matt.
Tudo só piora enquanto Karen chama
desesperadamente pelo amigo caído ensanguentado no chão, ao mesmo tempo que Matt
está claramente com dificuldades para derrubar o seu adversário.
Aqui temos que dar os parabéns à equipe de roteiristas da
série (Dario Scardapane escreveu o 1º episódio) que conseguiram nos deixar interessados pelo enredo desde o primeiro
minuto, trazendo os nossos personagens queridos de volta, nos dando aquele
sentimento de nostalgia em vê-los juntos mais uma vez… e nos tirando um deles da maneira
mais violenta possível logo em seguida!
Em resposta à morte do seu grande amigo, o Demolidor chega
ao extremo do seu sentimento de vingança quando, num ato puramente emocional, ele
simplesmente joga Poindexter do alto do Josie’s.
A cena da queda do personagem no
chão é seca e muito violenta. Não há nenhum corte de câmera e nós simplesmente sentimos o corpo
do sujeito bater no asfalto enquanto Karen ainda lamenta o que aconteceu com
Foggy.
Lembrou bastante o que aconteceu ao final da batalha entre o
Demolidor e o Mercenário no arco escrito pelo Frank Miller nos anos 1980, logo
após a morte da Elektra. Na ocasião, o Mercenário ficou paraplégico e ele só
voltou ao normal quando aplicaram placas de adamantium (?) na sua coluna, o fazendo
andar novamente.
Na terceira temporada, lançada em 2019 (acho), o Mercenário já tinha sido quebrado
ao meio pelo Rei do Crime, mas nos últimos minutos do episódio, Poindexter
aparece em uma mesa de cirurgia sendo “consertado”, para claramente voltar numa
quarta temporada que nunca aconteceu.
Em Demolidor - Renascido, um ano se passa e após o trágico desenrolar do seu combate
contra o Mercenário, Matt agora está associado a Kirsten McDuffie — como numa
das versões mais recentes das histórias do Demolidor nos quadrinhos — e ele
decidiu se aposentar — mais uma vez! — da sua vida de vigilante.
No dia do julgamento de Ben Poindexter — que como todo vaso
ruim não se quebrou ao cair do telhado do Josie’s! — Matt serve de testemunha contra o cara, e quem reaparece é Karen Paige, após um afastamento de vários meses.
Poindexter (Wilson Bethel)
Da plateia, a loira assiste à condenação perpétua de Poindexter e, ao final do
veredicto da juíza, em uma conversa franca com o amigo cego, ela diz que está feliz em São
Francisco e que não pretende mais ter um relacionamento próximo a ele.
No arco “A Queda de
Murdock”, desgostosa da sua vida em Nova York, Karen se muda justamente para São Francisco
e é lá que a moça acaba se tornando uma adicta, além de se envolver com
prostituição. Algum tempo depois, a ex-secretária vende a verdadeira
identidade do Demolidor ao Rei do Crime, o que culmina com a derrocada do
personagem.
Vale lembrar que “Born Again” é o título original de “A
Queda do Murdock” e que é possível que os criadores da atual série tenham se influenciado pelo
arco de Frank Miller para contar essa quarta parte na vida do personagem mais
lascado do universo Marvel.
De volta ao episódio, quem também está retornando para Nova
York após um longo afastamento é Wilson Fisk (o magnânimo Vincent D’Onofrio), cuja primeira
visita que faz é à (ex?) mulher, Vanessa (Ayelet Zurer).
Com a ausência do marido na cidade, foi ela quem continuou
comandando as famílias criminosas locais — incluindo a Gangue do Agasalho,
mostrada em Gavião Arqueiro — e fica claro o desconforto que há entre os dois
com a volta de Fisk à cidade.
Essa parte ficou meio que nublada para mim. É dito que Fisk
ficou afastado devido ao ataque de um vigilante — provavelmente, se referindo
ao tiro que ele levou na cara da Eco no final de Gavião Arqueiro —, mas a
própria série da Eco nos mostra que a sua recuperação não demorou tanto assim —
pelo que me lembro — e que não faz sentido que o casamento dele com Vanessa
tenha ruído nesse breve período em que ele esteve fora da cidade, tentando cooptar a
vigilante de origem indígena como sua aliada.
Mas, enfim…
Vanessa não quer abrir mão do seu poder à frente das
organizações criminosas da cidade e não parece muito feliz com a ideia de Fisk
de se tornar o prefeito de Nova York. Por causa disso, ela se afasta dele ao longo da sua campanha e o deixa
praticamente sozinho a fim de realizar o seu mais novo sonho de chegar ao topo
da cidade, desta vez, por meios legais.
Nesse meio tempo, nós somos apresentados brevemente a mais
duas novas personagens. Uma delas, é denominada BB Urich (Genneya Walton), uma “blogueirinha”
que transmite pela internet as impressões da população nova-iorquina com
relação ao novo candidato a prefeito da cidade.
No segundo episódio, para os
menos atentos aos detalhes, é dito com todas as letras que a menina é sobrinha
de Ben Urich (Vondie Curtis-Hall), o repórter aliado do Demolidor que foi morto
na primeira temporada pelo próprio Wilson Fisk.
Eu não sei se nas HQs houve em algum momento uma BB Urich,
mas eu me lembro que lá pelo final dos anos 1990, introduziram um sobrinho de Ben
chamado Phil, que mais tarde acabou se tornando uma das centenas de versões do
Duende Verde.
Genneya Walton (BB Urich), Ben Urich (Vondie Curtis-Hall) e Phil Urich nos quadrinhos
A segunda nova personagem que surge, não é tão nova assim
para quem já leu alguma HQ antiga do Demolidor. Heather Glenn fez parte do
elenco das histórias do personagem também no arco escrito por Frank Miller e,
no começo, ela surgiu mais como uma acompanhante de Foggy, só mais tarde vindo
a se envolver romanticamente com Matthew.
Margarita Levieva como Heather Glenn
Nos quadrinhos, ela era mais uma dondoca com muita grana e
tempo disponível. Depois de um período do relacionamento entre os dois, ela acaba descobrindo a vida dupla do
namorado cego e o seu fim é bem trágico nas HQs, aliás, como boa parte do
elenco feminino que permeia as histórias do Demônio Audacioso.
Na série, Heather é interpretada pela atriz Margarita Levieva
— com suas belas madeixas onduladas! — e a moça é inserida na história pela
sócia de Matt, que tenta arranjar um encontro às cegas — sem trocadilho! —
entre os dois.
Heather se apresenta a ele como uma terapeuta e os dois logo
desenvolvem um interesse mútuo, o que mais tarde culmina num namoro.
Cá entre nós… as mulheres devem ter um fetiche em namorar um
cara cego, né não? É impressionante a facilidade que o Demolidor tem de
levar no sambarilove as cocotas mais gatas dos quadrinhos!
O primeiro episódio termina mostrando a vitória de Fisk nas
eleições e os dois personagens se antagonizando simbolicamente, com o Rei do Crime
do alto de um prédio a assistir à festa pela sua vitória nas ruas e Matt lá de baixo,
com vários contrastes de vermelho em seu rosto, “olhando” para o alto.
Antes do
resultado do pleito, os dois chegaram a sentar amigavelmente em uma lanchonete
para colocar os “pingos nos is” e deixaram claro as suas intenções um para com
o outro.
Matt diz ao rival que, se ele cagar fora do penico em sua
posição como prefeito, o Demolidor estará de volta para estragar a sua festa,
enquanto Fisk deixa muito claro que se ele vencer as eleições, uma das suas
primeiras medidas vai ser proibir heróis fantasiados em sua cidade, o que mantém aquecida a rivalidade que sempre existiu entre os dois, seja nos
quadrinhos ou em live-action.
Sinceramente, quem não terminou esse episódio louco para ver
o próximo, está completamente maluco ou não deve ser lá muito fã do Atrevido.
PONTOS POSITIVOS – Toda a tensão criada na batalha do bar da
Josie e o desenrolar dos fatos com a morte de Foggy elevaram muito o nível do
primeiro episódio. As atuações também estão muito boas, tanto do trio principal (Cox, Woll e Henson) quantos dos novos coadjuvantes. Charlie Cox e Vincent D’Onofrio simplesmente
nasceram para interpretar o Demolidor e o Rei do Crime. Os dois brilham em cena.
A nova abertura de Demolidor - Renascido ficou com uma qualidade equivalente à anterior. Se no passado tínhamos a estátua da justiça sangrando, agora vemos símbolos em pedra ruindo para se reconstruir no final. Achei condizente com o título "born again", além do que o tema musical é agradável de ouvir, como o antigo composto por John Paesano e Braden Kimball. A música atual é composta pelos The Newton Brothers.
PONTOS NEGATIVOS – Eu me pergunto se precisava usar aquele
boneco tosco de CGI para dar mais dinamicidade à corrida desesperada do
Demolidor para chegar ao prédio do Foggy. Um bom atleta de parkour faria
aquelas mesmas cenas com muito mais naturalidade, como já acontecia nas
primeiras temporadas.
Tem uma sequência inteira que mostra Matt Murdock DE
TERNO E GRAVATA correndo e pulando entre os prédios sob a luz do diae ninguém diz que
aquele cara não é o Charlie Cox. É tudo muito bem feito, só basta ter um pouco
mais de boa vontade.
Espero que não usem mais CGI de maneira banal assim no
restante da série.
Episódio 2 – Ótica
O segundo episódio começa mostrando os desdobramentos da
eleição de Wilson Fisk e a sua passagem de o Rei do Crime para prefeito de uma das maiores cidades
do mundo.
É irônico aqui fazer um paralelo com o nosso mundo real, onde grandes
bandidos e pessoas notadamente encrencadas com a lei se tornam políticos da noite
para o dia, e que, pasmem, vencem as suas disputas eleitorais com facilidade, caindo
nos braços do povo em seguida.
No mundo fictício da série, após uma visita de BB Urich ao
seu gabinete, Fisk é alertado que terá problemas com o chefe de polícia da
cidade, o comissário Gallo (Michael Gaston), que devido ao passado de
bandidagem de Wilson, não o enxerga como uma figura respeitável e que não vai lhe
facilitar a vida botando a sua força policial ao seu dispor.
Sem saber que o cara sentado à sua frente foi o responsável
pela morte do seu tio, Ben, a blogueira diz a Fisk com todas as letras que se ele não conquistar a polícia, o seu cargo estará fadado ao fracasso, o que o deixa pensativo.
Algum tempo depois, no subterrâneo da cidade, uma briga
envolvendo vários homens contra uma única vítima acaba interrompida quando
Hector Ayala (Kamar de los Reyes) intervém em favor do saco de pancadas no
metrô de Nova York.
Durante a briga, o homem latino consegue ajudar o rapaz
espancado, mas se torna ele mesmo o alvo do grupo, tendo que se virar para se defender
deles.
Em meio à pancadaria, um dos homens acaba caindo no trilho e é atropelado
por um trem. Logo em seguida, é revelado que os agressores são policiais e
Ayala acaba sendo preso sob a acusação de assassinar um homem da lei.
Kamar de los Reyes como Hector Ayala
Para quem não sabe, ou não assistiu ao resto do episódio, nos quadrinhos Hector Ayalaé o alter-ego do Tigre Branco, herói porto-riquenho
criado por Bill Mantlo e o saudoso George Pérez na década de 1970.
Bill Mantlo, o Tigre Branco nas HQs e George Pérez
A morte do policial causa comoção na cidade e entre os seus
amigos de farda. Para a opinião pública — e também para o juiz que advoga sobre
o caso — a culpa de Ayala é muito clara e o latino logo vira almofada de sparring
na cadeia, sem ter muitas chances de se defender.
Ao ver a situação vulnerável a que o homem está exposto, Matt
Murdock decide interrogá-lo, logo percebendo que a sua versão sobre a morte do
policial é verdadeira. Durante a luta, o “tira” perdeu o equilíbrio e acabou
caindo fatalmente na frente do trem, enquanto Ayala só estava tentando proteger
o sujeito que ele viu sendo covardemente comido de porrada.
Apesar de acreditar na versão contada por Hector, Matt
percebe que ele está escondendo alguma coisa e bota o seu amigo Cherry para
investigar. O policial aposentado descobriu a identidade secreta de Matt no dia
em que ele arremessou o Mercenário do alto do prédio e, depois disso, passou a
trabalhar com o advogado, servindo meio que como o seu “Mike” (Jonathan Banks), o capanga faz-tudo de Breaking Bad e Better Call Saul.
Cherry (Demolidor - Renascido) e Mike (Breaking Bad)
Aliás, os dois são carecas, são caladões, fazem o estilo
meio linha-dura e são ex-policiais. Alguém mais notou essa semelhança? Hein?
Alguém mais?
Durante a investigação de Cherry na casa onde Ayala mora com
a esposa Soledad, é perceptível que o casamento dos dois está abalado pela
maneira como a mulher se refere ao marido na presença de Kirsten. Com a
desculpa que vai buscar o terno para o julgamento de Hector no quarto, Cherry
acaba encontrando uma caixa onde ele guarda o traje e o amuleto místico do
Tigre Branco, revelando assim ao público geral o que todo leitor de quadrinhos
já sabia.
Todo o mistério envolvendo a briga no metrô, a identidade da
vítima e a prisão de Ayala acaba sendo o mote principal do episódio 2. Além
disso, vemos também a interação de Fisk com Gallo durante o funeral do policial
morto e a constatação do que BB Urich já havia alertado ao Rei.
O comissário Gallo (Michael Gaston) peitando o Rei
Em uma atuação
excelente de Michael Gaston diante de Vincent D’Onofrio, o comissário diz ao
Rei que “uma vez bandido, sempre bandido” e que os policiais daquela cidade
jamais estarão a favor de um criminoso, vestindo ou não a carapuça de prefeito.
Ainda diante desse diálogo, Gallo diz que não entende a
decisão de Fisk de se tornar prefeito, uma vez que nessa posição ele tem muito
menos poder e alcance do que tinha em sua época de Rei do Crime.
Hoje em dia, isso seria o equivalente a se perguntar a um
jovem com idade universitária “por que você vai passar quatro anos se fodendo
na faculdade se é muito mais fácil abrir uma conta no OnlyFans ou virar TikToker?Você vai ter muito mais poder e alcance do que, sei lá, virando um designer
gráfico!”
Desgostoso com a afronta de Gallo no cemitério, algum tempo
depois, Fisk recebe o comissário em seu gabinete para aceitar a sua carta de
demissão, é quando o gorducho decide voltar às suas origens e chantagear o homem lhe mostrando uma foto de uma mulher e de uma criança, que logo entendemos serem a sua
família. Embora contrariado, Gallo decide continuar no cargo de comissário, mas sai da sala
dizendo que a vida de Fisk não será mais facilitada por conta dessa ameaça.
Com pouco tempo de tela, eu já virei fã desse personagem.
Não é qualquer um que peita o Rei do Crime e sai vivo para contar a história.
Sem falar que esse coroa manda muito bem na atuação. Ele daria um excelente General
Ross no lugar do Harrison Ford e toda a sua má vontade de atuação característica.
O episódio termina com Matt ficando de butuca próximo ao
apartamento de um dos policiais que participaram da briga no metrô, e sem outras
pistas a seguir na intenção de inocentar Ayala, ele ouve que a vítima salva por
Hector foi localizada, e que estão indo em seu encalço para liquidá-lo.
Enquanto liga para Cherry lhe dar apoio, Murdock consegue chegar
antes ao endereço do rapaz e o encontra em pânico e escondido dentro do próprio
apartamento. Matt se apresenta e lhe informa que a sua vida está correndo prerigo.
A única pessoa capaz de ajudar Ayala consegue fugir com a
ajuda de Matt e, logo em seguida, o advogado fica no apartamento na intenção de
atrasar os policiais que naquela situação estão agindo à paisana.
Sem qualquer tipo de peso na consciência por baterem em um cego aparentemente indefeso, os dois policiais decidem merendar Matt na
pancada, o que, num primeiro momento, é visto como uma atitude sensata por parte
dele ao não reagir.
Afinal de contas, o advogado não é mais o Demolidor e uma reação sua só serviria para levantar suspeitas sobre si mesmo.
Em um último momento, um dos caras apela ao apontar uma arma
para a cabeça de Matt na intenção de executá-lo a sangue frio. É aí que
Matt resolve reagir e arrebenta com os dois numa das lutas mais violentas que
eu já vi na tela da Disney +.
Rapaz! Tem fratura exposta sendo mostrada na nossa cara e uma cabeça sendo moída contra a porta de uma geladeira!
Para quem tinha medo que Demolidor – Renascido seria só mais
uma dessas séries pau-mole que a Marvel tem feito recentemente, depois do final
desse episódio, acabaram todas as dúvidas.
(Sra. Marvel. Por favor, mantenha esse mesmíssimo nível de
sanguinolência até o último episódio da série do nosso amado Demônio Audacioso e esqueça que você já produziu aquelas merdas insossas de antigamente. Do seu
marvete safado preferido, Rod Rodman).
Quem prestou a atenção nessa sequência de pancadaria linda
de se ver, um dos policiais corruptos aparece com uma tatuagem da
caveira do Justiceiro no pulso, o que levanta duas hipóteses:
1) Frank Castle vai aparecer na série (o que não é hipótese nenhuma já que o Jon Bernthal aparece no trailer);
2) O símbolo do Justiceiro vai ser usado de maneira leviana por policiais,
como aconteceu na vida real nos Estragos Fudidos, quando um grupo de milicianos norte-americanos usando a caveira resolveu sair nas ruas com o intuito de “punir” a bandidagem usando requintes de crueldade como
o personagem dos quadrinhos. Por um tempo, a Marvel considerou aposentar o
icônico símbolo da caveira para que ela parasse de ser associada a esse tipo de
violência descabida na vida real, e até um novo Justiceiro surgiu nas HQs com um
símbolo bem diferente do habitual para descansar a imagem de Frank Castle.
Os sinais de que o MCU vai usar isso na série estão por toda
parte, vale saber se os produtores terão colhões para passarem uma mensagem mais direta sobre
o assunto, da mesma maneira que usaram um personagem porto-riquenho — provavelmente
imigrante — como alvo da lei sem direito a defesa e um chefão do crime
organizado se tornando prefeito, num paralelo a Donald Trump, que foi eleito
Presidente dos Estados Ruídos mesmo tendo sido condenado pela justiça
norte-americana meses antes.
PONTOS POSITIVOS – O climão de Demolidor da Netflix está
todinho lá, desde as tramas paralelas envolvendo tribunal e a carreira de
advogado de Murdock até a pancadaria sangue no zóio que nóis adora. Até as
citações discretas a outros personagens como “homem vestido de aranha” estão
bem verossímeis às três primeiras temporadas. Naquela época, embora se dissesse
que o Demolidor, a Jessica Jones, o Luke Cage e o Punho de Ferro faziam parte do mesmo
universo dos Vingadores e seus derivados, eles quase nunca podiam citar sequer o
nome desses personagens ao longo dos episódios. Era sempre “o cara verde”, “o maluco com o martelo”, e
etc.
Demolidor – Renascido faz parte do MCU, mas, aparentemente,
essas restrições de Naming Rights continuam sendo um problema!
PONTOS NEGATIVOS – O momento em que Wilson Fisk e Vanessa
chegam no consultório da Heather para começarem uma terapia de casal. Ali faltou
uns barracos, arranca-rabos que estamos acostumados a ver quando duas pessoas
cujo relacionamento esfriou enfrentam, né? Eu queria assistir a uma coisa mais Manoel
Carlos, mais novelesca com discussões em voz alta, descontrole emocional, isso tudo. Ainda mais se levarmos em consideração que, horas antes, o Rei descobriu que foi corno!
Seja lá quem for esse tal de “Adam”
o sujeito meteu pra dentro da senhora Fisk dicunforça! Ela pediu até pelamordedeus para que o marido não matasse o amante! Kkkkkkk!
P.S. - Enquanto eu editava o post, eu descobri que o ator Kamar de los Reyes que interpretou Hector Ayala na série faleceu vítima de um câncer em 2023, logo após as filmagens. A Marvel dedicou o episódio 2 em homenagem ao ator que tinha 56 anos.
No último dia 02 de março rolou no Dolby Theatre a 97ª
edição do Oscar e no Brasil a festa não podia ser maior. Em pleno Carnaval, o
filme "Ainda Estou Aqui" levou a estatueta de Melhor Filme Internacional,
desbancando entre outras produções, o “francês” Emilia Pérez.
É clima de Copa do Mundo, amigo! Haaaaja coração!
MELHOR ATOR COADJUVANTE
A noite de premiação começou com Robert Downey Jr. —
vencedor do ano passado por seu papel em “Oppenheimer” — anunciando o prêmio de
Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin por sua atuação em “A Verdadeira Dor”.
Kieran Culkin premiado por "Real Pain"
O irmão do Macaulay Kulkin já tinha vencido o Globo de Ouro
pelo mesmo papel no filme dirigido e atuado por Jesse Eisenberg e repetiu a
dose no Oscar com um discurso bastante espirituoso sobre o palco.
Apesar de ser o coadjuvante no filme, Culkin mostra o tempo
todo porque tem sido tão premiado ultimamente por suas atuações — ele também
levou o Emmy de Melhor Ator em Série Dramática por "Succession". Em “Real Pain” o
seu personagem flutua o tempo todo entre o humor rasgado e a melancolia total, e a história
dos dois primos — ele e o personagem de Eisenberg — que visitam os campos de concentração nazistas onde os seus
avós foram torturados, exige dele uma interpretação mais densa que realmente o gabarita para vencer o Oscar.
Nessa categoria, Kulkin superou Guy Pearce ("O Brutalista"), Edward Norton ("Um Completo Desconhecido"), o competente Yura Borisov (de "Anora") e o mal-humorado Jeremy Strong ("O Aprendiz"), que ficou com uma tremenda cara de cu ao longo de toda a cerimônia!
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Na categoria Melhor Documentário, quem levou o prêmio da
noite foi “No Other Land”, filme produzido por um coletivo palestino-israelense
que mostra a destruição de Masafer Yatta por soldados israelenses na
Cisjordânia ocupada, além da aliança que se desenvolve entre o ativista palestino
Basel e o jornalista israelense Yuval.
A equipe do filme "Sem Chão"
Ao subir ao palco para receber a estatueta, a equipe do
documentário pediu o fim do genocídio do povo palestino, situação trágica que
tem ocorrido desde outubro de 2023, quando começaram as tensões entre Israel e
o grupo terrorista Hamas. Desde então, mais de 40 mil palestinos já morreram
num conflito em que apenas um lado é massacrado às vistas do mundo inteiro, e
nada de mais efetivo para botar um ponto final nessa guerra tem sido feito.
Assim como “Ainda Estou Aqui”, que escancara uma realidade cruel vivida no Brasil há vários anos, “No Other Land” também serve como um alerta
e um pedido de socorro de um povo que vive com um alvo estampado na testa constantemente, sem
que as forças internacionais sequer pensem em ajudar.
"Sem Chão", como foi traduzido por aqui, está em cartaz em alguns cinemas nacionais, sem previsão de chegar aos serviços de streaming.
MELHOR CURTA ANIMADO E MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO
Os prêmios de Melhor Curta Animado e Melhor Curta
Documentário foram para “In The Shadow of The Cypress” e “The Only Girl in The
Orchestra” respectivamente. A animação de 2023 é dirigida por Shirin Sohani e
Hossein Molayemi, e é uma produção iraniana. Já o curta-documentário é uma
produção da Netflix que foi dirigida por Molly O’Brien.
MELHOR ANIMAÇÃO
Falando em animação, quem levou o maior prêmio da noite nessa
categoria foi o simpático “Flow”, da Letônia. O filme foi todo desenvolvido por
meio do Blender e os criadores da produção enfatizaram que o uso da tecnologia
de software livre foi essencial para que toda a composição das cenas de aventura do
gatinho preto fossem realizadas.
"Flow" como Melhor Animação
“Flow” desbancou grandes estúdios como a Pixar, que entrou
na disputa com seu tocante “Divertida Mente 2” e bateu de frente também com
outros filmes mais autorais como “Wallace & Gromit: A Vingança” e o
australiano “Memórias de um Caracol”.
Apesar de ter achado a fluência de movimentos do gato e de
seus amigos animais — não antropomorfizados, diga-se de passagem — excelentes,
a história do gatinho perdido num mundo submerso em água não me tocou tanto
quanto “Robô Selvagem” da DreamWorks.Fazia tempo que eu não me acabava de chorar como aconteceu enquanto eu
assistia a essa animação dirigida pelo competente Chris Sanders (de “Lilo &
Stitch”), mas a tocante história de uma robô que se afeiçoa a um filhote de
ganso me quebrou de uma maneira muito peculiar.
O emocionante "Robô Selvagem"
Apesar da rivalidade entre os dois projetos, vale a conferida em ambos. Os filmes
funcionam tanto para crianças quanto para adultos, e o que não faltam são
mensagens positivas nas duas histórias. “Robô Selvagem” se encontra para alugar
na Amazon Prime e "Flow", por enquanto, só está nos cinemas — ou no seu
aplicativo de pirataria mais próximo.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE E MELHOR CANÇÃO
Com 13 indicações no total, o francês "Emilia Pérez" chegou ao
Oscar como um possível arrasa-quarteirão que iria papar todos os prêmios à
vista, tal qual um “Oppenheimer”.
No entanto, o que vimos na cerimônia de ontem
foi a queda da realidade de um filme medíocre, produzido por pessoas medíocres
que apostaram alto na questão de gênero para encantar os votantes da Academia,
mas cuja campanha negativa facilitada pelas declarações preconceituosas de sua
atriz principal acabou fazendo com que a produção naufragasse — pelo menos no tocante a cuestão do Oscar, talkey?
Apesar da nossa torcida contra disso, Zoë Saldaña confirmou o seu favoritismo
levando o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel como Rita Mora, a
advogada de Emilia Pérez. A atriz de ascendência porto-riquenha enfatizou as suas
origens no discurso da vitória e ainda arriscou algumas palavras
em espanhol, idioma que ela fala em quase 80% do filme dirigido por Jacques
Audiard.
Zoë Saldaña
Saldaña desbancou as atrizes Ariana Grande (“Wicked”),
Felicity Jones (“O Brutalista”), a veterana Isabella Rossellini (“Conclave”) e
Monica Barbaro (“Um Completo Desconhecido”), provando após muitos anos de
atuação, que era mesmo a sua hora de brilhar — apesar de ela fazer parte do
elenco de três das atuais cinco maiores bilheterias do cinema por seus papeis
nas franquias Avatar e Vingadores.
"Emília Pérez" também se saiu vitorioso no Oscar de Melhor Canção Original com "El Mal", repetindo o que aconteceu no Golden Globes. A música interpretada em uma parceria entre Zoë e Karla Sofía Gascón, bateu ninguém mais do que sirElton John, que concorria com "Never Too Late", composta para o documentário homônimo sobre a sua carreira.
Aparentemente, os votantes dessa categoria não conhecem muito de música, não é mesmo?
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Com fortes chances de vencer o maior prêmio da noite,
segundo alguns especialistas, “Conclave” saiu do Teatro Dolby com apenas uma
estatueta debaixo do braço. O filme que fala sobre a reunião de cardeais para a escolha de
um novo Papa ganhou na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (de Peter
Straughan) e mais nada. A produção disputava oito categorias, entre elas, Melhor
Ator (Ralph Fiennes) e Melhor Filme, mas acabou passando quase despercebida na
premiação.
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Para os brasileiros, o grande momento da noite foi mesmo a
inesquecível premiação de Melhor Filme Internacional que consagrou “Ainda Estou
Aqui” como o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar.
Na disputa, além do já citado “Emilia Pérez”, estavam também
“A Garota da Agulha” (da Dinamarca), “A Semente do Fruto Sagrado” (do Irã) e novamente “Flow”
da Letônia. Eu não me lembro de outra situação em que uma animação ocupou
vaga de Melhor Filme Internacional com live-actions, mas confesso
que suei frio quando “Flow” apareceu na lista e começou a despontar como
favorito nos prêmios de Melhor Animação.
Para quem acompanhou a batalha de Walter Salles e de
Fernanda Torres nos últimos seis meses para que a história de “Ainda Estou Aqui”
fosse vista e reconhecida no circuito de festivais internacionais, a sensação de vitória dentro do peito foi quase tão grande quanto a deles.
Os momentos que antecederam a leitura do envelope feita pela
atriz Penélope Cruz me causaram uma taquicardia absurda, tudo isso para
explodir na catarse em que foi ouvir “I’m Still Here” soando com o sotaque
delicioso da espanhola.
Sobre o palco, no momento do agradecimento, o diretor Walter
Salles voltou a lembrar a luta de Eunice Paiva, a personagem central do longa,
para o reconhecimento das barbaridades praticadas pela Ditadura Militar no
Brasil, no período de 1964 a 1985, e ainda agradeceu:
“Muito obrigado em nome do cinema brasileiro. Depois de uma
perda tão grande durante o regime autoritário decidiu não se dobrar e não
desistir, esse prêmio vai para ela, Eunice Paiva. Pra Fernanda Torres e
Fernanda Montenegro”.
Na internet o frenesi foi gigantesco, e foi muito divertido
comemorar feito a um Pentacampeonato de futebol a consagração de um filme que, além de servir como um recorte de um passado ainda muito presente na nossa
história, é também muito bem-produzido, muito bem-filmado, muito bem-dirigido
e, principalmente, muito bem-atuado por seus protagonistas.
Não tem como não
ficar orgulhoso dessa obra e também do prêmio que mostrou não só para o Brasil
como também para o mundo que nós “Ainda Estamos Aqui” e lutaremos sempre contra os regimes ditatoriais recorrentes que assombram a nossa história.
MELHOR FIGURINO E MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
O filme “Wicked”, que transporta para as telas o espetáculo
homônimo da Broadway e que faz parte do superestimado universo de “O Mágico de
Oz”, saiu com dois prêmios, o de Melhor Figurino (para Paul Tazewell) e Melhor
Direção de Arte (para Nathan Crowley e Lee Sandales).
MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO
“A Substância” que, antes da premiação, tinha sido elevado como o favorito do Oscar, levou apenas o prêmio de Melhor Maquiagem e Penteado,
derrotando outras produções como “Nosferatu” e “Wicked” que também usaram e
abusaram da maquiagem para compor os seus personagens.
Melhor Maquiagem para "A Substância"
MELHORES EFEITOS ESPECIAIS E MELHOR SOM
O espetacular e grandioso “Duna – Parte 2”, que é
infinitamente mais empolgante que o primeiro, também recebeu a sua compensação
em dois prêmios técnicos, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Som.
O longa
dirigido por Dennis Villeneuve, ainda disputava o prêmio mais cobiçado da noite,
relacionado entre os dez maiores filmes, mas não teve muita chance contra o
papa-Oscar de 2025.
O MELHOR DA NOITE
Então… veio “Anora”, e todos — ou quase todos — se regozijaram!
Nadando contra a maré de cinéfilos que via o longa de Sean
Baker apenas como “mais uma produção misógina e superficial de Hollywood”, eu
escrevi aqui antes das premiações que “Anora” era sim um dos meus favoritos entre os dez mais e
que o filme, entre todos os que eu acompanhei para chegar inteirado no Oscar,
foi o único que me despertou um real interesse e que eu assistiria de novo sem
qualquer obrigação de “ver só por causa do Oscar”.
Mikey Madison como "Anora"
As premiações do longa começaram com a estatueta de Melhor
Roteiro Original, assinado pelo próprio Sean Baker que se baseou em uma
história real entre um amigo seu e uma stripper que foi sequestrada na Europa.
Logo depois, ganhou por Melhor Montagem que novamente levou Sean
Baker ao palco para recebê-lo, uma vez que o diretor de 54 anos também foi
responsável pela edição do longa. Aliás, nessa parte, Baker fez um comentário
espirituoso sobre “ter salvado o filme na edição” e que se não fosse por ele “o
diretor do filme nunca mais trabalharia em Hollywood”.
Ironicamente, ou não, Baker também venceu na categoria Melhor
Direção, batendo os tarimbados James Mangold (de “Logan” e que concorreu ao
Oscar por “Um Completo Desconhecido”) e Brady Corbet (de “O Brutalista”). Baker
também superou a única diretora entre os finalistas, Coralie Fargeat, de “A
Substância”, e para delírio geral da nação, bateu também o arrogante Jacques
Audiard de “Emilia Pérez”.
Sean Baker e seus quatro Oscars
Até aí, tudo corria bem, uma vez que “Anora” merecia mesmo
as premiações que disputou não só pela divertidíssima história tragicômica que
proporcionou à audiência, mas também para enaltecer o trabalho triplo que Baker teve em escrever, filmar e editar o longa sozinho. Parecia de bom tamanho o que o cara já havia ganhado até ali, mas então, vieram as premiações mais surpreendentes da noite.
Mikey Madison, que deu vida a dançarina erótica do título, venceu a categoria
de Melhor Atriz, derrotando não só a favorita da noite, Demi Moore — que ganhou
o Globo de Ouro por sua atuação em "A Substância" e que lhe rendeu um dos discursos mais inflamados
antietarismo do ano —, como também derrotou a nossa Fernanda Torres, que era vista
como a melhor entre as concorrentes depois de Moore.
Fernanda Torres e Demi Moore
Mikey é indiscutivelmente uma boa atriz que, no futuro, com certeza vai
despontar como uma das melhores da sua geração, mas a meu ver — e de todo o
Brasil! — premiá-la nessa noite foi um erro gravíssimo, em especial por tudo que o papel
de Elisabeth Sparkle representou na carreira de Demi Moore.
Moore como Elisabeth Sparkle em "A Substância"
Premiar Madison — que só tem 25 anos! — enquanto a moça
disputava com Moore que estava ali por interpretar uma personagem que sofreu de
etarismo e que justamente por isso tomou a substância do título do filme para
rejuvenescer e voltar às glórias do passado, foi no mínimo irônico por parte da
Academia Cinematográfica. Para não dizer grosseiro.
O Oscar de Melhor Atriz foi praticamente uma assinatura e um
carimbo na testa de Moore que "Sim. Você está velha mesmo e nós vamos premiar uma
atriz novinha no seu lugar para colocá-la sob os holofotes que já foram seus!”.
E cá entre nós, com todo o respeito a Demi Moore e a Mikey
Madison, mas a Fernanda Torres comeu as duas com farinha em matéria de
interpretação em “Ainda Estou Aqui”. Nem tem o que dizer!
Coroando ainda mais as polêmicas da noite, “Anora” superou “Conclave”,
“O Brutalista”, “A Substância” e o próprio “Ainda Estou Aqui” em Melhor Filme, e
saiu consagrado do Dolby Theatre com nada menos do que CINCO estatuetas das seis
que disputou.
Eu não vi “O Brutalista” com as suas infindáveis três horas e
quarenta minutos de projeção, mas apenas analisando superficialmente as
críticas ao looooonga, era bem fácil acreditar que a história que premiou
Adrien Brody como Melhor Ator tinha muito mais conteúdo a apresentar do que “Anora”. Sem
falar que “Conclave” era um filme muito mais com “cara de Oscar” do que a
produção criada por Sean Baker.
Adrien Brody como Melhor Ator por "O Brutalista"
Não posso negar que eu gostei muito de “Anora” e que
certamente vou reassisti-lo no futuro assim que surgir em algum streaming, mas que essa premiação de “Melhor Filme”
e de “Melhor Atriz” foi bastante exagerada, principalmente se levarmos em
consideração que o longa já tinha sido devidamente premiado na noite, ah, isso
foi!
P.S. – O prêmio de Melhor Curta-Metragem saiu para o ÚNICO
filme que tive a oportunidade de assistir esse ano. “I’m Not A Robot” é um
interessantíssimo curta sobre uma mulher que falha incansavelmente em provar
que não é um robô para um teste de captcha de internet, o que coloca em xeque a
sua própria percepção de humanidade. Aproveita que o filme está disponível no
Youtube e pode ser visto agorinha, agorinha!
P.S. 2 – E o vácuo que o Walter Salles, não-intencionalmente
(pelo menos eu acho!), deixou o coitado do Edward Norton na hora de receber o
prêmio de Melhor Filme Internacional, hein? Eu não vi na hora, mas quando
reprisou o momento na Globo, deu pra ver direitinho a cara de tacho do ator, que
só pôde mesmo ser consolado por nossa Fernandinha Pikachu logo em seguida.
P.S. 3 - E o que foi o discurso interminável do "Pianista" Adrien Brody na hora de receber o seu Oscar de Melhor Ator, o segundo da sua carreira? O John Lithgow não gostou nada nada dessa demora toda!
Eu falei dos vencedores do Oscar desse ano "Anora" e "Ainda Estou Aqui" recentemente no Blog do Rodman. Para acompanhar a resenha sobre "Conclave" e "Emilia Pérez" clica no banner aí embaixo.