22 de fevereiro de 2015

COMBO BREAKER #001 - Whiplash, Birdman e O Jogo da Imitação


Eu nunca fui bom em palpites, nem tampouco em previsões, por isso o objetivo desse post é pura e simplesmente colocar em voga três filmes que disputam o Oscar 2015 sem grandes pretensões “adivinhescas” de minha parte. A meu ver, Whiplash: Em Busca da PerfeiçãoBirdman ou (A Inesperada virtude da ignorância) O Jogo da Imitação são fortes candidatos aos prêmios que disputam, e eu não ficaria nada surpreso se pelo menos um deles saísse com uma (ou mais!) estatuetas douradas da premiação que rola dia 22 de Fevereiro.


Eu estava numa vibe meio depressiva quando decidi assistir Whiplash, e tudo que sabia sobre o filme era com base nos elogios que haviam sido feitos à atuação de J.K Simons (o eterno J.J. Jameson da trilogia Homem Aranha) nas Redes Sociais. Não sou muito de me influenciar por opiniões alheias (em especial para escolher qual filme assistir), mas algo no enredo me fez ter vontade de assistir Whiplash, que em São Paulo estava sendo exibido em pouquíssimas salas.


Dirigido por Damien Chazelle, que tem pouca coisa relevante no currículo além dos filmes O Último Exorcismo – Parte 2 Toque de MestreWhiplash possui um elenco bem reduzido, o que nos faz concentrar em dois personagens específicos: Miles Teller (que será o novo Reed Richards do desacreditado Quarteto Fantástico) que vive Andrew, um jovem baterista que sonha em se tornar um grande músico, e em Terence Fletcher, o mestre do jazz linha-dura vivido magistralmente por J.K Simons. Fletcher é aquele tipo de cara que não parece ter conquistado grandes coisas na vida, e que por causa disso, desconta toda sua frustração nos alunos que almejam ainda uma carreira promissora. Ao mesmo tempo, ele transpira confiança e não permite que seus ensinamentos sejam questionados, nem tampouco seu “método de ensino” agressivo. Não. Com Fletcher não há espaço para hesitações ou imperfeições, sua meta é bem clara: Encontrar entre as fileiras incompetentes de estudantes alguém que seja capaz de despertar o seu interesse, e que ele o possa moldar para que se torne um novo músico de jazz.


Procurando ser esse prodígio, Miles usa de toda sua determinação e empenho para ser um baterista à altura do que Fletcher exige, e para isso ele chega a sacrificar o namoro com Nicole (a lindíssima Melissa Benoist que será a Supergirl da série de TV), o relacionamento com o pai Jim (Paul Reiser) e até mesmo sua própria sanidade.
Whiplash é um filme visceral. Enquanto assiste, você sente ódio, angústia, pena e às vezes tudo isso ao mesmo tempo, e é impossível se manter alheio à interpretação de J.K Simons, que faz desse, possivelmente o seu melhor papel no cinemaRobert Duvall (O Juiz), Ethan Hawke (Boyhood), Edward Norton (Birdman) e Mark Rufallo (Foxcatcher) terão que suar para vencer o prêmio de Ator Coadjuvante, que a meu ver, caberia muito bem na estante de Simons, e com todo louvor. Ele interpreta aquele tipo de personagem coadjuvante que ofusca o personagem principal, e apesar de nos sentirmos incomodados com as grosserias cuspidas o tempo todo de sua boca, de forma sádica meio que aprovamos seus métodos nada ortodoxos, o que nos leva a crer que há um pouco de Terence Fletcher em cada um de nós.


Academia, por favor, o Oscar para J.K Simons!

A trilha sonora de Whiplash, claro, como não poderia deixar de ser, é espetacular, e recomendo esse filme fortemente para quem é músico ou amante da música.



Eu não me lembro de já ter visto algum filme como Birdman ou (A Inesperada virtude da ignorância). Enquanto comia pipoca, no fundo da sala de cinema, eu comecei a ser bombardeado por uma história surpreendente envolta num formato pouco comum e com interpretações absurdas (no bom sentido!) de atores que nunca considerei antes grandes nomes do cinema. Justiça deve ser feita, claro, nesse caso, a Edward Norton, que nunca me deixou esquecer o quanto é talentoso por seu ex-neo-nazista em A Outra História Americana, um dos filmes mais chocantes que já vi na vida. Volte vinte anos no tempo, talvez mais, e ninguém aí poderia dizer com segurança que Michael Keaton poderia concorrer um dia que fosse a estatueta de Melhor Ator.

Sério.

Seja sincero com você mesmo.

Quantos filmes você se lembra que ele fez depois de Batman o Retorno (1992)? Dois? Talvez três?


Num universo de singularidades perversas, Keaton foi escolhido para interpretar (vejam bem) um ator de Hollywood decadente que vive à sombra (literalmente) de seu maior personagem, o super-herói Birdman. Ao se recusar fazer a quarta sequência da série de filmes que o levaram a fama, o ator Riggan Thomson decide singrar novos mares, procurando voltar aos holofotes desta vez em uma peça de teatro baseada num livro premiado. Em busca da notoriedade há muito perdida, com a ajuda da filha viciada Sam (Emma Stone, que disputa o Oscar de Atriz Coadjuvante), do agente Brandon (Zach Galifianakis, mais magro e menos caricato do que costuma ser) e de um elenco teatral competente, Riggan tenta se levantar do ostracismo e provar para todos que ele é sim importante, e que sua vida não se resume a ser apenas um rosto por trás de uma máscara de super-herói emborrachada.

Cara!

Michael Keaton aceitou fazer um papel sobre sua própria vida!


As referências ao Batman de Tim Burton, que o levou ao estrelato, são tantas, que em alguns momentos começamos até mesmo a achar que Birdman é uma cinebiografia disfarçada.

Não pense você, no entanto, que Birdman se resume a isso. Enquanto o pano de fundo age bem em nos mostrar a vida fracassada de Michael Keaton... Digo, de Riggan Thomson, um elenco muito competente faz com que o enredo se torne crível. Além da excelente interpretação de Edward Norton, que faz um ator de teatro conceituado da Broadway todo trabalhado na arrogância e prepotência (que eu acho muito boa, mas nada que vá tirar o Oscar de J.K Simons!), outros atores também dão show, como Naomi Watts (que teve um caso mal resolvido com o personagem de Norton), Andrea Riseborough, a amante de Riggan e também atriz da peça teatral, e claro, Emma Stone, que nesse filme vai muito além da Gwen Stacy rebelde de O Espetacular Homem Aranha. Como uma ex-viciada ainda em reabilitação, Sam prova ao pai, em um diálogo forte e cheio de acusações, que ele é sim um fracasso, e que não há nada que ele possa fazer que vá mudar isso. As atitudes de Riggan depois disso o levam a uma roleta russa de emoções e culminam com um final de certa forma surpreendente que botou muita gente para refletir a respeito de que droga estamos fazendo com nossa vida, afinal?


A direção do mexicano Alejandro González Inárritu é felomenal (parafraseando o saudoso José Wilker), e como disse no início desse texto, nunca tinha visto nada parecido. O filme é mostrado como se não possuísse cortes (embora os tenha), e acompanhando sempre de perto a visão dos personagens, entramos e saímos da coxia com o elenco, visitamos os camarins e vamos para o palco como se fossemos uma sombra atrás deles, sem que nenhum corte de cena seja mostrado. É uma experiência totalmente nova, algo que me fez sentir como se tivesse assistindo algum filme europeu experimental ou algo do tipo. Até mesmo nas gravações externas ao teatro continuamos nos sentindo numa viagem muito louca, e tudo isso somado a interpretação da vida de Michael Keaton, a meu ver, fazem com que Birdman seja sim um fortíssimo candidato ao troféu de Melhor Filme e ao de Melhor Ator para Keaton. Vale lembrar que o filme levou o Globo de Ouro como Melhor Roteiro e Keaton papou o prêmio de Melhor Ator de Comédia... Embora eu ache que de comédia, Birdman não tem nada!



Ok. Eu trabalho com informática há um tempão e eu nunca tinha ouvido falar de um computador eletrônico que decifrasse mensagens secretas nazistas.

Também pudera.

O texto que deu origem ao filme foi publicado muuuuuitos anos depois da Segunda Grande Guerra ter chegado ao fim, e tanto o projeto secreto da MI6 quanto seu criador, se mantiveram incólumes durante muito tempo, por razões que falavam mais alto do que o orgulho britânico em arrotar a plenos pulmões que eles haviam ajudado a encurtar as pretensões nazistas de conquista mundial.

Dirigido por Morten Tyldum, que concorre com Alejandro Inárritu de Birdman ao prêmio de Melhor DiretorO Jogo da Imitação é um filme pouco audacioso, mas que conta uma história muito interessante de um matemático homossexual que precisa esconder seu segredo em uma época que era considerado crime tal “desvio” de comportamento. Com problemas sérios de relacionamento causados por sua adolescência conturbada e por um amor platônico por um colega de escola, o personagem de Benedict Cumberbatch (que viverá o Doutor Estranho nos filmes da MarvelAlan Turing é visto como o esquisito antissocial que rejeita a presença de outras pessoas, e que com isso, faz com que todos a seu redor o odeiem. Extremamente inteligente, lógico e focado em seu trabalho, Turing se torna a pessoa perfeita para liderar o projeto Enigma (o tal código nazista indecifrável), mas para isso, ele é obrigado a lidar com outras pessoas não tão brilhantes quanto ele, mas igualmente úteis para o sucesso da empreitada.


Por incrença que parível, Turing acaba se afeiçoando a candidata a vaga de “mente brilhante” Joan Clarke (Keira Knightley), e com ela por perto ele começa a aprender o valor de uma companhia, já que a moça o ajuda a raciocinar melhor para tentar decifrar o código tido até então como inquebrável. Quando Turing chega a conclusão que nenhuma mente humana por mais poderosa que seja vai dar conta de resolver aquele problema, ele decide desenvolver um aparelho capaz de calcular milhões de possibilidades mais rápido que o cérebro humano, tendo assim a ideia do primeiro computador da história.


Convencer Tywin Lannister (o ator Charles Dance) a ceder milhares de Libras para a criação do computador não é fácil, mas com a ajuda de Winston Churchill e de Stewart Menzies (Mark Strong), Turing tem êxito, embora seja acompanhado o tempo todo pelo exército, que não descansa enquanto o primeiro resultado daquele investimento não dá fruto.
Em paralelo à quebra do Enigma, a vida pessoal de Turing acaba sendo devassada enquanto um relacionamento dele com um rapaz começa a vir à tona. O filme que na maior parte do tempo nos faz rir com o jeito egocêntrico de Turing rapidamente se torna um drama quando o protagonista, apesar de ter ajudado os Aliados a vencer a Guerra, começa a ser ameaçado pelas autoridades. Em vez de ser preso, Turing escolhe passar por um procedimento médico que o obriga a ingerir um composto químico para “tratar de sua homossexualidade”, algo que começa a lhe trazer efeitos colaterais gravíssimos. As duas nuances do mesmo personagem são magistralmente interpretadas por Cumberbatch, que com sua voz enfática e seu sotaque britânico característico vem provando ser um dos melhores atores de sua geração. Como disse, O Jogo da Imitação não chega a ser um filme de peso que mereça ganhar um Oscar, mas prêmios como Roteiro Adaptado e possivelmente uma estatueta de Melhor Ator para Benedict podem sim rolar, o que eu não acharia nada injusto.


Para quem se interessou por um dos três filmes vale muito a pena vê-los no cinema. Devido a festa do Oscar, todos devem permanecer no circuito ainda por um bom tempo, portanto, faça como esse que vos fala e corra para adquirir um pouco de cultura e escapar dos Blockbuster descerebrados, mesmo que por ora.

NAMASTE!

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