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29 de abril de 2020

O BBB20 acabou. E agora?


Que a edição 20 do BBB foi histórica todos nós concordamos, mas a consagração da paulista Thelma Regina como a grande campeã da temporada deu um sabor AINDA MAIS especial a um programa que já estava sendo épico. 


Na final contra duas gigantes do mundo das influencers digitais, a médica anestesiologista não só recebeu 44,10% da parcela total de votos, como arregimentou uma torcida de peso no mundo das celebridades à seu favor. Cantoras como Preta Gil, Iza e Anitta movimentaram seu público para votar em Thelma e o resultado não podia ser mais justo, numa edição que levantou muitos temas polêmicos como racismo e machismo


A única inscrita da final, médica preta que lutou contra tudo e todos para se formar - em meio a colegas de sala maciçamente brancas - e que mostrou no programa muita força e sabedoria, precisava vencer no final. O prêmio de 1,5 milhão tinha que ser dela. Não havia resultado mais justo.


Sobre a edição do programa ao longo desses três meses, nós devemos nos render mais uma vez em elogios à produção da Rede Globo que deu um show de competência técnica, não deixando a qualidade cair em nenhum momento. Embora alicerçada por uma tonelada de patrocinadores, a produção sob a direção do Boninho cuidou para que o único entretenimento inédito e ao vivo no Brasil se mantivesse relevante para o público do começo ao fim, cuidando para que a edição muito bem cuidada da TV continuasse sendo replicada nas redes sociais e em seu próprio serviço de streaming, o Globoplay


E como as redes sociais movimentaram o programa, hein? 

De tretas entre Bruna Marquezine e Neymar a cancelamentos subsequentes da Anitta, o BBB20 tornou-se um fenômeno de audiência - até porque não tinha nada mais para se ver! - trazendo de volta gente que nem se abalava mais em ver o programa há anos. Após a vitória de Paula von Sperling na edição 19, participante que não se intimidava em tecer comentários preconceituosos durante seu confinamento na casa, parecia que não havia mais para onde se navegar com o barquinho do BBB. A sacada de juntar subcelebridades com participantes anônimos, no entanto, acabou salvando esse Titanic prestes a colidir com um iceberg e o resultado deve ter sido melhor que o esperado para a Globo.

Paula von Sperling a campeã de 2019

O time de participantes deu o tom que o programa teria nessa temporada logo de início, já na primeira prova do líder, e de lá para cá, o que se viu foi uma competição acirrada, e não só por parte do time Pipoca, como também do time Camarote, que percebeu que não seria um jogo tão fácil assim. Se de um lado tínhamos o ginasta Pétrix e o Youtuber Pyong como competidores natos - que tinham entrado na casa não só para competir, mas para vencer - do outro, tínhamos Felipe Prior, Lucas Gallina e Hadson, três caras muito dispostos a enfrentar os adversários famosos no mano a mano - quase que literalmente! 


E como foi bom ver a treta entre Prior e Pyong, hein? 

Desmerecendo os adversários várias vezes com seu excesso de autoconfiança - ou soberba, palavra muito usada nessa temporada - Pyong Lee juntou forças com a chamada Comunidade Hippie, e claro, se beneficiou muito dela após a Guerra Mulheres x Homens. Jogador calculista, o cara manipulou todas as meninas a fazerem o seu jogo e não demorou a ver um a um os adversários caindo fora da casa. Demorou até que uma das mulheres da Comunidade Hippie fosse eliminada, e até isso acontecer, Pyong conseguiu seu intento de tirar do jogo Chumbo, Pétrix, Hadson, Lucas e Guilherme, paredão esse em que o próprio Pyong esteve presente e foi um dos primeiros recordes de votação a ser quebrado em um BBB. Resistindo a tudo e a todos, estava Felipe Prior, que embora não fosse tão talentoso quanto Pyong no campo da manipulação, aguentou bastante as pressões do jogo, ganhando um forte aliado na figura de Babu, formando com ele uma das amizades momentâneas mais bonitas de se acompanhar. 


Confesso que fui um dos que passou a torcer por Prior depois que a arrogância de Pyong - e de suas pyonguetes - tornou-se insustentável, o que aconteceu com muita gente, que antes via o arquiteto encrenqueiro como apenas mais um dos Chernoboys a serem eliminados do jogo. Apesar do jeito estourado, Prior possuía certo carisma dentro da casa - o que esquentou os ânimos entre Gizelly e Flay, que meio que competiam por ele - e se ele tivesse se espelhado mais no Marcelo Dourado campeão do BBB 10 e menos no Dourado do BBB 4, quem sabe ele não teria chegado mais longe no jogo!


O paredão que eliminou Prior bateu o recorde absoluto do programa e movimentou 1,5 bilhão de votos - fazendo o programa entrar no Guiness Book - em disputa direta com Manu Gavassi. A trégua entre ele, Manu e Gizelly se encerrou quando o cara resolveu botar a cantora no paredão e o resultado foi uma briga generalizada na internet entre os fãs de Manu contra os apoiadores de Prior. De repente, jogadores brasileiros de futebol de todos os cantos do mundo começaram a dar apoio ao arquiteto - Joga Y Joga -e lutar contra o exército das Fadas Sensatas, que com a movimentação de Bruna Marquezine - amiga pessoal de Manu - conseguiu vencer no final. 


Prior tinha ganhado tanta torcida do lado de fora, que era comum se ouvir gritos na janela quando ele se safava de uma prova Bate-Volta ou quando voltava de algum paredão. Parecia mesmo época de Copa do Mundo. O BBB20 virou o esporte nacional durante três meses.

Mas Rodman... Para quem realmente era sua torcida no jogo? 

Como o BBB é uma espécie de experimento social onde analisamos e julgamos as pessoas presas nele a nosso bel prazer, é muito comum que a torcida se tornasse flutuante com o passar do tempo, o que me fez torcer para pelo menos três participantes durante o jogo, além da Thelma na reta final. Atitudes dentro da casa e informações externas enfraqueciam obviamente aquela torcida para um ou para outro brother, mas alguém que sempre torci e que acabou chegando na final foi a Manu Gavassi


Manu era uma das poucas da qual já tinha ouvido falar antes do programa por suas participações no juri do Popstar da Globo - aquele programa musical que põe artistas de várias áreas para cantar -, mas o que me chamou a atenção nela foi seu bom humor em lidar com o confinamento. Inicialmente distante da competitividade de jogo em seu "retiro espiritual", Manu era uma das "VTzeiras" da edição, sempre chamando a atenção com seus comentários sarcásticos e inteligentes, quase como se fosse uma de nós dentro da casa. Aquela observação sobre o trabalho que o programa deve dar para ser editado e sobre as pastas de arquivos foi uma das mais hilárias, sem contar que seus Raios-X eram os mais engraçados pelas manhãs.

A união desse bom humor a sua sensatez em lidar com temas polêmicos, falando com propriedade sobre feminismo e sororidade - ela deu praticamente uma aula dentro do Quarto Branco - me fizeram vê-la como alguém que valia a pena torcer. Claro que seu comentário sobre gostar de casais "cuja cor combina" deu aquela azedada na torcida, e a cantora foi bastante criticada do lado de fora, chamada até mesmo de racista. Outro fator que ajudou a torcer por Manu foi descobrir que o pai da Manu era o Zé Luiz, locutor que acompanhei por anos na 89 FM, à frente do programa Do Balacobaco, e que eu não fazia ideia que era da família.


Rafa Kalimann foi outra participante que me afeiçoei ao longo de jogo e que por muito tempo foi a minha campeã, exatamente por ela parecer enxergar o jogo de uma maneira que ninguém mais enxergava - até começarem a dizer que ela recebia informações externas sobre o jogo. Rafa sempre me pareceu muito sensata em seus comentários e em seu posicionamento sobre os assuntos da casa, o que me fez torcer bastante por ela. 


Obviamente seu posicionamento político na última eleição e seu desejo em evangelizar alguns países da África com suas missões humanitárias fizeram com que ela deixasse de fazer parte do meu pódio - não pelo fato de ajudar quem precisa, mas pelo fato de EVANGELIZAR um povo que não precisa disso -, o que se agravou quando ela defendeu na casa a postura racista da última vencedora Paula no programa. 


Acusado de machismo, homofobia - por xingar o Daniel de "viadinho" -, gordo assustador, agressor de mulheres e mais uma porrada de adjetivos caluniadores, o Babu provou por ele mesmo que não era nada daquilo, e que apesar da sua figura em geral carrancuda, o cara possuía um coração gigantesco, além de uma lealdade com os amigos e aliados acima da média. Muita gente se deixou levar pela aparência truculenta do ator e não quis nem conhecer o cara, algo que se mostrou um equívoco. 


Do lado de fora, uma torcida muito grande se formou para que ele ganhasse o prêmio máximo do programa e Babu Santana passou a ser um fenômeno de popularidade, mais uma vez contra tudo e contra todos. Como todos os participantes - incluindo a vencedora Thelma - Babu também cometeu alguns erros, como se aliar aos Chernoboys e falar mal em alguns momentos de Rafa e Thelma - que o apoiavam -, mas como foi comentado no outro post, os homens da década de 80 - e daí pra trás -ainda estão tentando se adaptar ao mundo moderno, trazendo à tona muitas vezes preconceitos e pensamentos antigos que lhe foram incutidos em sua criação. É uma tarefa árdua e diária essa reconstrução. Dizer que a torcida do ator "passou pano" para suas atitudes equivocadas na casa é no minimo atestar não ter entendido o quanto ele estava aberto para aprender, muito diferente de caras como Prior, por exemplo. Nesse ponto, me vi representado por Babu, embora claro, falta de empatia e truculência não sejam desculpa para nenhuma falta de tato contra uma mulher. 


Sobre representação, Babu fez bonito no jogo, mostrando que o BBB não é só lugar pro branco/hétero/malhado frequentar. Um gordo feio e preto também pode mandar seu recado e ser MUITO MAIS relevante do que os boys com gominhos no abdômen. Falando nessas características, que Babu tenha mais oportunidades do lado de fora agora que mostrou quem é de verdade. Dar mais oportunidades à Ivy, com seus belos olhos claros e seu rostinho lindo, enchendo-a de trabalhos publicitários - mesmo que ela tenha sido uma preconceituosa escrota na casa - é fácil. Quero ver empregar o gordo preto!

Aliás, quanto a talento, Babu não tem mais nada a provar. Assisti Tim Maia e Mundo Cão durante o BBB e a atuação do cara é de aplaudir de pé em ambos.


A final do BBB20 deu aquele misto de felicidade pela vitória de Thelma - que era quem melhor representava o momento em que vivemos - e melancolia pelo fim do programa. Embora o afrouxamento das regras de isolamento esteja prestes a ser autorizado, ainda vai demorar a vermos programas que movimentem tantas torcidas quanto o BBB voltarem a ser produzidos na TV. As lágrimas de Tiago Leifert ao falar sobre o sucesso do programa apresentado por ele e o quanto a casa mais vigiada do Brasil vai deixar saudades nos representam. 


Também estamos chorando e já com saudades do BBB! 

E você? 

Quais lições aprendeu com o BBB20? Clique no link da imagem abaixo e divirta-se!


NAMASTRETA!

27 de abril de 2020

5 lições que aprendemos com o BBB 20


O Big Brother Brasil 20 já é apontado por muitos entusiastas como a melhor edição de todas nesses 20 anos do programa - superando até mesmo a eletrizante edição 7, que consagrou Diego Alemão campeão - e a razão desse sucesso se deve ao fato da qualidade de seus participantes - potencializada sim pelos "convidados famosos" -, mas principalmente pelos temas polêmicos levantados ao longo do convívio de mais de três meses dos enclausurados. 


Todo ano é levantada a velha questão de que o reality da Rede Globo é manipulado, que todos os participantes recebem um script a seguir antes do programa ter início e que até mesmo o resultado dos paredões é arranjado pela produção, mas sendo isso verdade ou não, é bem visível que esse ano o "script" foi muito bem roteirizado, colocando os fãs do BBB e suas respectivas torcidas para discutirem questões bem sérias e necessárias como machismo, abuso psicológico, racismo e sororidade


Confesso que o formato do programa se desgastou para mim lá pela edição 10, quando o lutador Marcelo Dourado levou o prêmio milionário e só voltei a acompanhar o programa nessa edição 20 por causa de alguns nomes famosos que me chamaram a atenção. A meu ver, valeria a pena conferir de perto a interação das 9 subcelebridades (o grupo Camarote) com os 9 anônimos (o chamado grupo Pipoca) dentro da casa, e não há como negar que realmente valeu, aproveitando que durante a quarentena, o BBB foi uma das únicas atrações inéditas e ao vivo que continuaram sendo transmitidas na TV.

Vale lembrar que como o BBB é uma experiência de interação entre vários tipos de pessoas diferentes - mesmo que a maioria ali seja branca, hétero e com corpinho malhado - é muito comum nos vermos prestando bastante atenção nas questões humanas que a convivência deles acaba levantando, não sendo difícil trazer essas questões para a nossa "vida real". 

As redes sociais foram tomadas nas últimas semanas por discussões sobre muitos assuntos importantes que surgiram dentro da casa durante o confinamento - dos BBBs e do nosso! - e o intuito desse post é trazer alguns desses temas à tona. Como não estarei em lugar de fala de quase a maioria dos temas, usarei citações externas para tentar dar uma base razoável ao texto, por isso, não me cancelem (AINDA!). 

RACISMO ESTRUTURAL


Segundo o IBGE, os declarados pretos representam mais de 56% da população total do Brasil, mas essa maioria não significa muito no campo do preconceito étnico, algo quase enraizado em nosso dia a dia. Durante a edição do BBB 20, quem estava de fora pode acompanhar muitas situações que expuseram um racismo estrutural por parte de alguns participantes do reality para com o ator e cantor Babu Santana e a médica anestesiologista Thelma Regina, os dois únicos confinados declarados negros. 


Assim como do lado de fora da casa, o racismo estrutural se mostrou de forma sutil no BBB, como algo que "todo mundo faz" e que em alguns casos "ninguém nem percebe". Babu chegou a ser apontado como alguém "assustador" e "violento" pelas participantes Marcela McGowan, Gizelly Bicalho e Ivy por ter uma postura mais enérgica ao dar suas opiniões sobre os assuntos da casa, o que passava a imagem - a elas - de uma pessoa agressiva. Por dizer constantemente que morava em favela, ser de origem humilde e também por sua estrutura corporal, foi fácil para as participantes ligarem a imagem do ator a um aspecto negativo, o que gerou MUITOS votos em Babu e mais de 10 paredões no jogo. Gizelly e Ivy chegaram a zombar do pente afro usado por Babu na casa, se perguntando "que tipo de gente usa um pente desses" e se negaram a compartilhar a cozinha da casa com o "homem", forma pejorativa que as duas passaram a chamá-lo mais tarde. 


Thelma chegou também a ser alvo de Ivy e Daniel - os dois participantes que foram votados pelo público para entrar no BBB, após a Casa de Vidro - pelo simples fato deles não "terem afinidade" com ela, argumento muito usado no programa na falta do que dizer para não ir com a cara do coleguinha de confinamento. Quando Babu não podia ser votado, era em Thelma que a dupla concentrava votos, o que levou a participante a amargar um dos Castigos do Monstro e a parar num dos paredões. Gizelly ainda chegou a comparar a maquiagem de Thelma com barro, e embora Babu tenha cometido o mesmo erro mais tarde, ele e Thelma mantiveram uma parceria muito importante na casa por sua condição étnica, algo que durou até quando o jogo permitiu. 


Segundo a jornalista Bárbara Forte para o Ecoa do portal UOL, racismo estrutural "é o conjunto das várias formas de racismo, incluindo o individualista (e seus desdobramentos, como a discriminação e o preconceito) e o institucional, que estruturam a sociedade e naturalizam no imaginário coletivo que o lugar do negro está ligado à servidão ou à criminalidade"

Todos nós já praticamos ou fomos coniventes com formas de racismo ao longo da vida, e embora estejamos abertos a aprender mais com quem sofre com esse tipo de preconceito e interessados em ver essa prática se findar, é bem claro que ainda estamos longe de sermos uma sociedade livre das barreiras étnicas que insistem em dar privilégios somente para quem é branco, ignorando o que existe além disso. 


Ainda de acordo com o artigo de Forte, o racismo "diz respeito a formas nem sempre conscientes e também coletivas de desfavorecer negros e indígenas e privilegiar os brancos" e sendo o BBB uma extensão razoável do que vivemos diariamente em sociedade, não fomos poupados de vermos a prática ao vivo na TV. Casos de racismo também foram acompanhados nas redes por parte de seguidores mais radicais da chamada Comunidade Hippie do programa, e o perfil de Babu Santana se viu alvo de muitos ataques racistas, chamando o participante de "chimpanzé fumante" e outras ofensas piores. Vale lembrar que racismo é crime previsto pela lei Caó 7.716. É inafiançável, imprescritível com pena de reclusão de até 5 anos. 

RELACIONAMENTO ABUSIVO


Uma das características mais marcantes do BBB é a formação dos casais dentro da casa, e é claro que a edição 20 teve seu casal oficial. O modelo Guilherme Napolitano (um dos pipocas) e a cantora sertaneja Gabi Martins (uma das razões pela qual comecei a ver o programa) se enamoraram nas primeiras semanas do jogo e o público não demorou a shippar o casal. 


Os problemas começaram a aparecer quando outra participante da casa começou a chamar a atenção do modelo, colocando em dúvida as declarações exageradas de amor que o cara fazia para a loirinha. A atração entre Bianca Andrade, a Boca Rosa - que namorava fora da casa o cantor Diogo Melim - e Guilherme era nítida durante as festas e isso passou a incomodar Gabi. Guilherme dizia para a namorada que só queria a amizade de Boca Rosa e que eles já eram grandes amigos ANTES do namoro entre os dois começar. Mesmo assim os desentendimentos por conta da interferência de Bianca começaram a se repetir bastante, deixando Gabi cada vez mais tristonha e chorosa na casa.

Bianca e seu agora ex-namorado Diogo Melim

Após Bianca pedir que Guilherme se afastasse dela durante uma festa porque senão "ela ia beijar ele" e do modelo ficar em clima de affair no sofá com a influenciadora digital quase na cara de Gabi, o caldo só desandou entre os dois, gerando cenas bem fortes de se ver em que Guilherme dizia à cantora que "ela estava vendo coisas" e que não havia nada entre ele e Bianca. 

Guilherme e Bianca

O público que antes era só chamego com o casal, começou a querer a expulsão de Guilherme da casa por sua postura incisiva com relação ao que Gabi devia ou não fazer na casa, acusando-o de estar assediando psicologicamente a loira.       

     
A relação entre Guilherme e Gabi acabou enquadrada numa prática também conhecida como Gaslighting, que segundo a jornalista Laura Reif para a revista Azmina "é um tipo de abuso que atinge as mulheres de forma sutil, mas muito grave. Trata-se de manipular a mulher psicologicamente para ter controle sobre ela, ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos". Antes sempre alegre e festiva, Gabi passou a se tornar alguém triste após o namoro com Gui e não era raro ver a moça chorando pelos cantos da casa, em dúvida sobre o que o modelo dizia sentir por ela, claramente insegura. 


Gabi desenhou o tempo todo a personagem da menina inocente e bobinha na casa, e muitos dos seguidores da cantora apontavam que ela estava em tratamento contra a depressão ao entrar no BBB, causada justamente por relacionamentos fracassados do passado. Embora Guilherme tentasse mostrar que era o bom moço sensato e amigo de todos dentro da casa - o que o levou ao paredão que o eliminou - essa faceta de assediador causou um hate grande nos espectadores, que o eliminaram da casa com 56,07% dos votos, num dos paredões mais disputados da temporada, enfrentando o Youtuber Pyong Lee - que também tinha cometido alguns pecados na casa, relacionados, por sua vez, a assédio sexual


MACHISMO


Assim como o racismo, o machismo é outra característica bastante enraizada na sociedade, e dia após dia nós homens precisamos nos reeducar para deixar de lado algumas práticas até pouco tempo vistas como "naturais". Muito incentivada dentro de nossa casa por nossos pais e até mesmo por nossas mães, algumas práticas machistas nos pautaram a vida toda a sempre vermos mulheres como "seres menores", "mais fracos" e até mesmo "menos capazes". Frases como "corre que nem uma mulherzinha", ou "mulher não tem que fazer trabalho de homem" nos condicionaram desde a infância a realmente achar que as mulheres não eram capazes de fazer certas coisas, e que portanto, "não deveriam se meter". 


No BBB, além do próprio machismo estrutural presente nas falas de alguns participantes - os denominados Chernoboys - casos de misoginia também foram bem recorrentes e a batalha Mulheres x Homens movimentou fortemente o programa, tornando-se seu principal enredo. Com informações externas trazidas por Daniel e Ivy da Casa de Vidro, o jogo virou completamente quando as mulheres dentro do confinamento ficaram sabendo sobre o plano dos caras de desestabilizar os relacionamentos amorosos de algumas garotas, tentando fazer com que elas fossem mal vistas pelo público. 

O dia em que "Hadybala" tomou um enquadro das Sisters

A ex-Panicat Mari Gonzalez - que namora o ex-BBB Jonas - e Bianca Andrade - com o já citado Diogo Melim - eram os principais alvos do ginasta Petrix, do treinador Hadson e do fisioterapeuta Lucas Gallina. Felipe Prior e Guilherme também estavam inteirados do tal plano desde o início, mas se negaram a participar - e que também não fizeram nada contra. A notícia caiu feito bomba para as meninas, que foram tomar satisfações de Hadson, um dos mais criticados na casa por seus comentários machistas e misóginos sobre o corpo das mulheres da casa. Depois disso, a tal "Comunidade Hippie" se fortaleceu muito e um a um os Chernoboys foram saindo do jogo, eliminados pelo público que se afeiçoou à causa justa das mulheres.


Segundo a jornalista Marília Moschkovich em seu artigo "Machismo Estrutural" oculto é terrível, "nossos esquemas mentais mais elementares entendem que diversas características que associamos às mulheres sejam negativas nas posições de maior poder em nossa sociedade" e ainda que "quando dizemos que nossa sociedade é 'machista' em geral, não estamos falando de indivíduos declaradamente machistas. Nem de atitudes isoladas de machismo explícito, ou de discriminação proposital, racionalizada, das mulheres. Estamos falando das associações que fazemos com 'ser mulher' e 'ser homem' e o que elas significam em nossa sociedade". Para Moschkovich, "nós associamos 'ser mulher' a uma característica de 'emotividade' e ensinamos as mulheres a 'serem mulheres' portanto 'emotivas', reforçando positivamente esse tipo de comportamento". Em resumo, as atitudes dos Chernoboys na casa era uma tentativa de se dar bem com as garotas para reforçar o estereótipo típico da "vadia que sai dando para qualquer um por aí", o que as faria perder prestígio do lado de fora da casa e logo serem eliminadas uma a uma do BBB. Ao descobrir o plano, as mulheres não só viraram o jogo como deram uma demonstração efetiva do significado da palavra sororidade
     

A CULTURA DO CANCELAMENTO


Ao se negar a se juntar com as outras meninas da casa num primeiro momento contra os Chernoboys e seu plano "maligno", Boca Rosa foi uma das primeiras participantes do BBB 20 a ser "cancelada" pelos espectadores do programa. 


Alvo de insultos e perda maciça de seguidores nas redes sociais - cujo trabalho principal é oferecer produtos de beleza para MULHERES - Bianca acabou sofrendo um hate gigantesco dos fãs da Comunidade Hippie fora da casa, o que só piorou sua relação com as demais participantes no jogo. Em sua defesa, a influencer comentou que não queria tomar partido de nada antes de entender bem os dois lados, mas foi acusada de se bandear para o lado dos "machos escrotos" em vez de apoiar a causa feminista das colegas, zombando até mesmo o termo girl power. Inclinada a acreditar nas palavras dos caras que sempre negaram tudo do qual Daniel e Ivy os tinham acusado - e a mentira se sustentou por algum tempo - Bianca ainda tentou voltar atrás, mas o estrago já estava feito. Mesmo com a cantora Flayslane e Mari Gonzalez a seu lado, a influencer foi eliminada com 53,09% dos votos, após ser jogada no paredão pela rival Rafa Kalimann, com a qual ela já parecia ter rixa antes mesmo do BBB começar. 


Mas o que o cancelamento de Bianca pode nos ensinar?

Em primeiro lugar é curioso notar o quanto os ânimos andam exaltados nas redes depois que a cultura do cancelamento por qualquer motivo passou a ganhar força. Assim como o próprio apresentador Tiago Leifert comentou em uma de suas aparições diante dos "brothers", à certa altura do jogo, todos da casa - incluindo ele próprio - já tinham sido "cancelados" em algum momento pelo tribunal da internet, o que só prova o quanto o conceito se banalizou. 


Segundo o psicanalista Lucas Liedker em artigo para o site Metropoles, "o cancelamento enquanto fenômeno está alinhado ao pensamento neoliberal em que vivemos, onde pautamos as nossas escolhas pela mentalidade de consumo e da substituição. Podemos deixar de comprar produtos de uma empresa envolvida em um escândalo ambiental, assim como cortamos os vínculos com um familiar em função de seu posicionamento político”

Segundo o cientista em comportamento humano José Roberto Marques no próprio artigo, os efeitos evidentes influenciados pela cultura do cancelamento é preocupante:

 “São visíveis a curto prazo. Não estamos mais abertos, dispostos a ouvir e dialogar. Pelo contrário, construímos uma sociedade cada vez mais polarizada, violenta e com dificuldades de relacionamentos. Isso demonstra uma incapacidade de sair de nós mesmos e irmos ao encontro do outro, o que parece ser uma coisa tão básica das relações humanas”.

Se o cancelamento público feito pelo tribunal digital da internet começou por uma causa nobre, para apoiar o movimento #metoo que visava expor os casos de assédio sexual do produtor de cinema Harvey Weinstein (que comentei um pouco sobre nesse post), hoje ele é usado como uma forma de expressão menos nobre, visando apenas a exposição da condenação daquele que não pensa como você. Tá hora da gente cancelar a cultura do cancelamento... Não, pera...

SORORIDADE


Manu Gavassi foi uma das finalistas do BBB 20 e muito do seu protagonismo do jogo se deve ao fato dela ser uma forte defensora do feminismo dentro da casa, lutando sempre com muita coerência pelas causas das mulheres - à frente da luta contra os Chernoboys - e fazendo todo mundo aprender o conceito de sororidade dentro do Quarto Branco - um dos melhores momentos do programa - junto de Felipe Prior e Gizelly


Quando Hadson se juntou aos demais comparsas para manchar a imagem de Mari e Bianca, as mulheres tomaram aquilo como ofensa pessoal, o que fez com que todo o jogo mudasse radicalmente. 

Em matéria publicada pela revista Claudia, a jornalista Maria Clara Serpa diz que "a essência da sororidade é a união entre as mulheres. Praticar a sororidade também é parar de sustentar ideias que incitam a rivalidade do gênero feminino" e que "é sobre empatia, solidariedade, companheirismo e respeito entre as mulheres. Defende a ideia de que juntas somos mais fortes e que precisamos umas das outras para buscarmos a liberdade e os direitos que reivindicamos"

Tirando a própria Bianca Boca Rosa que preferiu "trair o movimento" não admitindo a importância do girl power e mais tarde Flayslane que também preferiu ficar flutuando pelos grupos mais populares, todas as demais mulheres do BBB se uniram em pró da causa, o que deve ter irritado bastante os defensores do time dos homens na casa.


Quando a própria Manu acabou no Paredão contra Prior, o incômodo que a cantora causava com seu discurso feminista ficou óbvio do lado de fora, o que reuniu torcidas de tudo quanto é time de futebol para apoiar o explosivo arquiteto. Embora tenha sido um dos poucos casos de "vilão de Malhação" - na definição da própria Manu - que acabou caindo nas graças até de quem odiava o cara no começo do programa, Prior possuía uma carga muito pesada de machismo em suas costas - ele dizia que gritava até com a própria mãe -, algo que ele quase não conseguia disfarçar. 


Mesmo quando ele admitiu que precisava aprender como lidar com seus próprios preconceitos e foi orientado por Manu no Quarto Branco, ainda assim, seu jeito estourado fez com que ele cavasse a própria cova no jogo, se voltando inclusive contra seu principal aliado na casa, o Babu. Um dos diálogos icônicos dessa edição foi justamente Manu dizendo ao arquiteto que embora ele não soubesse o que é sororidade, ele aprenderia aqui fora. 


Ironia ou não, logo que saiu da casa, após conquistar o carinho de muitos espectadores, casos anteriores ao BBB de assédio e estupro contra Prior foram expostos na imprensa, acabando de vez com a pequena evolução que ele parecia ter conquistado no reality como pessoa


A Manu por sua vez, foi para a final com Rafa - sua amiga quase inseparável - e Thelma, pronta a mostrar para o Brasil a importância da sororidade e do combate ao machismo. 

E você? O que aprendeu com o BBB 20 e a casa mais vigiada do Brasil?

Fontes:

Racismo Estrutural
Relacionamento Abusivo
Gaslighting
Machismo Estrutural
A Cultura do Cancelamento
Sororidade

Obs.: A ilustração das Sisters na capa desse post foi feita pelo artista fodão Leandro Franci. Quem quiser prestigiar o trabalho do cara é só visitar o portfólio dele.

A outra ilustração com baloneamento das Sisters jantando o Hadson foi feita pela artista Mari Souza. Visita lá o Instagram dela para curtir outras ilustrações foderosas

NAMASTRETA! 

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