Fazia um bom tempo que eu não aparecia aqui para fazer review de quadrinhos — alguém ainda lê quadrinhos? —, mas como quem é vivo sempre aparece, decidi tirar as teias de aranha do meu velho teclado para falar de gibizinhos.
Nesse Combo Breaker retroativo — sim, eu sou burro e pulei o número 13 — vou falar sobre a primeira edição do Asa Noturna do Tom Taylor, do novo Homem-Aranha Ultimate de Jonathan Hickman e do relançamento do primeiro volume de Invencível de Robert Kirkman.
Sigam-me os bons!
ASA NOTURNA - TOM TAYLOR
Não lembro se eu já falei aqui no Blog do Rodman, mas o Asa Noturna sempre foi o meu personagem favorito da Batfamília, e isso considerando o próprio Batman.
Acho que tudo começou lá na edição nº50 dos Novos Titãs, lançado pela finada Editora Abril. Ali foi a primeira vez que vi uma abordagem mais adulta do ex-sidekick do Morcego e quando percebi que o Asa Noturna era um personagem de ação muito melhor que o seu mentor.
Mas, enfim, não vou me alongar nesse assunto.
No arco escrito por Tom Taylor e publicado no Brasil pela Panini em 2024, o Alfred está morto e boa parte da herança do fiel mordomo da família Wayne foi colocada em nome de Dick Grayson.
Para ajudá-lo a se decidir sobre o que fazer com tanta grana — até porque o senhor Pennyworth recebia salário desde os anos 1940 e o INSS do velho devia estar em dia! —, Dick pede ajuda para Bárbara Gordon, com quem ele agora tem uma relação de amizade...
Ou será que não?
Enquanto Grayson tenta resolver o seu problema de pobre menino rico, a cidade de Blüdhaven agora está sob nova direção. O Arrasa-Quarteirão (Roland Desmond) comanda a prefeitura e após o assassinato do atual prefeito, o chefe do crime organizado decide nomear a vice-prefeita Melinda Zucco — a filha de Tony Zucco — para comandar a cidade em seu lugar.
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Melinda Zucco |
Para quem não sabe ou não lembra, Tony Zucco é o mafioso por trás do acidente que vitimou os pais de Dick Grayson no circo onde trabalhavam, na época dos Graysons Voadores, e isso garante uma ótima reviravolta no plot dessa história.
De volta a ação em seu traje azul e preto, o Asa Noturna não demora a perceber que Blüdhaven está mais corrupta do que de costume, e que as suas atividades como vigilante se fazem mais do que necessárias.
Além da corrupção que sempre foi marca da cidade, há muitas pessoas desabrigadas e famintas nas ruas, o que faz com que Dick pense melhor a respeito da herança deixada por Alfred.
"E se eu só parasse de dar porrada em pobre como meu mentor e usasse esse dinheiro para ajudar as pessoas necessitadas de verdade, hein?"
Ainda não totalmente recuperado de um tiro que levou na cabeça, Dick sofre com fortes dores físicas e é dito ao longo do enredo que ele não está 100% para voltar a bancar o acrobata por aí.
Após uma de suas rondas, ele acaba resgatando uma cadelinha que estava sendo torturada por um bando de arruaceiros e a leva para o seu apartamento, provando que tem bom coração.
Enquanto isso, a cidade passa a ser atormentada por um novo psicopata que ataca cidadãos indefesos à noite e, pasmem, rouba — literalmente — seus corações.
A inserção do "Sem Coração" à história garante um tom mais sombrio a ela, o que obriga Grayson a agir mais como um detetive do que como um acrobata bom de briga. Por causa disso, ele acaba recorrendo a Tim Drake — o Robin —, admitindo que o garoto é muito mais bem-preparado do que ele no esquema de investigações.
Fazia muito tempo que eu não lia um arco de histórias tão divertido, leve e descompromissado quanto esse escrito pelo Tom Taylor.
É nítido que você não precisa ter lido 596 edições antes dessa para entender o básico. Todas as informações necessárias para o bom andamento da narrativa são dadas de maneira concisa, sem muita enrolação, o que faz com que novos leitores — ou velhos como eu que andaram afastados de quadrinhos por alguns anos — consigam captar a ideia geral por trás do plot principal.
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O vilão Sem Coração |
Falando de arte, puta que pariu! Eu não conhecia o espanhol Bruno Redondo e nem fazia ideia do que ele era capaz de fazer com lápis e papel, mas posso dizer que a arte limpa e detalhada do cara combinou com o tom leve inserido por Taylor no texto!
Os quadros que ele cria, a composição de cena, o cenário, enquadramento e, principalmente, a figura humana que ele desenha são de encher os olhos. Devo confessar que quadrinhos bem-escritos desenhados por artistas mais ou menos sempre me broxam e me fazem perder o pique da leitura.
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A arte incrível de Bruno Redondo |
Não foi o que aconteceu em Asa Noturna.
Aliás, um acréscimo a esse volume é uma sequência de flashback mostrando os pais do Dick ainda na época do circo e o envolvimento de John Grayson com a mãe de Melinda Zucco desenhada por ninguém menos que Rick Leonardi, de quem eu sempre fui fã.
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Os Graysons Voadores de Rick Leonardi |
Asa Noturna #1 é um combo de felicidade condensado em pouco menos de 100 páginas que terminei de ler com um sorriso no rosto.
Depois que foi anunciado o lançamento desse arco, demorei para conseguir encontrar em estoque, mas foram os cinquenta reais mais bem gastos da minha coleção de quadrinhos dos últimos cinco ou seis anos.
OBS.: As piadinhas e o tom sempre divertido da interação entre Dick e seus amigos da Batfamília são o ponto mais alto desse arco. O grupo do Zap em que eles zoam Grayson por ter sido roubado por uns trombadinhas é de rachar de rir.
A piadoca com a imagem do meme do Batman dando um tapa na cara do Robin estampada na camiseta da Bárbara também foi sacada de gênio!
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O meme na camiseta da Bárbara Gordon |
HOMEM-ARANHA ULTIMATE - JONATHAN HICKMAN
Lançado em 2024, o arco de histórias que veio para revitalizar o Universo Ultimate da Marvel — mais uma vez! — começou com uma história sobre a contraparte maligna do Reed Richards apagando os maiores heróis desse universo da existência e impedindo que os eventos canônicos que os tornariam super ocorressem.
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A "criatividade" de Jonathan Hickman para criar personagens antagonistas (O Criador e Charles Xavier de Krakoa) |
Com isso, o Peter Parker de quinze anos jamais foi mordido por uma aranha irradiada no laboratório e ele não se tornou o Homem-Aranha até a sua vida adulta, quando ele então já estava casado com a Mary Jane e pai de dois filhos, Richard e May.
De alguma forma que eu não entendi muito bem, o Tony Stark dessa realidade consegue alertar os seus antigos aliados sobre a tramoia do Criador — o Reed Richards maligno — de apagá-los da existência, e arruma uma maneira de fazer com que cada um deles se torne super-herói no presente para combater o vilão que agora é uma espécie de comandante onisciente da realidade.
Dessa maneira, o Peter Parker adulto é mordido por uma aranha irradiada entregue a ele por Stark e ganha um uniforme nanotecnológico para compor o seu visual de Homem-Aranha — nome cunhado apenas mais tarde pelo Clarim Diário.
Nessa realidade, além do seu casamento com a MJ e seus filhos, muita coisa está diferente do que costumeiramente conhecemos a respeito das origens do Cabeça-de-Teia.
Para começar, o tio Ben não foi morto como consequência de um assalto — plausível, já que Peter nunca precisou deter o bandido que o baleou. J.Jonah Jameson ainda trabalha com jornalismo, mas não é mais o dono do Clarim Diário, que agora pertence a Wilson Fisk que é basicamente o mesmo Rei do Crime que conhecemos e que deturpa as notícias a seu favor.
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Tio Ben e J.J. Jameson na sauna |
Norman Osborn está morto e quem assume a identidade do Duende Verde é seu filho, Harry, que agora é um herói e está em busca de vingança contra Wilson Fisk, acusado de ter explodido o prédio no dia em que seu pai morreu.
A novidade quanto a Harry, é que ele agora é casado com Gwen Stacy, cuja existência também faz sentido já que ela nunca se envolveu com o Homem-Aranha em sua juventude e nem teve que ser jogada de cima de uma ponte por um lunático voador.
Aqui é legal perceber que houve uma troca de casais. No passado que conhecíamos do Universo 616 da Marvel, na juventude, Harry chegou a namorar com a Mary Jane, enquanto o Peter namorava a Gwen.
Genial a sacada do Jonathan Hickman, hein????
É... não.
Admito que comprei o primeiro volume de Homem-Aranha Ultimate devido ao hype que rolou na mídia especializada em cima do trabalho de Jonathan Hickman, elogiadíssimo desde a sua passagem pelos X-Men com a fase da ilha de Krakoa.
A bem da verdade, eu sempre achei Hickman superestimado. Li duas sagas escritas por ele que achei INSUPORTÁVEIS, Infinito (2013) e Guerras Secretas (2015). Nunca gostei muito do seu texto verborrágico, arrastado e pretensioso e não tive qualquer interesse em ler os seus X-Men por conta do gosto amargo que experimentei há dez anos.
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Infinito e Guerras Secretas de Jonathan Hickman |
Mesmo assim, decidi dar uma chance a seu Homem-Aranha e, para ser bem sincero, não vi nada demais. Nada que justificasse o hype ou que elencasse a revista como "a melhor do ano de 2024".
De bacana mesmo nessa repaginação do personagem — lembrando que o Peter Parker Ultimate morreu anos atrás e foi substituído pelo Miles Morales —, eu só curti a introdução da May Parker, a filhinha do casal Parker.
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A fofíssima May Parker |
Eu já tinha sido apresentado à menina de outras realidades, mas confesso que ela é a única coisa realmente divertida desse universo. Por ser a única até certo ponto que conhece a dupla identidade do pai, May é uma cúmplice perfeita de Peter e até o ajuda a escolher o visual definitivo de seu uniforme.
As interações de pai e filha são sempre engraçadas e dá aquele quentinho no coração de pensar no que foi que o maldito do Joe Quesada nos privou lá no começo da década passada quando separou o Peter e a MJ do 616, impedindo que a sua história evoluísse naturalmente até o nascimento da sua May.
Tirando a pequena May, todo o resto é só "nhé".
O Duende Verde não traz nada de novo, uma vez que ele é só uma cópia do Duende Verde Power Ranger do primeiro filme do Homem-Aranha do Sam Raimi.
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Duende Verde Power Ranger |
O uniforme nanotecnológico do Aranha também é uma solução bem preguiçosa que só reforça ainda mais um aspecto que detesto no MCU que é o Peter Parker ser dependente do Tony Stark até para se vestir e soltar teias.
Na história, aparece até um Mercenário que age como um guarda-costas do Rei do Crime, mas de diferente é só o uniforme, cujo capuz agora cobre a boca do personagem. Nada muito fora do comum.
Em resumo, Homem-Aranha Ultimate não trás nada necessariamente muito novo para o universo de um personagem que já está aí há mais de 60 anos e do qual já lemos inúmeras aventuras, algumas até com plots repetitivos.
A arte de Marco Checchetto e David Messina — que se alternam entre os capítulos — é só OK, e não me chamou muito a atenção como comentei sobre o Bruno Redondo em Asa Noturna, por exemplo. Pelo menos as ilustrações não comprometem a narrativa e a Mary Jane de Checchetto é bem linda.
Eu não entendo mais como funcionam as publicações no Brasil e sabe-se lá porque, o volume dois desse arco não foi lançado até agora em português. Nos EUA já é possível se encontrar a edição onde aparece a nova Gata Negra, mas por aqui, pelos canais oficiais pelo menos, parece que ainda vai demorar a acontecer.