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19 de abril de 2021

Para Peter

Será que os cães vão para o Paraíso?

Hoje eu perdi o meu melhor amigo e não há nada que eu escreva aqui que vá confortar meu coração. Ele vinha há alguns anos lutando contra um câncer que o estava debilitando bastante, comprometendo ainda mais a sua já cansada forma física. O Peter tinha 15 anos, estava na família há bastante tempo e é difícil descrever a falta que já está me fazendo.

Eu o adotei quando ele tinha alguns meses de vida. Uma colega de trabalho tinha dito que ele e seus irmãozinhos estavam sendo doados por vizinhos, o que me fez pensar em ter uma companhia canina. Nós já tínhamos tido alguns cães em nossa casa durante a minha infância, mas na época, acabei não tendo muita ligação emocional com eles. O Peter foi o meu primeiro cachorro de certa maneira. Por alguma razão, eu sempre quis ter um animalzinho em casa — além dos infinitos gatos de minha mãe que iam e vinham — e minha conexão com aquele vira-lata de pelo branco foi imediata.

Não tem jeito. Por mais que a gente queira se preparar para o momento da despedida, nada é capaz de nos acalentar quando a hora da separação chega. Eu estou escrevendo esse texto poucas horas depois de dar o último adeus ao meu amigo, por isso, espero que quem esteja lendo isso me perdoe pelas incoerências e erros gramaticais.

Por conta da doença, nos últimos meses o Peter vinha sofrendo algumas convulsões que paralisavam suas patas traseiras e o deixava ofegante. Nada era mais doloroso do que vê-lo sofrer sem poder fazer nada. Eu costumava ficar com ele quando essas convulsões aconteciam, não porque eu achava que o pudesse ajudar, mas para confortá-lo, fazê-lo se sentir seguro, talvez feliz por ter companhia na hora da dor. Eu não sei. Queria ter podido fazer mais.

Eu tenho muita dificuldade para lidar com a morte e sempre tentei adiar o máximo possível falar disso no âmbito familiar. Eu chorava só de pensar em ter que me despedir do meu amigo e agora que o momento chegou, eu mal consigo acreditar que não vou mais vê-lo, que ele não vai mais estar na sua casinha, que ele não vai mais andar até mim quando me ver chegar da rua. Os anos o deixaram mais lento, mais frágil, mas sempre era bom ser recepcionado com aquele balançar de cauda, aquele olhar de felicidade ao me ver. Cara! Não deve ter nada no mundo que se compare a isso!

Eu tenho diversas boas memórias do Peter nesses 15 anos e uma delas é vê-lo jovem e saudável correndo atrás de uma bola brincando comigo e com meu sobrinho Michael no quintal de casa. O “Pete” — Píti —, como a gente o chamava, era aquele filhote do tipo “elétrico” que não conseguia parar quieto no lugar, sempre brincalhão e alegre. Pulava nas nossas pernas dando aquele “coice” com as patas traseiras e quando agarrava alguma coisa com os dentes afiados, não queria mais largar. Eu demorei a perceber que os anos tinham passado e não saberia dizer quando foi que ele parou de ser tão agitado, assumindo então sua velhice.

Uma das minhas melhores memórias com o Peter foi na época no fim do meu primeiro grande relacionamento amoroso, que na época, me deixou muito mal. Eu não era de demonstrações públicas de sofrimento, por isso, me escondi numa das duas casas do quintal da minha mãe e me sentei lá para chorar as dores do amor perdido. Como eu disse antes, o Peter sempre foi um bicho muito animado e bagunceiro, ele jamais chegaria perto de mim sem pular em cima ou latir primeiro, mas naquele dia, como que respeitando a minha tristeza — e eu estava em lágrimas por causa do fim do namoro — o Peter chegou próximo de mim, me viu ali sentado e simplesmente se deitou ao meu lado, calmamente, silenciosamente, como ele nunca tinha feito. Aquela foi a maior demonstração de amizade que eu havia recebido na vida e depois daquilo, passei a entender que os cães eram com segurança as criaturas mais amáveis da face da Terra. Eu amava o Peter.



Depois que eu comecei a trabalhar diariamente com raríssimos intervalos de férias, feriados e fins de semana, eu meio que parei de acompanhar a evolução daquele meu cachorro antes feliz e saudável para o velhinho doente, mas todas as vezes que eu chegava em frente ao portão, ainda era muito bom ver aqueles olhos brilhando em minha direção, dele sobressaltando de onde quer que estivesse para me recepcionar com alegria. Não importava o quão ruim tinha sido o meu dia, tudo passava quando eu acariciava aqueles pelos brancos e fazia um cafuné na cabeça daquele vira-lata. Por anos, o Peter era a única constante em minha vida. Mesmo triste, cabisbaixo, infeliz, zangado ou simplesmente de saco cheio da vida, aquele cachorro ainda me tirava um sorriso e me fazia falar com aquela “vozinha” que todo mundo faz quando se dirige ao seu pet.

Eu me acostumei durante os últimos meses a ir para a sala assistir algum filme ou série e preparar algum sanduíche ou algo rápido antes para comer na cozinha — rotina quase certa durante a pandemia —, e essa era a hora que ele sempre aparecia na porta, como quem dissesse “ei, amigão, tem algo aí pra mim? ”. Era eu acender a luz para ele colocar a cabeça na porta e eu o dar algum mimo, em especial aqueles biscoitos para cães que ele adorava. Mesmo já não tão ágil e nem com tanta firmeza no maxilar, ele pegava o biscoito com o máximo de delicadeza e saía para mastigar, já se preparando para vir buscar outro. Parece uma coisa simples, mas até disso eu venho sentindo saudades. É uma dor que parece que não vai embora nunca. O último pacote de biscoitos ficou no armário, ainda pela metade.

Essa noite eu fui dormir querendo sonhar com o Peter, para poder me despedir melhor dele, para lhe dar o abraço que eu não dei e tudo que espero para os próximos dias é que eu sinta a presença do meu tão querido amigo nem que seja só para me dar um “oi”. Eu tenho estado muito isolado, solitário nesses meses de pandemia e eu sentia que o Peter era minha última conexão com o mundo. Enquanto as lágrimas rolam em meu rosto nesse momento, rogo para que, se é que esse lugar existe, o meu cachorro tenha um lugar especial no Paraíso, e que ele seja bem tratado lá, correndo feliz entre as nuvens e pulando nas pessoas com sua energia inesgotável.



Descanse em paz, amigão. Espero te ver novamente um dia!

NAMASTE!      

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