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14 de junho de 2023

O adeus a John Romita

Adeus a John Romita


Eu comecei a ler histórias em quadrinhos muito cedo. Fui influenciado pelo meu irmão mais velho que, esporadicamente, trazia um ou outro gibi de herói para dentro de casa. A grande maioria desses gibis eram de publicações dos anos 80 ou 70. Estávamos nos anos 90 e, naquela época, o que saía no Brasil pela Editora Abril era cronologicamente bem defasado com relação ao que era publicado lá fora.

Mas, quem se importava?

Eu era um moleque magrelo e tímido que não saía de casa. Ler gibis era o meu passatempo preferido naquela realidade reclusa e introvertida. Como meu irmão tinha uma predileção pelas revistinhas do Hulk, do Capitão América e do Homem-Aranha, aquele material abundava lá em casa.

Eu não tinha muita noção de quem escrevia o quê ou de quem desenhava o quê, mas em meio àqueles inúmeros títulos e de suas variadas histórias, um cara logo ganhou destaque a meus olhos. Em especial, no que se referia a visual dos personagens.

De repente, não era mais um amontoado de “desenhinhos” indefinidos nas páginas. Eu agora conseguia distinguir o seu traço, a pegada do estilo no que ele rabiscava.

Um nome logo começou a aparecer frequentemente naquele rodapé de página, lá naquele cantinho onde eu nunca prestava a atenção. Seu nome era John Romita.

Adeus a John Romita


A primeira edição que me chamou completamente a atenção para a maneira como ele desenhava os personagens foi A Teia do Aranha nº 22, que por aqui, foi publicada em 1991 pela Abril, e que deve ter chegado às minhas mãos uns dois ou três anos depois.

Adeus a John Romita


Além do fato de que as duas primeiras histórias desse compilado de aventuras dos anos 70 tratava do relacionamento — romântico? — entre a tia May e o Doutor Octopus, o grande destaque dessa aventura era o fato de que o Homem-Aranha estava usando uma máscara que deixava aparecer seus olhos “humanos”, sem o tradicional visor branco para cobri-los.

E a tia May atirava contra ele, sem saber que estava prestes a matar o próprio sobrinho! Esse, aliás, é o grande chamariz da capa dessa edição.

Adeus a John Romita


Eu perdi as contas de quantas vezes li esse gibi. De maneira geral, essa nem era uma das histórias mais impactantes e/ou revolucionárias para o cânone do personagem, mas eu viajava em suas páginas observando os detalhes mínimos da técnica perfeita de Romita.

Influenciado pelos gibis, lá nos anos 90, eu já rabiscava meus garranchos em papel sulfite como forma de expressão, mas não entendia coisa alguma de design. Apenas apreciava o que via e me transportava para Nova York junto com ele, enquanto o Aranha se balançava de um prédio a outro da cidade.

Apesar da minha ignorância artística, eu já achava que aquele cara de nome italiano tinha um “tcham” diferente. Ele era mais técnico que os outros. Os seus “bonequinhos” possuíam expressões marcantes e o seu Homem-Aranha, em específico, parecia saltar de verdade por entre as páginas.

Adeus a John Romita
As expressões marcantes nos rostos desenhados por Romita


Além de Gil Kane — outro dos caras que eu reverencio muito quando se trata de Aranha —, eu raramente vi alguém que conseguia imprimir tanto os sentimentos dos personagens nos desenhos quanto o Romitão. Era impressionante o que ele conseguia fazer com um lápis e o nanquim!

Eu curtia o Steve Ditko, artista que, não obstante, tinha sido o primeiro cara a desenhar o Homem-Aranha desde a sua criação, lá em 1962. Mas quando o Romitão assumiu o título daquele que já era um dos principais personagens da Marvel, a mudança de traço era muito impactante e, para mim, bastante significativa.

Adeus a John Romita


Outra publicação da Abril que eu lia e relia, mês sim, mês não, era a “Marvel Especial: Homem-Aranha x Duende Verde” que, por aqui, saiu em 1986. Diferente dos tradicionais gibizinhos de 82 páginas, essa edição era um pequeno calhamaço de mais de 100 páginas, o que deixava esse jovem e esquisito estudante de ensino fundamental bastante entretido por várias horas.

Adeus a John Romita


Nessa edição específica, era possível ver a transição entre Ditko e Romita, já que é na emblemática história em que o Duende Verde descobre a identidade secreta do Homem-Aranha que Romita faz a sua explosiva estreia no título do Escalador de Paredes, substituindo o cocriador do personagem como artista regular.

Além disso, Romita também é o responsável pela cocriação de Norman Osborn, podemos dizer assim, já que ele é o primeiro cara a nos revelar, afinal, quem se escondia por trás da misteriosa máscara verde do vilão voador.

Adeus a John Romita


Outros destaques de John Romita Sênior à frente do título do Homem-Aranha é a aventura em que, Peter Parker, vencido por um resfriado, começa a delirar e, sem querer, acaba revelando a sua identidade para Gwen Stacy e todos os seus amigos em uma festa. No Brasil, essa história foi republicada em A Teia do Aranha nº 13.

Adeus a John Romita


Na edição seguinte, a de nº 14, ocorre outro evento emblemático para a trajetória do Homem-Aranha — e que na recente animação do Aranhaverso, é tratado como um evento canônico nas linhas temporais do personagem —, a morte do capitão George Stacy, o pai da Gwen, também desenhada por Romita, e que, inclusive, foi referenciada na própria animação do Aranha.

Adeus Romitão
Referência à morte do Cap. Stacy em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso


John Romita Sênior contribuiu ainda para a criação do Wolverine e do Justiceiro — o primeiro, em parceria com Len Wein, e o segundo, em parceria com Gerry Conway, que escrevia as histórias do Aranha nos anos 70, Ross Andru, o primeiro cara a desenhar o personagem e, claro, Stan Lee, que tendo participado ou não do processo, sempre assinava todas as criações de personagens da Marvel na época.  

Romita não ajudou somente a desenvolver os visuais de personagens importantes para o universo do Homem-Aranha como o já citado Norman Osborn, como também foi o responsável pela primeira composição imagética da Mary Jane — que era citada nas histórias desenhadas por Steve Ditko, mas que nunca tinha aparecido, de fato.

Adeus Romitão



Eu era completamente apaixonado pela Gwen Stacy nesse período de republicações da Teia do Aranha, pelo motivo óbvio de que ela era o principal interesse romântico do Peter Parker e a “namoradinha” que todo moleque de doze anos sonhava em ter: bonita, inteligente, esperta e muito fofa.

Adeus a John Romita


Apesar disso, era inegável que a Mary Jane de John Romita era um espetáculo. E não só porque era uma gata ruiva cheia de curvas, mas pelo charme que ela transbordava nas páginas desenhadas por ele. Dando em cima do Flash, do Harry ou mesmo arrastando asas para o comprometido Peter, com seu jeitão “descolado” de ser.

Adeus a John Romita


É importante ressaltar que o visual dos personagens compostos por Romita nos gibis do Aranha marcou uma época. Olhando hoje para os desenhos, é impossível não reparar a influência que os alucinógenos anos 70 têm nas páginas, tanto nas vestimentas dos coadjuvantes do universo “Aranhístico” como no próprio Peter, com suas costeletas longas, os coletes e as calças boca-de-sino que usava.

Adeus a John Romita


Eu amava ler esses gibis antigos porque era sempre um mergulho em uma época que eu não vivi. Eu me via fazendo parte de um mundo que me era estranho para um garoto crescido nos anos 90, mas que me parecia mágico — e entorpecente! — mesmo assim.

John Romita Sênior não representa para mim apenas “mais um desenhista” entre as centenas de outros que passaram pelos títulos do Homem-Aranha, mas o cara que, com a absoluta certeza, definiu a imagética do personagem principal e de seus coadjuvantes desde a sua estreia como artista da revista.

Adeus a John Romita


Quando penso em Flash Thompson, J.J. Jameson, Robbie Robertson e na própria Gwen Stacy — aquela do arquinho nos cabelos! — é o traço de Romita que me vem fundamentalmente na cabeça até hoje.

Com a passagem desse mito dos quadrinhos, nós perdemos a presença física de mais um dos grandes mestres dos primórdios da Marvel, mas ganhamos outro ídolo no já célebre panteão dos artistas que fizeram e MUITO a diferença aqui na Terra.

Salve John Romita. Salve o mestre. Descanse em paz.


Leia também "Top 10 - Maiores Desenhistas do Homem-Aranha" — na minha humilde opinião —, post de 2010 onde decidi ranquear meus artistas preferidos de passagem pelas histórias do Escalador de Paredes. Adivinhem quem ficou em primeiro?


Melhores desenhistas do Aranha


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16 de dezembro de 2021

What if… O Que aconteceria se o Wolverine tivesse matado o Hulk?

What if Wolverine vs Hulk


Oi, eu sou o Rod Rodman!

Eu poderia estar fazendo vídeos de dancinha no TikTok, começando algum podcast de mesa no Youtube ou traficando metanfetamina, mas em vez disso, estou escrevendo em um Blog… em pleno ano 2021!

SIM!

Quem ainda escreve em blog? E quem ainda lê isso?

Se você está aqui, parabéns. Você é tão lamentável quanto eu!




Independentemente dessa melancolia toda, hoje estou aqui para tirar do fundo do baú uma história que me foi muito peculiar em minha longínqua infância, quando a vida era bela e eu ainda tinha todo um futuro pela frente. O Incrível Hulk, publicado no Brasil pela Editora Abril em 1985 estava em seu número 22 e custava 2100 Cruzeiros…


What if Wolverine vs Hulk


(Pois é… Essa é do fundo do baú, MESMO! Tem gente hoje em dia que não sabe nem que o Cruzeiro já foi uma moeda no Brasil, que não sabe o significado de HQ e que só conhece “Hulk” porque ele apareceu nos filmes dos Vingadores!)

Anyway

Esse gibi publicava histórias regulares do “Golias Esmeralda” da década anterior e início dos anos 80 — lembrando que havia uma defasagem de alguns anos entre o que saía nos EUA e o que era publicado no Brasil —, e lembro que essa capa me chamou bastante a atenção por conta do seu tema central: Morte!

Sim, já contei aqui algumas vezes o quanto o tema “morte” me atraía e me deixava bastante chocado nas histórias em quadrinhos durante a infância e pré-adolescência e como a personalidade do jovem Rod Rodman foi praticamente moldada pelo trauma sofrido durante a morte da Gwen Stacy e do Superman.




Era o começo dos anos 90, não sei precisar a data específica, mas eu tinha sido levado por meu irmão mais velho para a casa de alguns amigos de escola dele para jogar videogame — era uma dupla de irmãos também e eles eram donos de um Atari, se não me falha a memória — ou jogar bola no quintal. Não sei os detalhes porque eu era realmente muito pequeno… Todavia, lembro que já sofria bullying por ser inepto tanto em manipular aquele controle "bananão" do Atari quanto em jogar bola, mas esses outros traumas não vêm ao caso agora...


Não se excitem, isso não é um consolo, é um controle de Atari


Esse meu irmão foi o grande responsável por eu gostar de HQ — e de eu ter gastado o valor de alguns carros populares com essa merda desde então — e foi ele quem trouxe para casa as primeiras revistas do tipo.

Esses amigos de meu irmão também gostavam de gibizinhos e um deles possuía uma caixa de papelão grande cheia de ácaro revistas, o que, obviamente, chamava a atenção de uma criança. Dentro dessa caixa, me lembro de ter visto muita HQ que era lançada na época — e provavelmente anteriores também — tanto da Disney, da Marvel e da DC e até hoje, quando me deparo com alguma das capas que vi na época, agora em sites de download, me bate um sentimento de nostalgia.

E já que citei a morte da Gwen Stacy, a primeira vez que peguei nas mãos a edição especial da Abril que reunia todos os confrontos do Homem-Aranha com o Duende Verde e consequentemente o fim trágico da namorada de Peter Parker, foi na casa desse cara mencionado.




O incrível Hulk #22 foi uma das HQs que encontrei nessa coleção e só para galera se situar no tempo/espaço, no começo dos anos 90, para o público “civil” o Hulk era um personagem extremamente popular, já que muita gente assistia as reprises do seriado do personagem vivido tanto pelo Lou Ferrigno quanto por Bill Bixby na TV. Se você não sabe do que estou falando, dá um Google aí, mas não espere muita coisa…

Eu já conhecia "de orelhada" alguns personagens da DC como o Superman, o Batman e  o Robin por conta dos desenhos dos Superamigos e na Marvel, provavelmente, era familiarizado apenas com o Homem-Aranha porque uma das primeiras revistas que tivemos em casa era o seu título mensal, também da Abril. “Wolverine”, no entanto, era um personagem totalmente obscuro para mim.

Eu comecei a ler HQs na primeira metade dos anos 90 e nunca tinha colocado a mão em nada referente a X-Men ou outros mutantes, por isso, aquele cara com garras metálicas saltadas dos antebraços e vestindo um traje amarelo era um completo estranho… Mas ele tinha matado o Hulk — a capa da edição deixava isso explícito — e o pequeno Rodman sentiu interesse em ver como isso acontecia.

Enquanto meu irmão jogava Atari ou batia uma bola no quintal com seus amigos, obviamente, eu, que já era introspectivo, preferia ficar “devorando” os gibizinhos no quarto um por um.

História legal, Rodman… Você sempre foi freak… Mas e daí?

Daí, jovem padawan, que naquela época, eu não fazia ideia o que significava “What if…” ou mesmo a sua tradução em português, portanto, eu não entendia que o Wolverine não tinha matado, de fato, o Hulk. Eu fiquei chocado que alguém fosse capaz de acabar com o Golias Esmeralda — que nos gibis do meu irmão, surrava os Vingadores sem nem suar! — e essa é a importância dessa história para a minha cronologia pessoal.

Para escrever esse post, eu decidi reler tanto a história em que ela é baseada quanto o próprio What if… e várias recordações voltaram em minha mente. 

Além do momento em que o Logan dá cabo do abacate vitaminado da Marvel, esse mix da Abril — o famoso "formatinho" 20x13 cm — também conta com uma história da guerreira Sonja escrita por Roy Thomas e Clair Noto, com desenhos de Frank Thorne e uma história do Quarteto Fantástico — dividida em duas partes — escrita por Gerry Conway e desenhada por Rich Buckler.


What if Wolverine vs Hulk


Confesso que a minha mente obliterou qualquer lembrança da história da Sonja — nunca gostei de Conan e nem de seus derivados, por isso devo ter cagado para esse fato — e da história do Quarteto Fantástico eu me recordava apenas dessa imagem específica:


What if Wolverine vs Hulk


Eu conhecia o Namor de sunguinha verde por causa daquele seu confronto contra o Hulk — junto dos "Pesos Pesados" da Marvel — escrito por John Byrne e quando o vi com esse traje azulado, devo admitir que achei mais maneiro. Mesmo ainda criança, sempre imaginei que devia ser incômodo lutar vestindo apenas uma cuequinha de escamas!


What if Wolverine vs Hulk


Por muitos anos, achei que aquele Namor vestido adequadamente fosse alguma coisa da minha imaginação, e só quando ele voltou a usar esse uniforme — que é descrito na história citada como um “traje formal da realeza” atlante — muitos anos depois, é que eu percebi que não era um devaneio meu e que a roupa com asas embaixo das axilas era de verdade.

Obviamente, eu não me lembrava de nada sobre o conteúdo de nenhuma dessas outras duas histórias.

O que aconteceria se... O Wolverine tivesse matado o Hulk? é uma história escrita por Rich Margopoulos com arte de Bob Budiansky e Mike Esposito em 1981 — apenas 4 anos antes da sua publicação no Brasil — e como todo mundo sabe agora com por causa da exposição do seriado animado do MCU, "What if..." é um selo que visita acontecimentos passados em realidades paralelas, com narração do Vigia Uatu.

Quem são essas pessoas que você citou, Rodman?

Boa pergunta! Eu não conhecia nenhum desses escritores e desenhistas na época e continuo não fazendo a mais puta ideia de quem sejam hoje!

A história original em que o Wolverine faz a sua estreia no universo quadrinístico da Marvel, caindo no soco com o Hulk e o Wendigo AO MESMO TEMPO, se deu em 1974, com roteiros de Herb Trimpe e Len Wein — que criou o carcaju — e arte de Jack Abel.

No universo 616 tradicional — história que li a primeira vez em uma republicação feita pela própria Editora Abril na edição comemorativa de nº 100 do personagem, em 2000 — o Wolverine — que tinha um visual todo esquisito com uma máscara aberta nos olhos e “bigodinhos” — é contratado pelo governo canadense para capturar o Hulk — que está invadindo a área de uma instalação secreta — e o Wendigo, um monstro canibal que aterroriza as paragens do Canadá há algum tempo.


What if Wolverine vs Hulk


Como não podia deixar de ser, os dois monstros estão caindo de pau em meio ao cenário desolado, quando o Wolverine chega para dar um basta na contenda e acaba colocando ainda mais lenha na fogueira com seu jeitão estúpido e bronco.

Todo mundo sabe que foi o Chris Claremont, alguns anos depois da criação do personagem, que deu todas as características mais básicas que hoje identificamos no Logan em qualquer mídia que aparece e naquele início, ele era só um baixinho muito folgado que achava que podia peitar o personagem mais forte da Marvel…

Essa história envolve muito mais a mística ao redor do monstro albino da floresta do que a briga entre o Hulk e o Wolverine necessariamente e o “tão esperado” momento em que os dois caem no soco pela primeira vez é bem mais ou menos. Os desenhos de Jack Abel são apenas “OK” e o roteiro é um pouco cansativo, embora conclua bem com uma reviravolta interessante envolvendo a identidade do humano amaldiçoado que habita o corpo do Wendigo — ou seria o Wendigo que habita o seu corpo? 🤔 Enfim...

Alguns anos depois da história original que apresentou o Wolverine ao mundo, os roteiristas imaginaram o que teria acontecido se, naquele primeiro embate, o cara com ossos de adamantium já tivesse matado o Hulk, fato que ocorre logo na primeira página da HQ. 

O enredo desse "What if..." praticamente ignora a existência do Wendigo ou mesmo a razão dos dois monstros estarem lutando pouco antes da chegada de Logan ao local e em uma atitude impulsiva, o carcaju simplesmente decide cravar suas garras no pescoço do verdão, que cai mortalmente ferido.

Se eu tivesse assistido aquele “telefilme” do Hulk em que ele morre após cair de um helicóptero 🙄 eu poderia já estar preparado para um desfecho tão simplista como esse, mas naquela época, eu pensava que o Hulk era invulnerável, assim como o Superman, por exemplo…

O diálogo da cena me abalou na época:


What if Wolverine vs Hulk


“Vou rasgar sua goela!”. Imagina uma criança de 7 anos lendo isso num gibi!

Tudo depois dessa cena em diante é uma grande nuvem de lembranças esparsas em minha cabeça e só alguns anos depois — leia-se 2021 — é que fui saber o que acontece em seguida na história.

Em resumo, depois que mata o Hulk, o Wolverine é expulso da equipe tática do governo canadense e por sua atitude enérgica em resolver a questão com o monstro verde, ele acaba sendo cooptado por ninguém menos que o Magneto para integrar a sua famosa Irmandade de Mutantes.

Na época, os X-Men ainda eram formados apenas pelos cinco membros originais — Ciclope, Garota Marvel, Homem de Gelo, Anjo e Fera — e a Irmandade tinha em suas fileiras o Blob, a Lorelei, o Mestre Mental e um tal de Unus, que eu nunca tinha ouvido falar — e cujo poder é basicamente “ser intocável”.

Corta a cena e o Wolverine aparece de cara lavada sem seu traje amarelo na mansão do Professor Xavier, se oferecendo para fazer parte dos X-Men. Como estava usando um dispositivo que não permitia que o careca lesse seus pensamentos, o carcaju se infiltra no grupo mutante com facilidade e começa a ganhar a confiança de todos... menos do Ciclope.


What if Wolverine vs Hulk


O plano, óbvio, é permitir que Magneto e sua trupe consiga invadir a mansão em um momento vulnerável dos alunos de Xavier e é o Wolverine quem vai garantir isso.

Apaixonado por Jean Grey — até porque sabemos que o único ponto fraco do Logan é mulher ruiva —, o cara decide, na última hora, trair Magneto e acaba sendo morto quando o mestre do magnetismo usa seus dons para forçar o Wolverine a cravar as garras de metal em sua própria garganta… Coisa, aliás, que já devia ter acontecido desde a primeira vez que os dois se enfrentam no universo 616… Um controla o metal, o outro tem os ossos revestidos por metal… Adivinha!

O magnetismo deve deixar o Magneto meio burro…

O que aconteceria se O Wolverine tivesse matado o Hulk? é uma história maravilhosa?

Não.

Vai mudar a sua vida?

Nem um pouco.

Mas diverte durante os 10 minutos que você demora para ler. Aqui funciona apenas o fator nostalgia da coisa e também para deixar claro que um “What if…” bem contado, sempre termina com muitas mortes… Esse parecia ser o padrão da série desde a sua gênese.

Quem quiser dar uma conferida nesse clássico da Marvel — contém ironia —, fica aí embaixo no link para download.

Clica aqui

NAMASTE!

2 de setembro de 2021

A quadrilogia Batman

Batman quadrilogia


Aproveitei a promoção da HBO Max de assinatura grátis por 7 dias para testar a plataforma e curti recentemente uma cacetada de conteúdo novo e original disponível no serviço de streaming. Além de filmes recém-estreados como Space Jam – Um Novo Legado, Godzilla vs. Kong, o novo Mortal Kombat e outros sucessos, decidi rever algumas velharias do catálogo e comecei logo pela quadrilogia Batman (1989 – 1997)

Aiiiin, Rodman! Esses filmes velhos, feios e bobos! Prefiro as obras do Snyder! O Zack é Deus… ele é lindo, gostoso, sarado…

Licença, jovem padawan… ninguém pediu a sua opinião por enquanto


Michael Keaton Bruce Wayne


Lá em dois mil e blau eu já tinha feito um review sobre “Batman” de Tim Burton na época em que o morcegão da DC estava completando 80 anos, por isso, nesse post, vou me ater mais aos outros três filmes que assisti quase em sequência há alguns dias. 

Sigam-me os bons para mais um Do Fundo do Baú com o tio Rodman! 


BATMAN O RETORNO


Batman a quadrilogia


Eu já devo ter contado aqui que o primeiro filme do Batman teve forte influência em minha ascensão nerd — se é que ainda dá pra se ter orgulho de falar isso em voz alta — e que toda vez que ele passava na televisão eu fazia questão de assistir por achar muito foda. A meu ver, até hoje, muito do que Tim Burton desenvolveu no final dos anos 80 para o universo cinematográfico do Homem-Morcego impactou diretamente na transposição do personagem dos quadrinhos para o audiovisual nas décadas seguintes e eu fui um dos jovens padawans que foram diretamente afetados por essa influência. 


batman o retorno


O logotipo dentro da elipse amarela, o traje todo preto, as bat-traquitanas, o Batmóvel fodão, a Batwing… são tantas referências ao que influenciou os criadores que vieram depois do Burton que vou parar por aqui, antes que esse post vire (novamente) uma ode ao longa de 89.

Faziam alguns bons anos que eu não revia Batman O Retorno e decidi fazê-lo com bastante atenção aos detalhes da produção que, como a primeira, também foi dirigida por Tim Burton e estrelada por Michael Keaton em 1992.

O jovem Rodman já tinha ficado bestificado com o antecessor — e toda a mídia também, já que só se falava em Batman! —, por isso, foi até natural que a sequência do grande sucesso criasse expectativas na galera. O hype era tão alto, que lembro que rolou até matéria no Fantástico da Globo falando do lançamento do segundo filme e eu parei maluco em frente à TV vendo a cena do trailer em que o Batmóvel passa no meio de um engarrafamento arregaçando vários carros que estão em volta. Aquilo me deixou surtado. 


quadrilogia Batman


Além da matéria jornalística, eu lembro também que a Pepsi lançou uma coleção de tampinhas de garrafa com desenhos dos personagens do filme e que concorria a ingressos para a estreia quem juntasse os selos que vinham dentro das tampinhas. 

Rapaz! Eu nem sei de onde saíram essas recordações! Nem sabia que meu HD cerebral ainda retinha essas coisas!

Na história do filme, algum tempo depois de livrar Gotham City da terrível ameaça do Coringa — que só queria matar a população com produtos cosméticos adulterados —, o Batman (Michael Keaton) cai nas graças da Polícia local e passa a incomodar os criminosos da cidade. Agora, boatos sobre um “homem-pinguim” começam a ganhar os jornais como numa lenda urbana, enquanto um empresário inescrupuloso chamado Max Shreck — não confundir com o ogro! — pretende desenvolver uma usina na cidade para garantir o reabastecimento energético e impedir apagões… 


Christopher Walken Batman


Qualquer semelhança com a realidade brasileira atual em que estamos à beira de outro colapso de energia elétrica, é mera coincidência!  

A ideia da usina, claro, é apenas uma cortina de fumaça para que Shreck (Christopher Walken) roube a energia da cidade com um transformador e se torne um acumulador ao invés de um gerador. Ao bisbilhotar os arquivos confidenciais — ôôô loco, meu! — do chefe, a secretária dele, Selina Kyle (Michelle Pfeiffer), acaba descobrindo detalhes técnicos de como a geringonça funciona na verdade e não demora a sacar que naquele angu tem caroço. 


a usina do Shreck


O resultado? 

Ao descobrir os planos malignos do patrão, como todo gato curioso, Selina acaba sendo atirada para a morte do alto do prédio de Shreck, mas em vez de ceifar sua vida, o acidente acaba gerando um sentimento de vingança na moça, que mais tarde decide se tornar a Mulher-Gato.


Selina Kyle Michelle Pfeiffer


Ainda nesse contexto sobre a tal usina — que não sabemos se é hidroelétrica, eólica ou nuclear porque isso não fica claro no roteiro —, Shreck decide pedir auxílio financeiro a Bruce Wayne para a criação da matriz energética e ele se recusa, alegando que Gotham “já tem energia em excesso”

O plano do empresário é tão rocambolesco que eu não me surpreenderia se o Ministro de Minas e Energia brasileiro atual resolvesse aparecer a público com uma ideia parecida para resolver nossa crise de luz! Afinal, planos vilanescos e maquiavélicos de histórias em quadrinhos é a especialidade dessa várzea de governo! 

Para de falar mal do meu Capitão, Rodman, seu comunista!

Ok. Voltamos então ao filme.

É bacana mencionar que, até esse encontro entre Bruce e Max, NADA sobre a vida empresarial do alter-ego do Batman tinha sido mencionado nesse ou no filme anterior. Para o público em geral, ele era só rico e ponto. Os roteiristas não se importavam em nos dizer de onde vinha a fonte de renda do bilionário ou o que ele fazia quando não estava andando fantasiado à noite espancando pobre fodido e doente mental. 

Sobre a Mulher-Gato/Selina Kyle de Michelle Pfeiffer, também levantei alguns pontos curiosos sobre a personagem no filme. Por exemplo... como foi que ela sobreviveu à queda do prédio?


Selina Kyle Michelle Pfeiffer


Dããã, Rodman! Estava nevando! A neve amorteceu a queda… além disso, os gatos que lambem as feridas dela depois da queda lhe deram superpoderes e ela passou a ter sete vidas!

Eu ri, jovem padawan!




Lembrando que, nos EUA, os gatos são melhores que os nossos e eles têm 9 vidas!

Além do mistério sobre a queda de Selina, outro ponto que me deixou curioso, é como ela se tornou uma hábil lutadora que do nada estava chutando estuprador nos becos, dando bicuda no Batman e manuseando um chicote como uma dominatrix sadomasô do dia para a noite?


Selina Kyle Michelle Pfeiffer


Vale lembrar que nada sobre seu passado havia sido nos mostrado na primeira hora de filme e que tudo que sabíamos de Selina era que a coitada não tinha sorte com os homens — e ela mesma reclama disso várias vezes —, tinha a incrível capacidade de fazer um ótimo cafezinho, possuía habilidades hackers — já que ela descobriu a “difícil” senha do computador do chefe — e que era muito distraída, além de curiosa. 

Nada na história nos dizia que ela já tinha sido uma ginasta olímpica ou que tinha trabalhado como domadora de feras num circo, mas se atinarmos a nossa suspensão de descrença e ter fé no Pai que basta botar um colante de látex no corpo para que você instantaneamente ganhe a capacidade de chutar bandido na rua, esses detalhes passam suavemente. 

Foram os gatos, Rodman. Já disse. Eles deram superpoderes à ela!

Nota também para o comentário passivo/agressivo/machista da Mulher-Gato ao fazer sua estreia nas ruas de Gotham e salvar uma mina que está prestes a ser estuprada:

“… você fica facilitando na rua, esperando o Batman aparecer para te salvar…”

Soa quase como um “aí, tá vendo? Se não tivesse saído com essa calça apertada, essa saia curta e esse decote, não tinha sido estuprada! ”.


Selina Kyle Michelle Pfeiffer


Aiai! Ainda bem que o discurso feminista da Selina melhora ao longo do filme!  

Ainda sobre a Mulher-Gato, é inegável que apesar desse filme ter quase 30 anos nas costas, o traje preto brilhante com costuras brancas evidentes é, até hoje, o melhor visual da personagem nos cinemas. Não que o recheio da Pfeiffer dentro dele seja ruim, mas o visual de gata sadomasoquista combina pra caralho com toda a atmosfera gótica e sombria imposta por Tim Burton. Na minha cronologia pessoal, essa Mulher-Gato ainda é a oficial e deveria ter durado mais tempo. 

Além da felina sadomasô, em “Returns”, o Batman ainda tem que enfrentar o Pinguim, que nesse longa, é vivido impressionantemente bem pelo baixinho Danny DeVito. Mais uma vez, a produção de caracterização que já tinha matado a pau no filme anterior com o visual do Coringa do Jack Nicholson, elevou o nível nessa sequência e é realmente possível acreditar que aquele Oswald Cobblepot é mesmo um cara que nasceu com uma deformidade peculiar que o assemelhava a um pinguim. 


Pinguim Danny DeVito


Além da aparência bizarra — com DeVito coberto por quilos de maquiagem e próteses — ser plasticamente assustadora, é importante mencionar que o trabalho vocal do ator também ajudou bastante nesse intuito. Eu nunca tinha assistido esse filme em seu som original e pela primeira vez pude ouvir os rosnados e grunhidos anasalados que DeVito emite antes e depois de algumas frases. Ele realmente interpreta uma criatura sobre-humana e isso causa uma sensação perturbadora durante seus diálogos. 

Apesar dessa representação animalesca fugir bastante ao que o personagem é nas HQs, o Pinguim do cinema ainda é uma das melhores representações dele no audiovisual. Vamos ver o que o Colin Farrell vai conseguir fazer no vindouro "The Batman".

Mais um ponto que levantei sobre Batman O Retorno que eu não tinha percebido se existia também no filme de 89, são as óbvias insinuações sexuais que abundam ao longo da projeção. Num certo diálogo entre Shreck e Oswald, o Pinguim chega a sugerir que quer “entrar nas partes” de sua secretária de campanha para prefeito de Gotham e em outro momento, o personagem dá uma manjada MONSTRA na raba da Mulher-Gato quando ela o procura para propor uma aliança contra o Batman. 

Oswald, aliás, é descrito sempre como um personagem de apetite sexual voraz e é claro seu interesse em sempre levar as mulheres a seu redor para o “abatedouro”, digamos assim. 

Destaque para o “sensual” banho felino que a Mulher-Gato toma na frente do Pinguim, deixando o cara maluco! 


Pinguim e Mulher-Gato


Bacana também sinalizar que Batman O Retorno é uma sequência quase que imediata de Batman, porque além de voltar na história com alguns coadjuvantes como o Comissário Gordon (Pat Hingle) e o Alfred (Michael Gough), eles mencionam um “palhaço” que aterrorizou Gotham anteriormente, fazendo referência ao Joker, o palhaço, o bobo, o Curinga. O próprio Bruce Wayne relata porque seu relacionamento com a Vicky Vale (Kim Basinger) não deu certo, o que nos transmite aquela sensação de continuidade e não de dois capítulos na vida do Batman soltos e isolados. 


Comissário Gordon e Alfred


Em um diálogo com Selina, após o bilionário se sentir atraído por ela — quem nunca! — e a convidar para um jantar em sua mansão, ele comenta que Vicky se sentiu ameaçada por sua vida dupla e que decidiu deixá-lo para trás por não saber lidar com isso. Embora um não saiba a identidade secreta do outro até aquele momento, é interessante nessa cena que ambos falam cheios de metáforas sobre dualidade e como se sentem solitários por não conseguir conciliar secretamente suas duas vidas. 


Selina e Bruce


A química entre Keaton e Pfeiffer é imensamente melhor do que a dele com Basinger no primeiro filme, mas é bem evidente que a Selina Kyle é muito melhor trabalhada do que a Vicky Vale, que era mais um bibelô que vivia em perigo, sendo disputada pelo Batman e pelo Coringa. 

Nesse ponto do enredo, os dois já tinham se encontrado com suas personas noturnas e após trocar socos, estavam cheios de hematomas — ela rasgou o Batman com suas garras e ele jogou um troço incendiário nela! —, e quando começam a dar uns pegas no sofá, sentem os ferimentos gritarem por baixo da roupa. É uma cena bem engraçada. Não dá pra dizer que Keaton é um mau ator e a Michelle está ótima. 


Selina e Bruce


Batman O Retorno é bem melhor do que eu me lembrava e não deixa nada a dever para seu antecessor, apesar das escorregadas óbvias de roteiro e a galhofada super-heroica necessária para a época. A história se sustenta pelo carisma de seus personagens e o talento de seus atores, mas claro que também é sempre bom ver em tela esse Batman live-action com suas bugigangas tecnológicas e máquinas inventivas. 

O filme prende tanto a atenção, que me vi curtindo até coisas bobas como o Morcego dando um rolê de Batmóvel na neve e depois ele sem luvas na batcaverna todo estropiado pedindo um antisséptico para o Alfred após o arranca-rabo com a Mulher-Gato. Esses detalhes não são mostrados no primeiro filme e acrescentam bastante ao universo desenvolvido pelo maluco do Tim Burton. Quase tive vontade de ver o que mais ele tinha em mente para um terceiro filme sob sua batuta.

 

BATMAN ETERNAMENTE


batman forever


Lançado nos cinemas em 1995, Batman Eternamente procurou manter aquecida a “batmania” iniciada em 1989 e para o lugar de Tim Burton — que foi demitido largou o projeto por deixar o clima dark demais para as criancinhas divergências criativas, mas que aparece creditado como Produtor Executivo — a Warner contratou o gabaritado Joel Schumacher de “Os Garotos Perdidos” (1987) e “Um dia de Fúria” (1993). Entre os quatro filmes da franquia, "Forever" fica em segundo lugar nas bilheterias — o longo rendeu 336 milhões nos EUA e perde apenas para o primeiro “Batman”, que faturou 411 milhões — e abre um abismo de qualidade entre ele e tudo que Burton já tinha criado antes disso. 

 

Joel Schumacher


Logo nos créditos iniciais, dá para notar pela diferença de técnica na direção e pela música de abertura que algo de errado não está certo. À frente da trilha sonora agora está Elliot Goldenthal no lugar do já icônico Danny Elfman e ao invés das sombras góticas e dos cenários lúgubres e sujos de Gotham há muito, MUITO neon colorido.

Duas-Caras caricato e histriônico, batmamilos, um Charada com humor excessivo — todo mundo diz que Jim Carrey estava pronto para fazer um excelente Coringa, em vez do Charada —, roteiro fraco, trama rocambolesca… enfim. Batman Forever já apanhou o bastante por mais de uma década por conta desses problemas, por isso, vou me reservar a falar apenas do que eu acabei gostando de relembrar ao assistir o filme. 


Duas-Caras e Charada


Quando se tem 13 anos, é fácil gostar de QUALQUER filme de super-herói, e na época — até por falta de demanda —, é lógico que eu fiquei maluco com o lançamento de Batman Eternamente, a ponto de colecionar figurinhas autocolantes num álbum da Panini, de me reunir com a galera na casa de algum colega de escola para assistir a fita VHS — DIM DIM DIM! Alerta de idade tocando! — e de rever todas as vezes que passava no SBT.

Guardadas as devidas observações, o que eu acabei gostando nessa última revisitada é que Val Kilmer também é um bom Bruce Wayne, embora não seja tão talentoso quanto seu intérprete anterior. 


Val Kilmer Batman


Se como Batman ele se reserva a fazer uma cara meio apalermada embaixo da roupa de morcego — além do biquinho sensual com a boca —, como Wayne, é interessante perceber que ele se esforça para criar uma atmosfera mais séria em torno de seu personagem. 

Todo o longa se baseia em Bruce aprendendo a viver com seus “demônios internos” e o trauma de ter assistido ao assassinato de seus pais ainda na infância. Com o intuito de amenizar seu sofrimento, ele acaba se interessando pela doutora Chase Meridian (Nicole Kidman), a psicanalista à serviço do Arkham que está ajudando a Polícia de Gotham a estudar a mente de “seres fantásticos” como o Duas-Caras — vivido por Tommy Lee Jones, que aparece com parte do rosto deformado logo no início, dando indícios de que ele já é um vilão há algum tempo no enredo — e o próprio Batman.

Embora de maneira meio superficial, o roteiro tenta nos fazer crer que a doutora Meridian é uma perita no assunto psique humana e que ela pode ajudar Bruce a superar seus traumas, já que agora, além de sonhos com a noite da morte dos pais, ele também tem devaneios enquanto está acordado.


Nicole Kidman Chase Meridian


Toda essa vontade de fazer o roteiro parecer que vai ser levado a sério vai pro caralho quando a doutora, em vez de estudar os malucos de Gotham, acaba ficando atraída sexualmente por um deles e começa a se ver dividida entre Bruce e Batman, sem saber que os dois são a mesma pessoa. 

Sério! 

A mulher fica muito na fissura! Num grau que ela acaba agarrando o Morcego no meio de um quebra-pau para lhe roubar um beijo. Depois disso, ela ainda marca um encontro noturno com ele em sua casa e o recebe coberta apenas por um lençol! 


Nicole Kidman Chase Meridian


Mano! É muito tesão em caras de colante com batmamilos! 

O “triângulo amoroso” Chase/Bruce/Batman é uma das poucas coisas que causa alguma tensão sexual nesse filme — isso se você não curte o close na bundinha do Batman quando ele veste a roupa —, mas fica claro que é muito pouco aproveitado por falta de tempo de tela… afinal, a trama maluca envolvendo dois super-vilões engraçaralhos que querem “roubar a inteligência” das pessoas de Gotham e a introdução do Robin na história precisa andar.


close na bundinha do Batman


Outra coisa que acabei achando interessante nesse terceiro filme é a engenhosidade técnica que Schumacher — e sua equipe de produção — usa nas cenas mirabolantes de ação. De um modo geral, as sequências não empolgam e as lutas nem são tão bem coreografadas quanto eu me lembrava que eram, mas todos os cenários e as armadilhas que o Duas-Caras e o Charada criam para foder o Batman — e não estou falando literalmente, claro! — são muito bem elaborados, além de que a tecnologia visual usada para a época é até bastante convincente.    

Apesar de não ter Danny Elfman comandando a trilha sonora, convenhamos que uma das melhores coisas do filme é a música do Seal, “Kiss from a Rose”!



♫ Ba-da-da, ba-da-da-da-da-da, ba-da-da

Ba-da-da, ba-da-da-da-da-da, ba-da-da

Theeeeere used to be a graying tower alone on the sea

Yooooou became the light on the dark side of me...♪


BATMAN & ROBIN


Batman & Robin


E chegamos à pá de bosta cal que enterrou a franquia Batman por anos no cinema: o infame Batman & Robin.

Outra vez dirigido por Joel Schumacher, o quarto filme do Homem-Morcego foi lançado em 1997 e faturou a menor bilheteria entre eles, apenas 238 milhões


Joel Schumacher


Como fiz no tópico anterior, vou me ater a falar mais das coisas boas dessa produção, até porque, as más já foram repetidas incansavelmente todo esse tempo. 

Rodman, você considera Batman & Robin o pior filme de super-heróis de todos os tempos?

Nem de longe, jovem padawan! 

A meu ver, ele está no mesmo nível de Batman Eternamente e é bem superior a algumas bombas da própria Warner como Lanterna Verde (2011), Jonah Hex (2010) — que eu nunca vi, mas acredito em vocês que dizem que É UMA BOSTA! — e, claro, a Mulher-Gato (2004) com a Halle Berry. Até mesmo na Marvel tem coisa pior, tipo, Elektra (2005), Motoqueiro Fantasma (2007), Justiceiro 2 (2008), etc, etc.

Sobre o que eu gostei… 

O plot da doença do Alfred — ainda vivido por Michael Gough — é um ponto bastante sensível no roteiro e mesmo quase perdido em meio a toneladas de efeitos visuais discutíveis e cenas de ação “firulescas”, é algo que dá algum valor à história.

O mordomo britânico é a única figura paterna da qual o herdeiro dos Wayne se recorda desde criança, portanto, é saudável questionar o que mudaria em sua vida e na de seu alter-ego se o velho companheiro adoecesse e morresse?  


Alfred Michael Gough e Bruce Wayne George Clooney


Essa pergunta não é respondida no filme — até porque o véio não morre —, mas cria uma atmosfera melancólica e nostálgica à relação entre Alfred e Bruce que dá uma profundidade à narrativa rasa. George Clooney está sempre com aquele ar canastrão na cara e parece difícil exigir alguma dramaticidade sua em cena, mas mesmo assim, é possível enxergar um valor "roteirístico" ao filme enquanto os dois personagens vão se lembrando do passado em que interagiram pela mansão Wayne durante a infância de Bruce. As cenas em flashback quase funcionam como uma despedida antecipada, nos fazendo mesmo acreditar que o mordomo vai partir dessa para uma melhor.   

Dá pra ver uma relação de pai e filho ali, algo que Wayne se lamenta por não poder transmitir da mesma maneira para  Dick Grayson (Chris O’Donnel), o garoto órfão que ele acolheu em sua casa no filme anterior, após o assassinato de seus pais. O tema paternidade é bastante recorrente em Batman & Robin, mas claro que podia ter sido feito com bem mais capricho.


Robin Chris O'Donnel


E os vilões?

Ah, os vilões!

Deus do céu!

Desta vez, Gotham City está sendo ameaçada por um bad guy de coração gelado — piadinha ruim a nível do filme! — chamado Sr. Frio que começa a saquear tudo quanto é joalheria para obter diamantes — ou seriam cristais? Eu não lembro! —, peças fundamentais tanto para o funcionamento de sua armadura tecnológica congelante quanto para o equipamento que ele imagina poder salvar a vida de sua esposa, que sofre de uma doença rara — curiosamente, a mesma da qual padece Alfred.


Mr. Freeze Arnold Schwarzenegger


Entre os vilões do Batman, Victor Fries é um dos que tem o background mais trágico. No início, contrariado, ele entra para a criminalidade no intuito de custear sua constante busca de encontrar a cura para a esposa Nora, mas nunca consegue. No filme, no entanto, é claro que a gente não vê nem uma fração dessa carga dramática, já que ele está sendo interpretado por Arnold Schwarzenegger — que não é muito conhecido por seu talento interpretativo — e uma vez que além das limitações de seu intérprete, o roteiro coloca Fries no papel de mais um vilão mauzão e engraçadão que só congela as pessoas enquanto solta piadinhas vergonhosas. Pouco drama e muita comédia, algo que é mais o forte do Schwarzzas. 


Mr. Freeze Arnold Schwarzenegger


Até a animação da Harley Quinn, que é galhofa pura e focada no humor negro, soube tratar melhor o personagem no quesito seriedade!

Apesar da caracterização comportamental do personagem destoar bastante do que conhecemos dele nos quadrinhos, devo salientar que o traje metálico “tunado” e a maquiagem de Arnold lhe dão um tom ameaçador, o que lhe concede, sobretudo, um dos melhores visuais de vilões entre todos os quatro filmes. Essa armadura é bem melhor do que aquela jarra de vidro que ele usa na cabeça nas animações e nos gibis! 

A Hera Venenosa de Uma Thurman é burocrática, mas não chega a decepcionar, uma vez que ela faz no filme exatamente o que a personagem era destinada a fazer na maioria das histórias em quadrinhos que aparecia na época: seduzir homens para atingir seus objetivos. 


Pamela Isley Uma Thurman


Basicamente, a Hera age assim o filme todo e só não consegue usar seus poderes "feromonais" quando tem que enfrentar no mano-a-mano — ou no mina-a-mina — a Batgirl (Alicia Silverstone) depois que a garota integra a bat-família já no terceiro ato da trama.

Aiiiiiin, credo, Rodman! Ela é muito magrela! Não tem peitão, não tem coxão… como pode achar ISSO bom?

Convenhamos que nenhuma adaptação de personagem feminina extraída dos quadrinhos para outras mídias faria jus ao que era na época, colega! 

Estávamos em plenos anos 90. A Era da punheta! As heroínas, vilãs e até as coadjuvantes eram desenhadas GOSTOSÍSSIMAS nas HQs e nenhuma mulher real conseguiria se equivaler aquele apelo visual. Nem as mulheres-frutas! O corpo esguio de Uma Thurman nem chega a ser um dos problemas de sua caracterização. 


Hera Venenosa gostosa


O fato é que a personagem é bastante rasa até para um filme como esse. A sua doutora Pamela Isley até chega a insinuar algum tipo de engajamento quanto à causa do desmatamento e da preservação ambiental ANTES de tomar um "banho químico acidental" e se tornar, de fato, a Hera Venenosa, mas depois que ela ganha poderes, ela quase não faz nada para provar o seu ponto e REALMENTE proteger a flora e o meio ambiente da ação humana. Tudo que ela faz é usar o Bane ogro — que só rosna e repete frases — como aríete para bater nas coisas e causar rivalidade na dupla dinâmica que, obviamente, fica seduzida pelos encantos da ruiva. 

Nem mesmo o plot de "doutora ingênua que quer salvar o mundo e que vê suas convicções soterradas pela ganância de empresários malignos" se sobressai mais que dois minutos na história e ela se torna uma personagem bem vazia no final das contas. Uma pena, porque, apesar de tudo, Thurman encarna muito bem o lado femme fatale da Hera. 

O momento de redenção do Sr. Frio no final e seu reencontro no Arkham com a Pamela Isley fecham os poucos momentos bons desse filme e apesar do saldo parecer negativo se fizermos uma média entre prós e contras, a meu ver, Batman & Robin ainda rende bons momentos de entretenimento se o consideramos como um produto feito para a molecada se divertir e apenas isso. 

Sei lá… o Rodman de 13 anos ia achar um barato o Robin descendo do céu de “skate” voador gritando “Cowabanga! ” — ou “ah, eu tô maluco!” na dublagem brasileira! — e ia se sentir compensado no close da bundinha da Batgirl na hora dela vestir a roupa de heroína. 


Batgirl Alicia Silverstone


P.S. – Eu tinha verdadeira paixão na Alicia Silverstone na época de “As Patricinhas de Beverly Hill” e assistia sempre que passava na Sessão da Tarde.

P.S. 2 - Parecia algo incrível de se imaginar há alguns anos, mas Michael Keaton vai mesmo voltar a interpretar o Batman/Bruce Wayne numa produção da Warner/DC. O cara retorna ao papel que consagrou (e amaldiçoou) sua carreira no filme solo do Flash que deve ser lançado nos próximos anos. Ele seria um velho Bruce Wayne rabugento excelente em uma adaptação de Batman do Futuro, nénão? 

NAMASTE!   

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