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10 de junho de 2025

Asa Noturna, Homem-Aranha Ultimate e Invencível entram num bar

Asa Noturna, Homem-Aranha Ultimate e Invencível entram num bar


Fazia um bom tempo que eu não aparecia aqui para fazer review de quadrinhos — alguém ainda lê quadrinhos? —, mas como quem é vivo sempre aparece, decidi tirar as teias de aranha do meu velho teclado para falar de gibizinhos.

Nesse Combo Breaker retroativo — sim, eu sou burro e pulei o número 13 — vou falar sobre a primeira edição do Asa Noturna do Tom Taylor, do novo Homem-Aranha Ultimate de Jonathan Hickman e do relançamento do primeiro volume de Invencível de Robert Kirkman.

Sigam-me os bons!

ASA NOTURNA - TOM TAYLOR

Asa Noturna #1


Não lembro se eu já falei aqui no Blog do Rodman, mas o Asa Noturna sempre foi o meu personagem favorito da Batfamília, e isso considerando o próprio Batman.

Acho que tudo começou lá na edição nº50 dos Novos Titãs, lançado pela finada Editora Abril. Ali foi a primeira vez que vi uma abordagem mais adulta do ex-sidekick do Morcego e quando percebi que o Asa Noturna era um personagem de ação muito melhor que o seu mentor.

Novos Titãs #50 da Editora Abril

Mas, enfim, não vou me alongar nesse assunto.

No arco escrito por Tom Taylor e publicado no Brasil pela Panini em 2024, o Alfred está morto e boa parte da herança do fiel mordomo da família Wayne foi colocada em nome de Dick Grayson.

Asa Noturna Tom Taylor


Para ajudá-lo a se decidir sobre o que fazer com tanta grana — até porque o senhor Pennyworth recebia salário desde os anos 1940 e o INSS do velho devia estar em dia! —, Dick pede ajuda para Bárbara Gordon, com quem ele agora tem uma relação de amizade... 

Asa Noturna Tom Taylor


Ou será que não?

Enquanto Grayson tenta resolver o seu problema de pobre menino rico, a cidade de Blüdhaven agora está sob nova direção. O Arrasa-Quarteirão (Roland Desmond) comanda a prefeitura e após o assassinato do atual prefeito, o chefe do crime organizado decide nomear a vice-prefeita Melinda Zucco — a filha de Tony Zucco — para comandar a cidade em seu lugar.

Asa Noturna Tom Taylor
Melinda Zucco


Para quem não sabe ou não lembra, Tony Zucco é o mafioso por trás do acidente que vitimou os pais de Dick Grayson no circo onde trabalhavam, na época dos Graysons Voadores, e isso garante uma ótima reviravolta no plot dessa história.

De volta a ação em seu traje azul e preto, o Asa Noturna não demora a perceber que Blüdhaven está mais corrupta do que de costume, e que as suas atividades como vigilante se fazem mais do que necessárias.

Além da corrupção que sempre foi marca da cidade, há muitas pessoas desabrigadas e famintas nas ruas, o que faz com que Dick pense melhor a respeito da herança deixada por Alfred.

"E se eu só parasse de dar porrada em pobre como meu mentor e usasse esse dinheiro para ajudar as pessoas necessitadas de verdade, hein?"

Ainda não totalmente recuperado de um tiro que levou na cabeça, Dick sofre com fortes dores físicas e é dito ao longo do enredo que ele não está 100% para voltar a bancar o acrobata por aí.

Após uma de suas rondas, ele acaba resgatando uma cadelinha que estava sendo torturada por um bando de arruaceiros e a leva para o seu apartamento, provando que tem bom coração.

Enquanto isso, a cidade passa a ser atormentada por um novo psicopata que ataca cidadãos indefesos à noite e, pasmem, rouba — literalmente — seus corações.

Asa Noturna Tom Taylor


A inserção do "Sem Coração" à história garante um tom mais sombrio a ela, o que obriga Grayson a agir mais como um detetive do que como um acrobata bom de briga. Por causa disso, ele acaba recorrendo a Tim Drake — o Robin —, admitindo que o garoto é muito mais bem-preparado do que ele no esquema de investigações.

Asa Noturna Tom Taylor


Fazia muito tempo que eu não lia um arco de histórias tão divertido, leve e descompromissado quanto esse escrito pelo Tom Taylor. 

Asa Noturna Tom Taylor


É nítido que você não precisa ter lido 596 edições antes dessa para entender o básico. Todas as informações necessárias para o bom andamento da narrativa são dadas de maneira concisa, sem muita enrolação, o que faz com que novos leitores — ou velhos como eu que andaram afastados de quadrinhos por alguns anos — consigam captar a ideia geral por trás do plot principal.

Asa Noturna Tom Taylor
O vilão Sem Coração


Falando de arte, puta que pariu! Eu não conhecia o espanhol Bruno Redondo e nem fazia ideia do que ele era capaz de fazer com lápis e papel, mas posso dizer que a arte limpa e detalhada do cara combinou com o tom leve inserido por Taylor no texto!

Os quadros que ele cria, a composição de cena, o cenário, enquadramento e, principalmente, a figura humana que ele desenha são de encher os olhos. Devo confessar que quadrinhos bem-escritos desenhados por artistas mais ou menos sempre me broxam e me fazem perder o pique da leitura. 

Asa Noturna Tom Taylor
A arte incrível de Bruno Redondo


Não foi o que aconteceu em Asa Noturna

Aliás, um acréscimo a esse volume é uma sequência de flashback mostrando os pais do Dick ainda na época do circo e o envolvimento de John Grayson com a mãe de Melinda Zucco desenhada por ninguém menos que Rick Leonardi, de quem eu sempre fui fã.

Asa Noturna Tom Taylor
Os Graysons Voadores de Rick Leonardi


Asa Noturna #1 é um combo de felicidade condensado em pouco menos de 100 páginas que terminei de ler com um sorriso no rosto.

Depois que foi anunciado o lançamento desse arco, demorei para conseguir encontrar em estoque, mas foram os cinquenta reais mais bem gastos da minha coleção de quadrinhos dos últimos cinco ou seis anos.

OBS.: As piadinhas e o tom sempre divertido da interação entre Dick e seus amigos da Batfamília são o ponto mais alto desse arco. O grupo do Zap em que eles zoam Grayson por ter sido roubado por uns trombadinhas é de rachar de rir. 

A piadoca com a imagem do meme do Batman dando um tapa na cara do Robin estampada na camiseta da Bárbara também foi sacada de gênio!

Asa Noturna Tom Taylor
O meme na camiseta da Bárbara Gordon


HOMEM-ARANHA ULTIMATE - JONATHAN HICKMAN

Homem-Aranha Ultimate #1


Lançado em 2024, o arco de histórias que veio para revitalizar o Universo Ultimate da Marvel — mais uma vez! — começou com uma história sobre a contraparte maligna do Reed Richards apagando os maiores heróis desse universo da existência e impedindo que os eventos canônicos que os tornariam super ocorressem.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman
A "criatividade" de Jonathan Hickman para criar personagens antagonistas (O Criador e Charles Xavier de Krakoa)


Com isso, o Peter Parker de quinze anos jamais foi mordido por uma aranha irradiada no laboratório e ele não se tornou o Homem-Aranha até a sua vida adulta, quando ele então já estava casado com a Mary Jane e pai de dois filhos, Richard e May.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


De alguma forma que eu não entendi muito bem, o Tony Stark dessa realidade consegue alertar os seus antigos aliados sobre a tramoia do Criador — o Reed Richards maligno — de apagá-los da existência, e arruma uma maneira de fazer com que cada um deles se torne super-herói no presente para combater o vilão que agora é uma espécie de comandante onisciente da realidade.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


Dessa maneira, o Peter Parker adulto é mordido por uma aranha irradiada entregue a ele por Stark e ganha um uniforme nanotecnológico para compor o seu visual de Homem-Aranha — nome cunhado apenas mais tarde pelo Clarim Diário.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


Nessa realidade, além do seu casamento com a MJ e seus filhos, muita coisa está diferente do que costumeiramente conhecemos a respeito das origens do Cabeça-de-Teia.

Para começar, o tio Ben não foi morto como consequência de um assalto — plausível, já que Peter nunca precisou deter o bandido que o baleou. J.Jonah Jameson ainda trabalha com jornalismo, mas não é mais o dono do Clarim Diário, que agora pertence a Wilson Fisk que é basicamente o mesmo Rei do Crime que conhecemos e que deturpa as notícias a seu favor.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman
Tio Ben e J.J. Jameson na sauna


Norman Osborn está morto e quem assume a identidade do Duende Verde é seu filho, Harry, que agora é um herói e está em busca de vingança contra Wilson Fisk, acusado de ter explodido o prédio no dia em que seu pai morreu.

A novidade quanto a Harry, é que ele agora é casado com Gwen Stacy, cuja existência também faz sentido já que ela nunca se envolveu com o Homem-Aranha em sua juventude e nem teve que ser jogada de cima de uma ponte por um lunático voador.

Aqui é legal perceber que houve uma troca de casais. No passado que conhecíamos do Universo 616 da Marvel, na juventude, Harry chegou a namorar com a Mary Jane, enquanto o Peter namorava a Gwen.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


Genial a sacada do Jonathan Hickman, hein????

É... não.

Admito que comprei o primeiro volume de Homem-Aranha Ultimate devido ao hype que rolou na mídia especializada em cima do trabalho de Jonathan Hickman, elogiadíssimo desde a sua passagem pelos X-Men com a fase da ilha de Krakoa.

A bem da verdade, eu sempre achei Hickman superestimado. Li duas sagas escritas por ele que achei INSUPORTÁVEIS, Infinito (2013) e Guerras Secretas (2015). Nunca gostei muito do seu texto verborrágico, arrastado e pretensioso e não tive qualquer interesse em ler os seus X-Men por conta do gosto amargo que experimentei há dez anos.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman
Infinito e Guerras Secretas de Jonathan Hickman


Mesmo assim, decidi dar uma chance a seu Homem-Aranha e, para ser bem sincero, não vi nada demais. Nada que justificasse o hype ou que elencasse a revista como "a melhor do ano de 2024".

De bacana mesmo nessa repaginação do personagem — lembrando que o Peter Parker Ultimate morreu anos atrás e foi substituído pelo Miles Morales —, eu só curti a introdução da May Parker, a filhinha do casal Parker.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman
A fofíssima May Parker


Eu já tinha sido apresentado à menina de outras realidades, mas confesso que ela é a única coisa realmente divertida desse universo. Por ser a única até certo ponto que conhece a dupla identidade do pai, May é uma cúmplice perfeita de Peter e até o ajuda a escolher o visual definitivo de seu uniforme.

As interações de pai e filha são sempre engraçadas e dá aquele quentinho no coração de pensar no que foi que o maldito do Joe Quesada nos privou lá no começo da década passada quando separou o Peter e a MJ do 616, impedindo que a sua história evoluísse naturalmente até o nascimento da sua May.

Tirando a pequena May, todo o resto é só "nhé". 

O Duende Verde não traz nada de novo, uma vez que ele é só uma cópia do Duende Verde Power Ranger do primeiro filme do Homem-Aranha do Sam Raimi.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman
Duende Verde Power Ranger


O uniforme nanotecnológico do Aranha também é uma solução bem preguiçosa que só reforça ainda mais um aspecto que detesto no MCU que é o Peter Parker ser dependente do Tony Stark até para se vestir e soltar teias.

Na história, aparece até um Mercenário que age como um guarda-costas do Rei do Crime, mas de diferente é só o uniforme, cujo capuz agora cobre a boca do personagem. Nada muito fora do comum.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


Em resumo, Homem-Aranha Ultimate não trás nada necessariamente muito novo para o universo de um personagem que já está aí há mais de 60 anos e do qual já lemos inúmeras aventuras, algumas até com plots repetitivos.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


A arte de Marco Checchetto e David Messina — que se alternam entre os capítulos — é só OK, e não me chamou muito a atenção como comentei sobre o Bruno Redondo em Asa Noturna, por exemplo. Pelo menos as ilustrações não comprometem a narrativa e a Mary Jane de Checchetto é bem linda.

Homem-Aranha Ultimate Jonathan Hickman


Eu não entendo mais como funcionam as publicações no Brasil e sabe-se lá porque, o volume dois desse arco não foi lançado até agora em português. Nos EUA já é possível se encontrar a edição onde aparece a nova Gata Negra, mas por aqui, pelos canais oficiais pelo menos, parece que ainda vai demorar a acontecer.

INVENCÍVEL - ROBERT KIRKMAN

Invencível #1


A primeira edição de Invencível foi lançada em 2003, mas eu nunca tive a oportunidade — ou o interesse — de ler as aventuras de Mark Grayson e seus fantásticos amigos.

Para ser bem honesto, eu meio que cagava para o que a Image lançava desde que parei de acompanhar o Spawn, e só voltei a me interessar pelos quadrinhos da editora quando a série The Walking Dead passou a fazer sucesso na TV e eu pensei em correr atrás do material original na internet por meios, digamos, alternativos.

Invencível Robert Kirkman

Com o sucesso da série animada do Invencível na Amazon Prime e pelos comentários positivos que li e ouvi a respeito da saga, decidi começar a acompanhar tardiamente as HQs e aproveitei que a Panini relançou esse material por aqui em encadernados regulares — que estão eternamente na pré-venda e que nunca ficam disponíveis para compra — para adquiri-los.

O que eu achei?

Agora que tenho como fazer comparações, é inevitável não pensar que a série animada trata muito melhor e com mais calma os personagens. O primeiro volume de Invencível mal chega aos fatos que se desenrolam no terceiro episódio da série, mas é nítido que o drama adolescente do enredo é muito melhor trabalhado no streaming.

Na HQ, a ansiedade de Mark em desenvolver logo os seus super-poderes assim como o pai, Nolan, mal chega a ser arranhada. A forma rasa com que a sua mãe é tratada na história também me incomodou um pouco. Isso levando em consideração que ela é muito bem retratada no desenho, ganhando bastante tridimensionalidade com a dublagem de Sandra Oh no original.

Invencível Robert Kirkman


A transição entre Mark ser apenas um adolescente comum passando por seus problemas com espinhas, amores não-correspondidos ejaculação precoce e bullying para a sua vida de super-herói acontece de maneira muito mais imediata na HQ. Quase sem impacto nenhum.

Invencível Robert Kirkman

Todo o resto do desenho, no entanto, está na HQ, que em seu primeiro arco trata apenas da aproximação do Invencível com a equipe jovem comandada pelo Robô, onde também figuram alguns personagens conhecidos como o Rex-Plosão, a DupliKate — melhor codinome de herói já criado para uma história em quadrinhos! — e a Eve Atômica, que rapidamente vira o interesse romântico do nosso herói.

Invencível Robert Kirkman



Nesse primeiro volume é contada a origem "mais limpinha" de Nolan Grayson e seu planeta Viltrum. O herói OmniMan conta ao filho como seus compatriotas são benevolentes e de como eles se misturam a outras raças pelas galáxias para evoluí-las tecnologicamente.

Invencível Robert Kirkman



Até então, a faceta maligna de Nolan não foi mostrada aos leitores e quem leu na época nem devia imaginar o que é que vinha pela frente a respeito das intenções do alienígena na Terra.

Invencível Robert Kirkman



Sobre a arte de Cory Walker, eu não tenho muito a acrescentar além de que ela é medonha de tão feia. Nem tem como comparar o desenho do cara com o traço mais limpo e inteligível que os showrunners da animação da Prime escolheram para representar os personagens.

Invencível Robert Kirkman
A arte de Cory Walker

Independente da estranheza da sua arte, Walker é citado como coautor de Invencível já que ele botou no papel de maneira bem competente as ideias malucas que Robert Kirkman tinha para seus personagens.

Invencível Robert Kirkman
O traço mais suave da animação Invencível



Ao final dessa edição, nos são apresentados alguns esboços de capas e concepts de como eram alguns dos personagens antes e depois que Walker e Kirkman passaram a trabalhar juntos. E o prefácio da edição é escrito por Kurt Busiek.

Invencível Robert Kirkman
Os primeios designs para o Invencível



Para um leitor de primeira viagem de Invincible, até que achei positiva a experiência. Vamos ver o que as próximas edições me reservam.

NAMASTÊ!   

26 de fevereiro de 2025

Emilia Pérez e Anora no Conclave


Combo Breaker Oscar 2025


Chegou aquela época do ano em que a gente deixa um pouco de lado os filmes de bonecos fazendo “piw piw” e assume a nossa persona de Rubens Ewald Filho para falar um pouco sobre FILMES QUE PRESTAM de verdade.

No Combo Breaker de hoje, vou destacar Emilia Pérez, Anora e Conclave, todos eles disputando com Ainda Estou Aqui o prêmio máximo do cinema no Oscar 2025.

Sigam-me os bons!

Emilia Pérez

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar


Dirigido pelo já polêmico Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso”, de 2012) Emilia Pérez conta em forma de musical a história do chefe de cartel de drogas mexicano, Juan Manitas (Karla Sofía Gascón) que decide contratar uma advogada em evidência na mídia para que ela possa ajudá-lo a fazer a sua transição de gênero em sigilo. "Matando” assim a sua persona masculina para sempre.

Emilia Pérez
Jacques Audiard e o elenco de Emilia Pérez


No enredo, a advogada Rita Mora (Zoë Saldaña) acabou de ganhar uma causa onde conseguiu safar um criminoso da prisão quando ela é abordada por Manitas, que lhe oferece uma caralhada de dinheiro em troca dos seus serviços.

Em seu primeiro encontro para tratar sobre negócios, Rita fica cara a cara com o narcotraficante em seu esconderijo, e se sente tentada a ajudá-lo com o seu problema de falta de identificação de gênero, porque, afinal, ela é uma fodida que precisa muito da grana.

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar
Karla Sofía Gascón como "Manitas" e Zoë Saldaña


Nesse encontro, Rita também conhece a esposa de Manitas, Jessi (Selena Gomez), além dos dois filhos do casal, e isso faz com que ela repense momentaneamente em aceitar ou não a proposta do traficante. 

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar
Selena Gomez e sua fluência ZERO em espanhol


Embora isso não fique muito claro ao espectador num primeiro momento, Manitas não pretende voltar a ver a sua família após a sua redesignação sexual, dando também um “migué” em seus comandados e na sua vida criminosa. É por essa razão que Rita chega a pensar em desistir de ajudá-lo.

Por fim, ela aceita e foda-se! “Vou ficar milionária e a família do meu cliente que se lasque!

Logo após Rita concordar em conhecer algumas das clínicas que façam a cirurgia de transgenitalização de maneira discreta, vem uma das cenas mais constrangedoras que eu já assisti na minha vida. O momento em que a advogada visita uma clínica na Tailândia e que rola o musical que virou meme na internet de tão absurda!

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar


“Homem para mulher ou mulher para homem?”

“Homem para mulher”

“Então, pênis para vaginaaaa”

É sério. Fiquei imaginando alguém que passou por uma transgenitalização de verdade assistindo a essa sequência vergonhosa que trata com humor escrachado um assunto tão sério! 

E tudo isso com musiquinha e dancinha… como se o filme fosse editado por um adolescente no TikTok!

O filme em si tem muitos momentos embaraçosos e a listagem parece infindável quando paramos para pensar um segundo sobre o que estamos assistindo na tela. Para começar, a maneira estereotipada com que o diretor Jacques Audiard enxerga o México e a sua cultura. O francês chegou a visitar o país antes das filmagens, mas admitiu que a visão que ele tinha do México “não condizia com a realidade que ele encontrou lá” ao visitá-lo.

No final, ele mandou um foda-se ao que os mexicanos poderiam pensar a esse respeito e decidiu continuar até o fim com a sua representação preconceituosa sobre o que ele pensava ser o México — um lugar onde a criminalidade impera, com mariachis cantando no meio da rua, onde se faz pouco caso quanto aos desaparecidos mexicanos mortos pelo narcotráfico e onde as cidades têm um aspecto de mundo pós-apocalíptico de tão sujas e destruídas.

É como se um norte-americano tentasse fazer um episódio dos Simpsons sobre o Brasil sem nunca ter visitado o país e colocasse no desenho todos os seus preconceitos e estereótipos representados graficamente na tela, com macacos espalhados pela cidade, mulheres nuas andando nas ruas sacudindo os peitos e selva onde deveria haver prédios e asfalto.

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar


Já pensou se isso tivesse acontecido???

Em outra de suas falas polêmicas, Audiard ainda relacionou o idioma espanhol — falado em quase 80% do seu filme — com pobreza e depois pediu desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas de alguma forma pelo seu filme.

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar
Declarações polêmicas de Jacques Audiard


É o famoso "foi mal, eu tava doidão"!

Para jogar de vez uma pá de merda sobre o filme, a própria atriz que interpreta a personagem título do filme acabou sendo desmascarada como sendo uma bela de uma racista ainda durante a campanha de premiações do longa. Em postagens antigas, a espanhola Karla Sofía Gascón destilou o seu veneno nas redes sociais contra negros, muçulmanos e outras minorias, esquecendo completamente que ela também faz parte de uma minoria, a das pessoas trans.

Emilia Pérez Combo Breaker Oscar
"... a sua religião [Islã] é incompatível com os valores ocidentais."


Em tempo, Emilia Pérez tem VARRIDO as premiações a que tem sido indicado desde o ano passado, e entre esses prêmios, levou, inclusive o Golden Globe de Melhor Filme de Comédia ou Musical, Melhor Atriz Coadjuvante (para Zoë Saldaña), Melhor Filme em Língua Não-Inglesa e Melhor Canção Original com “El Mal” na interpretação das próprias Zoë Saldaña e Karla Sofía Gascón.

Emilia Pérez concorre a 13 estatuetas do Oscar nesse ano e mesmo com o escândalo das declarações infelizes de Gascón e do show de estereótipos criado pelo diretor francês, o filme tem fortes chances de garantir pelo menos uma dessas estátuas, batendo de frente com “Ainda Estou Aquiem todas as categorias que o brasileiro também disputa.

Na internet, nem os próprios mexicanos “representados” no cinema pelo filme "tankaram" essa produção, e até a comunidade LGBT pareceu não ter ficado muito satisfeita com a maneira no mínimo desrespeitosa com que foi mostrada em tela.

Mas, sabe quem adorou o filme e que doido para premiar Emilia Pérez por “dar visibilidade à causa trans”? Os velhos da academia de cinema estadunidense que, na realidade, tão pouco se fodendo tanto para as pessoas trans quanto para os mexicanos! 

Anora

Anora Combo Breaker Oscar


Tirando Emilia Pérez, que já assisti tendo alguma noção do que se tratava a história do filme, esse ano eu tentei ver as produções que disputam o Oscar de Melhor Filme antes de me inteirar sobre as suas sinopses, ou mesmo dar uma conferida nos trailers.

A tragicomédia Anora foi um desses casos que assisti “no pelo”. Até antes de começar a projeção, eu não fazia a mais puta ideia do que se tratava o filme, mas acabei me surpreendendo muito positivamente com a produção que levou a Palma de Ouro em Cannes em 2024 — um dos prêmios mais prestigiados do cinema.

Na história, Ani — ou Anora, como ela realmente se chama — vivida pela atriz Mikey Madison, é uma jovem stripper do Brooklyn que, numa noite de sorte, é indicada por seu cafetão para entreter o filho de um oligarca russo na boate em que trabalha.

Anora Combo Breaker Oscar
Mikey Madison como a dançarina erótica Ani


Pela fluência de Ani no idioma do rapaz Ivan (Mark Eydelshteyn), a “dançarina erótica” acaba pegando simpatia por ele, o que mais tarde, após novos encontros — inclusive fora da boate — ocasiona um improvável romance entre os dois.

Anora Combo Breaker Oscar


Decidida a aceitar a sugestão de Ivan de se casar com ele para que o russo tenha direito à cidadania norte-americana — e fugir da intransigência de seus pais milionários —, Anora passa a viver uma história de Cinderela contemporânea por alguns dias. 

Anora


Em Las Vegas, o casal resolve consumar o relacionamento intempestivo e se casa de forma impulsiva. Quando a notícia do casamento chega à Rússia, o conto de fadas é rapidamente ameaçado: os pais do jovem partem para Nova York com a irredutível intenção de anular o matrimônio.

Anora Combo Breaker Oscar
Ivan e Ani


Ah, Rodman… o filme é só isso? Uma história de comédia romântica? Que bosta!

Aí é que está a graça do roteiro escrito e dirigido por Sean Baker (de Tangerine, 2015). Partindo desse plot super simples é que o filme começa a desenvolver uma história muito dinâmica e extremamente divertida enquanto os capangas armênios do pai de Ivan começam a se meter no casamento do casal, além de caçar o jovem russo por Nova York no momento em que ele decide sumir do mapa simplesmente para não ter que lidar com os mandos e desmandos dos pais autoritários.

Anora Combo Breaker Oscar


As interações de Anora com os atrapalhados empregados armênios são hilárias e é impossível ficar indiferente ao humor crescente que o filme vai nos apresentando a cada nova cena, e a cada nova encrenca a que a moça vai se metendo para não perder todo o luxo e a riqueza com que ela foi agraciada ao se casar com o moleque irresponsável.

Anora Combo Breaker Oscar


Aliás, entre as concorrentes de Fernanda Torres ao prêmio de Melhor Atriz do Oscar, Mikey Madison é uma das mais fortes de todas. Em cena, além das inúmeras tomadas de strip-tease e de sexo que ela protagoniza diante das câmeras, a jovem atriz de 25 anos — que despontou no sexto filme da franquia Pânico como a personagem Amber e que foi uma das hippies malucas do bando de Charles Mason em Era Uma Vez… Em Hollywood — dá um verdadeiro show de interpretação nas sequências cômicas, mas principalmente nas dramáticas, o que justificou o seu prêmio no Bafta de 2025 como Melhor Atriz — desbancando a favorita do público, Demi Moore de A Substância.

Anora Combo Breaker Oscar
Mikey Madison em "Pânico", "Era Uma Vez... Em Hollywood" e em "Anora"


Anora foi o filme mais divertido entre todos os que assisti a concorrer ao Oscar desse ano e o único que eu toparia rever futuramente.

Anora


O longa arrecadou mais de US$ 20 milhões de bilheteria e, além do prêmio de Melhor Atriz, disputa também o Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção (para Sean Baker), Melhor Roteiro Original, Melhor Ator Coadjuvante (para Yura Borisov, que interpreta um dos principais capangas do sogro de Anora) e Melhor Montagem.

Anora Combo Breaker Oscar
O diretor Sean Baker e o ator Yura Borisov


Conclave

Conclave Combo Breaker Oscar


“Cardeal Bellini. Quem você indica para o paredão do Vaticano e o porquê em trinta segundos!”

Uma boa definição para quem ainda não viu Conclave e pretende assistir ao longa dirigido por Edward Berger (de Nada de Novo no Front de 2022, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional) é que a história é um Big Brother de cardeais que se juntam para eleger o novo Papa.

Conclave Combo Breaker Oscar
O diretor de Conclave, Edward Berger


Aliás, a ironia da coisa em um filme que trata sobre esse assunto estar em voga exatamente na época em que o Papa vigente, Francisco, está sofrendo com problemas graves de saúde é uma puta campanha de marketing involuntária do Vaticano ao longa, não é?

Brincadeiras idiotas à parte, Conclave segue os passos do cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) do momento em que ele é obrigado a reunir um grupo de sacerdotes para eleger o sucessor do Papa que acabou de falecer até a escolha, de fato, do novo pontífice.

Conclave Combo Breaker Oscar
Ralph Fiennes como o cardeal Lawrence


Cercado por líderes do mundo todo nos corredores do Vaticano — incluindo um misterioso religioso mexicano —, Lawrence descobre uma trilha de segredos profundos que podem abalar a própria fundação da Igreja.

Nesse meio-tempo, é claro que rolam várias intrigas entre os sacerdotes durante a reunião do conclave — que é como é chamada a reunião geral para eleger um novo Papa —, bem como compra de votos, lavação de roupa suja sobre o passado de alguns deles e muito, muito golpe baixo.

Conclave Combo Breaker Oscar


Pra ser um BBB, só falta mesmo a apresentação do Tadeu Schmidt, porque o resto está todinho lá!

Apesar de ter feito pouco alarde “no mundo real” quanto ao plot twist final do longa, Conclave consegue subverter muito bem a expectativa do público até o desfecho da narrativa, tornando as sequências de contagem de votos e o suspense envolvendo quem será o novo Papa interessantes — mesmo parecendo de início que o enredo não vai sair da mesmice de roteiro que outros filmes envolvendo o Vaticano já construíram em Hollywood.

Conclave Combo Breaker Oscar
Carlos Diehz como o cardeal latino Benitez


Além de Fiennes que está cotado ao prêmio de Melhor Ator no Oscar 2025, o filme ainda conta no elenco com os excelentes Stanley Tucci (como o cardeal Bellini), John Lithgow (como cardeal Joseph) e Isabella Rossellini (como a irmã Agnes).  

Conclave Combo Breaker Oscar
Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini


Conclave está indicado a oito estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Montagem.

Conclave levou o prêmio de Melhor Elenco no SAG Awards desse ano e isso pode servir de termômetro para quem vai ganhar o Oscar de Melhor Filme em 2025. Nos últimos anos, o SAG anteviu a maioria dos filmes que acabaram saindo vitoriosos de dentro do Dolby Theatre em Hollywood.

Conclave
Conclave premiado pelo Screen Actors Guild


E, cá entre nós, entre todos os que disputam a estatueta mais cobiçada do Oscar, Conclave é o filme com “mais cara de Oscar” de todos!

A minha torcida é para Ainda Estou Aqui, por razões óbvias, mas se for para não ser clubista, quero muito que Anora leve o de Melhor Filme… até porque a Fernanda Torres vai levar o de Melhor Atriz COM CERTEZA!

Fernanda Torres totalmente oscarizada


Eu falei também sobre “A Substância” (que concorre a Melhor Filme) e “Divertida Mente 2” (Melhor Animação) no resumão dos filmes de 2024. Clica no banner aí e seja feliz.



NAMASTÊ!

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