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12 de dezembro de 2011

O Livro do Fim do Mundo [ATUALIZADO]


Não é de hoje que faço minhas experimentações no campo da literatura, em especial no que se refere a ficção, e já contei aqui que na infância e na adolescência eu costumava encher meus cadernos de histórias e contos, muitos deles caídos totalmente no esquecimento e que ninguém mais além de mim mesmo tomou conhecimento. Um dos motivos pelo qual decidi criar o Blog do Rodman foi justamente esse: Colocar os "demônios" que atormentavam minha mente para fora de forma criativa.
Sim, o Blog do Rodman é uma das minhas primeiras tentativas de exteriorizar aquilo que antes só povoava minha mente (algo como estar preso num mundo que eu mesmo criei, saca?), e poucas pessoas até hoje tiveram contato com as loucuras que decidi escrever ou exprimir de alguma forma. As ex-namoradas e a galera da família sabem do que estou falando.
Através do Podcast do site Jovem Nerd (que dispensa apresentações) fiquei ciente do projeto da equipe de criar um livro escrito pelos leitores, e gostei muito da ideia, o que me fez aceitar o desafio.
O grupo, formado por amigos de infância, criou o site http://www.olivrodofimdomundo.com.br/ com o intuito de dar a chance aos leitores comuns, aqueles aspirantes a escritores (como eu), a dar asa à imaginação e desenvolver um roteiro cujas regras são bem simples:

1. Contar a história de um personagem que sabe (ou não) que o fim do mundo ocorrerá sem revelar a causa.
2. O mundo acabará exatamente às 17h15min (horário de Brasília) do dia 21/12/2012 e o personagem tomará conhecimento disso uma hora antes, ou seja, 16h15min.
3. Escrever o texto com até 20 mil caracteres para contar sua história (incluindo espaços).

Muitos escritores já mandaram seus textos (o resultado disso você pode conferir aqui) e bastante gente boa tem publicado suas ideias no site, o que é um ótimo incentivo para quem sempre quis escrever algo que ganhasse notoriedade, mas nunca havia tido espaço para isso.
Parabéns ao pessoal do X² pela iniciativa. Espero que o projeto do livro com as melhores histórias se concretize mesmo e que ele abra espaço para mais iniciativas como essa.
Visitem a página oficial do site, onde meu conto foi publicado e prestigiem comentando e dando um Curtir!
Abaixo um trecho do conto que eu escrevi para o site. Boa leitura!

A Salvação

Max atirou-se contra a janela sem hesitar um só segundo, ouvindo os estampidos dos tiros de uma 9 mm atrás dele. O vidro estourou ante a força de seu empurrão e seu corpo caiu da altura de dez metros, batendo violentamente contra uma marquise. A adrenalina não permitiu que ele sentisse dor, os cortes causados pelo choque contra o vidro da janela sangravam em seu antebraço, mas ele só foi sentir depois que já havia alcançado a rua, enquanto corria desesperadamente para se salvar.
Há alguns quilômetros do prédio onde fora emboscado, Max parou diante de um telefone público esbaforido. O fôlego lhe faltava, e com grande esforço ele tentava lembrar o número a ser discado, enquanto suas mãos ensanguentadas tremiam diante das teclas. O céu começava a enegrecer gradativamente, anunciando uma tempestade, e do lado de fora da cabine de telefone as pessoas que passavam pela calçada encaravam-no com ar entre o assustado e o enojado. Sua aparência não devia ser das melhores.
Do outro lado da linha ninguém atendia para sua frustração. O homem que tentara eliminá-lo já poderia tê-lo seguido até ali. Agora era uma questão de tempo até que ele o alcançasse, e tempo era algo que Max não tinha disponível. Seu relógio de pulso sujo de sangue marcava 16:37.
Dentro da cabine, enquanto tentava mais uma vez, em vão, se comunicar com a única pessoa no mundo todo que podia impedir o que estava para acontecer dali a pouco menos de uma hora, Max que sentia dores lancinantes por todo o corpo ouviu uma buzina ensurdecedora pouco antes de notar pessoas a correrem ensandecidas para longe do telefone público. Um caminhão basculante se dirigia a toda velocidade sem controle, cortando cruzamentos e se chocando contra outros carros que eram jogados para fora da pista. O veículo monstruoso parecia invencível e ele rumava direto para a cabine.
O estrondo ecoou por toda a avenida, e havia um rastro de destruição por onde o caminhão havia passado. Max só teve tempo de se atirar para fora da cabine, e seu corpo rolou no asfalto com a força do impacto. Mesmo freando bruscamente, o veículo só foi parar muitos metros depois arrastando um outro automóvel que cruzava a pista lateral. Max nem havia se recobrado e o estampido de tiros em sua direção voltaram a fazê-lo correr. Um homem com uma vasta cabeleira loira e de brilhantes olhos azuis descia do caminhão atirando contra Max. Os tiros começaram a acertar os transeuntes desesperados com toda aquela cena de ação, e enquanto corpos caiam friamente contra o chão e gritos de agonia ecoavam, o homem já recarregava sua pistola, vendo Max desaparecer ao dobrar uma esquina. Seu tempo estava se esgotando. Ele precisava impedir que Max chegasse a seu destino e cumprisse sua missão, ou as consequências disso cairiam sobre suas costas o resto da eternidade.

A corrida contra o tempo de Max teve início quando aquele telegrama chegou-lhe endereçado no escritório de advocacia. Como assistente do doutor Hélio Casavette ele recolhia dezenas como aqueles por semana falando sobre casos judiciais e processos, mas nenhum deles nunca chegou em seu nome. Intrigado com aquele envelope, Max fechou-se em sua sala e abriu o telegrama remetido diretamente a ele. Jamais em sua vida ele havia lido uma sentença tão terrível quanto aquela, e sentindo seu coração acelerar e o corpo encher-se de adrenalina, o jovem assistente percebeu que a hora pelo qual ele esperava a vida toda havia chegado. A Programação tinha que ser seguida à risca.
Afrouxando a gravata que naquele momento parecia enforcá-lo, Max passou pela secretária do Dr. Casavette como um fantasma saindo de sua sala. A moça, sentada atrás de sua mesa, vendo-o de paletó em mãos seguindo em direção à saída, largou o telefone e correu até ele.
- Max! Já está de saída?
Ele ouviu a voz sensual da moça morena de olhos grandes e pensou que podia ser a última vez que aquilo acontecia. Ao sair por aquela porta, descer pelo elevador e alcançar a rua, Max talvez, jamais voltaria a sentir o sabor adocicado de seus lábios ou o abraço quente que o envolvera durante tantas noites. Quando ele saísse, tudo poderia estar terminado.
- Nem falou comigo. Está acontecendo alguma coisa?
Max tinha preocupação no semblante, e embora parecesse óbvio a quem o observasse bem, ele ainda tentou parecer natural.
- Houve um imprevisto em um dos casos do Dr. Casavette e eu vou precisar resolver.
Natália era a namorada não-oficial de Max. Ambos eram solteiros, mas gostavam da liberdade que um não-relacionamento lhes dava, o que fazia com que eles não assumissem o caso a ninguém do escritório. Ela conhecia bem o companheiro, e embora tivesse notado que algo o preocupava naquele momento, preferiu esperar para que ele estivesse preparado para lhe contar. Sabia que podia confiar nele e não tocou no assunto.
- O encontro de mais tarde está de pé? - Perguntou ela dedilhando levemente o peito do rapaz olhando para os lados para ter certeza que ninguém os estava observando.
- Está sim. Claro. - Confirmou ele, com a cabeça totalmente ocupada pelo texto do telegrama que jazia dobrado no bolso da calça.
Num repente, a sensação de que aquela era a última vez que ele estava vendo o belo rosto de Natália apertou-lhe o peito, e ele deslizou a mão por seu rosto delicadamente. Após piscar-lhe o olho, mal conseguindo disfarçar sua tensão, ele a deixou voltar para o interior do escritório e saiu, indo em direção ao elevador. Se ele não conseguisse cumprir a Programação que lhe havia sido dada ainda na infância, tudo estaria acabado em uma hora, e ele não podia aceitar que aquilo acontecesse.
O relógio de pulso marcava 16:22 quando ele entrou no banco. Gentilmente ele informou a um dos funcionários que precisava ver o gerente e sentou-se numa poltrona para aguardar pelo atendimento, deixando seu relógio bem à vista dobrando a manga da camisa comprida para cima. Seu coração pulsava forte dentro do peito. Embora esperasse por aquele momento, ele sentiu que não estivera se preparando tempo suficiente para ele, e descobriu-se em desespero, incapaz de manter as mãos quietas. Quatro minutos passaram-se até que o gerente o viesse atender, mas pareceu-lhe mais de uma hora. Ele caminhou-se com o gerente, um homem alto e robusto de cabelos bem penteados e alinhados até alguns andares acima da agência principal do banco, e então seguiu por uma série de corredores que mais parecia um labirinto. Nenhuma palavra precisou ser trocada entre os dois. Ao avistar o relógio que Max usava, o gerente entendeu imediatamente o que devia ser feito.
Os dois homens chegaram a uma espécie de cofre de segurança reforçada, e após digitar uma senha em um painel na lateral da porta do cofre ele sussurrou para que Max aguardasse do lado de fora. Não passou nem um minuto e o homem retornou lá de dentro, entregando uma maleta preta ao rapaz. Um frio percorreu-lhe a espinha enquanto ele colocava as mãos na alça de couro, e com um gesto, o gerente indicou-lhe o caminho de uma sala reservada, onde Max poderia abrir a maleta e pegar o objeto nela guardado há tanto tempo. Gerações haviam se passado e muitos homens haviam perecido na tentativa de conseguir o conteúdo daquela maleta, mas Max seria o primeiro a por as mãos no artefato em muito tempo.
Foi sem aviso, e de repente a parede lateral do corredor encheu-se de um tom avermelhado. O corpo do gerente caiu de lado com um rombo fumegante na testa. Seus olhos virados para cima pareciam encarar Max enquanto seu corpo pesado deslizava da parede pintada de sangue para o chão, e de repente o rapaz sentiu o coração acelerar uma vez mais, seu instinto de sobrevivência falou mais alto e ele pôs-se a correr dali, enquanto mais tiros eram disparados em sua direção. Um homem loiro vinha caminhando apontando uma pistola 9 mm, e ele queria matá-lo.
Max não sabia exatamente onde estava, jamais havia estado naquele andar do banco e temia que acabasse correndo para algum beco sem saída. Limpando o sangue e os restos de miolos que haviam explodido em seu rosto quando o gerente fora atingido mortalmente, Max continuou correndo em frente, quando então avistou um corredor que desembocava numa sala fechada. Sem hesitar o rapaz avançou na maçaneta da porta e quase conseguiu rir nervosamente ao constatar que ela não estava trancada. Passando a chave na fechadura tão logo entrou, o rapaz apanhou o celular no bolso da calça e começou a digitar um número que estivera decorando por muito tempo, antes mesmo de se dar conta que não havia sinal dentro do banco.
- Merda!! – Gritou ele, irado, arremessando o aparelho contra uma parede.
Procurando uma rota de fuga dali, Max começou a examinar a janela e o lado externo do prédio, calculando há quantos metros do chão ele estaria. “Talvez eu possa chegar com segurança até lá embaixo se for me pendurando”, pensou ele antes de ouvir um estrondo na porta da sala. O homem loiro que atirara contra ele o havia encontrado, e era apenas uma questão de tempo até que ele encontrasse um modo de entrar.
- O que eu faço agora? – Gemeu ele entrando em desespero.
Sua atenção voltou-se para a maleta preta naquele momento. Confiara cegamente no gerente do banco, e embora soubesse que o homem fazia parte da Programação do qual ele próprio fora incumbido de seguir, Max não tinha certeza que o artefato que ele viera buscar estava mesmo no interior daquela maleta. Girando habilmente o controle do fecho, inserindo a combinação que havia memorizado junto ao telefone de emergência para o qual tentara ligar há pouco tempo, ele enfim abriu a maleta e deparou-se com uma pequena caixa de pouco mais de cinco centímetros de altura em seu interior. De alguma forma ele sabia que o que estava dentro daquela pequena caixa de madeira era realmente o objeto que decidiria o destino da humanidade, e quando um tranco mais forte foi desferido contra a porta da sala, ele tratou de colocar a caixa em seu bolso, e voltar para próximo da janela. Seu corpo robusto e os músculos adquiridos nos três anos de academia talvez o salvassem daquela queda quase mortal, e quando um pontapé derrubou a porta que o separava de seu algoz, Max tomou certa distância e atirou-se contra a janela, admitindo para si mesmo que não se entregaria tão facilmente a seus inimigos. Se eles o queriam morto, teriam que se esforçar mais.

Algumas quadras separavam Max de seu objetivo. Ele precisava levar a caixa que pegara no banco e seu conteúdo com segurança até uma velha loja de penhores no centro de São Paulo. Enquanto ouvia sirenes da Polícia ao longe, ele tentava repassar mentalmente tudo que havia lhe ocorrido na última meia hora, e procurava saber qual teria sido sua falha. Desde muito jovem ele havia sido treinado para ser o guardião da chave do juízo final, um artefato que, segundo haviam lhe informado, seria capaz de impedir que um cataclismo sem precedentes destruísse a Terra e toda sua população. Embora tivesse sido instruído a acreditar piamente naquilo, parte de seu espírito nunca conseguira confiar totalmente que o tal cataclismo um dia chegaria, mas tudo mudou quando ele recebeu aquele telegrama.
Desde o recebimento do telegrama até sua chegada aos andares superiores do banco, ele repassou cada um de seus movimentos minuciosamente, e não entendia em que momento o homem loiro ou seus comandantes o haviam descoberto. Teria sido o relógio prateado com a insígnia da Programação na pulseira? Teria sido alguém no banco, na sala de espera? Teria sido o próprio gerente? Nesse caso, por que ele havia permitido que ele fosse tão longe?
A dúvida corroia Max, e tudo que ele sabia naquele momento era que precisava chegar até a casa de penhores e entregar o artefato em seu bolso ao dono da loja, o homem que ele considerava seu grande mentor. Um dos fundadores da Programação.
O céu estava totalmente coberto por nuvens escuras e um forte vento soprava contra os transeuntes que desviavam da figura ensanguentada de Max na calçada. Sua camisa branca estava quase que completamente encharcada e coxeando de uma perna ele procurava acelerar seus passos, evitando olhar para o relógio de pulso e constatar que talvez já fosse tarde demais. Por ironia, ele acabou erguendo a cabeça ao passar por um relógio de trânsito e nele o mostrador luminoso marcava 17:00. “Inferno!”, pensou ele.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Uma dupla de policiais que tomava um café em um bar avistou Max, e sua aparência surrada deixaram-nos desconfiados. Àquela altura o rapaz cheirava a encrenca, e mesmo um cego poderia perceber que havia uma aura de negatividade ao seu redor. Ele não podia ser detido agora que estava tão próximo de seu destino. Esticando o pescoço, ele já era capaz de ver a velha casa de penhores e sua frontaria decadente do outro lado da avenida que atravessava a cidade, os policiais gritavam para que ele parasse, mas ele não podia obedecer. Ser alvejado naquele momento poria tudo a perder. O objeto em seu bolso podia impedir que o mundo fosse destruído, mas para isso, era necessário que ele andasse mais alguns metros e alcançasse a loja.
Ele viu a cabeça do primeiro guarda explodir antes mesmo que o coitado tivesse a chance de sacar seu revólver do coldre. O segundo policial nem mesmo conseguiu saber de onde vieram os dois tiros que acertaram seu peito e seu abdômen. O pânico instaurou-se, e uma gritaria infernal se fez ouvir quando o homem loiro, incansável, surgiu de dentro de um veículo sedan preto. Com um semblante enlouquecido em seu rosto, ele pôs-se a atirar contra Max, que coxo devido à queda de cinco metros do prédio do banco, já não tinha a mesma agilidade. O sinal estava verde na avenida, mas Max só tinha uma chance de atravessá-la antes que o loiro o alcançasse. Correndo o máximo que suas pernas cansadas permitiam, ele interpôs-se entre os carros e a morte, e tudo que ele viu foi uma incrível e ofuscante luz vermelha quando algo estourou seu ombro esquerdo ao mesmo tempo em que uma van o acertou em cheio, arremessando-o contra a calçada do outro lado da avenida. O som de passos, buzinas e pessoas falando o atordoavam, e Max sabia que ainda não havia acabado. Seu corpo ainda tinha energia suficiente para alcançar a loja de penhores, e lutando contra a dor inacreditável que o castigava naquele momento, ele abriu os olhos e procurou se levantar. “Levante-se, maldito! Faltam só alguns metros. Não vá falhar com aqueles que dependem de você!”, pensava ele, tentando ignorar o estado debilitado de seu corpo.
Apoiando-se em um poste, Max pôde ver seu inimigo do outro lado da rua recarregando mais uma vez sua pistola. Daquela distância ele o podia acertar até mesmo de olhos fechados, então o rapaz procurou se movimentar de forma que sempre algo ficasse entre ele e os tiros. Seu braço esquerdo estava inutilizado, o tiro em seu ombro parecia que havia arrancado um pedaço dele e a ferida doía como um banho escaldante no inferno. Uma tontura ameaçava abatê-lo e ele se esforçava para manter-se acordado, enquanto os ferimentos sangravam sem parar. Outro tiro explodiu bem próximo de sua cabeça, aparado por um poste de concreto que tivera a estrutura atravessada pela bala. “O filho da mãe abandonou sua 9 mm. Está me atacando com uma arma mais poderosa!”. Seu raciocínio estava lento naquele momento, e ele percebeu que o homem loiro já atravessava a faixa de pedestres correndo feito um demônio para alcançá-lo. A balbúrdia chamara a atenção de novas viaturas de Polícia cujas sirenes ecoavam pela cidade, mas nada mais daquilo importava. Max atirou-se contra a porta da loja de penhores e caiu com o rosto estalado no chão de assoalho esverdeado, chamando por seu mentor:
- Melvin! Eu consegui!
Com a mente confusa, Max não entendia como aquele homem o havia alcançado tão rápido, e de repente ele se viu rolando no chão da loja com ele, segurando seu punho a muito custo, impedindo que ele usasse sua pistola. Extremamente forte, o loiro não demorou a subjugar Max, que quase desfaleceu com um cruzado de direita, que por pouco não deslocou seu maxilar. Arrastando-se no chão segurando o queixo, ele viu o adversário levantar-se habilmente e uma voz rouca irrompeu:
- Entregue a caixa, idiota. Acabou pra você. Nada que possa fazer vai impedir o que está para acontecer.
Max dedilhou a caixa por sob o bolso da calça. Não podia entregá-la. Lá fora as sirenes estavam cada vez mais próximas.
- Não percebe que se me impedir vai condenar a todos? Vai condenar a você, a sua família?
Custara pronunciar aquelas palavras, e Max sentiu um gosto de sangue na garganta.
- A Programação é uma farsa, garoto. Eles não podem impedir o fim do mundo. Dê-me a caixa para que eu a entregue para seus verdadeiros donos.
Um relógio na parede da loja, sobre a porta de entrada marcava 17:11. Max tinha pouco menos do que cinco minutos para agir... (Continua)


[ATUALIZAÇÃO]

E o livro já está à venda no site da Livraria Cultura.
Clique na imagem abaixo para ser redirecionado ao site:


NAMASTE!

27 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2



Eu não posso dizer que cresci acompanhando Harry Potter ou que sou um desses aficionados pela série de livros e de filmes, mas devo salientar que sou um apreciador da saga como um todo,apesar de não concordar com muitas das atitudes do “menino-bruxo” e de muitos dos argumentos que sua criadora J.K. Rowling utilizou por muitos anos para justificar os vários pontos-cegos que ela acabou criando com o passar dos tempos em sua história.
É inegável, no entanto, que Rowling concebeu um universo de magia fantástico em seus livros e que a mitologia riquíssima proveniente disso ganhou admiradores por todo o mundo trouxa de forma arrebatadora. Hoje não há ser vivo aeróbico na face da Terra que nunca tenha ouvido falar de Harry Potter, e o mais importante nisso tudo é que, sendo a qualidade da literatura de Rowling questionável ou não (para muitos é bem questionável sua linha narrativa), ela foi diretamente responsável por trazer de volta o gosto pela leitura das crianças e adolescentes, algo que vinha se perdendo cada vez mais à medida que as novas gerações iam crescendo. Assim como o grande mistério de quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha, não se sabe ao certo se foram os filmes que deram força para os livros ou se foi o contrário, mas é fato que a mídia audiovisual contribuiu e muito para o sucesso dos livros, embora a qualidade das obras pós-fenômeno do cinema tenha decaído consideravelmente.



Estava ansioso e apreensivo para assistir a última aventura de Harry Potter nos cinemas na segunda parte deAs Relíquias da Morte, e fui ao cinema com algo em mente: Precisava concluir a saga, mesmo já sabendo de antemão que muita coisa não me agradaria, uma vez que o último livro também tinha me decepcionado em alguns pontos.
De início é bom ressaltar que houve mudanças na história original e isso não é nenhuma surpresa, já que durante todas as adaptações dos livros, até então, também haviam tido algumas. Certas alterações tornaram o filme apressado de modo que muitos detalhes passam despercebidos para quem não leu o livro (imagino eu), mas outras contribuem para a narrativa, até mesmo corrigindo alguns pontos que Rowling esquecera de explicar no livro ou não pensara na ocasião.






O destino da espada de Griffyndor depois que o duende Grampo a rouba na fuga de Harry, Rony e Hermione do Banco Gringotes foi explicado de forma um pouco mais convincente (mas não tanto) já que no livro ela simplesmente reaparece ao fim da história sendo empunhada pelo herói mais improvável de todos Neville Longbottom. Também é explicada a origem do caco de espelho entregue por Dumbledore a Harry e o motivo pelo qual Aberforth (o irmão de Dumbledore) consegue vê-los e ajuda-los nos momentos mais críticos, o que reforça minha teoria de que Harry Potter não teria sobrevivido além de seu primeiro livro se não contasse com a ajuda de seus amigos e a conveniência com que tudo acontece a seu favor.


O que sempre falo aqui quando comento sobre um filme adaptado de uma obra literária também acontece em Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 2. Duas horas é pouco tempo para contar uma história com todos seus meandros e pormenores, por isso não há como o filme ficar 100% satisfatório. Vendo como espectador, procurando me imaginar no lugar de alguém que não havia lido o livro antes e não conhecia a história, notei que há partes inexplicáveis e outras que explicam muito rasamente o que está acontecendo, como por exemplo, a chegada de Harry, Rony e Hermione ao Beco Diagonal próximo de Hogwarts, a abordagem de Aberforth aos garotos, e a descoberta de Snape sobre o paradeiro de Harry e seus amigos. Tudo acontece de forma muito rápida, sem que o público tenha tempo de absorver, e a correria para tentar aproveitar a maior quantidade de acontecimentos possível por cena, torna o filme por vezes incoerente.



A batalha de Hogwarts, que ocorre quando Voldemort decide dar um ultimato a Potter e seus amigos dentro do castelo depois da expulsão de Snape do cargo de diretor, forçando o garoto a se entregar caso queira poupar a vida daqueles que se importam com ele, acontece de forma mais grandiosa que no próprio livro. As cenas do combate místico são ao mesmo tempo empolgantes e movimentadas, e aprofundam melhor o roteiro e as descrições da própria Rowling. Não há nenhuma morte impactante durante a luta entre os comensais de Voldemort, a Armada de Dumbledore e a Ordem da Fênix. Todos os personagens que perdem suas vidas durante o confronto são mostrados apenas depois do ato, o que diminuí a carga dramática do filme, fato que marcou a primeira parte do longa com as mortes da Edwiges (a coruja de Harry) e deDobby, o elfo doméstico leal a Potter. Embora as cenas que envolvam efeitos visuais (como na própria batalha e na disputa entre os amigos de Potter e os amigos de Draco Malfoy dentro da Sala Precisa) sejam muito bem feitas tecnicamente e com um CG de qualidade, não há pontos muito positivos quanto à emoção da trama. O máximo que dá pra sentir é uma apreensão com relação ao que o roteirista Steve Kloves (que roteirizou todos os demais filmes) e o diretor David Yates (no cargo desde a Harry Potter e a Ordem da Fênix) mudaram na história original e quanto o roteiro fora alterado para “caber” na tela.



O que sempre gostei nos demais filmes do bruxo foi a capacidade dos diretores, produtores e diretores de arte de transportarem para a “realidade” o que estava escrito nos livros, e como aquilo tudo ficava fantasticamente diferente (e às vezes exatamente precisa) da forma como imaginávamos. Ler e imaginar uma cena em sua cabeça é uma coisa, vê-la transportada para a realidade é outra, e a meu ver, todos os filmes fizeram bem o seu papel com relação a cenários, vestimentas, adaptação de personagens e criação digital. Isso eu nunca pude reclamar em Harry Potter. Tudo tinha o aspecto fantástico que os filmes deveriam ter, o problema sempre esteve mesmo nos cortes necessários da história.




Em Relíquias da Morte parte 2, o quinhão extraordinário está mais uma vez presente, e muitas cenas nos transportam direto para os corredores de Hogwarts e os arredores da escola de magia (em algumas delas até senti falta de estar vendo o filme em 3D), e nos faz crer que aqueles feitiços e encantamentos realmente fazem parte da nossa existência, e que munidos de uma varinha mágica, de repente você pode conjurar “Accio sapato” e seu calçado aparece voando em sua direção ou que você pode estuporar um adversário gritando “Estupefaça”. David Yates tem seus méritos por conseguir fragmentar a história final de Harry Potter em duas partes e fazer de
cada uma delas um trabalho individual e, por que não dizê-lo, de qualidade. Os dois filmes contam a continuação de um roteiro, mas funcionam muito bem separadamente. Enquanto a anterior prima pela comoção do público, a segunda segura o traseiro de todo mundo nas poltronas e deixa apreensivo até mesmo aquele que já havia lido o livro, algo que só mesmo um bom filme consegue fazer. Os efeitos visuais, as atuações de Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint estão na média de sempre. Eles demonstram grande respeito pelos
personagens e sentem-se totalmente à vontade em cena, embora sejam poucos os momentos em que eles tenham que utilizar sua “bagagem” interpretativa dramática no filme.



São as atuações de Alan Rickman como Snape, Ralph Fiennes sob os quilos de maquiagem de seu Voldemort e deMichael Gambon (que substituiu o falecido Richard Harris a partir do terceiro filme) como Dumbledore é que sustentam o elenco jovem de Harry Potter, dando maior propriedade às cenas dramáticas ou de tensão. Toda a competência de Rickman fica explícita na cena em que Harry enfim descobre toda a verdade sobre aquele que aparentemente sempre o detestou, visualizando na penseira as memórias do garotinho que sofria bullyng na infância por possuir poderes sobrenaturais, e que na fase adulta se apaixona perdidamente por Lilian Potter, a sua “garotinha ruiva” particular (essa piadinha só vai entender quem conhece Charlie Brown). O momento nunca antes mostrado quando Snape encontra Lilian morta aos pés do berço do bebê Harry é tocante, e enfim entendemos que todas as ações de Snape eram premeditadas para proteger Harry e fazer com que ele conseguisse chegar até o fim da sua jornada que era vencer você-sabe-quem.
A grande virada do roteiro!




Apesar de ser um personagem de pouca expressão vilanescamente falando, Ralph Fiennes conseguiu fazer com que seu Voldemort se tornasse assustador, embora sua voz não convença em um cara mau que mata geral. Depois da voz de Darth Vader (amém James Earl Jones!), claro que fica difícil encontrar alguém que supere esse quesito, mas uma entonação mais cavernosa talvez soasse melhor para um vilão que possui uma aparência amedrontadora e cuja característica principal é ser um indivíduo desprovido totalmente de compaixão.
A mitologia de Harry Potter é indiscutivelmente atraente e todo o universo criado em torno dos personagens é digna de aprofundamento. Embora o próprio personagem título não seja exatamente um exemplo de bom comportamento, que não seja um herói altruísta e que tampouco tenha grandes talentos (falar com cobras, talvez) que o diferenciem de seus colegas com relação a magia, Harry Potter ainda é um espelho do herói moderno, aquele que tem defeitos, que comete erros, mas que no final acaba se saindo bem por ter um bom caráter. Da mesma forma podemos ver todos a sua volta. Seu próprio pai Tiago Potter não era um exemplo do qual todo filho possa se orgulhar (praticava bullyng com Snape), o próprio Dumbledore cometera erros gravíssimos em sua juventude, fora responsável indireto pela morte da irmã e ainda cuidara de Harry apenas para conduzi-lo a seu destino final, que era morrer nas mãos de Voldemort, extinguindo assim, para sempre, todas as horcruxes que o vilão havia utilizado para fragmentar sua alma na tentativa de se tornar imortal.



Se Harry pode ser considerado um exemplo de herói caótico, Voldemort é o exemplo da incompetência em pessoa. Como um homem adulto, dotado das mais pérfidas artimanhas místicas e com a varinha das varinhas em punho consegue fracassar em derrotar um garoto que nunca foi um exímio combatente em magia? Que sorte é essa que Harry Potter tem que sempre algo o salvo no último minuto, impedindo Voldemort de mata-lo? É sorte mesmo ou Voldemort que é um vilão mequetrefe que só sabe matar seus próprios comensais da morte?
Eu esperava uma batalha mais grandiosa no fim da história entre os dois, mas ficou mais uma vez a decepção de algo que possuía potencial para ser muito maior, mas que acabou sendo mediano. Em 8 filmes, a melhor batalha, aquela que representa realmente o que dois mestres da magia devem ser capazes de fazer em combate, ficou representada em A Ordem da Fênix, na grandiosa batalha entre Dumbledore e Voldemort.



Seja como for, acabou sendo divertido acompanhar a saga de Harry Potter e seus amigos ao longo de todos esses anos, e ninguém pode tirar os méritos de J.K. Rowling ao criar um dospersonagens mais rentáveis da história moderna. A saga se encerra, mas ficam as lembranças e a esperança de receber uma carta de Hogwarts entregue por uma coruja mesmo que tardiamente. Sei lá. Vai que a minha coruja se perdeu no caminho!




NOTA: 7,5
e 9 para o conjunto da obra.


AVADA KEDAVRA!

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