Eles podem estar em qualquer lugar. Dentro de seu quarto, na cozinha, na lavanderia, ao seu lado no sofá da sala vendo televisão com você, fungando em seu cangote na hora do banho. Não há limites para esses espíritos desencarnados e opressores que rondam nosso mundo, e suas formas de se manifestar são imprevisíveis.
OK, eu exagerei na introdução, mas foi proposital. Ninguém precisa entrar em pânico achando que está sendo perseguido por algum opressor invisível. Eu só queria chamar a sua atenção. E já que chegou até aqui, que tal continuar lendo o post?
Não tem muito tempo que assisti o primeiro Atividade Paranormal, e na ocasião estava em uma reunião de amigos (como há muito tempo não fazia) para uma sessão pipoca madrugada à dentro. Todo mundo reunido na sala, cobertores a postos, tigelona de pipoca carregada e atenção total na tela da tv.
Sim, jovem padawan, se você nunca se reuniu na casa de amigos com o intuito de se divertir vendo filme, saiba que você não anda vivendo a sua vida como deve. Que fique bem claro.
A princípio Deus criou o mundo, o que eu sabia sobre Atividade Paranormal era o que tinha ouvido falar esporadicamente na mídia: “É um filme assustador”. “Plateias no mundo todo se surpreenderam”. “Baseado em fatos reais”. “Me borrei todo assistindo”.
Nenhum desses argumentos, obviamente, havia me convencido a sair de casa e gastar 20 Dilmas para conferir o filme em um cinema, e da mesma forma eu não esperava que a fita fosse nada além do que mais um requentadão dos filmes estilo “câmera na mão”, que começavam a proliferar por aí.
Não é que, por uma ironia do destino, fomos surpreendidos novamente?
O último filme que havia conseguido me deixar meio cabreiro, cismado a tal ponto de ter que dar uma conferida se não havia nenhum elemento sobrenatural dentro do quarto antes de dormir, tinha sido A Bruxa de Blair, e depois disso nenhum outro havia conseguido me causar temor, exceto os sustos ocasionais em filmes como REC, Alma Perdida e Terror em Silent Hill.
Atividade Paranormal possui aquele elemento (importante, diga-se de passagem) que te prende em frente à tela, que é o tal papo de que “essa história é baseado em fatos reais”. Certo, certo. Jurassic Park é baseado em fatos reais. Até mesmo Transformers é baseado em fatos reais!
Os caras podem vender que qualquer filme (qualquer mesmo!) é baseado em fatos reais. A questão é que, se a história não for bem conduzida e não nos for passada com a maior simplicidade possível, você não será preso pela narrativa, e aquele será mais um entre tantos filmes descartáveis. Em alguns casos, nós entramos em um processo de autoengano, e mesmo que 99% de seu cérebro tenha certeza que não há nada de real naqueles fatos que se desenrolam na tela, você continua acreditando naquele 1%, e é isso que faz com que um filme chame mais atenção do que os demais.
O primeiro filme apareceu de fininho e praticamente conquistou seu público no boca a boca, sem grandes jogadas de marketing. Tendo custado míseros 15 mil Dólares, um valor relativamente baixo para o mercado americano, o filme faturou mais de 193 milhões pelo mundo, o que o posiciona como uma das grandes surpresas do cinema no ano de lançamento.
Escrito e dirigido por Oren Peli, o filme é de 2007 e só foi lançado nos cinemas em 2009, vendendo a ideia de que se tratava de uma história real, o que com certeza, foi um dos motivos de seu sucesso. Quem não gosta de ver uma história de terror “real”?
No enredo, Katie (Katie Featherston), uma estudante de Letras, e seu namorado Micah (Micah Sloat), um negociante de ações, vivem em uma casa de dois andares em San Diego. Katie afirma que uma presença fantasmagórica a tem atormentado desde jovem, e acredita ser seguida por ela. Durante uma visita à casa, Dr. Fredrichs, que é um médium, afirma que eles estão sendo atormentados por um demônio que se alimenta de energia negativa, e que ele pretente assombrar Katie não importa onde ela vá. A partir de então, Micah monta uma câmera de vídeo em um tripé no quarto deles para tentar gravar qualquer atividade paranormal que venha acontecer enquanto eles dormem, e como diz o ditado “quem procura acha”.
Ele consegue capturar vários fenômenos, como objetos se movendo por si mesmos, luzes e televisores ligando e desligando, sons de vozes, grunhidos, passos e pancadas, tudo para aumentar gradativamente o cagaço do espectador, que desse ponto em diante está vidrado a olhar para a tela.
O grande mérito de Atividade Paranormal é nos transportar para um mundo completamente real, e mostrar uma situação que poderia estar acontecendo ali na sua rua ou no bairro vizinho. Não há meninas saindo de dentro de televisão nem tampouco japonesas malucas andando pelas paredes, e sim objetos caindo sem razão pela casa e pancadas na calada da noite, fatos que, se você pensar direitinho e puxar pela memória, vai ver que já aconteceu com você alguma vez na vida.
O elemento sobrenatural, claro, aparece quando Katie começa a sofrer transes no meio da noite, o que nos leva a acreditar que tem algo mais ali do que simplesmente um espírito zombeteiro curtindo com a cara do casal. Como ela mesma afirma para o médium no começo do filme, ela sente uma presença próximo a ela desde pequena, e a “coisa” não vai descansar enquanto não possui-la totalmente.
Vai, pode admitir. Você arrepiou agora, fala a verdade!
Embora tenha ficado com o meu orifício anal na mão com o primeiro filme, devo admitir que não me tornei um aficionado pela série logo de cara, e só fui ver a sequência de Atividade Paranormal recentemente.
Quando os números na frente dos títulos começam a aumentar, em geral isso pode significar duas coisas: Ideias abundantes dos criadores que precisam de mais de um filme para contar sua história ou um aumento proporcional da ganância dos produtores em fazer mais dinheiro em cima do público que comprou a ideia da primeira parte. Quando é o segundo caso, nem vale a pena dar uma conferida, vide as sequências de o Chamado, O Grito e Jogos Mortais.
OK. E não é que fui surpreendido novamente?
A sequência é muito boa!
O foco do segundo filme agora é na irmã mais nova de Katie, Kristi (Sprague Grayden) e sua família, o marido Daniel (Brian Boland), a enteada Ali (Molly Ephraim), a empregada mexicana Martinez e o pequeno Hunter, o único homem nascido na família desde 1930.
Dirigido dessa vez por Tod Williams, Atividade Paranormal 2 mantém tudo que foi sucesso no primeiro, mas acrescenta outros elementos que ajudam a incorporar maior vivacidade ao enredo, como a sempre presente esperteza adolescente, representado por Ali (que por sinal, me fez passar o filme todo pensando numa certa pessoa parecida com ela).
Em primeiro lugar, devo acrescentar que pirei no estilo da casa da família. Todo o cenário me apetece. Adoro casas de dois andares, gosto de escadas e de espaço amplo, e se a casa usada para as locações fica em um subúrbio (assim como a do primeiro filme) estadounidense, fico imaginando como seria uma casa no centro de San Diego!
Notas inúteis à parte, o clima tenso é instaurado na família quando de volta de um passeio eles encontram a casa toda revirada. Pensando se tratar de um assalto (embora nada desapareça da casa, exceto um cordão dado a Kristi por Katie), Daniel, que é um dos sócios do Burger King (que beleza! Ter whooper em casa todo dia, já pensou??) decide instalar (claro) um sistema de câmeras pela casa e fora dela, na tentativa de torná-la mais segura.
Diferente do primeiro, que já joga toda a real situação na cara do espectador, contando que Katie já é meio perturbada desde o começo, o segundo filme demora a nos mostrar que há algo de errado naquela casa (ou com os moradores dela), e é através das câmeras, sem que os personagens tomem ciência de tais fatos, é que nós, do lado de cá, começamos a perceber certos [VOZ DE PADRE QUEVEDO ON] fenômenos parapsicológicos [VOZ DE PADRE QUEVEDO OFF] que fazem com que a cadela Abby fique latindo para o nada ou que o bebê Hunter fique parado olhando estaticamente para o vazio em plena madrugada em seu berço.
Cachorros e bebês. Dois elementos que funcionam muito bem para nos deixar naquela aflição enquanto vemos o filme, e que faz aumentar o cagaço de que algo terrível possa acontecer.
De “fantasmas” que só parecem atrair caninos e bebês até então, a situação degringola e é Kristi que começa a ser vítima de certas “armações” zombeteiras, sendo inclusive arrastada escada abaixo pela mesma entidade que passa a se tornar mais presente dentro da casa.
Assustada, Ali começa a pesquisar na internet casos e fenômenos parecidos, e descobre que alguém na família pode ter feito algum pacto para se tornar rico e poderoso, e que esse demônio (ou entidade, como queiram) está ali para cobrar o favor. O sacrifício envolve o primeiro homem nascido na família desde o pacto (Corra, Hunter, corra!!) e não haverá sossego enquanto a dívida não for paga.
Curiosamente, gostei mais do clima do segundo filme do que do primeiro, e os personagens me pareceram mais carismáticos também, embora a fita seja um pouco mais cansativa que a primeira, te deixando naquela tensão à espera de que algo voe na câmera ou apareça de fundo do cenário.
A sensação de desespero vendo o bebê andando sozinho pela casa com a irmã presa do lado de fora é indescritível. Quem tem criança em casa deve ter sentido um nó se formando na garganta vendo essa cena.
Atividade Paranormal 2 custou 3 milhões de doletas (um valor mais polpudo se compararmos com a produção anterior) e rendeu apenas nos primeiros 3 dias de lançamento mais de 41 milhões de Dólares só nos Estados Unidos.
Embora aqui eu tenha invertido a ordem para que o post fizesse mais sentido para você, caro padawan, eu assisti Atividade Paranormal 3 antes do 2, e fiz questão dessa vez de ver o filme no cinema.
Para começar, é importante salientar que os sustos são otimizados diante da tela grande, e aquela apreensão no escurinho da sala de projeção e a tensão visível em todos sentados à sua volta é muito bacana. Sem falar nos gritos ocasionais das meninas e nos pulos da poltrona dos marmanjos.
É hora de desvendarmos o que ocorreu na infância de Katie e Kristi, e pegando uma carona no túnel do tempo chegamos a 1988, onde o jovem casal Julie e Dennis divide uma casa com as filhas, que têm na história por volta de 8 e 5 anos respectivamente.
A família vive uma rotina aparentemente tranquila na espaçosa casa, até que a pequena Kristi começa a conversar com um amigo “imaginário” chamado Toby.
A partir do aparecimento desse “amigo oculto” coisas estranhas começam a acontecer na casa, desde terremotos a movimentação de mobília. Intrigado com um espectro que parece se revelar por alguns minutos quando uma poeira cai do teto durante o suposto terremoto, Dennis é convencido pelo amigo Randy a instalar câmeras pela casa, a fim de captar mais daqueles estranhos fenômenos, e é aí (repetindo o mantra do "quem procura acha") que mais estranhezas começam a acontecer, tirando a paz da até então pacata família.
Dessa vez, ao contrário dos outros dois filmes, é a esposa que não acredita que existe algo sobrenatural na casa, e demora até que Dennis consiga convencer Julie de que há algo errado com Kristi e seu amigo Toby. Os primeiros sinais ficam evidentes quando um símbolo ritualístico surge rabiscado dentro do armário das meninas, fazendo com que Dennis saia à procura de mais provas em livros sobre misticismo emprestados por seu amigo Randy, que chega a presenciar junto da menina Katie um dos fenômenos, na clássica cena da Bloody Mary em frente ao espelho.
Quando Dennis descobre que o símbolo riscado no armário pertencia a um ritual de bruxas que faziam lavagem cerebral em jovens, ele tenta alertar a esposa, mas Toby está cada vez mais incontrolável e começa a aprontar “diabruras” com as duas meninas, bem como com o próprio casal. Atormentados pelos fenômenos sobrenaturais, eles decidem fugir para a casa da mãe de Julie, o que se mostra ser, mais tarde, a pior ideia que eles podiam ter na vida.
Pensando mais friamente no filme pouco depois, vemos que o roteiro apresenta certos furos que obviamente não foram pensados previamente. Assim como há relações claras entre os três filmes, fazendo-nos entender melhor o enredo e o porquê de certas coisas acontecerem, há também grandes falhas, como Micah no primeiro filme ter mencionado a mãe de Katie como se ela ainda estivesse viva.
Outro ponto que me incomodou foi a forma como Katie e Kristi parecem não se lembrar de tudo que lhes aconteceu na infância nos primeiros filmes, salvo a presença sobrenatural do tal Toby.
Fica bem claro, no entanto, que a vó das meninas é a causadora de toda a maldição que assola a família, e que ela provavelmente é o elo que Ali encontra no segundo filme ao pesquisar na internet.
O que não fica muito bem explicado é que tipo de poderes ela tem, qual o seu controle sobre Toby e o que ela faz com as meninas depois do ato final do terceiro filme.
Concordo que ainda há alguns fatos que precisam ser melhor explicados, mas sinto que um quarto filme e posteriores sequencias venham a desgastar a ideia da franquia, fazendo com que ela perca seu valor como assim aconteceu com Jogos Mortais e as séries Sexta Feira 13 e A Hora do Pesadelo, antes dele. Acho que mais um filme com estilo câmera amadora, filmando cômodos e fazendo o espectador esperar por mais horas de susto gratuito não fará bem à série, e um quinto ou sexto filme deve enterrar de vez a franquia, cansando o público.
A série conseguiu me cativar como poucas conseguiram nos últimos anos (REC talvez tenha chegado perto), e embora os filmes não sejam exatamente um primor de criatividade, nem tampouco obras primas do cinema moderno, fica claro que o que mais atrai é o assunto que neles é tratado. Por mais cético que você seja, deve haver lá dentro em seu íntimo, mesmo que bem escondido, uma curiosidade para saber o que há do outro lado, além da vida.
O que acontece depois da morte? Será que alguns espíritos obsessores têm mesma essa capacidade de interferirem em nossas vidas? Será que existem mesmo demônios que fazem favores para as pessoas e que depois vem cobrá-las, pedindo sacrifícios em troca, possuindo pessoas e fazendo-as perderem o controle de seus corpos?
Caso as respostas sejam positivas, a quem devemos recorrer? Padre Quevedo? Sam e Dean Winchester? Os Caça-Fantasmas? Buffy? Mulder e Scully?
Não sei responder. Só sei que a verdade está lá fora, e que ela não deve ser nada bonita de se ver.
O terceiro filme da franquia fechou o primeiro domingo de exibição nos Estados Unidos com a maior bilheteria de estreia da história do cinema de horror, com US$ 54 milhões, e isso decididamente encerra a questão se haverá ou não uma sequência. Os números dizem por si só.
PS.: Rod Rodman não acredita em bruxas e nem em espíritos obsessores, mas que eles existem, existem.
E agora é oficial. A continuação de Atividade Paranormal estreia no Brasil dia 19 de Outubro, e o trailer da produção é de arrepiar os cabelos do sovaco:
A sinopse de Atividade Paranormal 4 diz o clima que o filme deve ter:
Cinco anos após Katie (Kathie Featherston) matar a irmã Kristi (Sprague
Grayden) e o cunhado Daniel (Brian Boland) e levar consigo o sobrinho
Hunter, eles vivem juntos em um pacato subúrbio. Na casa ao lado vive a
adolescente Alice, que acompanha os passos do garoto sem que ele
perceba, ao menos aparentemente. Até que estranhos eventos acontecem em
sua casa, colocando-a em perigo.
Espero realmente que a franquia não descambe para o mais do mesmo e que traga novos elementos pro público, além de explicar melhor tudo aquilo que ficou meio nublado na trilogia anterior.
Estarei lá, e em breve farei a resenha para o Blog do Rodman!
NAMASTE!