Como muita gente já deve saber, a DC decidiu rebootar seu universo inteiro dos quadrinhos após a saga Flashpoint, criando assim o que começou a ser chamado de Novos 52 (uma referência a quantidade de títulos que a editora passaria a publicar com seus personagens). Assim sendo, tudo que os leitores mais velhos conheciam, ou pensavam que conheciam foi para a vala, e após as confusões do Flash com as linhas temporais (o que pode ser visto no arco Flashpoint e também na animação homônima), tudo se renovou, inclusive os conceitos de personagens que não se alteravam há anos, como o Superman e o Batman.
A animação Liga da Justiça: WAR leva para a tela o primeiro arco
da maior equipe de super-heróis da DC escrita por Geoff Johns e desenhada por
Jim Lee nos quadrinhos, e salvo algumas alterações e adaptações necessárias
para caber em um desenho de quase duas horas, a bagaça consegue ser bem fiel
aos conceitos (ou a falta de) criados por Johns, além de manter a já costumeira
qualidade DC de animação, que sempre superou e MUITO a da concorrência.
Para assistir WAR, em primeiro lugar é necessário se
desprender de tudo o que você achava que sabia sobre os principais personagens
da DC. Esse desprendimento deve ser ao nível mais básico mesmo. As mudanças são
tantas, que eu não me surpreenderia em, de repente, saber que o Batman agora se
chama João da Silva e que ganhou seus poderes de morcego após sofrer uma
mutação benigna!
Sem KY, a introdução da história já nos coloca bem no meio
de uma perseguição a uma criatura “morceguística” que começa a assombrar Gotham
City, raptando pessoas de forma aleatória na cidade. Enquanto a mídia dá
destaque a um suposto “Batman” que começou a tocar o terror na cidade gótica,
cabe ao Lanterna Verde do Setor 2814 Hal Jordan investigar e caçar essa
criatura das trevas. Quando Jordan consegue surpreender o tal “morcego”, o
verdadeiro Batman surge para dizer quem é que manda nessa porra, começando
claro, um conflito com ele (e olhe que dessa vez ele nem se pintou
de amarelo para poder sentar o braço no Lanterna).
O tal morcego assustador na verdade é um parademônio a serviço de um tal de Darkseid (“O que é Darkseid? Uma banda?”, pergunta Jordan), que assim como outros de sua raça estão na Terra, espalhados em diversas cidades como Metrópolis, Central City, etc, etc, para instalar Caixas Maternas que irão abrir portais para o mundo de Darkseid (que nem sei se ainda se chama Apokolips!) e começar uma invasão.
O tal morcego assustador na verdade é um parademônio a serviço de um tal de Darkseid (“O que é Darkseid? Uma banda?”, pergunta Jordan), que assim como outros de sua raça estão na Terra, espalhados em diversas cidades como Metrópolis, Central City, etc, etc, para instalar Caixas Maternas que irão abrir portais para o mundo de Darkseid (que nem sei se ainda se chama Apokolips!) e começar uma invasão.
A velha história de invasão alienígena que reúne uma pá de
heróis para detê-la, nada muito original.
Enquanto a tal invasão começa a se desenhar ao redor do
mundo, a animação começa a nos apresentar os demais personagens. Vemos Diana, a
princesa guerreira em busca de uma conferência com o Presidente dos EUA, Victor
Stone, um astro do futebol americano em busca do reconhecimento do pai, que é
um cientista mega-antenado nos paranauês quânticos e nanotecnológicos, vemos um
Superman pra lá de boçal, que a meu ver, só serve para exibir seus imensos e
inigualáveis superpoderes enquanto come os parademônios de porrada e Billy
Batson, um impetuoso garoto (aparentemente órfão), fã de futebol que esconde
seu poderoso alter-ego Shazam (esqueçam essa de “Capitão Marvel”), o libertando
nos momentos mais desesperadores.
Enquanto posiciona seus soldados meio demônios, meio robôs,
meio a puta que o pariu (sério, não dá pra saber o que eles são!) para abrir
tubos de explosão que darão passagem de seu mundo para a Terra, o onipotente
Darkseid observa tudo de seu universo, lambendo os beiços e mal podendo esperar
para casar com a Mulher Maravilha dominar o planeta azul (sabe-se lá
Deus porquê!).
Sério. A história é toda muito superficial. Não rola nem a
menor tentativa de um aprofundamento sequer razoável acerca do posicionamento
dos personagens ou mesmo de suas características mais básicas. Quem diabos é
Darkseid (“um gigante mau em quem nós vamos sentar a porrada!”), o que diabos
são os parademônios (“soldados rasos que nós vamos despedaçar!”) e o que diabos
esses putos querem com nosso planeta. Há apenas uma linha finíssima de roteiro
que diz “então vem um ser superpoderoso que vai querer dominar a Terra” e mais
nada.
É muito maniqueísmo até mesmo para uma animação infantil!
É muito maniqueísmo até mesmo para uma animação infantil!
Outra coisa que incomoda e muito no desenho, é a
personalidade dos heróis da Liga da Justiça. O intuito dos Novos 52 nos
quadrinhos foi principalmente o de rejuvenescer seu panteão principal de
personagens e mantê-los atraentes para a nova geração de fãs (mais ou menos o
que Joe Quesada e a Marvel fez com o Homem Aranha e o lance do Pacto com o
Mephisto), o que de certa forma funcionou, já que novos leitores foram atraídos
e muitos dos velhos leitores continuaram lendo apenas porque são vermes
desprezíveis para falar mal do material.
A questão é que com esse rejuvenescimento, todos os personagens (com exceção do Batman, que continua sisudo e mal-humorado) se tornaram um bando de adolescentes imaturos com poderes. Não há nada do velho escoteirismo característico na persona do Superman. Ele se assemelha muito mais a um bombadão descerebrado que quer mostrar que seu braço é maior do que os demais do que um defensor da paz e da harmonia. Hal Jordan mais parece um garotão inconsequente do que um verdadeiro protetor de todo um setor espacial (ainda mais do que ele já era nos primórdios de sua carreira ainda nos “velhos 52”). A Mulher Maravilha é uma explosão de impetuosidade e brutalidade, e age mais como uma bárbara do que uma guerreira treinada, pronta para brandir sua espada e decepar cabeças sem medir as consequências. Enquanto pouco do Flash brincalhão do antigo desenho da Liga da Justiça é mostrado, o personagem mais consciente de seu papel de super-herói da animação é mesmo o Cyborg, embora ele se torne um “ciborgue” da forma mais inverossímil possível, após um acidente com uma caixa materna no laboratório onde seu pai trabalha.
A questão é que com esse rejuvenescimento, todos os personagens (com exceção do Batman, que continua sisudo e mal-humorado) se tornaram um bando de adolescentes imaturos com poderes. Não há nada do velho escoteirismo característico na persona do Superman. Ele se assemelha muito mais a um bombadão descerebrado que quer mostrar que seu braço é maior do que os demais do que um defensor da paz e da harmonia. Hal Jordan mais parece um garotão inconsequente do que um verdadeiro protetor de todo um setor espacial (ainda mais do que ele já era nos primórdios de sua carreira ainda nos “velhos 52”). A Mulher Maravilha é uma explosão de impetuosidade e brutalidade, e age mais como uma bárbara do que uma guerreira treinada, pronta para brandir sua espada e decepar cabeças sem medir as consequências. Enquanto pouco do Flash brincalhão do antigo desenho da Liga da Justiça é mostrado, o personagem mais consciente de seu papel de super-herói da animação é mesmo o Cyborg, embora ele se torne um “ciborgue” da forma mais inverossímil possível, após um acidente com uma caixa materna no laboratório onde seu pai trabalha.
Não... Sério? Ele morre na mesa de cirurgia e seu corpo
danificado é reconstituído por tecnologia de Apokolips?
Sério?
A maior decepção da animação, no entanto, é com relação ao
Shazam. Até entendo ele parecer um grandão bobo quando assume o corpo do garoto
Billy Batson (afinal, é isso que ele é, um adulto com mente de criança), mas
nem mesmo os poderes dele parecem condizer com o que eram antes. Pra começar,
sua escala de super-força parece BEM ABAIXO da do Superman (que na animação
possui um nível imbatível de força), uma vez que ele nem faz cócegas em
Darkseid quando começa a trocar socos com ele. Sem falar que agora ele mais
parece um “Homem Elétrico” soltando faíscas a todo tempo ou um “Deus do Trovão”
disparando relâmpagos do que um ser mágico, fonte natural de seus dons. Se
antes o velho Capitão Marvel conseguia fazer frente aos poderes do Superman,
nessa nova versão ele mais parece que foi rebaixado para a segunda divisão dos
heróis, servindo como um saco de pancadas humano.
Falando em pancadas, a violência assume níveis altíssimos à
medida que os heróis percebem que estão perdendo o controle da invasão
alienígena, e que o próprio Darkseid é uma ameaça grande demais para que eles
possam enfrentar. Em um dado momento, Superman é capturado por Desaad, o
puxa-saco principal de Darkseid, e o Homem-de-Aço começa a ser controlado pelas
forças do mal. Enquanto seus acólitos levam o kryptoniano para o lado de lá da
lei, o soberano de Apokolips enfrenta os amigos do Azulão no mano-a-mano,
provando que ele é mais do que eles podem suportar, mesmo todos juntos.
Enquanto o Batman deduz que sem o Superman não há como vencer a luta, e parte sozinho
para tentar libertá-lo, seus Superamigos fazem de tudo para derrotar Darkseid
(inclusive destruir toda a cidade!), chegando aos extremos da violência após um
plano porcamente engendrado pelo imaturo Hal Jordan.
Destaque para o que eles fazem com os olhos do gigante cinza.
Destaque para o que eles fazem com os olhos do gigante cinza.
Liga da Justiça: WAR é um apanhado de clichês mal
desenvolvidos que chega a causar desconforto em certo ponto. Os heróis não
demonstram em nenhum momento sua bravura em combate ou mesmo utilizam de estratégia
para vencer Darkseid. Porra nenhuma! A treta é resolvida na grosseria mesmo, e
perto de seu clímax, o combate chega a ser vergonhoso. Os personagens estão
descaracterizados, e para atingir um público maior, os executivos da DC
decidiram torná-los pitboys anabolizados que não se importam com as
consequências de seus atos, e sim com o resultado imediato. O roteiro parece
que foi escrito por um moleque de dez anos. Eu sei porque nessa idade escrevi
muitos assim!
Não gostei da postura de nenhum dos personagens. Se outrora
eu costumava me sentir inspirado pela força de vontade do Lanterna Verde ou
pela força do caráter do Superman, terminei de ver WAR como se eu tivesse
assistido uma briga de bar sem sentido, onde vilões combatem vilões piores ainda
apenas para medir quem tem o pau maior!
Se esse é o futuro das animações da DC, agora que eles
deixaram para trás de vez todo o passado glorioso da editora, eu prefiro não
fazer parte dele. WAR ainda vale a pena como entretenimento puro. Como de
costume, o ritmo a animação é de tirar o fôlego, os desenhos empolgam bastante,
mas o roteiro é uma bosta. Se você não se importa em ver o Superman matando
parademônios sem qualquer remorso ou ver a Mulher Maravilha feito uma bárbara
em meio a soldados bersekers, você vai adorar WAR. Caso você seja um cara que, assim como eu, está velho demais para essa merda, passe longe. Vá ver o filme do Pelé!
NOTA: 5
NAMASTE!
NOTA: 5
NAMASTE!