14 de setembro de 2010

Política para quem precisa de Política

Dou aula de informática numa escola da Zona Oeste (há quem diga que não é Zona Oeste, mas tabém não é interior) e dia desses um aluno que estava ali apenas para imprimir um trabalho me perguntou se eu sabia o que era política do pão e circo. Isso não tem nada a ver com informática, claro, se fosse uma pergunta sobre Excel, Access ou PowerPoint eu até teria uma resposta na ponta da língua, mas não era o caso. Admiti minha ignorância sobre o termo e respondi que não sabia do que se tratava. Adquirindo um pouco de vergonha na cara mais tarde, fui até site de buscas (popularmente conhecido como Google mesmo) e inseri as palavras chaves. Eis o que descobri:

Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o Imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política "panem et circenses" (não, não é um dos encantamentos do Harry Potter!), a política do pão e circo. Este método consistia em todos os dias dar ao público lutas de gladiadores nos estádios (como o Coliseu) e durante esses eventos eram distribuídos alimentos ao povo. O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo que a população se distraía e se alimentava, também esquecia os problemas e não pensava em se rebelar. Foram feitas tantas festas para manter a população entretida, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano (mais ou menos como o calendário baiano!), e isso claro, fez com que todos se regozijassem.
Pare um instante e leia de novo o trecho acima. Qualquer um com um pouco mais de argúcia irá perceber que há nessa história algo muito semelhante à realidade brasileira. Há exatos 8 anos o Brasil superficialmente vem vivendo uma reconfortante onda de calmaria. O desemprego caiu, a inflação se mantem controlada e o povo está feliz com os avanços, mesmo que pequenos, que vem conseguindo. Antes disso, só se tinha notícias de inflação nos picos, aumento de gasolina, do pão, da carne e até mesmo dos produtos primários que compõem a cesta básica. Era privatização pra lá, aumento de pedágios em rodovias para cá e sob as asas tucanas o Brasil parecia chafurdar-se em uma areia movediça cada vez mais funda. E então surgiu a estrela no horizonte, a estrela branca sobre o fundo vermelho, e todos se regozijaram.
Volte ao trecho da história dois parágrafos acima. Será que estou procurando cabelo em ovo ou realmente estamos vivendo há 8 anos numa política de pão e circo tupiniquim? Se trocarmos o pão pelo "Bolsa Família" e o Circo por Futebol, voilá! Temos exatamente a mesma coisa em terras brasilis. Não é que estamos vivendo numa onda de calmaria onde todos estão felizes e contentes, é que o pão que está sendo entregue de graça faz com que essa onda pareça melhor. Já foi pior? Com certeza, mas acho que passou o tempo de maquiarmos os problemas em vez de resolvê-los, passou o tempo de dar pão e circo para que a população distraída não veja que elas não saíram da areia movediça, apenas pararam de chafurdar nela.

Quantos problemas sociais graves ainda temos no Brasil sem que em nenhuma propaganda política se quer cheguem a ser mencionados? Assisto quase que diariamente o horário eleitoral obrigatório e observo em especial o programa de governo dos presidenciáveis. Nenhum deles até hoje mencionou o problema do tráfico de drogas nas favelas e nos bairros carentes, ou se quer citou os problemas que ainda existem no Nordeste do país, como falta de água, saneamento básico e energia elétrica, algo que num mundo como o atual, é item indispensável. O que vejo são apenas promessas de eleição muito superficiais ou apontamentos de problemas sem que se tenha uma solução no mínimo viável para eles. A população mais atenta está cansada de saber que existem problemas (quando não estão ocupadas no circo da Copa, do Campeonato Brasileiro, nas Olimpíadas...), mas o que sinto falta é de um programa político convincente, com propostas realistas que me tirem de casa no dia 3 de Outubro com a sensação de que estarei depositando na urna a certeza de um futuro melhor. Devo admitir que ainda não tenho um candidato escolhido, mas não porque estou em cima do muro, e sim porque nenhum deles se quer conseguiu me convencer de que irá enfrentar os problemas brasileiros com garra e verdade. Lulismo exacerbado e quebras de sigilos fiscais não me interessam, nem tampouco o comunismo de beira de estrada. Eu quero que apareça um candidato que mostre soluções para problemas que ninguém mais pensa e que resolva de uma vez cada um deles. Alguém que não só mantenha o que já está funcionando como também melhore o que precisa de reparos, e olhe que tem muita coisa!


11 Milhões de famílias brasileiras atualmente são beneficiadas pelo programa do governo "Bolsa Família". Traduzindo isso para o eleitorado teríamos quase que a mesma faixa de votos garantidos para o partido do governo, o que por si só significa que a população está satisfeita com o que tem atualmente. O pão que lhes é dado alimenta e o circo no palanque também não compromete, o que garante pelo menos para mais 4 anos o poder daqueles que o assumiram na intenção de favorecer os mais desfavorecidos, mas que não deixam os interesses próprios ajudarem mais. De fome o povo pelo menos não pode mais reclamar, mas já na educação o buraco é mais embaixo.

Enquanto os presidenciáveis (os da elite e também os do povo) arrotam no horário eleitoral sobre ETECs, FATECs e todo tipo de promessas a longo prazo a respeito de educação, esse mesmo índice vai descendo areia movediça abaixo. O Brasil ocupa a vergonhosa 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional, perdendo posições para países muito mais pobres da vizinhança latina como o Paraguai, Equador e a Bolívia. Em São Paulo temos uma boa distribuição de material escolar, o kit escolar inclui ótimas apostilas, livros e até mesmo o material mais básico como lápis, caneta e caderno, só quem em algumas escolas o kit chega com atraso o que prejudica o trabalho do já desmotivado professor de escola pública e aumenta o desinteresse do aluno. Num país em que tão poucas pessoas leem livros e jornais, onde a cultura não é incentivada e nem praticada e que o ensino anda tão combalido, não é difícil imaginar porque o pão e circo por aqui funciona tão bem. Tenho exemplos claros onde trabalho. Já me deparei com dezenas de alunos que em um exercício de aula confessaram que jamais haviam lido um livro na vida e que não sentem o menor interesse pela leitura, e imagino como esse tipo de situação deve se repetir por todo o Brasil. Hoje, em São Paulo, o governo distribui livros na rede pública, os alunos recebem livros de autores prestigiados como Clarice Lispector e Fernando Pessoa, mas não me surpreenderia se me dissessem o destino que tais obras recebem após a entrega. A realidade é triste, o governo faz pouco e o povo não se interessa nem por esse pouco e o resultado nas urnas em Outubro é previsível. Sobre educação, além do mais do mesmo sobre as Escolas Técnicas (que são sim um bom começo, mas não são a solução do problema) só se houve falar da inacreditável aprovação automática adotada nas escolas de São Paulo. Acabar com isso seria uma ótima medida para formar alunos mais capacitados e críticos, mas será um trabalho árduo para recuperar todos que já foram "beneficiados" por essa aprovação. Só resta rezar para que o próximo governante pense no 88º lugar no índice educacional e tome providências para melhorar essa realidade.

Não faço demagogia e nem sei fazer. Escrevo o que eu sinto, falo sobre o que me incomoda e torço para que o futuro decidido no próximo dia 3 seja o melhor para o país. Não interessa ser o Brasil que atinge altos índices de desenvolvimento econômico se os índices educacionais são os piores possíveis. Pessoas que não adquirem cultura que não buscam se informar sobre política (que eu concordo ser chata) não evoluem e nem tampouco tem o direito de cobrar o que quer que seja mais tarde. Esporte é bom, torcer é bacana, mas a Seleção de Futebol não vai mudar a realidade do povo nas favelas e das crianças seduzidas pelo tráfico. Nem o Corinthians nem o São Paulo irão colocar um prato de comida na sua mesa e nem o Palmeiras irá pagar a sua conta de luz. Eu gosto de futebol, torço em casa pelo meu time, mas sei que isso não passa de uma diversão passageira. O "circo" tupiniquim não deve nos cegar das realidades que nos assolam, não pode nos ensurdecer dos tiros de fuzil disparados na calada na noite e nem das pessoas que não tem nem energia elétrica em suas casas quanto mais um abajur para iluminar seus medos noturnos. Se o mundo não acabar em 2012, a Copa no Brasil em 2014 não será a salvação da lavoura e nem tampouco as Olimpíadas de 2016. Acorde e não deixe que os políticos (sejam eles os amigos da elite ou os companheiros de corruptos) enganem vocês com essa história de que sediar a Copa e as Olimpíadas será o orgulho do povo brasileiro. Orgulho será quando o Brasil deixar de ser um país de miseráveis e de analfabetos (funcionais ou intelectuais) mas por méritos próprios e não por vaidade desse ou daquele partido. O resto é "panem et circenses".


NAMASTE!

9 de setembro de 2010

Review: REC² - Possuídos

Minha vida social anda mais lenta do que o Windows 98, por isso só agora encontrei algo que valesse a pena compartilhar no meu já tão combalido Blog.
Em plena Segunda-Feira, véspera de feriado decidi encarar uma fila considerável no cinema para conferir a mais nova película de terror em cartaz, a tão aguardada sequencia do excelente REC, filme espanhol lançado em 2007.

Filme de terror só tem graça de se ver se for bem acompanhado, por isso levei minha namorada para pular na poltrona comigo com os sustos que eu esperava tomar durante a sessão. Estou esperando pelos sustos até agora.

Pra quem ainda não sabe, o primeiro filme conta a história de uma equipe de TV que acompanhando um dia ao lado do Corpo de Bombeiros da cidade acaba sendo levada até um prédio onde um estranho pedido de socorro é emitido. Enquanto atende a emergência, a equipe de TV se vê presa dentro do prédio junto aos Bombeiros sem entender exatamente que tipo de emergência ocorre por ali. Daí pra frente uma sequencia de fatos bizarros se sucedem levando os personagens e os espectadores a crerem que aquele pacato prédio está infestado de zumbis mortos-vivos.

De original (mas nem tanto assim) o filme trás principalmente a tomada em primeira pessoa. A câmera funciona como nossos olhos e isso faz com que os sustos tenham mais propriedade sempre que um zumbizão surge do nada diante da lente. Devo admitir que fui surpreendido várias vezes na sala de casa e que o suspense pela espera do que vai entrar por aqueles corredores escuros do prédio espanhol todas as vezes que a câmera se vira foi pra lá de interessante. Algo assim só tinha visto em A Bruxa de Blair, que também é um ótimo filme, mesmo que tenha um final em aberto que até hoje me intriga, e exatamente por isso criei uma expectativa alta para REC 2.

A história do segundo filme se passa 15 minutos após o fim do primeiro - é a sequencia mais imediata que já vi para um filme!- e as cenas iniciais só fazem sentido para quem assistiu ao primeiro filme. Quem estava na sala de projeção caído de paraquedas sem ter visto REC 1 provavelmente não entendeu nada, mas o desenrolar do enredo se torna até simplista demais posteriormente o que acaba descartando a necessidade de ter visto o anterior.

Nessa sequencia, de imediato, não vemos nenhum dos personagens já conhecidos na primeira parte da história e são inseridos novos elementos como um fiscal sanitário (que mais tarde descobrimos se tratar de um padre), três soldados de uma espécie de SWAT latina e o pai da pequena Jennifer (a menina que estava com amidalite), que nos é apresentada em REC 1. As câmeras que funcionam como nossos olhos agora, estão fixadas nos capacetes dos soldados que filmam tudo logo que entram no prédio a fim de descobrir porque perdeu-se o contato com os sobreviventes há quinze minutos (lembrando que no filme anterior já havia entrado no prédio um agente de saúde e que dizia-se que o isolamento do local havia sido pela desconfiança de uma contaminação que ocorria ali).

Não se passam nem 20 minutos de projeção e o mundo dos soldados vem abaixo quando eles descobrem que há naquele prédio muito mais do que contaram a eles antes de entrarem. Um deles é atacado e mordido por um "morto-vivo" e seguem-se cenas pra lá de entediantes com uma carga dramática bem falsa a nível novela mexicana por parte dos soldados canastrões. Os companheiros do infectado se desesperam e cobram o falso agente sanitário que enfim revela (de forma rápida e sem graça) qual é sua verdadeira missão ali: achar uma amostra de sangue original da primeira pessoa infectada para se criar um antivirus antes que ele (o vírus) saia daquele prédio.

Não há chance para que nos apeguemos a nenhum dos personagens principais, diferente do que acontece com a repórter vivida pela atriz Manuela Velasco em REC 1. O padre se mostra sensato em só sair dali com uma amostra de sangue do qual ele se incumbiu de apanhar, mas sua missão não o torna o mais simpático dos personagens. Na verdade em certo ponto a gente até torce para alguém matá-lo logo, já que sua presença ali é o que impede que os demais saiam do prédio cheio de zumbis possuídos. Os três soldados tampouco mostram qualquer carisma, o que igualmente nos faz desejar que alguém alivie logo seu sofrimento. Em certo momento eu mesmo proferi: "Esse filme não vai durar muito, eles vão morrer logo.", mas ele durou um pouco mais do que eu imaginei.

Pra resolver essa falta de personagens carismáticos, eis que surgem os elementos que nunca faltam em um filme de terror: adolescentes. Repentinamente começamos a ver um outro lado da história, o de fora para dentro, e três jovens curiosos entram no prédio por um local nada peculiar: o escoamento de esgoto. Munidos de uma câmera (REC ² não nos deixa de fora da ação nunca) eles adentram o prédio sem a menor noção do que se passa ali e são jogados imediatamente no fogo cruzado entre um bombeiro e os zumbis. Quando eles percebem no que se meteram já é tarde demais e eles assim como os demais "visitantes" começam a lutar por sobrevivência, tentando impedir que dentes infectados se cravem em seus pescoços.

As reviravoltas no roteiro são pequenas, mas a missão do filme que é causar medo não se cumpre mais como seu antecessor. Em nenhum momento me assustei com os possuídos e as únicas cenas impactantes do qual me lembro são os infanticídios cometidos pelo padre (amém!) no decorrer da fita. Algumas cenas são bem previsíveis até, os sustos quase podem ser antecipados um ou dois minutos antes e nem mesmo o efeito "câmera na mão" parece mais tão inovador. O filme se desenrola quase como um grande mais do mesmo, e fora a cena final, quase todo o resto já parece que foi visto anteriormente. Não chega a se tornar enfadonho, mas também não nos apresenta grandes novidades, exceto talvez, a morte de uma das antigas moradoras (a mãe da Jennifer, agora zumbi) com fogos de artifício e a própria origem dos zumbis, que na verdade não são zumbis, nem mortos-vivos. As pessoas "desestabilizadas emocionalmente e fora de si" (para não ofender) são na verdade possuídos, como o subtítulo do filme entrega. Por outro lado essa premissa é intrigante já que os criadores do filme, Jaume Balagueró (que também assina a direção) e Paco Plaza tentam nos passar de que não há infecção virótica. Se aquelas pessoas não estão infectadas por um vírus propriamente dito e sim "endemoniadas", como o padre diz precisar de uma amostra de sangue para criar um... antídoto? Eu diria que isso é um furo de roteiro.
De impressionante tanto nesse filme quanto em seu precursor eu acho a maquiagem da "menina" Medeiros, a primeira hospedeira do "vírus". Procurei por notícias de bastidores para saber se ela é gerada por computador, se é alguma animação ou se ela (ou ele, sei lá!) é mesmo daquela forma tão... magra! De repente pode ser também um efeito visual muito bem feito, mas se for o caso, acho que REC ² - Possuídos deve ser indicado e vencer o Oscar de melhor maquiagem ou o de efeitos visuais.
Fico no aguardo dos filmes que virão na sequencia (REC 3 - Genesis e REC 4 - Apocalipse), mesmo que esse já não tenha me empolgado tanto assim e espero que os roteiristas caprichem dessa vez para que a série REC não se perca pelo caminho como tantas outras séries de filme de terror que não nos mostram mais nada de novo. O cinema como um todo carece de novas ideias, remakes e requentamento de conceitos antigos já não nos satisfazem mais.
Nota: 7

Confiram o trailler de REC 2 - Possuídos.



NAMASTE!

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