28 de janeiro de 2013

Top 10 – A Trilha Sonora de Tarantino



É quase impossível desassociar os filmes de Quentin Tarantino das trilhas sonoras que ele meticulosamente seleciona para as cenas que escreve. O diretor de 49 anos nascido no Tennessee já divulgou em entrevistas que chegou a basear cenas de seus filmes em músicas que ouvia desde moleque (quando em geral, acontece o contrário no processo de criação de filmes), e olhe que o repertório musical de Tarantino é tão vasto quanto seu conhecimento de cinema!

Quem não se lembra logo de Tim Roth e Amanda Plummer (Pumpkin e Honey Bunny) anunciando um assalto na lanchonete em Pulp Fiction quando toca "Misirlou" de Dick Dale, ou sai pra dançar um Twist ao som de "You never can tell" de Chuck Berry feito John Travolta e Uma Thurman? Ou ainda, quem é que não se lembra logo de Elle Driver caminhando pelo corredor de um hospital vestida de enfermeira pronta a dar cabo de Beatrix Kiddo enquanto assovia o infernal "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann na primeira parte de Kill Bill?

Os filmes de Tarantino estão intimamente ligados à música, e a dura missão desse Top 10 é elencar as melhores trilhas dentre tantas (deixando com um grande pesar obras-primas de fora da lista), as que mais possuem significado para as cenas ou simplesmente aquelas que não podiam ser deixadas de fora.

Aumente o volume e divirta-se!



Death Proof (Prova de Morte) faz parte de um projeto em que Tarantino aliou-se ao amigo (menos talentoso) Robert Rodriguez para recriar filmes de gênero Grindhouse, aqueles em que normalmente as mulheres protagonizam e que são produzidos com um baixo orçamento. 

Apesar de ser o filme menos inspirado da carreira do diretor, Death Proof ainda traz cenas memoráveis, entre elas a embalada pela música “Hold Tight” da banda britânica dos anos 60 Beaky/Dave Dee/Dozy/Mick/Tich, ou simplesmente “DDDBMT”.

Como não podia deixar de ser, Tarantino coloca seu conhecimento musical em jogo, e uma das personagens conta a história que envolve a música e o vocalista do The Who, que chegou a ser chamado para integrar a tal DDDBMT. É impossível não mexer a cabeça pra cima e pra baixo enquanto esperamos o choque eminente do carro à prova de morte do Dublê Mike (Kurt Russel) e o das amigas da Julia Selvagem (Sydney Tamiia Poitier) ao som de “Hold Tight”!



Essa é sem dúvida uma das cenas de acidente de carro mais fantásticas do cinema!



Se Death Proof é o filme menos inspirado da carreira de Tarantino, Jackie Brown é aquele que tem menos a cara de Tarantino, e isso se deve bastante ao fato de que o roteiro não é escrito baseado em uma história criada por ele.

Apesar do ritmo bem mais lento de Jackie Brown, o filme é recheado de referências ao universo “nigger” e a Blaxploitation, movimento cinematográfico voltado especificamente ao público negro norte-americano, o que inclui muita música Soul e Black.

Enquanto os letreiros sobem (ou descem, vão pra esquerda, direita... enfim!), já somos logo sacudidos pela balada “Across 110th Street” de Bobby Womack, cantor negro cujas músicas principais fizeram grande sucesso nas décadas de 60 e 70. A música conta o cotidiano de um personagem negro do gueto onde vive.



Interessante que o filme começa e se encerra embalado por "Across 110th Street", e rola uma certa melancolia enquanto a Jackie Brown (Pam Grier) dirige seu carro cantando tristemente a letra da música, se despedindo do público.



Django, você sempre foi solitário?
DJANGO!
Django, você nunca mais amou novamente?
O amor viverá, oh oh oh...
A vida deve continuar, oh oh oh
Pois você não pode passar o resto da vida se arrependendo

Pra quem não sabe, Django foi um personagem vivido pelo ator italiano Franco Nero na década de 60, e o Django de 2013 dirigido por Tarantino é mais uma homenagem do diretor ao cinema que ele tanto venera.
O tema de Django criado por Luis Bacalov & Rocky Roberts também era o tema do filme original, e a letra da música acabou casando bem com esse novo Django escravo que se livra das correntes para ir atrás de sua amada esposa Brunhilde.

A música é um verdadeiro chiclete, e não há como se livrar de seu refrão e da voz grave de Rocky Roberts uma vez que se ouve.




Django!
Django!



Quem mais além de Quentin Tarantino conseguiria imaginar uma luta entre duas samurais em um cenário cheio de neve, embalado por uma música Disco dos anos 70?

Uma das razões do sucesso desse maluco é justamente essa habilidade única que ele tem em criar esse tipo de amálgama entre coisas que aparentemente não possuem qualquer relação, e que em suas mãos acabam dando certo, a ponto de rolar aquela pergunta “Por que ninguém pensou nisso antes?”.

E não é que "Don’t let me be misunderstood" funcionou direitinho como fundo sonoro para a luta decisiva entre Beatrix Kiddo e O-Ren-Ishii?



Peço perdão por ter zombado de você!”.



"Stuck in the Middle With You" com certeza não é a música mais emblemática do longa metragem Cães de Aluguel (Reservoir Dogs - 1992), o primeiro como escritor e diretor de Tarantino. Quem se lembra do filme com certeza pensa em “Little Green Bag” de George Baker como a trilha definitiva da película, até porque a cena em que os Cães de Aluguel andam em câmera lenta enquanto os atores que os interpretam são apresentados ao público (logo após o diálogo na lanchonete sobre Like a Virgin), ao som da canção, fixa melhor na memória.

A cena onde o psicótico Mr. Blonde (Michael Madsen) tortura e mutila um policial preso a uma cadeira enquanto faz uma dancinha desengonçada ao som de "Stuck in the Middle With You", no entanto, é pra mim, a principal marca de Cães de Aluguel, razão pela qual escolhi essa música para integrar ao Top 10.

Todo o desenvolvimento da cena é espetacular, sem falar na interpretação do ator Kirk Baltz que vive o policial Marvin Nash e a frieza de Michael Madsen, que aliás, vive personagens filhos da puta como ninguém em Hollywood!!



A música cantada pela banda de folk escocesa Stealers Wheel possui trechos como “Estou tão assustado no caso de eu cair da minha cadeira”, “Sim, eu estou preso no meio com você e eu estou me perguntando o que eu deveria fazer” e “Tentando fazer algum sentido de tudo mas vejo que isso não faz sentido”, o que nos faz ter certeza de que as músicas escolhidas por Tarantino não são aleatórias. Elas estão sempre dentro do contexto da história.



Confesso que as trilhas de Tarantino me trouxeram o conhecimento de vários artistas dos quais eu nunca havia ouvido falar (perdão, Mundo!), entre elas The Coasters, a banda de Rhythm and Blues dos anos 50 que toca a deliciosa "Down in Mexico".

A cena antológica onde a personagem Arlene “Butterfly” (Vanessa Ferlito) sensualiza diante de Dublê Mike (Kurt Russel) em um show de Lap Dance ao som de "Down in Mexico" em Death Proof já entrou para os “anais” da história do cinema! E como entrou!



“De repente, caminhando com essa garota
Joe começa a tocar com uma Latina
Em torno de sua cintura ela usava três meias arrastão
Ela começou a dançar com as castanholas
Eu não sabia exatamente o que esperar
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço
Começamos a dançar por todo o chão
E então ela fez uma dança que eu nunca vi antes


Dança nota 10!


Kill Bill é o filme com o maior repertório musical de Tarantino, e penso cá comigo que daria para fazer um Top 10 apenas da Trilha Sonora dos dois filmes sobre a Noiva. Exatamente por essa dificuldade em escolher as melhores músicas do filme, deixei me guiar pelo meu instinto, e a meu ver, não há música presente em Kill Bill mais emblemática que "Malaguena Salerosada banda “chicana” Chingon, de Robert Rodriguez.

A letra fala de um pobre rapaz que é feito de gato e sapato por uma garota rica, e mesmo não tendo porra nenhuma a ver com o enredo do filme e só tocar na cena final, quando então Beatrix já derrotou Bill e recuperou a linda B.B, mesmo assim ela representa a alma do filme, que é um misto absurdo de várias culturas, bem ao estilo Tarantino de fazer cinema.  



“Que bonitos ojos tienes
Debajo de esas dos cejas”


Patti Smith é considerada a “poetisa do punk” e começou a fazer sucesso na década de 70, onde então despontou para ser uma das cantoras mais influentes do Rock and Roll.
Minha paixão por “Baby It’s You”, que faz parte da trilha de Death Proof foi imediata, e desde então a música não sai mais da minha playlist diária, entrando inclusive nesse Top 10 na posição de Bronze




Que voz maravilhosa tem essa mulher!


Hoje não existe viva alma que não conheça a balada “Girl, You'll Be a Woman soon”, mas na década de 90 nem mesmo o Urge Overkill devia acreditar nessa canção, algo que foi completamente alterado quando Tarantino decidiu acrescentá-la ao soundtrack daquele que viria a ser seu filme de maior sucesso.

Pulp Fiction é meu filme favorito da carreira de Tarantino, acho difícil que o diretor consiga superar algum dia o que ele fez com esse longa, mas além de toda a estética criada, da popularização do roteiro não-linear e da restauração das carreiras de vários artistas, Pulp Fiction deixou marcado em nossas vidas principalmente as canções que embalam suas cenas.



Como esquecer a overdose de Mia Wallace e as divagações de Vincent Vega sobre comer ou não comer a mulher do chefe enquanto "Girl, You'll Be a Woman soon" toca na vitrola?


Mia Wallace e Vincent Vega são chamados ao palco do Jack Rabbit Slim’s para um desafio de Twist. A esposa de Marsellus Wallace os apresenta, e enquanto a banda se prepara para tocar, Vega tira os sapatos, iniciando em seguida uma das cenas mais reconhecidas e imitadas do cinema. A carreira decadente de John Travolta sofreu um "Boom" e Quentin Tarantino havia criado uma verdadeira obra-prima, nos dando doses cavalares de drogas, rock and roll e violência. Muita violência.  

Chuck Berry é considerado um dos pais do Rock N' Roll, uma lenda da música mundial e dispensa apresentações, e "You Never can tell" é com certeza uma das suas obras mais memoráveis de todos os tempos, que acabou sendo imortalizada de vez em uma das cenas mais emblemáticas do cinema. Palmas para Tarantino pela escolha. 



Confessa que você já imitou os passos do Travolta nessa cena alguma vez na vida, vai!



Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:






NAMASTE!

25 de janeiro de 2013

Review - A Essência do Medo

O Post abaixo contém SPOILERS sobre a referida Saga!


A falta de originalidade nas Histórias em Quadrinhos tem se tornado uma constante nos últimos tempos, e o que os leitores têm visto com relação aos personagens com que cresceram admirando, é um esgotamento das boas ideias. Tanto Marvel quanto DC, parecem ter atingido o fundo do poço criativo, e tanto uma editora quanto a outra, não consegue mais nos presentear com histórias boas e divertidas, cometendo o pecado de repetir as mesmas fórmulas (que já não dão certo) Ad Infinitum. Por que continuamos consumindo esse material então? Paixão? Loucura?

Talvez um pouco das duas coisas.

Recentemente terminei de ler A Essência do Medo, a última Mega Saga da Marvel que “mudou para sempre o Status Quo da Editora e blábláblá”, e honestamente, essa foi uma das séries mais fracas que li nos últimos, sei lá, dez anos.


Escrita por Matt Fraction, um dos “Arquitetos” da Marvel atual, e desenhada pelo talentoso Stuart Immonen, A Essência do Medo mais parece um grande apanhado de boas ideias que não deram certo do que necessariamente uma boa Mega Saga como foi, por exemplo, Guerra Civil, de Mark Millar

Sério! Nem mesmo os momentos mais impactantes do arco (e devem rolar só uns dois ou três em 8 edições!!) conseguem marcar o leitor (sem falar que um deles é desfeito no fim da saga!), e o resto não passa de um falatório sem fim, que torna os personagens envolvidos maçantes e dispensáveis.


Nada contra bons diálogos, claro, mas Fraction não é um Michael Bendis que consegue nos entreter mesmo quando seus personagens mais falam do que agem. Ele não consegue nos manter interessados em seu texto, e pra piorar, suas cenas de ação não são bem descritas, o que parece que está sempre faltando alguma coisa na narração, e que tudo foi feito para que tivéssemos apenas uma visão parcial e superficial do que está acontecendo na história.


A Essência do Medo conta a busca de Pecado, a filha do falecido Caveira Vermelha, por um artefato místico que seu pai fracassou em possuir na época da Segunda Guerra, e que a faz conquistar o poder de Skadi, a verdadeira herdeira do Deus Serpente. Dotada de um martelo místico parecido com o Mjolnir de Thor, o recém-liberado avatar da deusa de cara vermelha sai em busca da libertação de seu pai nas profundezas do mar, onde ele fora aprisionado pelo próprio Odin há milênios. 


Enfim livre de sua prisão submarina, o enfraquecido, porém não indefeso Pai Supremo resolve “tocar o terror” na Terra, convocando com seu poder os Sete Dignos, sete martelos que caem em nosso mundo dispostos a carregar de energia mística aqueles que atenderem seu chamado. Assim sendo, O Fanático, O Hulk (que está no Brasil!), Titânia, Homem Absorvente, Attuma, Gárgula Cinzento e o Coisa são transformados nos arautos da destruição da Serpente, e conforme eles conclamam o caos e o medo ao redor do Globo, mais o Pai Supremo se revigora, o que o torna cada vez mais apto de confrontar seu próprio irmão Odin, aquele que usurpou seu lugar ao trono de Asgard.

Nul (Hulk), Kuurth (Fanático) e Mokk (Gárgula Cinzento)

Véi!! Irado!! Agora o pau vai comer solto entre os heróis e vilões!! Hah! Essa vai ser a melhor história de todos, Todos, TODOS os tempos!

Pois é. Esse prelúdio nos dá mesmo essa sensação, mas a expectativa criada não é nem de longe satisfeita pelo texto chato e enrolado de Matt Fraction.

Pontos Negativos

Matt Fraction tinha de longe, um dos melhores argumentos para um quebra-pau de responsa entre heróis e vilões, e esse argumento era tão forte, mas tão forte que ele meio que entrou em parafuso, sem saber exatamente o que fazer com ele.


Desta vez os heróis Marvel (leia-se Vingadores) não iam enfrentar meros vilões da Terra. Quem estava do outro lado do ringue eram deuses poderosíssimos, o que acabou “apequenando” em excesso personagens como Homem Aranha, Punho de Ferro, Luke Cage, Mulher Aranha e Doutor Estranho, os Vingadores buchas preferidos do Brian Michael Bendis. Diante de tanto poder e tanta destruição, a meu ver, morreram poucos personagens, visto que eles não eram mais do que moscas zunindo no ouvido de caras como os Sete Dignos, de Skadi e do próprio Pai Supremo.

Os Vingadores de Brian Bendis X Skadi no traço de John Romita Jr.

Só a chamada Blitzkrieg (algo como uma ação repentina e feroz ao inimigo) já parecia demais para que os Novos Vingadores de Luke Cage pudessem enfrentar (que na edição solo dos heróis, contam ainda com o “reforço” do Demolidor!), e diferente do que Matt Fraction alardeou em entrevista (aqui publicada na edição A Essência do Medo – Prólogo – O Livro da Caveira), nós precisamos sim, acompanhar os tie-ins da saga para entender melhor a história. Eu que só acompanhei os tie-ins publicados na revista dos Vingadores, nem pude perceber a dimensão dos poderes dos outros Sete Dignos, como o Attuma, A Titânia ou o Homem Absorvente. 


Até mesmo as armas forjadas pelo Homem de Ferro em Asgard para que os Vingadores tivessem alguma chance contra a turma da Serpente, bem como os poderes que elas despertavam em quem as usava, foram ridiculamente exploradas dentro da história. Como eu disse, tudo ficou muito superficial.


Como é de se esperar, os Vingadores levam um sacode da turma de deuses, mas o único que acaba pagando com a vida é mesmo Bucky Barnes, que é arrasado por Skadi em uma cena bem chocante.

A morte do Bucky consta como um dos momentos mais impactantes da série, mas dessa vez a Marvel nem espera uma nova Mega Saga para trazer o personagem de volta, e o responsável pelo ressurgimento do Bucky (lá na saga Soldado Invernal) Ed Brubaker o levanta do túmulo mais uma vez na última edição da Essência do Medo, a meu ver, a mais bem escrita de todas.  


Palmas pra Marvel! Um dos melhores momentos da saga é simplesmente desfeito ao final dela!

Outro que “morre” e ressuscita na mesma edição é o Coisa, que enquanto está possuído pelo martelo de Angrir o Destruidor de Almas, é atravessado pelo Mjolnir de Thor, ficando a beira da morte. Claro que o semideus Franklin Richards resolve esse problema, o que ele não consegue melhorar é nossa cara de bunda vendo uma solução de roteiro tão covarde como o “toque mágico” do menino, que salva a vida do tio.

Lembrando que foi culpa de Franklin também a Saga Heróis Renascem... Mas é melhor nem comentar, afinal, é mágica, não precisa de explicação.

E o escudo do Capitão América que agora todo mundo consegue destruir?


Antigamente havia duas coisas nos quadrinhos da Marvel que todos precisavam respeitar: O escudo do Capitão América é inquebrável e o Martelo do Thor é invencível.

Atualmente, qualquer supervilão de quinta consegue destruir os dois. E o que é pior. Qualquer um consegue consertá-los em seguida.


Os momentos de vergonha alheia em A Essência do Medo são vários, mas não pretendo me estender mais, correndo o risco de me tornar tão enfadonho quanto o texto do Fraction. A série tinha um bom potencial inserindo na mitologia de Thor um personagem do passado de Odin que só ele mantinha conhecimento, e que não só estava em busca de vingança contra o irmão, como também seria o responsável pela derrocada de seu filho mais querido. Porém, no entanto, todavia, A Essência do Medo tornou-se apenas mais uma série esquecível e que NÃO VAI MUDAR NADA no Status Quo da Marvel, tendo ela própria revertido todos seus maiores momentos.


Mas Rodman, o Thor continuou morto ao fim da história!

Vamos ver até quando, uma vez que o personagem já pode ser visto em imagens promocionais da chamada “Marvel Now” que começa esse ano lá nos States.


Claro que nem tudo é um desperdício total de papel, e rolaram alguns bons momentos na história, em especial com relação a Steve Rogers, que com a “morte” do Bucky reassume o escudo e volta a se chamar de Capitão América, servindo mais uma vez como o pilar de sustentação dos Vingadores. Sua coragem em enfrentar Skadi mesmo sabendo o quão grande é seu poder e sua bronca em Odin, que pasmem, dá uma arregada pro velho soldado estrelado, é lindo de se ver. A porradaria entre Thor e Hulk e o Coisa (ao mesmo tempo), também é bem empolgante, pena que acaba rápido demais, quase como um daqueles coitos interrompidos depois de um dia todo de expectativa.


Destaque também para os desenhos de Stuart Immonen que conseguiu tornar a história bem dinâmica com seu traço limpo e fluído. Por várias vezes, sua arte se assemelha a de outro fera da Marvel, Olivier Coipel, do qual também virei fã, como já mencionei no Review sobre o Cerco, e o cara tornou a história suportável de se ler. 

Não me importo que a Marvel leve meu dinheiro com o meu consentimento, desde que ela me apresente no mínimo histórias bem escritas e bem desenhadas, e que acima de tudo, eu não esqueça no momento seguinte em que li. Tive que ler A Essência do Medo mais de uma vez para tentar memorizar o que acontece em suas páginas, e isso é um mau sinal de o quanto ela é descartável!

NAMASTE! 

20 de janeiro de 2013

Eu vi Django - Livre



Eu era novo demais para assistir Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994) nos cinemas, não houve a badalação necessária sobre Jackie Brown (1997) para que eu me empolgasse em vê-lo e Kill Bill (2003 e 2004) chegou tarde demais a meu conhecimento para que eu pudesse prestigiá-lo diante da tela grande, mas eu tive o prazer de ver Hitler sendo fuzilado em Bastardos Inglórios (2009) dentro do cinema e mais uma vez tive a honra de ver uma obra-prima de Quentin Tarantino na semana de estreia com Django Livre.  E não, o cara não me decepcionou!

A nova e elogiadíssima empreitada de Quentin Tarantino conta a história de Django (Jamie Foxx), um negro escravo que é alforriado por um misterioso caçador de recompensas alemão chamado King Schultz (Christoph Waltzenquanto é transportado por seu “Sinhô” em algum lugar do Texas americano do século XIX. Django tem uma valiosa informação que renderá a localização de três cruéis irmãos que estão sendo procurados pelo caçador de recompensas, e à medida que ele passa conhecimento sobre seu Modus Operandi ao ex-escravo, mais eles vão se tornando companheiros.


Uma vez que ambos conseguem punir os irmãos Brittle (dentre eles M.C Gainey, o Tom Friendly de LOST), que têm como esporte preferido chicotear escravos, Schultz oferece uma parceria a Django em suas caçadas, ao qual eloquentemente ele responde:

“Matar alguns brancos e ainda receber por isso?? Como não aceitar?”

Daí pra frente os dois caçadores saem em busca de mais recompensas pelo Sul, enquanto esperam o momento propício para resgatar Brunhilde (Kerry Washington), a esposa que Django não vê desde que foram separados ainda na senzala, das garras do poderoso fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).


Eu sou muito suspeito para falar de um filme dirigido por Quentin Tarantino porque sou um grande fã de tudo que ele fez até agora, e a meu ver, Django é mais um acerto na consagrada carreira deste, que hoje, é com certeza um dos melhores no ofício que exerce.

O filme não é só uma grande homenagem ao estilo Western, mas é também um apanhado muito grande de referências cinematográficas, daquelas que Tarantino sempre gosta de colocar na tela para deleite da plateia. Ele criou um estilo de filmagem único e uma linha narrativa de roteiro imbatível, que faz o público gargalhar ao mesmo tempo em que corpos e cabeças são explodidos em cena, num banho de sangue crível e ao mesmo tempo bem inserido na tela.


Em Django, são os diálogos e as situações que conduzem a história, e Tarantino não perdeu a mão com o passar do tempo. Pelo contrário. Ele continua sendo o único diretor/roteirista que consegue manter uma plateia empolgada sentada diante de uma tela enquanto duas pessoas conversam simplesmente em cena. Os diálogos afiadíssimos dão ao público a oportunidade de apreciar as atuações memoráveis dos brilhantes atores que o diretor escolhe a dedo para seus papeis, e como não podia deixar de ser, Christoph Waltz, o homem que nos fez torcer por um nazista com seu Hans Landa de Bastardos Inglórios, retorna tão inspirado quanto em seu papel anterior, criando as melhores situações de Django – Livre


É impressionante a naturalidade com que Waltz, que na verdade é austríaco e não alemão como Schultz, constrói seus personagens, dando-nos a nítida sensação de que ele está se divertindo em cena. Até que Django assuma o papel como personagem principal do filme, é do Dr. Schultz todo o foco (e isso leva em torno de 45 minutos de filme), o que não quer dizer que ele dá todo o espaço ao companheiro negro posteriormente. É divertido vê-lo atuar (mesmo quando ele se deleita mandando chumbo em bandoleiros), e não me admire que o ator de 57 anos leve para casa o Oscar de Ator Coadjuvante de 2013, assim como levou o Globo de Ouro e o próprio Oscar em 2010, na mesma indicação.


Outro que se destacou e muito em cena foi o sempre surpreendente Leonardo DiCaprio, que deixou há muito tempo a sombra congelante do garoto Jack de Titanic para trás. Mesmo o cara já tendo trabalhado com nomes como Martin Scorsese em cinco filmes e consolidado uma carreira forte de ator ao longo dos anos, dá-se a impressão de que ele sempre tem que provar que ele não é só mais aquele “rostinho bonito” de Titanic. Em Django, como o vilão da história, ele se sai muito bem em cena, contracenando de igual pra igual inclusive com Christoph Waltz e Samuel L. Jackson, esse aliás, impagável como um velho serviçal da família de Calvin Candie. Seus papeis de “estressadinho”, como em Os Infiltrados (2006) sempre fizeram sucesso, e em Django ele acaba puxando um pouco dessa característica, embora seu personagem tenha na ponta da língua o texto sagaz de Tarantino, desta vez, o que lhe confere várias possibilidades de interpretação.


Não há nenhum elo fraco na escolha de elenco, e todos estão muito bem em suas atuações, incluindo o oscarizado Jamie Foxx, que nos faz torcer por seu herói negro e que nos faz igualmente querer vingança por tudo aquilo que ele passou em sua vida de escravo. As expressões faciais que Foxx confere ao assustado Django do início do filme, e todo seu controle sob as pressões psicológicas aos quais é submetido pelo personagem de DiCaprio mais tarde, são notáveis, bem como a transformação pela qual o personagem passa quando se torna, enfim, um caçador de recompensas. 


Kerry Washington, que vive a sofrida escrava Brunhilde, que fala alemão e que possui o nome de uma princesa de uma antiga lenda germânica, é outra que não decepciona durante as cenas de tensão e tortura, e na falta de uma heroína como a Beatrix Kiddo (Uma Thurman) de Kill Bill ou a Shoshana (Mélanie Laurent) de Bastardos Inglórios, temos ao menos a mocinha em perigo a ser resgatada pelo herói.


As homenagens de Tarantino aos filmes Western vão além do clima de Velho Oeste, dos cenários belíssimos de um Texas invernal, cowboys e bandidos, e fora a trilha sonora que inclui algumas músicas de Ennio Morricone (compositor que criou as trilhas mais famosas de Faroeste do cinema e que já trabalhou com Tarantino em Bastardos Inglórios) as homenagens continuam com a participação (“amigável”, segundo os créditos) do próprio Franco Nero, o ator italiano que ajudou a popularizar o gênero Western Spaghetti, e que faz uma ponta no filme em uma cena que, dizem, faz uma “crítica velada” ao UFC e todas essas lutas que usam o massacre como espetáculo.


Django – Livre está na lista dos melhores trabalhos de Tarantino, e apesar de nos apresentar situações de certo modo até previsíveis (como o “aperto de mão” de Schultz em Candie), o final de Django com a família Candie ou do banho de sangue exageradíssimo que acaba se tornando o resgate de Brunhilde, o filme é extremamente divertido, além de funcionar como uma aula de cinema moderno, e de como dá para se tratar de um assunto delicado como a escravidão e o preconceito racial de uma maneira respeitosa, sem ter que apelar para a pieguice ou colocar panos quentes demais, como na maioria das vezes acaba acontecendo ao se mexer com temas complicados de se lidar. 
Com Django, Tarantino mostrou que o outro lado, aquele que acaba sendo explorado pela imposição do mais forte, nem sempre precisa ser retratado como a vítima. Foi assim com os judeus vingativos de Bastardos Inglórios e agora com os negros em Django. Quem serão as estrelas do próximo longa tarantinesco? Os homossexuais?


Não é a toa que Tarantino já levou para casa o Golden Globes 2013 de Melhor Roteiro, e que seu filme está disputando cabeça a cabeça o Oscar de melhor filme com o premiado Lincoln de Steven Spielberg, que curiosamente, também fala de escravidão e segregação. 

Estou na torcida para que Django ganhe como melhor filme, ou que pelo menos Tarantino leve o Oscar por roteiro. Ele merece a premiação.



NOTA: 9,5

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