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21 de dezembro de 2020

A melhor série animada dos X-Men

A série animada dos X-Men (X-Men: The Animated Series) estreou no ano de 1992 nos Estados Unidos e foi concluída 5 temporadas depois em 1997. Transmitida pelo canal Fox Kids e tendo sido desenvolvida pela Saban — a mesma produtora que deu vida aos Power Ranges —, a animação foi um marco importante também no Brasil, uma vez que serviu como porta de entrada para muita gente que nunca tinha ouvido falar dos mutantes da Marvel, ou para aqueles que, como eu, tinham poucas referências nos quadrinhos.

Aqui onde a Terra é plana e onde quem toma vacina vira jacaré, o desenho foi transmitido pela Globo na TV Colosso por volta de 1994 e se tornou febre muito rapidamente entre a molecada. Eu já lia gibis há algum tempo quando X-Men estreou na TV, mas confesso que não tinha base quase nenhuma sobre os mutantes criados em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby. Dos personagens que protagonizavam o desenho, eu já tinha visto o Ciclope e o Wolverine*, mas muito por alto numa das capas das primeiras Guerras Secretas, e o restante eu desconhecia completamente. 



Me lembro que na época, eu só tinha uma revista dos X-Men em casa, que meu irmão tinha trazido num dia qualquer — eu comecei a colecionar quadrinhos por causa dele! —, e mesmo assim, ela não era uma das minhas preferidas, já que mostrava o final de um arco que eu não entendia nada e apresentava personagens das quais eu tinha pouco interesse. A edição em questão era a de nº 24 da Editora Abril mostrando o julgamento do Magneto, mas eu ignorava completamente tudo que estava acontecendo ali dentro. Eu era muito fã do Homem Aranha e além disso, eu lia bastante coisa do Capitão América, do Hulk ou do Superman pela DC.



Por causa do desenho, de repente, todo mundo virou fã dos X-Men, até mesmo quem nunca tinha lido um gibi de super-herói na vida! A molecada ficava repetindo os bordões dos personagens na escola e todo mundo pirava com o jeito "violentão" do Wolverine, o que ajudou a popularizar o personagem por aqui também. Como ninguém conhecia porra nenhuma dos mutantes, tudo que mostravam no desenho se tornava automaticamente verdade e eu passei muito tempo achando que o Morfo era mesmo um personagem regular do grupo ou que o Dia de Um Futuro Esquecido tinha a participação do Bishop!



Eu não sei se foi por influência de alguém que comentou nas aulas ou se eu acabei assistindo por conta própria numa manhã qualquer, mas me lembro bem que a primeira vez que percebi que estava assistindo alguma coisa relativa a personagens de quadrinhos — lembrando que eu não conhecia muita coisa de X-Men — foi ao bater o olho na máscara do Wolverine dentro de uma maleta enquanto o episódio 6 da primeira temporada rolava ("Vingança Gelada"). Eu não tinha visto a abertura do desenho e peguei o trem literalmente andando, mas a partir dali, bateu um sinal em minha cabeça de que aquilo era muito bom e eu comecei a acompanhar a série.



É bom lembrar que nos anos 90 qualquer coisa baseada em quadrinhos em outras mídias era algo muito raro de acontecer, o que ajudou a consolidar o sucesso dos X-Men entre os brasileiros. Até então, a gente vivia das reprises que passavam na Sessão da Tarde de Batman (de 1989), o terrível Superman IV - Em Busca da Paz e de outros dois ou três filmes da DC. Da Marvel a gente tinha a série antiga do Hulk — aquela do Lou Ferrigno — e os filmes medonhos do Capitão América que passavam no SBT, mas desenho que rivalizasse com a animação do Batman não havia. 

Como a atualização dos episódios demorava para acontecer, a primeira e a segunda temporada de X-Men foram incansavelmente reprisadas nas manhãs da TV Colosso, a ponto de eu ter as falas do Wolverine praticamente decoradas na memória. Eu lembro que eu tinha aula de Educação Física duas vezes na semana na escola de manhã e nesses dois dias eu tinha que correr para casa para não perder os episódios. 

Outra curiosidade de que me lembro acerca do desenho, é que certa vez a minha mãe falou que era para eu parar de assistir porque "era violento demais". Ela tinha escutado alguns diálogos enquanto varria o quintal e não tinha curtido muito. Não sei bem o que ela ouviu que não gostou, mas o episódio era "A Bela e a Fera" (o episódio 10 da 2ª temporada, "Beauty & Beast"), onde o Wolverine entrava disfarçado no covil dos Amigos da Humanidade e confrontava Graydon Creed, o filho de Victor Creed, o Dentes-de-Sabre.    



Esse episódio era um dos que eu menos gostava na época — talvez porque não tinha tanta ação —, mas reassistindo, percebi que ele é um dos melhores na abordagem de temas como preconceito racial, intolerância ao que é diferente e aceitação. Nele, uma garota cega chamada Carly busca um tratamento experimental criado pelo doutor Hank McCoy para voltar a enxergar, e os dois acabam se apaixonando, mesmo sem ela nunca ter visto a real aparência de Hank, em sua versão azul peluda. Enquanto os Amigos da Humanidade — que é um tipo de grupo radical como os supremacistas brancos, só que contra os mutantes em vez de negros e judeus — tocam o terror buscando mais aliados para sua causa racista, os caras colocam em risco a vida da própria Carly, que precisa ser defendida por Wolverine e o Fera. 



Ainda no mesmo episódio, o pai de Carly é um véio reaça preconceituoso radical que não aceita que sua filha seja tratada por um "anormal mutante" e Hank acaba entrando em conflito consigo mesmo por ter a aparência de um gigante peludo que assusta as pessoas ditas "comuns". Eu não entendia na época que um simples desenho animado podia falar de questões tão importantes de maneira metafórica, mas vendo com os olhos de hoje, é possível traçar diversos paralelos com a realidade que enfrentamos atualmente, em que os mesmos caras que assistiam esse desenho na TV durante a infância e que se diziam fãs dos X-men, criam canais de Youtube ou contas em redes sociais para destilar seu ódio a tudo que é "diferente" ou "foge dos padrões sociais mais aceitos". A galera não aprendeu nada.    

Depois de reprisar muito os episódios — algo que era comum na época quando algum desenho ou série live-action fazia sucesso — eu lembro que assisti muito pouco da terceira temporada na TV Colosso e confesso que nem faço ideia se a quarta e a quinta chegaram a ser transmitidas no programa infantil. O sucesso de X-Men logo começou a dividir espaço com a chegada dos Power Rangers na grade de programação nessa mesma época — ambos sendo televisionados próximo ao horário do almoço — e só muito tempo depois é que a série animada do Homem Aranha chegou para suprir a falta que fazia os mutantes quando o desenho acabou.



Não tem como dizer que X-Men não foi um boom na vida das crianças e adolescentes da época e que serviu para fazer muita gente mergulhar de cabeça no mundo das drogas dos quadrinhos, que na época, estavam produzindo os quinhentos mil títulos dos mutantes e abarrotando os cofres da Marvel. Depois do desenho, eu comecei a correr atrás dos gibis dos X-Men publicados no Brasil pela Editora Abril e comecei a percorrer sebos da cidade para recuperar o tempo perdido. Logo vieram as edições com os roteiros de Chris Claremont e os desenhos do Jim Lee — que fizeram a febre X-Men aumentar em todo o mundo — e além da edição em formatinho e do formato americano lançado mensalmente, ainda tinham os especiais, naquelas versões mais "gordinhas" com 100 páginas. Era muito gibi pra pouco dinheiro, mas a gente tentava colecionar tudo e ler o que os amigos emprestavam. 

Adaptações levadas a sério

Um dos principais atrativos da série animada dos X-Men era a preocupação dos roteiristas em adaptar as várias sagas que os Filhos do Átomo tinham nos gibis para a TV, e até hoje, muitas das melhores transposições de mídias já feitas dos mutantes da Marvel constam nos episódios das cinco temporadas do desenho.



Como eu disse antes, meus conhecimentos de X-Men eram parcos naquele período e muitas das grandes e mais famosas sagas dos mutantes eu vi primeiro no desenho para só muito mais tarde poder ler nos gibis. Eu nunca tinha visto "A Saga da Fênix" escrita por Chris Claremont e desenhada por Dave Cockrum e John Byrne, e os episódios de 3 a 7 da terceira temporada resumem de maneira muito competente o que acontece nos gibis, com uma ou outra alteração para deixar tudo mais "clean" para as crianças entenderem. 



As participações especiais de personagens do mundo dos X-Men também eram muito comuns no desenho e caras como Cable, Bishop, Maverick, Sauron e Sr. Sinistro eu vi pela primeira vez na TV.



Outra coisa bacana que acontecia no desenho e que fazia o meu lado nerd vibrar eram as simples menções ou aparições-relâmpagos de personagens mais conhecidos dos quadrinhos como o Homem Aranha, o Doutor Estranho e o Thor. Nesse quesito, a Saga da Fênix e a Fênix Negra é um desbunde, já que mostra quase todos eles de relance enquanto Jean Grey dominada pelo espírito Ragatanga pela Fênix começa a usar seus poderes. 



Cara! Não havia replay, não tinha como congelar a imagem para ver com mais detalhes depois como os serviços de streaming permitem atualmente e eu lembro que eu só dava aquele salto no sofá enquanto a voz na minha mente gritava "OLHA LÁ O HOMEM ARANHA, CARA!" por um frame que não durava nem dois segundos.



Eu tinha uma lembrança muito vaga de ter visto o desenho do "Homem Aranha e seus Incríveis Amigos" na TV preto e branco de casa, por isso, ver o meu personagem favorito, mesmo que por um microssegundo na tela, era algo que me empolgava bastante!

Algo muito semelhante acontece no episódio "Mojovisão" (o 11º da segunda temporada) em que durante a introdução do Longshot aparece a Psylocke num frame de milésimos de segundo sei lá porque! A ninja da adaga psíquica era figura importantíssima nas HQs na época e não tê-la regularmente no desenho era algo que muita gente questionava. Além desse frame de segundos, ela volta a aparecer só na quarta temporada, num dos episódios da saga "Acima do Bem e do Mal", e mesmo assim é sem qualquer destaque, apenas como mais uma participação especial. 



Quem prestou a atenção também deve ter visto o Deadpool de relance em uma das transformações do Morfo na segunda temporada (episódio 3, "O que for preciso") ou como uma memória residual do Wolverine, que estava sendo atacado psiquicamente pelo "Lado Sombrio" do Professor Xavier na terceira temporada (episódio 4, "A Saga da Fênix - Parte 2")



A fidelidade aos quadrinhos, as participações especiais e o ritmo intenso dos episódios, que apesar de não mostrar tanta violência quanto gostaríamos, fizeram de X-Men: The Animated Series um dos produtos mais felizes dos mutantes em outra mídia, e lembro com saudades dessa época. 



Até hoje o episódio "Uma História da Vampira" ("A Rogue's Tale", o 9º da segunda temporada) é o meu preferido de todos das cinco temporadas, em grande parte porque adaptava uma das minhas histórias preferidas entre X-Men e Vingadores — publicada nos EUA em Avengers Annual #10 escrita por Chris Claremont e desenhada por Michael Golden, mostrando a origem da Vampira — e por causa da aparição da Miss Marvel — que na dublagem chega a ser chamada de "Dona" Marvel —, que eu conhecia das histórias dos Vingadores. Sempre que reprisava, eu dava um jeito de ver e é bom até hoje.  

Problemas na animação

Como qualquer produto de época, é bom lembrar que a qualidade técnica de X-Men: The Animated Series dos anos 90 não deve ser questionada atualmente como se o desenho tivesse que ser perfeito em comparação aos padrões absurdos disponíveis hoje em dia. X-Men Evolution e Wolverine e os X-men, por exemplo, são muito superiores tecnicamente ao clássico desenho noventista, o que nem de longe desmerece o sucesso que a animação fez, trazendo aos espectadores tudo que foi comentado no tópico acima. 



O próprio Evolution tem sim seu charme, apesar de ignorar quase que completamente tudo que acontecia nos quadrinhos — criando um universo próprio para o desenho — e um pouco da fidelidade aos gibis tentou ser reproduzida em Wolverine e os X-Men, embora de maneira mais desastrada por tentar pegar o hype criado pelos filmes da Fox e colocar o Logan como o líder dos mutantes.

X-Men: The Animated Series apresentava problemas de colorização, animação e até de continuísmo que não eram percebidos facilmente pelo olhar de uma criança, mas que atualmente, com mais experiência, chegam a gritar aos olhos. Eu revi boa parte dos episódios antes de escrever esse post e coisas bobas como jaquetas e luvas que somem de uma cena para outra chegam a ser um exercício muito bom de observação. Cansei de contar quantas vezes as "costeletas" da máscara do Wolverine apareciam amarelas em vez de pretas, ou quantas vezes as luvas do Ciclope eram colorizadas com o tom de sua pele, mesmo quando ele estava com o uniforme completo. 

Outra coisa que saltava aos ouvidos, eram as traduções dos nomes de alguns personagens na versão dublada pelo — finado — estúdio Herbert Richards, que ora seguia a tradução literal e outras preferia manter como o original, em inglês. Ao longo das três primeiras temporadas vi o Justiceiro (Punisher) ser chamado de "o Assassino" — o personagem é mostrado na caixa de um jogo de videogame na primeira temporada —, o Mercúrio (Quicksilver) ser chamado de "Raio de Prata" e ao mesmo tempo — e no mesmo episódio — o Havok (que no Brasil é conhecido como Destrutor) e a Wolfsbane (a Lupina) do X-Factor não terem seus nomes traduzidos como nos quadrinhos, sendo chamados por seus títulos em inglês . 



Era muito comum também, às vezes, o adamantium ser chamado de "diamantino" ou "adamantino" na dublagem e dava a impressão que os dubladores não conversavam entre si ou com seu diretor de dublagem para definir como diabos se pronunciava certos nomes. Até o Ciclope eu ouvi ser chamado de "Cyclops", como a versão em inglês e essas nuances aconteciam muitas vezes durante o mesmo episódio, o que, é claro, não diminuía em nada a qualidade dos capítulos. 

Dublagem

Outra característica muito marcante da animação dos X-Men dos anos 90 foi sua dublagem, que sem querer, acabou imortalizando certas vozes a seus respectivos personagens. Todos os grandes dubladores brasileiros que escreveram sua história nos anos 80 — e até antes disso! — fizeram parte do elenco do desenho, e alguns foram tão icônicos, que posteriormente acabaram repetindo seus papeis nos filmes dos mutantes, a partir dos anos 2000. 



Como na época não tínhamos acesso à versão original dos episódios, a dublagem era nosso principal meio de ligação com os personagens e a mudança de algumas vozes de uma temporada para outra, às vezes, causava certo desconforto. Da primeira temporada para a segunda, por exemplo, as vozes do Ciclope e da Vampira foram alteradas e enquanto o dublador Dário de Castro assumia a voz do líder da equipe no lugar de Nilton Valério — ator falecido em 2007 que dublou o personagem na primeira temporada —, tivemos a Fernanda Baronne Fernandes substituindo a Taciana Fonseca como a Vampira. Fonseca, inclusive, se aposentou da dublagem pouco depois do sucesso dos X-Men e não a ouvimos mais por aí desde então.



Fernanda Baronne acabou conquistando seu lugar como a Vampira e hoje em dia a sua voz é a que mais ocupa o imaginário popular, já que ela também dublou a atriz Anna Paquin nos filmes dos X-Men e voltou à personagem na dublagem de X-Men Evolution. Parte da minha paixão pela personagem naquela época se dava por conta da voz rouca  e sensual da Fernanda, e eu comentei um pouco disso num post sobre meus dubladores favoritos



Feras da dublagem obrigatoriamente também fizeram participações no desenho dos X-Men e uma delas foi o mestre Orlando Drummond, que deu voz — entre outros personagens como o Black Tom Cassidy — ao Dentes-de-Sabre / Victor Creed. Além de apresentar o desenho como narrador — chamando o grupo de "xismen" até boa parte da terceira temporada, jeito aliás, que todo mundo no Brasil se referia aos heróis antes do desenho! — o icônico Márcio Seixas — antes do dossiê polêmico! — também deu voz aos personagens Anfíbio da Terra Selvagem e ao Eric, o Vermelho (ou Escarlate) da Guarda Imperial Shi'ar.       



O José Santa Cruz foi o Magneto tanto nas primeiras temporadas da animação quanto por trás do ator Ian McKellen nos filmes dos X-Men, e o saudoso Darcy Pedrosa — falecido em 1999 e que no Brasil ficou muito conhecido por dublar tanto o Coringa de Jack Nicholson no filme dos anos 80 quanto o da animação do Batman — foi a primeira voz do Gladiador da Guarda Imperial Shi'ar, quando ele chega à Terra para confrontar os X-Men e acaba jogando o Fanático** longe com uma facilidade impressionante no início da Saga da Fênix.



Três vozes além de Fernanda Baronne e José Santa Cruz foram mantidas nos filmes dos X-Men, para alegria dos fãs da animação. Isaac Schneider foi a voz do Professor Xavier em ambas as produções, Sylvia Salustti dublou tanto a Jean Grey do desenho quanto a atriz Famke Janssen no live-action e o icônico Isaac Bardavid foi a voz mais marcante do Wolverine nas animações, tendo a oportunidade de dublar também Hugh Jackman em todas as suas aparições como Logan nos filmes da Fox



Na terceira temporada, a partir do episódio 11, Bardavid é substituído pelo igualmente fantástico Francisco José, que por aqui, também foi a voz do Panthro de Thundercats — a primeira série animada — e do Lex Luthor em Liga da Justiça Sem Limites



O Gambit ficou bastante marcado pela voz de Eduardo Dascar, que de vez em quando tinha que arriscar alguns termos em francês ditos pelo personagem, e a jovem Jubileu tinha a mesma voz da Arlequina da animação do Batman, com a dubladora Iara Riça desempenhando um trabalho excelente com a caçula da equipe. Riça ainda voltou ao universo dos X-Men em X-Men Evolution, só que desta vez ela dava a voz da Jean Grey adolescente. 



Completando o time do elenco principal, Leonel Abrantes — ator que faleceu em fevereiro de 2020 — deu voz ao Fera / Hank McCoy até o episódio 10 da terceira temporada — e também ao ator Kelsey Grammer em X-Men - The Last Stand —, quando foi substituído por Jorge Vasconcellos a partir de então. A Tempestade / Ororo foi dublada — até onde eu me lembro — pela mesma dubladora até o fim da série, a incrível Jane Kelly, que também voltou à personagem na trilogia dos X-Men dos cinemas, dando voz a atriz Halle Berry. Kelly nos deixou em 2011 aos 62 anos. 



Essa fidelidade de vozes transportadas dos desenhos para o cinema foi um ponto muito importante na dublagem brasileira quando os primeiros filmes da Marvel começaram a surgir, e os fãs tiveram a chance de ser agraciados por algo que, assim como o próprio desenho, fez parte da nossa infância. As vozes dos dubladores da animação estavam em nossa mente há muito tempo e até mesmo quando a Fox começou a ferrar com tudo na telona, ainda assim valia a pena ver os filmes por conta deles. 

Além de matar as saudades dessa animação que foi a base de muita gente para o universo dos X-Men nos anos 90, esse post também é uma homenagem aos grandes dubladores que fizeram parte desse sucesso. É bem certo que sem eles, o desenho jamais teria tido o mesmo encanto que teve e se mantido em nossas memórias por tanto tempo.

A primeira temporada da série animada está no catálogo do serviço de streaming Disney + e para quem nunca viu, vale a pena a conferida. Apesar dos defeitos, X-Men mantém uma aura muito boa de uma época em que os mutantes da Marvel eram os personagens mais importantes dos quadrinhos.

P.S. -  *Vale lembrar que na edição nacional de Guerras Secretas lançada no Brasil pela Editora Abril, alguns personagens foram limados tanto da capa quanto de seu conteúdo por, na época, ainda não terem sido apresentados nas histórias mensais, o que causaria confusão nos leitores. A Vampira foi uma dessas personagens que foram tiradas da capa, e por isso, eu não a conhecia nem de vista quando o desenho dos X-Men foi lançado. Na capa, ainda aparecem a Tempestade — com seu visual moicano, portanto irreconhecível para mim — e o Noturno, que não é um personagem regular do desenho, só aparecendo pela primeira vez na terceira temporada. 

A capa brasileira de Guerras Secretas eliminou alguns personagens mutantes como a Vampira, o Noturno e a Tempestade


P.S. 2 - **Nunca houve um consenso quanto aos nomes originais dos personagens em inglês e suas traduções para o português no Brasil, o que tornou confuso o entendimento de alguns diálogos ao longo dos mais de 70 episódios da série dos X-Men. Muitos dos nomes nacionais dos personagens Marvel e DC nos quadrinhos surgiram nas redações das editoras Ebal e Abril nas republicações brasileiras, portanto, o estúdio Herbert Richers não parecia ter a obrigação de seguir o que era usado nos gibis em português. Mesmo assim, às vezes, os nomes coincidiam, como foi o caso do Juggernaut, que na dublagem da primeira temporada foi chamado de "Fanático" como era nos gibis da Abril. A partir da segunda temporada, seu nome em inglês volta a ser usado e é difícil saber o que realmente determinava algumas alterações, enquanto outras eram ignoradas. 

Que bom que pelo menos ele não foi chamado de "O Jaganata", não é mesmo?

Jaganata, forma como o nome do personagem Juggernaut foi traduzido pela editora Bloch no Brasil

P.S. 3 - E fã que era fã de verdade tinha que ter o álbum de figurinhas do desenho! O meu está incompleto até hoje, mas gastei uns bons trocados colecionando figurinhas da primeira temporada! 


 
NAMASTE!

21 de julho de 2020

Elektra Assassina de Frank Miller


Que Frank Miller foi um dos mais competentes e cultuados escritores e ilustradores de quadrinhos do Século XX isso ninguém duvida, porém, é inegável o quanto a qualidade de seu trabalho na nona arte decaiu vertiginosamente na entrada do novo século, o fazendo acometer escrever coisas como Holy Terror, All-Star Batman & Robin ou o desnecessário Batman Cavaleiro das Trevas III.

No mesmo ano em que ele trouxe ao mundo uma de suas principais obras para a DC Comics, a premiada Graphic Novel The Dark Knight Returns, Frank Miller também concebeu o roteiro de Elektra Assassina para a Marvel, um arco de histórias que ressuscitou — não definitivamente — a sensual ninja assassina das páginas da HQ do Demolidor, após sua morte pelas mãos do Mercenário em 1982.


Diferente de O Cavaleiro das Trevas que foi roteirizado e ilustrado por Miller — com cores de Lynn Varley —, Elektra Assassina foi construída à quatro mãos com o artista Bill Sienkiewicz, o que deu toda uma particularidade ao projeto. À primeira vista, os desenhos que são um misto de aquarelas, foto-montagens e colagens, causam certo incômodo, mas à medida que se mergulha na história, é difícil imaginar que a HQ funcionaria com outro desenhista mais "padrão Marvel". 

A arte fantástica de Bill Sienkiewicz

A arte interna de Elektra Assassina é de encher os olhos e a cada nova olhada nas páginas, um novo detalhe deixado lá de propósito por 
Sienkiewicz é descoberto. A narrativa cinematográfica imposta pelo texto de Miller — no auge da carreira nessa época, ali no final dos anos 80 — faz com que o leitor não consiga desgrudar o olho da história, nem para dar uma corrida até a geladeira e buscar algo para comer. É como ver um filme que te prende na ponta da cadeira a todo instante. 


Por ser uma criação sua, Miller destrói e reconstrói a Elektra ao longo de todo o enredo e nos faz descobrir até mesmo dons que nem imaginávamos que ela dominasse, fruto de seu período trabalhando com a organização maligna Tentáculo. Apesar de ser interessante ver os dois agindo juntos — e às vezes até um contra o outro —, aqui fica bem claro que a ninja assassina não depende do Demolidor para protagonizar uma ótima história, ganhando ares de estrela com brilho próprio. As participações de outros personagens conhecidos como o Nick Fury — diretor da S.H.I.E.L.D — são pontuais e não desviam as atenções de Elektra e sua missão de eliminar a Besta que pretende exterminar a vida na Terra. 


Vale lembrar, que Elektra Assassina é um conto que mostra uma missão do passado da ninja grega e que foi escrita muito antes de Frank Miller FINALMENTE trazê-la de volta dos mortos, na complicada — porém perfeitinha —Graphic Novel escrita e ilustrada por ele — também com cores de Lynn Varley — Elektra Vive (de 1990). Depois de sua ressurreição, à partir dos anos 90, a personagem virou figurinha carimbada em zilhões de sagas envolvendo a SHIELD, o Wolverine, o Tentáculo, os Skrulls e claro, o próprio Demolidor, seu principal amante e parceiro de atividades porradeiras.

Eu fui mais uma vez até o podcast Boteco do Infinito, do site Caras da TI para bater um papo com meu chapa Antonio Pereira sobre Elektra Assassina e falamos também sobre a revitalização do Conan, agora pela Marvel Comics. Lá eu declarei todo meu amor à Elektra e claro, aproveitei para falar mal do Frank Miller véio reaça. 

Clica aí no banner para visitar o site dos Caras da TI e ouvir o podcast com a minha participação. É de graça e é gostosinho.



NAMASTE!   

19 de junho de 2020

Do Fundo do Baú - O Mal no Coração dos Homens

AVISO DE GATILHO EMOCIONAL: TEMA SENSÍVEL


Eu comecei a acompanhar os gibis do Homem Aranha no começo dos anos 90 e tudo que chegava às minhas mãos na época eram edições antigas de sebo, publicações dos anos 80 da Editora Abril em sua grande maioria. Naquele início de coleção eu ainda não sabia a importância que Gwen Stacy ou Mary Jane tinham na vida pregressa do velho Amigão da Vizinhança, mas eu conhecia bem a Gata Negra


O alter ego da lindíssima Felicia Hardy aparecia com grande frequência nas histórias do Homem Aranha que eu lia e aquilo criou uma predileção da minha parte por ela, mesmo sabendo que a mina era uma ladra e que vivia tentando carregar o Aranha para o mal caminho. E quem nunca se apaixonou por uma bandida antes, não é mesmo? 

Trecho de "Identidades Trocadas" desenhada por Al Milgrom com roteiro de Bill Mantlo

O Mal no Coração dos Homens é um arco de histórias protagonizado pelo Homem Aranha e a Gata Negra, escrito em seis partes por Kevin Smith, desenhado e arte-finalizado pelo casal Terry e Rachel Dodson. A saga começou a ser desenvolvida em 2002 nos Estados Unidos e as três primeiras partes foram publicadas por lá entre esse ano e 2003. Um atraso gigantesco fez com que o restante do arco só fosse concluído três anos depois, em fevereiro. Em agosto de 2006, a Panini publicou a primeira das três edições que contariam a história toda no Brasil e foi quando eu comecei a acompanhar. 



Kevin Smith é um dos nerds fãs de quadrinhos e filmes que mais deu certo no mundo. O cara não só tem um podcast onde entrevista zilhões de artistas famosos como também trabalha quase que ininterruptamente para o mercado, dirigindo filmes, produzindo roteiros, fazendo pontas em produções de Hollywood, protagonizando séries e até aparecendo como animação em alguns desenhos. Como roteirista, para a Marvel, seu trabalho de maior destaque talvez seja O Diabo da Guarda protagonizado pelo Demolidor, já para a DC, o cara reformulou o Arqueiro Verde na série Ano Um, embora também tenha roteirizado a polêmica HQ Cacofonia do Batman, que não agradou muitos fãs.


Seja como for, Smith fez mais um trabalho excelente em O Mal no Coração dos Homens - The Evil That Men Do, no original -, levando o leitor a mergulhar fundo numa história recheada de menções a drogas, piadinhas sexuais e até mesmo abusos, algo que não é muito costumeiro especialmente nas HQs do Homem Aranha. O começo dos anos 2000 foi marcado pela fase em que a Marvel - após a quase falência - começou a produzir séries mais adultas com seus principais personagens, e o selo Marvel Knight onde essas histórias passaram a ser publicadas, teve início justamente com o arco de Kevin Smith para o Demolidor. 

Aqui, Felicia Hardy é incitada a sair da aposentadoria da Gata Negra para ajudar uma amiga a localizar uma conhecida de ambas, uma super-modelo que desapareceu após um encontro com um famoso ator de cinema chamado Hunter Todd. De volta à Nova York, a Gata se hospeda num luxuoso hotel da cidade e começa a investigar o tal artista, quando então seu destino se cruza com seu ex-namorado, o Homem Aranha. 


Após um de seus alunos mais exemplares ter morrido supostamente por uma alta dosagem de heroína, Peter Parker, como seu espetacular alter ego, sai para investigar possíveis ligações criminosas que o estudante poderia ter e é quando ele descobre que o rapaz também teve contato com o megastar Hunter Todd, que parece ter predileções por garotos

A Gata Negra e o Aranha percebem que estão em busca de um mesmo alvo - o tal traficante que assassinou tanto a amiga de Felicia quanto o aluno de Peter - e quando ambos veem Todd ser morto na frente deles com uma inexplicável overdose de heroína que pareceu ter sido aplicada à distância no ator, um nome vem a tona: Senhor Brownstone.


O texto de Smith é incrível e os diálogos são cheios de sacadas muito bem inseridas que fazem o leitor rir às vezes só pelo ridículo. A sequência em que Peter e Felicia têm uma DR pelo relacionamento antigo deles é sensacional:

"Quer dizer que um de nós aqui, e eu não tô citando nomes, mas um de nós aqui terminou o namoro porque estava apaixonada pelo espetacular Homem Aranha... Não pelo bom e simples Peter Parker."

"Meu Deus, isso de novo!"

"Só tô falando."

"O que cê quer de mim? Eu era uma menina! Não fui eu quem fugiu e se casou com a namorada do colégio, OK? Se você tivesse sido um pouco mais paciente comigo, eu teria me acalmado e podia ter voltado, mas não... você tinha que estar com a Mary Jane."  
  

Esse diálogo pareceu ter saído de uma conversa de WhatsApp, ou da boca de um casal comum num bar de tão realista. Embora a perseguição ao tal Sr. Brownstone seja o mote principal da história, são esses pequenos detalhes nos diálogos que fazem com que o texto de Kevin Smith se diferencie daquilo que estamos acostumados a ler em HQs. 


Após a DR, Peter e Felicia meio que fazem as pazes e aí começam as insinuações sexuais entre eles. Ela dizendo que tem certeza que ele está excitado a vendo de tão perto naquele traje de couro apertado e ele admitindo que é perigoso DEMAIS ficar muito perto dela, que é fácil se perder com Felicia. Vale lembrar que Peter Parker era um senhor casado resistindo à tentação nessa época.

"Sentido de Aranha vibrando..."

"É assim que cê tá chamando isso agora, é?"


Felicia ainda admite que está a fim dele enquanto os dois começam a se balançar pela cidade rumo ao hotel onde ela está hospedada e ele admite que ela foi a garota mais inteligente e divertida que ele conheceu "dentro ou fora do uniforme", ambos em pensamento. É muita tensão sexual

O Mal no Coração dos Homens começa a rumar para caminhos mais obscuros após a pausa de três anos pela qual a história passou, e após deter a Scorpia juntos e descobrir que ela tinha sido contratada para eliminar o "novo" Rei do Crime da cidade, Garrison Klum, Peter e Felicia divergem quanto a esperar ou agir logo para deter Klum, uma vez que eles descobrem que o cara é o tal Sr. Brownstone. 


Sem muito planejamento ou mesmo sem saber o que podia estar esperando por ela lá dentro, Felicia decide invadir o prédio do empresário sozinha e acaba sendo surpreendida por Klum, que a imobiliza com uma dosagem específica de heroína. Esse capítulo se encerra nos dando a certeza que a Gata seria estuprada por Klum, ali indefesa, mas é aí que uma reviravolta completa ocorre, dando foco agora ao irmão mais novo de Klum, Francis

Após ser encontrada seminua embaixo do corpo de Garrison, sem mais nenhuma evidência de que uma terceira pessoa teria estado ali no apartamento, Felicia acaba sendo incriminada e presa pela morte do empresário. Peter pede ajuda ao amigo e advogado Matt Murdock para livrar a ex-namorada e de forma muito inteligente, Smith acaba inserindo o Demolidor na história. 


Juntos, os dois tentam provar que Hardy é inocente do assassinato brutal de Klum, mas quando ela se recusa a alegar em julgamento que teria sido estuprada e que o teria matado em legítima defesa, o Aranha e o Demolidor não veem outra solução senão tirá-la da prisão


Durante o mal fadado resgate, Peter e Matt descobrem que Francis Klum é o verdadeiro responsável pela morte de Garrison e que tanto ele quanto o irmão eram mutantes capazes de manipular um baixo grau de poderes de teleporte - Garrison capaz de teleportar pequenas doses de líquido e Francis capaz de se teleportar a curtas distâncias. Após uma vida inteira de abusos sexuais por parte de Garrison, Francis decidiu acabar com sua vida ao flagrá-lo prestes a estuprar Felicia, e prometeu buscá-la na prisão mais tarde após salvá-la. 


Enquanto Francis conta a ela todos os abusos pelo qual foi forçado a passar por Garrison, Felicia acaba confessando a ele que também tinha sido abusada por um ex-namorado na época da faculdade e como aquilo a tinha abalado profundamente. 


O final de O Mal no Coração dos Homens é um dos mais trágicos e chocantes que eu já li numa história do Aranha - jamais superando a morte de Gwen Stacy, óbvio - mas apesar de uma ou outra deslizada no roteiro - como a forma idiota com que o Aranha e o Demolidor decidem invadir a prisão pra soltar Felicia - essa é uma das mais maduras histórias que eu já li com o Aranha. 


Por abordar temas tão sensíveis como drogas e abuso sexual de uma maneira limpa - nunca mostrando as vias de fato - Kevin Smith acabou criando um pequeno marco nos quase 60 anos de histórias do Escalador de Paredes, e um aviso de que às vezes, o perigo está dentro da nossa própria casa. 

Sobre Felicia e Peter, eles acabam se entendendo no final. Ela enfim admite que quando ele revelou sua identidade secreta a ela, aquilo a ensinou a confiar de novo nas pessoas, algo que ela tinha perdido quando foi abusada pelo ex-namorado na faculdade.

Página de Homem Aranha #59 (1988) da Editora Abril

Eu adorei essa série porque envolve três dos meus personagens preferidos da Marvel e além do que os desenhos de Terry Dodson com a arte final de Rachel Dodson fazem com que cada quadro seja um deleite em detalhes. Conhecido por desenhar silhuetas bem voluptuosas em suas personagens femininas, Dodson trabalha a Gata Negra como ela deve parecer aos olhos... Uma gata


A Salvat relançou O Mal no Coração dos Homens há algum tempo em formato encadernado com capa dura na Coleção Definitiva do Homem Aranha, e ainda pode ser encontrada no site da editora por módicos R$ 50,00. Vale muito a pena pra quem é fã do Aranha das antigas ou novato. A história não está datada e ainda pode ser lida tranquilamente nos dias de hoje.   

NAMASTE! 

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