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11 de fevereiro de 2020

E o Oscar 2020 foi para...


No domingo rolou a 92ª edição da premiação mais importante do cinema e o que não faltou foi surpresa em algumas categorias. O excelente sul-coreano Parasita foi o filme mais premiado da noite e provavelmente a grande decepção ficou por conta de O Irlandês, que não levou nenhuma estatueta para casa. 



A cerimônia não contou com um apresentador fixo, como já aconteceu na edição anterior, mas teve uma abertura especial com os comediantes Steve Martin e Chris Rock. Longe de causar tanta polêmica quanto Rick Gervais na apresentação do Globo de Ouro de 2020, Martin e Rock se limitaram a criticar a óbvia falta de representatividade feminina nas principais categorias do Oscar (exceto as que envolviam atuação). Rock ainda fez uma piada sobre a presença (ou falta de) negros nas indicações desse ano, dizendo que, diferente de edições do século passado, esse ano havia UM negro indicado ao Oscar, se referindo a atriz e cantora Cynthia Erivo, que disputava o prêmio de Melhor Atriz por seu papel no filme Harriet


Cynthia Erivo

Para tentar compensar a falta de representatividade, tivemos esse ano um número grande de atores e atrizes negros apresentando os prêmios e anunciando os vencedores, e passaram pelo palco o ator Mahershala Ali (que ganhou duas vezes como Ator Coadjuvante em 2017 e 2019), a atriz Regina King (Melhor Atriz Coadjuvante em 2019), o diretor Spike Lee (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2019) entre outros. 



Bora conferir os principais premiados do Oscar 2020?

Começando pelos prêmios técnicos, o filme Ford vs Ferrari (de James Mangold) abocanhou duas estatuetas, Melhor Montagem e Melhor Edição de Som, derrubando nessas categorias o favoritismo de 1917.



Falando no filme dirigido por Sam Mendes,1917 ganhou quase todos os demais prêmios técnicos, levando o de Melhor Mixagem de Som, Melhores Efeitos Visuais (derrotando Vingadores - Ultimato e Star Wars - A Ascensão Skywalker) e o de Melhor Fotografia, estátua entregue nas mãos do diretor Roger Deakins. O experiente diretor já tinha trabalhado anteriormente com Mendes em 007 - Operação Skyfall e chegou a ser indicado por seu trabalho de fotografia em outros filmes como Bravura Indômita, Blade Runner 2049 e Onde os Fracos Não Tem Vez.


Roger Deakins

O prêmio de Efeitos Visuais é curioso, já que 1917 não se pauta e nem usa o recurso como muleta para contar sua história. Era esperado que o Oscar fosse dado a um filme mais carregado de manipulações digitais, mas não foi dessa vez que um filme Marvel levou uma estatueta nessa categoria.  

Adoráveis Mulheres, cuja diretora Greta Gerwig nem sequer foi indicada na categoria Melhor Direção, levou apenas na categoria Figurino, o que é bem comum para filmes de época.


Greta Gerwig

O Escândalo, que também disputava Melhor Atriz (Charlize Theron) e Melhor Atriz Coadjuvante (Margot Robbie) levou apenas por Melhor Maquiagem, o que era justo, dado a trabalheira que deve ter sido modificar os rostos da própria Charlize, para se parecer mais com Megyn Kelly e John Lithgow, que se transformou em Roger Ailes. Era Uma Vez... Em Hollywood ganhou o prêmio de Direção de Arte, que ficou a cargo de Barbara Ling e Nancy Haigh.


John Lithgow e Charlize Theron caracterizados em O Escândalo

Na categoria Documentário, American Factory de Julia Reichert, Steven Bognart e Jeff Reichert superou o brasileiro Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa, colocando o nosso país mais um ano na fila dos prêmios internacionais de cinema. Acusada pela Direita brasileira de ter usado o documentário de maneira a apaziguar em excesso a culpa do Partido dos Trabalhadores no processo de Impeachment da então Presidente em exercício, Petra Costa mostra de uma maneira até mesmo didática tudo que aconteceu no país desde os protestos dos 0,20 centavos, e como a Direita se fortaleceu nesse ínterim, pegando o vácuo de ódio criado pelo suposto "combate à corrupção", representada acima de tudo pelo governo do PT. Podia ter pesado mais na mão ao retratar Dilma, Lula e companhia? Podia. Mas não tem mentira nenhuma no documentário.


Petra Costa

O prêmio de Melhor Documentário em Curta-Metragem foi para "Learning Skateboard in a Warzone (If You're a Girl)" de Carol Dysinger, Melhor Curta-Metragem ficou com "The Neighbors' Window" de Marshall Curry e a Melhor Animação em Curta-Metragem foi para "Hair Love", uma simpática animação americana (da Sony Pictures Animation), dirigida por Matthew A. Cherry, Everett Downing Jr. e Bruce W. Smith, que fala sobre a aceitação dos cabelos afros. 



Concorrendo com Klaus (disponível na Netflix e que muita gente apostava ser o favorito), Como Treinar Seu Dragão 3 (a meu ver, muito superior ao vencedor) e o Link Perdido (que venceu na mesma categoria no Globo de Ouro), o apenas simpático Toy Story 4 acabou ficando com a estátua de Melhor Animação, mesmo após ter subvertido todo o conceito da trilogia inicial. Era um filme desnecessário, mas claro que sai mais prestigiado após levar o Oscar e de ter faturado muito bem nas bilheterias. 



A maestrina Hildur Guðnadóttir foi a primeira mulher a ganhar na categoria Melhor Trilha Sonora do Oscar em 92 edições, e ao mesmo tempo anotou mais uma estátua para o filme Coringa.


Hildur Guðnadóttir

Sem constar em nenhuma outra categoria, o filme Rocketman, que conta a biografia do cantor Elton John, levou o de Melhor Canção Original por "(I'm Gonna) Love Me Again", numa performance executada pelo próprio Elton John na cerimônia.



Para não passar batido, Jojo Rabbit deu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para o diretor Taika Waititi, e o cara usou seu espaço de agradecimentos para passar uma mensagem importante sobre pessoas "não brancas" não desistirem de seus sonhos, ele que é neozelandês e que interpreta Adolf Hitler, o amigo imaginário do menino Jojo do título.


Taika Waititi (Hitler) ao lado de Roman Griffin Davis (Jojo)

O Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante não teve grandes surpresas, já que repetiu as mesmas premiadas do Globo de Ouro. Laura Dern fez a rapa nos prêmios que disputou por sua atuação brilhante como a advogada da personagem de Scarlett Johansson em História de Um Casamento, já Renée Zellweger parece ter mesmo encantado a Academia ao interpretar a atriz Judy Garland em seus últimos anos de vida, após os problemas com drogas e bebida, no filme Judy. Renée andava sumida de Hollywood, mas decidiu voltar com tudo, no papel de sua vida.


Renée Zellweger e Laura Dern

As categorias Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante também repetiram as premiações do Globo de Ouro, e consagrou Joaquin Phoenix em seu papel magistral de Arthur Fleck, em Coringa e Brad Pitt por seu Cliff Booth de Era Uma Vez... Em Hollywood. Há quem diga que Pitt não fez nada demais como o coadjuvante de Leonardo DiCaprio (que merecia o prêmio de Melhor Ator... Se não tivesse existido a interpretação de Phoenix em Coringa), e que ele só representou ele mesmo em cena. Parece, no entanto, que Al Pacino e Joe Pesci (ambos por O Irlandês), Anthony Hopkins (Dois Papas) e Tom Hanks (A Beautiful Day in the Neighborhood) não fizeram um trabalho tão bom em seus filmes quanto o ex-galã! Talvez ainda tenham que comer muito feijão até chegar aos pés de Brad!


Joaquin Phoenix e Brad Pitt

Brincadeiras à parte, sabemos do talento de Pitt (que atuou muito melhor em Bastardos Inglórios, por exemplo), mas Cliff Booth não parecia ser o papel para levar Oscar.

Não vi as atuações de Hanks e Hopkins em seus respectivos filmes, mas parece absurdo a Academia premiar Brad Pitt em vez de Al Pacino ou Joe Pesci pelo que fizeram em O Irlandês. Ícones do cinema, os dois estão muito bem em cena, dirigidos pelo colega de anos Martin Scorsese, mas parece que premiar um filme da Netflix ainda é um tabu para os véi do Oscar. Assim como os filmes da Marvel (que não são cinema), Scorsese saiu de mãos abanando da festa, e ainda aproveitou pra tirar um cochilo durante a apresentação surpresa do Eminem.



Aliás... Qual foi o sentido da apresentação do rapper bem no meio da cerimônia? Mostrar que a superioridade branca funciona até no mundo do rap?



Bem... Aí veio Parasita, e a Academia se curvou ao talento inegável do diretor Bong Joon-Ho, dando-lhe não somente o prêmio de Melhor Direção (batendo Sam Mendes de 1917), como também o de Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Estrangeiro (o que era barbada!) e o de Melhor Filme. Parasita é o primeiro filme de língua não-inglesa a vencer na categoria Melhor Filme e criou-se um marco em 2020 com sua vitória, abrindo um precedente que nunca antes tinha sido permitido em Hollywood.


Bong Joon-Ho e o elenco de Parasita

O filme, claro, tem todos os méritos por seu sucesso e Joon-Ho subiu ao palco quatro vezes, quase não acreditando que tinha vencido seus ídolos nas categorias. Em agradecimento, falando em coreano e sendo traduzido por uma intérprete, Joon-Ho chegou a citar uma frase de Scorsese em seu discurso e puxou uma salva de palmas no teatro ao diretor veterano, que agradeceu, lisonjeado. Momento bem emocionante da celebração.


"Quanto mais pessoal, mais criativo". Joon Ho citando Scorsese em seu discurso

O resumo é bem positivo ao final da premiação. Se os representantes da Academia ainda precisam aprender bastante sobre representatividade étnica ou de gênero, indicando mais artistas de outras etnias bem como mais mulheres às categorias principais, pelo menos teve a quebra de paradigma representada pela vitória de um filme sul-coreano à principal categoria da noite. Dá se a impressão que as coisas estão evoluindo no cinema, mesmo que à passos de tartaruga.

P.S. - O que foi o momento em que Brie Larson e Gal Gadot se juntaram no palco para homenagear uma das primeiras heroínas do cinema de ação, interpretada pela atriz Sigourney Weaver? Capitã Marvel, Ripley e Mulher Maravilha pisando no mesmo terreno, o palco chegou a tremer.



P.S. 2 - O Martin Scorsese dormindo durante a apresentação do Eminem me representa nas três primeiras vezes que tentei assistir O Irlandês! Só consegui ir até o final na quarta, mas gostei bastante das atuações e da direção dessa série de quatro episódios. Al Pacino, DeNiro (esnobado no Oscar!) e Joe Pesci mostram porque são monstros consagrados do cinema.



P.S. 3 - História de um Casamento é um ótimo filme de diálogo e com um final muito comovente. Tanto Scarlett Johansson quanto Adam Driver mostram que são muito mais que atores de parques de diversão, e que dão conta da interpretação séria e adulta com um roteiro mais inteligente. Apesar disso, Driver não tinha muita chance contra a loucura colocada pra fora por Joaquin Phoenix em Coringa, mas num futuro próximo, acredito que o cara vai fazer uma carreira premiada.



NAMASTE!

31 de agosto de 2019

Crítica – Era Uma vez em Hollywood


Em 1969 o autointitulado “guru” Charles Manson protagonizou um dos capítulos mais aterrorizantes de Hollywood ao encomendar o assassinato da atriz Sharon Tate e seus amigos em uma residência da Cielo Drive. Atrás de uma fama que não conseguia e com a ideia fixa de que ele era a reencarnação de Jesus Cristo, Manson e seus seguidores iniciaram uma cruzada racista e preconceituosa em Los Angeles, cidade para o qual ele se mudou em busca de seu sonho de se tornar um músico tão bem-sucedido quanto John Lennon, seu ídolo. Rejeitado por vários produtores musicais devido a qualidade duvidosa de sua “obra”, o guru com suas alucinações decidiu se vingar, o que acabou levando seu bando ao endereço na Califórnia, onde Sharon Tate morava com o marido cineasta Roman Polanski

Tate havia participado de diversos filmes como “Olho do Diabo” (1966), “A Dança dos Vampiros” (1967) e “O Vale das Bonecas” (1968), e estava grávida de oito meses quando foi brutalmente esfaqueada e morta em sua casa. Levou-se muito tempo para que as investigações da Polícia ligassem o crime chocante a Manson e a seu culto, mas ele e seu bando (em sua maioria mulheres) foram levados à justiça. Os hippies seguidores de Manson moravam no Rancho Spahn e se alimentavam de restos das lixeiras enquanto perambulavam pela cidade em busca de mais seguidores para a seita. O Rancho anteriormente era usado como set de gravação de filmes de faroeste, e quando foi abandonado, serviu perfeitamente para os planos de Charles de aterrorizar Hollywood.

Essa é a realidade dos fatos.

Era Uma Vez em... Hollywood é uma história fictícia que insere os personagens Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt) em meio aos acontecimentos reais do trágico ano de 1969, mas não deixa de prestar uma homenagem à indústria cinematográfica norte-americana da época. 

No final da década de 60 os filmes de faroeste em preto e branco começavam a dar lugar a outros gêneros como comédias e espionagem, e o enredo principal é focado em Rick Dalton, um ator cuja carreira está em franca decadência enquanto ele envelhece e não consegue mais papeis de destaque. Ao lado do inseparável amigo Cliff, que é seu dublê e “faz-tudo” na casa onde ele mora em Cielo Drive, Dalton conhece o produtor Marvin Schwarz (Al Pacino) que o faz enxergar que sua carreira como vilão de bang-bang está perto do fim em Hollywood, e que seu destino é mesmo estrelar os "faroestes spaghetti" na Itália. 


Apesar de abalado com a possibilidade de ter que se mudar para salvar a carreira, Dalton continua cumprindo seus compromissos com os seriados de TV americanos em papeis menores, enquanto Cliff, ex-boina verde e acusado de ter assassinado a própria esposa, está em busca de emprego. A casa onde Dalton mora é vizinha da de Sharon Tate (Margot Robbie) e Polanski (Rafal Zawierucha) na Cielo Drive, mas não há interação entre os personagens quase até o final do filme, o que causa uma certa apreensão no espectador que conhece a história trágica do casal.


O ritmo que Quentin Tarantino impõe a seu nono filme (lembrando que ele diz que vai se aposentar depois do décimo!) é levemente diferente dos outros, o que denota um amadurecimento em sua forma de contar uma história. O roteiro de Era Uma Vez... é nitidamente uma homenagem ao cinema que ele cresceu assistindo – Tarantino nasceu em 1963 – e além das projeções que são exibidas o tempo todo, seja na tela do cinema visitado por Sharon Tate ou nas telinhas da TV, as cenas exalam Western e todo aquele clima glamouroso que gira em torno de Hollywood, algo que Charles Manson e seu bando tentaram perverter.


Apesar disso, esse novo ritmo imposto pelo diretor é bem lento e causa uma certa ansiedade, já que temos uma ideia do que ele quer contar, mas não vemos nem sombra disso na linha principal do roteiro. 

Damon Herriman e Al Pacino
Nós vemos Charles Manson - vivido pelo ator Damon Herriman e em dose dupla, porque o ator faz o mesmo papel na segunda temporada de Mindhunter - uma única vez nos portões da Cielo Drive, depois ele é citado muitas vezes já no Rancho Spahn, quando Cliff dá uma carona para “Pussycat” (Margaret Qualley), nós vemos os hippies da seita de Manson perambulando para lá e para cá, nós vemos Sharon Tate aproveitando sua quase-fama e curtindo com os amigos (inclusive dentro da Mansão da Playboy), e nós somos distraídos pelas desventuras de Dalton e Booth enquanto isso. Por duas looongas horas.

É como se estivéssemos esperando o tempo todo o desfecho do filme, esquecendo de curtir os pormenores, marca indelével de Tarantino atrás das câmeras. Todos os detalhes estão lá: Close em pés femininos (paixão do diretor), silêncios onde podemos apreciar as expressões de um ator em sua atuação, as músicas muito bem encaixadas (e subitamente interrompidas também), muitas cenas a bordo de veículos, onde pegamos uma carona com o motorista no banco de trás, e claro, violência desenfreada!


O elenco de Era Uma Vez em... Hollywood é bem extenso e variado. As figurinhas carimbadas nos filmes de Tarantino estão lá novamente, como Michael Madsen, Zoë Bell (a dublê de Uma Thurman em Kill Bill) e Kurt Russel fazendo papeis menores, mas o roteiro dá espaço para todos eles. O veterano Bruce Dern brilha como o frágil e cego George Spahn, dono do Rancho e antigo conhecido de Booth nos tempos de dublê; Emile Hirsch vive Jay Sebring, o melhor amigo do casal Polanski (que na história real acaba sendo assassinado com Sharon); Ganha destaque ainda a ex-atriz-mirim Dakota Fanning como Lynette, a amante de George Spahn, Damian Lewis como Steve McQueen e Maya Hawke (a Robin da terceira temporada de Stranger Things), filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, que faz uma das hippies que moram no Rancho (especificamente a que diz que esqueceu a faca no carro e se manda!).

Emile Hirsch e Dakota Fanning

Quem rouba mesmo a cena, atuando ao lado de Leonardo DiCaprio, enquanto seu personagem aguarda para filmar a série de TV que co-protagoniza, é a pequena Julia Butters de 10 anos. Com um diálogo firme e consistente, ela impressiona, dando vida a uma jovem atriz-mirim que não gosta de sair do personagem enquanto está no set. As cenas em que ela e DiCaprio atuam juntos chegam a ser engraçadas, e a pequena dá conta do recado, entregando muito bem seu texto. Metalinguagem pura... Uma atriz mirim que interpreta uma atriz-mirim que não gosta de sair do personagem... Vixe!
Julia Butters em cena com DiCaprio

Outro destaque do filme é a atriz Margaret Qualley que com sua Pussycat, uma das ripongas juvenis de Manson, não se envergonha em se insinuar para Cliff, que a leva até o Rancho no carro de seu amigo e chefe. Vale lembrar que a personagem de Qualley representa a liberdade sexual que a comunidade de Manson pregava, onde todos transavam com todos em Spahn enquanto bebiam e se drogavam, e isso acabou sendo comprovado nos depoimentos reais dados pelas representantes da seita de Manson quando estas foram presas pelo assassinato de Sharon Tate. 


Não devo ser o único espectador que sai de casa para ver o novo filme de Quentin Tarantino independente da história ou de quem está protagonizando, mas por se tratar de um roteiro fictício que se passa em meio a fatos, tem certos elementos que esperamos que aconteça na tela e é aí que o diretor de 56 anos surpreende, levando o enredo para um caminho completamente inesperado. Lembra o que aconteceu com Hitler ao final de Bastardos Inglórios (2009)? É mais ou menos por aí que a coisa anda em Era Uma Vez em... Hollywood, e isso não enfraquece o filme, que como o próprio título insinua, é um faz de conta

Tarantino prova que ainda está em forma depois de algumas décadas por trás das câmeras. A sequência final da invasão dos hippies ao endereço da Cielo Drive e tudo que acontece entre eles e os personagens de Pitt e DiCaprio chega a ser revigorante, premiando o espectador por ter esperado todo aquele tempo pelo rompante de violência tão característico na filmografia do diretor. 

Enquanto os personagens fictícios ganham até certa relevância com o roteiro, falta mais profundidade à Sharon Tate de Margot Robbie. 

Ela passa um ar de inocência e doçura com sua interpretação – Tirando ainda o fato de que Robbie é linda que dói – mas a personagem mais parece um bibelô de luxo no filme do que alguém realmente importante e profundo. 

Uma das críticas ao filme, aliás, é a forma superficial com que Tarantino (que também escreve a história) trata as mulheres no filme, a famosa “objetificação feminina” (com closes em bundas e pernas). Para quem conhece o estilo “tarantinesco”, porém, não é uma grande surpresa e não chega a ofender. Vale lembrar que o cara deu não só um, mas DOIS filmes dedicados a uma das personagens femininas mais badass motherfucker do cinema: Beatrix Kiddo de Kill Bill. E isso fala por si próprio sobre a superficialidade de suas personagens femininas. 


Só lamentei não ter tantas referências cinematográficas para curtir plenamente as homenagens que Tarantino faz ao longo de Era Uma Vez... Além dos filmes, muitos atores, atrizes e diretores são lembrados, e a relação de elenco mostra muitos “easter-eggs” desse tipo, dos quais deixei passar muitos. 
Uma das sequências que mais me empolgaram no trailer foi a que Brad Pitt enfrenta o próprio Bruce Lee (interpretado por Mike Moh), mas no filme serve apenas como uma piada em que Cliff Booth se imagina de volta ao set de filmagens, caindo na porrada com Lee e VENCENDO! Toda a forma arrogante com que Lee é representado no filme parece bem desrespeitoso, e isso repercutiu negativamente com os familiares do ator chinês e seus amigos. 

Em meus devaneios, por algum instante vendo esse trailer outrora, eu achei que Tarantino tinha usado imagens reais de Bruce Lee e inserido Brad Pitt na cena, mais ou menos como aconteceu em Forrest Gump, onde Tom Hanks acaba colocado em vários momentos famosos da história americana... Mas não foi bem assim que aconteceu.

Perto de Os Oito Odiados (filme que caracterizo como o mais fraco da carreira de Tarantino), Era Uma Vez em... Hollywood é uma obra de arte. Tem alguns problemas de ritmo, cria expectativas que não são saciadas, demora para engrenar, mas entrega um enredo muito bom de ser assistido e apreciado, no melhor estilo Quentin Tarantino, que continua sendo para poucos.

NOTA: 8,5

Há muito tempo numa galáxia muito, muito distante eu escrevi sobre Django - Livre aqui:


Kill Bill (Vol. 1 e Vol. 2) aqui:


E um Top 10 Trilha Sonora de Tarantino aqui:


P.S.  - Pela primeira vez NA VIDA Brad Pitt está começando a aparentar a idade que tem, e a carinha de neném característica já não consegue mais ser vista embaixo das rugas que abundam em seu rosto... Mas olha o físico desse filho da mãe! O cara tem 55 anos com corpinho de 25. É muita humilhação para nós pobres mortais! 


NAMASTE!

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