É quase impossível desassociar
os filmes de Quentin Tarantino das trilhas sonoras que ele meticulosamente
seleciona para as cenas que escreve. O diretor de 49 anos nascido no Tennessee
já divulgou em entrevistas que chegou a basear cenas de seus filmes em músicas
que ouvia desde moleque (quando em geral, acontece o contrário no processo de
criação de filmes), e olhe que o repertório musical de Tarantino é tão vasto
quanto seu conhecimento de cinema!
Quem não se lembra logo
de Tim Roth e Amanda Plummer (Pumpkin e Honey Bunny) anunciando um assalto na
lanchonete em Pulp Fiction quando toca "Misirlou" de Dick Dale, ou sai pra dançar
um Twist ao som de "You never can tell" de Chuck Berry feito John Travolta e Uma
Thurman? Ou ainda, quem é que não se lembra logo de Elle Driver caminhando pelo
corredor de um hospital vestida de enfermeira pronta a dar cabo de Beatrix
Kiddo enquanto assovia o infernal "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann na primeira
parte de Kill Bill?
Os filmes de Tarantino
estão intimamente ligados à música, e a dura missão desse Top 10 é elencar as melhores
trilhas dentre tantas (deixando com um grande pesar obras-primas de fora da
lista), as que mais possuem significado para as cenas ou simplesmente aquelas que
não podiam ser deixadas de fora.
Aumente o volume e
divirta-se!
Death Proof (Prova de
Morte) faz parte de um projeto em que Tarantino aliou-se ao amigo (menos
talentoso) Robert Rodriguez para recriar filmes de gênero Grindhouse, aqueles em
que normalmente as mulheres protagonizam e que são produzidos com um baixo orçamento.
Apesar de ser o filme menos inspirado da
carreira do diretor, Death Proof ainda traz cenas memoráveis, entre elas a
embalada pela música “Hold Tight” da banda britânica dos anos 60 Beaky/Dave
Dee/Dozy/Mick/Tich, ou simplesmente “DDDBMT”.
Como não podia deixar de ser, Tarantino coloca seu conhecimento
musical em jogo, e uma das personagens conta a história que envolve a música e
o vocalista do The Who, que chegou a ser chamado para integrar a tal DDDBMT.
É impossível não mexer a cabeça pra cima e pra baixo enquanto esperamos o choque eminente do carro à prova de morte do Dublê
Mike (Kurt Russel) e o das amigas da Julia Selvagem (Sydney Tamiia Poitier) ao
som de “Hold Tight”!
Essa é sem
dúvida uma das cenas de acidente de carro mais fantásticas do cinema!
Se Death
Proof é o filme menos inspirado da carreira de Tarantino, Jackie Brown é aquele
que tem menos a cara de Tarantino, e isso se deve bastante ao fato de que o
roteiro não é escrito baseado em uma história criada por ele.
Apesar do
ritmo bem mais lento de Jackie Brown, o filme é recheado de referências ao universo
“nigger” e a Blaxploitation, movimento cinematográfico voltado especificamente
ao público negro norte-americano, o que inclui muita música Soul e Black.
Enquanto os
letreiros sobem (ou descem, vão pra esquerda, direita... enfim!), já somos logo
sacudidos pela balada “Across 110th Street” de Bobby Womack, cantor negro cujas
músicas principais fizeram grande sucesso nas décadas de 60 e 70. A música
conta o cotidiano de um personagem negro do gueto onde vive.
Interessante
que o filme começa e se encerra embalado por "Across 110th Street", e rola uma
certa melancolia enquanto a Jackie Brown (Pam Grier) dirige seu carro cantando
tristemente a letra da música, se despedindo do público.
Django, você sempre foi solitário?
DJANGO!
Django, você nunca mais amou
novamente?
O amor viverá, oh oh oh...
A vida deve continuar, oh oh oh
Pois você não pode passar o resto da
vida se arrependendo
Pra quem não sabe, Django foi um
personagem vivido pelo ator italiano Franco Nero na década de 60, e o Django de
2013 dirigido por Tarantino é mais uma homenagem do diretor ao cinema que ele
tanto venera.
O tema de Django criado por Luis
Bacalov & Rocky Roberts também era o tema do filme original, e a letra da
música acabou casando bem com esse novo Django escravo que se livra das
correntes para ir atrás de sua amada esposa Brunhilde.
A música é um verdadeiro chiclete, e não
há como se livrar de seu refrão e da voz grave de Rocky Roberts uma vez que se
ouve.
Django!
Django!
Quem mais além de Quentin Tarantino
conseguiria imaginar uma luta entre duas samurais em um cenário cheio de neve,
embalado por uma música Disco dos anos 70?
Uma das razões do sucesso desse
maluco é justamente essa habilidade única que ele tem em criar esse tipo de
amálgama entre coisas que aparentemente não possuem qualquer relação, e que em
suas mãos acabam dando certo, a ponto de rolar aquela pergunta “Por que ninguém
pensou nisso antes?”.
E não é que "Don’t let me be
misunderstood" funcionou direitinho como fundo sonoro para a luta decisiva entre
Beatrix Kiddo e O-Ren-Ishii?
“Peço perdão por ter zombado de você!”.
"Stuck in the Middle With You" com
certeza não é a música mais emblemática do longa metragem Cães de Aluguel
(Reservoir Dogs - 1992), o primeiro como escritor e diretor de Tarantino. Quem se
lembra do filme com certeza pensa em “Little Green Bag” de George Baker como a
trilha definitiva da película, até porque a cena em que os Cães de Aluguel
andam em câmera lenta enquanto os atores que os interpretam são apresentados ao
público (logo após o diálogo na lanchonete sobre Like a Virgin), ao som da
canção, fixa melhor na memória.
A cena onde o psicótico Mr. Blonde
(Michael Madsen) tortura e mutila um policial preso a uma cadeira enquanto faz
uma dancinha desengonçada ao som de "Stuck in the Middle With You", no entanto, é
pra mim, a principal marca de Cães de Aluguel, razão pela qual escolhi essa
música para integrar ao Top 10.
Todo o
desenvolvimento da cena é espetacular, sem falar na interpretação do ator Kirk
Baltz que vive o policial Marvin Nash e a frieza de Michael Madsen, que aliás,
vive personagens filhos da puta como ninguém em Hollywood!!
A música cantada pela banda de
folk escocesa Stealers Wheel possui trechos como “Estou
tão assustado no caso de eu cair da minha cadeira”, “Sim, eu
estou preso no meio com você e eu estou me perguntando o que eu deveria fazer” e “Tentando fazer algum sentido de tudo mas vejo
que isso não faz sentido”, o que nos faz ter certeza de que as músicas
escolhidas por Tarantino não são aleatórias. Elas estão sempre dentro do
contexto da história.
Confesso que as trilhas
de Tarantino me trouxeram o conhecimento de vários artistas dos quais eu nunca
havia ouvido falar (perdão, Mundo!), entre elas The Coasters, a banda de Rhythm
and Blues dos anos 50 que toca a deliciosa "Down in Mexico".
A cena antológica onde
a personagem Arlene “Butterfly” (Vanessa Ferlito) sensualiza diante de Dublê Mike (Kurt
Russel) em um show de Lap Dance ao som de "Down in Mexico" em Death Proof já
entrou para os “anais” da história do cinema! E como entrou!
Dança nota 10!
“De repente, caminhando com essa garota
Joe começa a tocar com uma Latina
Em torno de sua cintura ela usava três meias arrastão
Ela começou a dançar com as castanholas
Eu não sabia exatamente o que esperar
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço
Começamos a dançar por todo o chão
E então ela fez uma dança que eu nunca vi antes”
Dança nota 10!
Kill Bill é o filme com
o maior repertório musical de Tarantino, e penso cá comigo que daria para fazer
um Top 10 apenas da Trilha Sonora dos dois filmes sobre a Noiva. Exatamente por
essa dificuldade em escolher as melhores músicas do filme, deixei me guiar pelo
meu instinto, e a meu ver, não há música presente em Kill Bill mais emblemática
que "Malaguena Salerosa" da banda “chicana” Chingon, de Robert Rodriguez.
A letra fala de um
pobre rapaz que é feito de gato e sapato por uma garota rica, e mesmo não tendo
porra nenhuma a ver com o enredo do filme e só tocar na cena final, quando
então Beatrix já derrotou Bill e recuperou a linda B.B, mesmo assim ela
representa a alma do filme, que é um misto absurdo de várias culturas, bem ao
estilo Tarantino de fazer cinema.
“Que bonitos ojos tienes
Debajo
de esas dos cejas”
Patti Smith é considerada a “poetisa
do punk” e começou a fazer sucesso na década de 70, onde então despontou para
ser uma das cantoras mais influentes do Rock and Roll.
Minha paixão por “Baby It’s You”,
que faz parte da trilha de Death Proof foi imediata, e desde então a música não
sai mais da minha playlist diária, entrando inclusive nesse Top 10 na posição
de Bronze.
Que voz maravilhosa tem essa
mulher!
Hoje não existe viva
alma que não conheça a balada “Girl, You'll Be a Woman soon”, mas na década de
90 nem mesmo o Urge Overkill devia acreditar nessa canção, algo que foi
completamente alterado quando Tarantino decidiu acrescentá-la ao soundtrack
daquele que viria a ser seu filme de maior sucesso.
Pulp Fiction é meu
filme favorito da carreira de Tarantino, acho difícil que o diretor consiga
superar algum dia o que ele fez com esse longa, mas além de toda a estética
criada, da popularização do roteiro não-linear e da restauração das carreiras
de vários artistas, Pulp Fiction deixou marcado em nossas vidas principalmente as
canções que embalam suas cenas.
Como esquecer a
overdose de Mia Wallace e as divagações de Vincent Vega sobre comer ou não comer
a mulher do chefe enquanto "Girl, You'll Be a Woman soon" toca na vitrola?
Mia Wallace e Vincent Vega
são chamados ao palco do Jack Rabbit Slim’s para um desafio de Twist. A esposa
de Marsellus Wallace os apresenta, e enquanto a banda se prepara para tocar, Vega
tira os sapatos, iniciando em seguida uma das cenas mais reconhecidas e
imitadas do cinema. A carreira decadente de John Travolta sofreu um "Boom" e Quentin Tarantino havia criado uma verdadeira obra-prima, nos dando
doses cavalares de drogas, rock and roll e violência. Muita violência.
Chuck Berry é considerado um dos pais do Rock N' Roll, uma lenda da música mundial e dispensa apresentações, e "You Never can tell" é com certeza uma das suas obras mais memoráveis de todos os tempos, que acabou sendo imortalizada de vez em uma das cenas mais emblemáticas do cinema. Palmas para Tarantino pela escolha.
Confessa que você já
imitou os passos do Travolta nessa cena alguma vez na vida, vai!
Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:
Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:
NAMASTE!