16 de setembro de 2013

Homem de Ferro: Rapto


Tony Stark sofre um enfarte que quase o mata. Seu coração já não funciona mais como antes, o que o leva a substituí-lo por um reator energético. Ele agora vive um romance com a intrépida Pepper Potts, com um medo irracional de perder uma das únicas pessoas que realmente lhe importam e totalmente decidido a prolongar sua frágil vida humana para que assim ele não falte a Pepper, Stark decide fazer o impensável: Substituir todas as partes de seu corpo por próteses biônicas!


É com esse plot bizarro que começa o arco “Rapto”, escrito por Alexander Irvine e competentemente desenhado por Lan Medina. Embora a edição da Panini não situe seu leitor de que ponto da cronologia do Homem de Ferro estamos, fica bem claro que a história não se passa na cronologia corrente da Marvel, o que nos leva a um interessante exercício de imaginação, semelhante aos bons e velhos “O que aconteceria se...” que a própria Marvel lançava de vez em quando colocando seus personagens em situações diferentes e as vezes até inusitadas numa viagem no túnel do tempo. Alguém se lembra da clássica “O que aconteceria se Gwen Stacy não tivesse morrido?” ou da bizarra “O que aconteceria se o Justiceiro matasse todo o Universo Marvel?”?


A total ignorância sobre o enredo da HQ quando a vi na banca se reforçou ainda mais com a falta de um texto explicativo sobre do que se tratava “Rapto”, e fiquei curioso ao folhear as páginas e me deparar com a arte de Lan Medina, um desenhista filipino de 52 anos conhecido por seu trabalho no Justiceiro do selo MAX da Marvel. Os desenhos chamam muito a atenção, e embora não cheguem ao nível de um Adi Granov (desenhista e designer da saga Extremis do Homem de Ferro) deixa pouco a dever ao desenhista bósnio. Tanto as figuras humanas quanto a tecnologia do laboratório de Tony Stark, bem como suas armaduras, são detalhadamente desenhadas por Medina, e seus traços firmes e limpos são complementados pelas cores de June Chung (que entre outros trabalhos também coloriu a saga Marvel Zombies).


Sim, Rodman, mas e quanto ao enredo?

É aí que o caldo engrossa!


Como foi dito, Tony Stark entra numa neura de melhorar sua própria fisiologia humana, o que o leva a se trancar no laboratório por dias, ignorando seus amigos James Rhodey, Dra. Serrano (a psicanalista de Stark) e até mesmo a própria Pepper. Preocupados com a saúde mental do bilionário que parece estar sofrendo uma depressão pós-traumática após o enfarte, seus amigos tentam de tudo para tirá-lo de lá, até que constatam que o pior aconteceu. Ao mandarem um técnico das Indústrias Stark até o laboratório, a pedido do próprio, Rhodey e Pepper chegam a conclusão que seu velho amigo resolveu avançar alguns degraus da evolução humana, tornando-se literalmente um Homem de Ferro!


Até sua metade, Rapto funciona muito bem, instigando o leitor a continuar acompanhando a história e até manipulando-o a chegar a certas conclusões (erradas, diga-se de passagem), e todos os pontos positivos que a HQ recebe ficam localizados nessa primeira metade. Daí pra frente o roteiro fica parecendo um samba do afrodescendente desprovido das faculdades mentais.


Rapto funciona como uma daquelas leituras rápidas e de fácil digestão, porém, apresenta conceitos inovadores para o universo do Homem de Ferro, como esse desejo que Stark desenvolve de querer viver para sempre, além de metáforas válidas a mitos (gregos) como o de Prometeu, que é condenado a ter seu fígado devorado eternamente por um abutre a mando de Zeus. Alexander Irvine vai muito longe, no entanto, quando insere o tal conceito “Mundo Stark”, e uma história que parece ter potencial de início se torna uma queda livre para o abismo ao inserir elementos fantásticos demais como um “além” e idas e vindas desse lugar. Embora Irvine perca a mão do roteiro na parte final do arco, alguns momentos valem muito a pena, como essa questão levantada sobre a mescla de homem/máquina, a luta entre o Máquina de Combate e o Homem de Ferro e claro, os desenhos de Medina, que salvam a história em muitos momentos. Pra quem espera um final feliz ao estilo Marvel que estamos acostumados, uma reviravolta nas últimas páginas consegue surpreender o leitor, o que marca mais alguns pontos para Rapto.


Rapto não é nenhuma obra-prima, mas para quem espera uma leitura rápida e bons desenhos é um prato cheio.

NOTA: 6


NAMASTE!  

7 de setembro de 2013

"The Flash" daria certo no cinema?


Em uma enquete que ficou no ar entre os meses de Julho e Agosto, o Blog do Rodman perguntou a seus leitores, ainda no clima do filme do Homem de Aço, qual outro herói da DC Comics merecia uma chance nos cinemas, e foram colocados na rinha o Flash, a Mulher Maravilha, o Caçador de Marte, o Aquaman e o Asa Noturna.

Em uma disputa que começou acirrada, o Asa Noturna, o ex-Robin e parceiro do Homem Morcego de Gotham começou a ganhar vantagem nos primeiros dias de votação, mas nas semanas seguintes foi ultrapassado pelo homem mais rápido do mundo, que acabou vencendo a enquete com 38% dos votos.


Segundo os leitores do Blog do Rodman, o Flash é o herói da DC com melhor potencial para ganhar uma chance nos cinemas, agora que Batman e Superman já estão consolidados na telona e que o Arqueiro Verde parece ter encontrado seu caminho na TV. 

Mas será que um filme do Corredor Escarlate conseguiria agradar a gregos e troianos? Será que a Warner conseguiria produzir um filme que fizesse jus aos quase 60 anos do personagem (se considerarmos apenas Barry Allen como Flash), ou teríamos outra bomba ao estilo Lanterna “I Know Right” Verde?


Embora as possibilidades de um filme bem dinâmico com o personagem pareçam grandiosas para a maioria dos fãs de quadrinhos, nem mesmo a Warner parece ter ânimo para apostar em um filme solo do Flash, o que ficou bem claro na última Comic-Con, quando então os criadores do seriado Arrow (cuja primeira temporada resenhei aqui) Greg Berlanti e Andrew Kreisberg anunciaram que Barry Allen faria aparição em alguns episódios, e que isso serviria de trampolim para uma série própria com o personagem escarlate, escrita pelos mesmos idealizadores de Arrow.


Segundo informações publicadas pelo canal The CW, Barry Allen será apresentado no seriado Arrow como um legista forense de Central City (a cidade do Flash nas HQs) e que será chamado para fazer algum tipo de investigação criminal em Starling City, o que o levará a se encontrar com o vigilante local “Capuz”, que até agora não foi chamado de Arqueiro Verde em nenhum momento da primeira temporada. Como acontecerá essa interação entre os dois personagens e como será tratado o fato de Barry adquirir poderes meta-humanos em uma série, que até agora, procurou manter o pé fincado na realidade, longe de características mais fantásticas, até esse momento não sabemos. 


Só podemos torcer para que os produtores de Arrow não transformem a série em uma nova Smallville (“Somebody Saaaaaaaave me!”) e que comecem a pipocar heróis uniformizados e poderosos a cada episódio só pra atrair o público, embora isso até fizesse sentido na história do Clark Kent adolescente de 40 anos. Já em Arrow, estragaria e muito o conceito do que foi apresentado até agora de um enredo mais coeso e realista.


Pra quem não se lembra, nos anos 90 houve uma tentativa de se criar um seriado do Flash, e se os episódios não podiam ser considerados obras de arte, ao menos serviram para popularizar o personagem entre o público “civil”. A partir de então, não havia um ser humano brasileiro que não chamasse o personagem de o “The Flash”, e assim ele ficou conhecido por muitos anos até a reeducação proporcionada pelo desenho da Liga da Justiça, onde o personagem era chamado apenas de "Flash".


A série estrelada pelo ator John Wesley Shipp é hoje considerada trash, mas para a época em que quase nada sobre super-heróis era produzido, quebrava um galhão, ainda mais se levarmos em conta que ao menos os episódios eram divertidos. O traje do Flash também era muito bem feito, e embora eu lembre bem pouco do conteúdo da série, me recordo que conheci a maioria dos conceitos do personagem nessa série, já que na época eu não tinha quase nada em quadrinhos sobre o Flash.


Posso dizer que o Flash da minha geração nem sequer se chamava Barry Allen, uma vez que na época em que comecei a acompanhar as aventuras do Corredor Escarlate, Allen já havia “morrido” na Crise nas Infinitas Terras e seu sobrinho Wally West (o Kid Flash) havia assumido o manto do Homem mais Rápido da Terra. A meu ver, aliás, West é até hoje o melhor Flash de todos. Ele começou como um moleque despreparado recém-saído dos Novos Titãs e aos poucos foi se tornando um dos mais importantes personagens a vestirem o traje vermelho, tanto que muitas das características como a Força de Aceleração (basicamente a fonte de poder do Flash), e a quebra da velocidade da luz foram mais bem conduzidas quando West estava por trás da máscara e Allen continuava no além-túmulo.


Hoje, com o reboot da DC, o Flash voltou a ser Barry Allen, e mesmo antes disso, o escritor Geoff Johns já tinha dado um jeito de limar a importância de Wally West para que seu Flash preferido voltasse a integrar o panteão de heróis clássicos da editora. 



Com Barry Allen de volta aos holofotes, resta saber como será construída sua relação com os demais personagens e quais vilões estarão presentes na série produzida pela Warner... Porque tirando o Flash Reverso, na galeria de vilões do personagem só tem bucha!


Os vilões buchas do Flash

Gostei muito da primeira temporada de Arrow, e acompanharei com ansiedade os próximos episódios à espera dessa interação do Flash/Barry Allen com Oliver Queen, estendendo a torcida também para a série solo do personagem que terá a supervisão do próprio Geoff Johns, que se tornou a mente criativa por trás da DC. Já que os planos para o filme do Corredor Escarlate estão temporariamente suspensos, vamos nos contentar com o que a Warner está nos proporcionando.  


NAMASTE! 

1 de setembro de 2013

Do fundo do Baú - Eu, Wolverine


O ano era 1982. Frank Miller, agora um desenhista em ascensão, havia acabado de deixar o título do Demolidor onde havia permanecido durante quatro anos, e buscava novos ares e novos desafios. A proposta para a criação de uma história envolvendo o mutante canadense membro dos X-Men partiu de Chris Claremont, escritor que havia desenvolvido (com John Byrne) uma das mais famosas histórias dos Filhos do Átomo, a Saga da Fênix Negra.


Nessa mesma história, o Wolverine havia ganhado uma relevância dentro da equipe sem precedentes ao detonar praticamente sozinho todo o Clube do Inferno na tentativa de resgatar os X-Men das garras do clã maligno, e é claro que ele estava ganhando cada vez mais popularidade. Segundo o próprio Claremont, era hora do baixinho invocado ganhar uma minissérie só dele, e a quatro mãos começou a rascunhar o argumento para a história sobre a viagem do Carcajú ao Japão.

A princípio relutante em colocar suas mãos no personagem de ossos de adamantium, Frank Miller só se convenceu quando percebeu que podia usar na história elementos que ele gostava de lidar, como ninjas, espadas e tudo que envolve a cultura oriental (coisa que ele já havia aprendido a trabalhar com o Demolidor e a Elektra), e foi aí que surgiu um dos mais memoráveis arcos da carreira do Wolverine até hoje. E olhe que lá se foram trinta e poucos anos de lá pra cá!


Claremont criou um enredo de início simplista, mas que vai se intricando ao longo da história. Nele, Logan decide ir até o Japão quando não consegue contato à distância com uma antiga namorada chamada Mariko Yashida, e contando com o auxílio de um velho amigo nipônico chamado Asano Kimura, o mutante descobre que Mariko está casada com um importante figurão local e que ela está honrando um pedido pessoal de seu pai, que é o homem mais poderoso do país


Intrigado com aquela história, Logan visita Mariko e descobre que a moça está sendo espancada pelo marido, o que o leva a confrontar diretamente o pai da moça, o Mestre Shingen. Shingen desafia Logan a um combate com bokan, as espadas samurais de madeira usadas para treino, e após ser atingido por shurikens ninjas banhados com um poderoso veneno, o herói mutante acaba conhecendo o gosto da derrota pelas mãos do velho samurai e é desonrado diante dos olhos de Mariko.


A partir daí, uma jovem conhecida de Shingen chamada Yukio atravessa o caminho do combalido Wolverine, e juntos eles começam a percorrer as ruas do Japão em busca de aventuras, enquanto o fator de cura mutante de Logan vai recuperando seu sistema nervoso gradativamente do veneno que fez com que ele fosse vencido por Shingen. 

Enquanto Shingen continua seus planos de dominar todo o submundo criminoso, ele planeja usar Yukio para destruir de vez as pretensões do mutante para com sua filha, e o enredo gira em torno dessa vingança e da medição de força entre ambos até a conclusão do arco.


Para a galera da nova geração deve ser um choque ver o Wolverine, o herói mais casca-grossa das HQs, sendo derrotado por um velhinho empunhando uma espada de madeira, mas é importante lembrar que no contexto da narração (trinta anos atrás!) o Carcajú ainda não era esse guerreiro imortal dos dias atuais que se recupera em minutos de explosões nucleares e de banhos de ácido. Apesar de já possuir seu fator de cura, que como ele mesmo cita na história o ajudou a se livrar de diversas enrascadas, esse seu poder mutante era bem menos poderoso na época e foi assim que aprendemos a conhecer o personagem; alguém extremamente habilidoso e durão só que com limitações. Hoje em dia o cara enfrenta personagens como Ragnarok (o clone do Thor criado na Guerra Civil) e o Quinteto Fênix (Vingadores Vs. X-Men) com certa naturalidade, e mesmo quando é completamente deteriorado, ele só precisa esperar "algumas páginas" da mesma revista para se recuperar completamente, o que diminuiu e muito a graça do personagem. 


Alguém consegue imaginar hoje o Wolverine sendo fulminado por uma rajada de uma Sentinela e morrendo, como acontece em Dias de um Futuro Esquecido?


Eu, Wolverine possui muito a cara de Frank Miller apesar do argumento cheio de balões e textos gigantes como é característico do trabalho de Chris Claremont, e as cenas de ação são seu grande forte. Diferente do clima “romântico” dos anos 60, e das bizarrices dos anos 70 nos quadrinhos, os anos 80 mostravam uma violência mais explícita em suas páginas, e nessa primeira aventura solo do Wolverine já vemos sua frase clássica sendo levada a sério: “Eu sou o melhor no que faço, e o que eu faço não é bonito”. Realmente o baixinho canadense não alivia para os adversários, e em alguns quadros vemos literalmente o sangue jorrando, mesmo dos ninjas do Tentáculo que costumam evaporar quando morrem.


Em grande parte da história vemos um Wolverine enfraquecido pelos efeitos do veneno que lhe é aplicado através de shurikens, e isso é utilizado como desculpa para a forma como ele apanha feio e não mostra o tempo todo do que é capaz. É interessante notar, no entanto, que isso não faz com que torçamos menos por ele, e que mesmo avariado, o cara ainda é o melhor no que faz. Apesar da lentidão do enredo e da variação irritante no traço de Miller, que ora beira a excelência e outra beira o relaxo, Eu, Wolverine possui pontos altos muito fortes como a luta final entre Logan e Shingen que fazem valer cada centavo gasto pelo encadernado.


O Frank Miller que vemos aqui ainda é um cara que aprecia o que faz, e apesar das minhas críticas a seu traço que por vezes parecem bem irregulares, ele está em seu grande momento. Sempre curti os desenhos do cara nas histórias do Demolidor e foi com o passar do tempo que ele foi assumindo seu traço “quadrado” mais característico visto em o Cavaleiro das Trevas de 1986. Até chegar a seu trabalho mais expressivo, Miller ainda escreveu A Queda de Murdock (também de 1986) que a meu ver é a história definitiva do Homem Sem Medo da Marvel. Gabarito Miller tem e MUITO para ser lembrado como um dos artistas mais competentes da história dos quadrinhos, mesmo ele tendo ficado meio gagá com o avanço da idade. E não, nem vou citar aqui O Cavaleiro das trevas 2, ou eu seria obrigado a retirar todos os elogios feitos a Frank Miller!


Eu, Wolverine foi usado como linha base para a construção do roteiro de Wolverine Imortal lançado em 2013 nos cinemas, e apesar das diversas alterações de roteiro como a presença da Víbora e do Samurai de Prata, ainda é possível reconhecer algumas características como a presença de Mariko Yashida, Yukio e até mesmo a batalha contra Shingen, no filme vivido pelo ator Hiroyuki Sanada (o Dogen da 6ª Temporada de LOST), que lembra bastante a dos quadrinhos.


O encadernado de Eu, Wolverine foi lançado no Brasil pela Panini em 2006, e além da história original em quatro capítulos, apresenta também o Casamento de Wolverine com Mariko, história que conta com a participação dos X-Men, da Víbora (a Madame Hidra) e do Samurai de Prata que querem estragar a festa. O enredo é enrolado e confuso e termina de forma cretina, o que não chega a desvalorizar a edição cuidadosa da Panini que conta ainda com uma introdução escrita pelo próprio Chris Claremont que conta como convenceu Frank Miller a desenhar Eu, Wolverine.

Vale a pena pra quem quer saber como o filme Wolverine Imortal poderia ter sido beeeem melhor.

NOTA: 8

NAMASTE!

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