1 de setembro de 2013

Do fundo do Baú - Eu, Wolverine


O ano era 1982. Frank Miller, agora um desenhista em ascensão, havia acabado de deixar o título do Demolidor onde havia permanecido durante quatro anos, e buscava novos ares e novos desafios. A proposta para a criação de uma história envolvendo o mutante canadense membro dos X-Men partiu de Chris Claremont, escritor que havia desenvolvido (com John Byrne) uma das mais famosas histórias dos Filhos do Átomo, a Saga da Fênix Negra.


Nessa mesma história, o Wolverine havia ganhado uma relevância dentro da equipe sem precedentes ao detonar praticamente sozinho todo o Clube do Inferno na tentativa de resgatar os X-Men das garras do clã maligno, e é claro que ele estava ganhando cada vez mais popularidade. Segundo o próprio Claremont, era hora do baixinho invocado ganhar uma minissérie só dele, e a quatro mãos começou a rascunhar o argumento para a história sobre a viagem do Carcajú ao Japão.

A princípio relutante em colocar suas mãos no personagem de ossos de adamantium, Frank Miller só se convenceu quando percebeu que podia usar na história elementos que ele gostava de lidar, como ninjas, espadas e tudo que envolve a cultura oriental (coisa que ele já havia aprendido a trabalhar com o Demolidor e a Elektra), e foi aí que surgiu um dos mais memoráveis arcos da carreira do Wolverine até hoje. E olhe que lá se foram trinta e poucos anos de lá pra cá!


Claremont criou um enredo de início simplista, mas que vai se intricando ao longo da história. Nele, Logan decide ir até o Japão quando não consegue contato à distância com uma antiga namorada chamada Mariko Yashida, e contando com o auxílio de um velho amigo nipônico chamado Asano Kimura, o mutante descobre que Mariko está casada com um importante figurão local e que ela está honrando um pedido pessoal de seu pai, que é o homem mais poderoso do país


Intrigado com aquela história, Logan visita Mariko e descobre que a moça está sendo espancada pelo marido, o que o leva a confrontar diretamente o pai da moça, o Mestre Shingen. Shingen desafia Logan a um combate com bokan, as espadas samurais de madeira usadas para treino, e após ser atingido por shurikens ninjas banhados com um poderoso veneno, o herói mutante acaba conhecendo o gosto da derrota pelas mãos do velho samurai e é desonrado diante dos olhos de Mariko.


A partir daí, uma jovem conhecida de Shingen chamada Yukio atravessa o caminho do combalido Wolverine, e juntos eles começam a percorrer as ruas do Japão em busca de aventuras, enquanto o fator de cura mutante de Logan vai recuperando seu sistema nervoso gradativamente do veneno que fez com que ele fosse vencido por Shingen. 

Enquanto Shingen continua seus planos de dominar todo o submundo criminoso, ele planeja usar Yukio para destruir de vez as pretensões do mutante para com sua filha, e o enredo gira em torno dessa vingança e da medição de força entre ambos até a conclusão do arco.


Para a galera da nova geração deve ser um choque ver o Wolverine, o herói mais casca-grossa das HQs, sendo derrotado por um velhinho empunhando uma espada de madeira, mas é importante lembrar que no contexto da narração (trinta anos atrás!) o Carcajú ainda não era esse guerreiro imortal dos dias atuais que se recupera em minutos de explosões nucleares e de banhos de ácido. Apesar de já possuir seu fator de cura, que como ele mesmo cita na história o ajudou a se livrar de diversas enrascadas, esse seu poder mutante era bem menos poderoso na época e foi assim que aprendemos a conhecer o personagem; alguém extremamente habilidoso e durão só que com limitações. Hoje em dia o cara enfrenta personagens como Ragnarok (o clone do Thor criado na Guerra Civil) e o Quinteto Fênix (Vingadores Vs. X-Men) com certa naturalidade, e mesmo quando é completamente deteriorado, ele só precisa esperar "algumas páginas" da mesma revista para se recuperar completamente, o que diminuiu e muito a graça do personagem. 


Alguém consegue imaginar hoje o Wolverine sendo fulminado por uma rajada de uma Sentinela e morrendo, como acontece em Dias de um Futuro Esquecido?


Eu, Wolverine possui muito a cara de Frank Miller apesar do argumento cheio de balões e textos gigantes como é característico do trabalho de Chris Claremont, e as cenas de ação são seu grande forte. Diferente do clima “romântico” dos anos 60, e das bizarrices dos anos 70 nos quadrinhos, os anos 80 mostravam uma violência mais explícita em suas páginas, e nessa primeira aventura solo do Wolverine já vemos sua frase clássica sendo levada a sério: “Eu sou o melhor no que faço, e o que eu faço não é bonito”. Realmente o baixinho canadense não alivia para os adversários, e em alguns quadros vemos literalmente o sangue jorrando, mesmo dos ninjas do Tentáculo que costumam evaporar quando morrem.


Em grande parte da história vemos um Wolverine enfraquecido pelos efeitos do veneno que lhe é aplicado através de shurikens, e isso é utilizado como desculpa para a forma como ele apanha feio e não mostra o tempo todo do que é capaz. É interessante notar, no entanto, que isso não faz com que torçamos menos por ele, e que mesmo avariado, o cara ainda é o melhor no que faz. Apesar da lentidão do enredo e da variação irritante no traço de Miller, que ora beira a excelência e outra beira o relaxo, Eu, Wolverine possui pontos altos muito fortes como a luta final entre Logan e Shingen que fazem valer cada centavo gasto pelo encadernado.


O Frank Miller que vemos aqui ainda é um cara que aprecia o que faz, e apesar das minhas críticas a seu traço que por vezes parecem bem irregulares, ele está em seu grande momento. Sempre curti os desenhos do cara nas histórias do Demolidor e foi com o passar do tempo que ele foi assumindo seu traço “quadrado” mais característico visto em o Cavaleiro das Trevas de 1986. Até chegar a seu trabalho mais expressivo, Miller ainda escreveu A Queda de Murdock (também de 1986) que a meu ver é a história definitiva do Homem Sem Medo da Marvel. Gabarito Miller tem e MUITO para ser lembrado como um dos artistas mais competentes da história dos quadrinhos, mesmo ele tendo ficado meio gagá com o avanço da idade. E não, nem vou citar aqui O Cavaleiro das trevas 2, ou eu seria obrigado a retirar todos os elogios feitos a Frank Miller!


Eu, Wolverine foi usado como linha base para a construção do roteiro de Wolverine Imortal lançado em 2013 nos cinemas, e apesar das diversas alterações de roteiro como a presença da Víbora e do Samurai de Prata, ainda é possível reconhecer algumas características como a presença de Mariko Yashida, Yukio e até mesmo a batalha contra Shingen, no filme vivido pelo ator Hiroyuki Sanada (o Dogen da 6ª Temporada de LOST), que lembra bastante a dos quadrinhos.


O encadernado de Eu, Wolverine foi lançado no Brasil pela Panini em 2006, e além da história original em quatro capítulos, apresenta também o Casamento de Wolverine com Mariko, história que conta com a participação dos X-Men, da Víbora (a Madame Hidra) e do Samurai de Prata que querem estragar a festa. O enredo é enrolado e confuso e termina de forma cretina, o que não chega a desvalorizar a edição cuidadosa da Panini que conta ainda com uma introdução escrita pelo próprio Chris Claremont que conta como convenceu Frank Miller a desenhar Eu, Wolverine.

Vale a pena pra quem quer saber como o filme Wolverine Imortal poderia ter sido beeeem melhor.

NOTA: 8

NAMASTE!

2 comentários:

  1. EU TENHO ... A MAIORIA DE VOCÊS NÃO TEM

    Eu ia dizer "eu teeeenho, você não teeem" ... mas outros aficionados como eu diriam que estou errado.

    Mas, pelo menos eu (e alguns poucos mestres do universo) temos, kkk...

    Sério agora, quem nunca leu, procura uma versão digital, tá cheio na internet, vale o download.

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  2. Li essa revista há pouco e ela é muito boa, e ao mesmo tempo simples. O filme teria sido bem melhor com aquelas cenas de ação, mas nesse contexto da HQ. Li e tenho a versão original da Abril de 1987(comprei usada).

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