Em 1985 a DC estava prestes a colocar em prática o primeiro
dos vários reboots pela qual a editora tentaria submeter sua cronologia nos
anos seguintes, e estava se desenhando pelas mãos de Marv Wolfman e George
Pérez a primeira CRISE NAS INFINITAS TERRAS. Era certo que depois desse reboot
toda a linha editorial da DC passaria por modificações (algumas bem profundas)
e todos os personagens seriam reformulados com o fim do conceito de terras
paralelas, inclusive o Superman.
Com a certeza de que aquela cronologia da ERA DE PRATA seria
descontinuada, ficou à cargo de ninguém menos que Alan Moore e o desenhista
veterano Curt Swan criarem aquela que seria conhecida como a última história do Superman pré-crise, nascendo assim “O que aconteceu ao Homem de Aço?”.
Com um roteiro linear e de fácil entendimento, Alan Moore
presta diversas homenagens não só ao próprio Homem de Aço e seu universo,
como também para os artistas que passaram pelo título todos aqueles anos, desde 1938. Já na primeira história George Pérez trabalha como arte-finalista
de Curt Swan, que desenhava o personagem desde a década de 50, e que foi
convidado a participar desse projeto justamente por sua longeva carreira à
frente de um dos principais títulos da editora. O traço característico de Swan marcou seu lugar na história do Superman, e ao lado de John Byrne, Jerry Ordway, o próprio George Pérez e mais tarde
Dan Jurgens, remonta como um dos mais lembrados pelos fãs do Azulão.
No enredo, Alan Moore define de forma bem clara o destino de
todos os personagens envolvidos na mitologia do Superman, e diferente do que
estamos acostumados nas HQs, cria um embate final entre ele e todos seus principais
adversários, incluindo aí o Metallo, o Bizarro, Lex Luthor, Brainiac e até o
temível (só que não!) Mxyzptlk.
Por se tratar de um capítulo final da saga do herói, O que
aconteceu ao Homem de Aço? por vezes soa melancólico e até triste, e vários
personagens que aprendemos a gostar e até admirar com o passar do tempo perecem
numa batalha final (que o Superman simplesmente não consegue evitar) entre ele
e um Lex Luthor cuja mente está sendo controlada por Brainiac.
Como não podia deixar de ser, a luta decisiva entre o Homem de Aço e seus maiores inimigos ocorre na porta da Fortaleza da Solidão, aumentando o tom dramático da história e lhe conferindo um caráter sombrio, bem a cara do escritor inglês.
Como não podia deixar de ser, a luta decisiva entre o Homem de Aço e seus maiores inimigos ocorre na porta da Fortaleza da Solidão, aumentando o tom dramático da história e lhe conferindo um caráter sombrio, bem a cara do escritor inglês.
Lana Lang e Jimmy Olsen vão pra vala... |
Apesar de seu clímax ser mesmo o desenrolar surpreendente da
trama (Mxyzptlk, quem diria, hein???), em que o Superman se sacrifica em nome daquilo que sempre acreditou, O que aconteceu ao Homem de Aço? é lenta e cansativa, proporcionando mais bocejos ao
longo da leitura do que reflexões sobre esse sacrifício.
É estranho notar também a inabilidade do Homem de Aço em lidar com a invasão à Fortaleza da Solidão, enquanto seus amigos Jimmy Olsen e Lana Lang, que adquirem superpoderes, precisam fazer as vezes de heróis para tentar salvar a própria pele.
Tá... Mas matar o Krypto é SACANAGEM!! |
É estranho notar também a inabilidade do Homem de Aço em lidar com a invasão à Fortaleza da Solidão, enquanto seus amigos Jimmy Olsen e Lana Lang, que adquirem superpoderes, precisam fazer as vezes de heróis para tentar salvar a própria pele.
Embora o clima lento da história seja uma característica bem
forte ao longo das páginas (e também uma marca da época em que a história foi publicada
originalmente), a homenagem prestada aos anos de publicação do Superman são
ainda a força motriz por traz de O que aconteceu ao Homem de Aço?, e somente por
isso, somado a arte de Curt Swan é que a HQ vale a pena, dando inclusive o
título do encadernado que a Panini publicou há algum tempo.
Uma coisa a gente pode ter certeza: Alan Moore sabe escrever uma história comovente, porque não é fácil segurar as lágrimas quando o Krypto morre ou quando o Superman se sacrifica!!
Uma coisa a gente pode ter certeza: Alan Moore sabe escrever uma história comovente, porque não é fácil segurar as lágrimas quando o Krypto morre ou quando o Superman se sacrifica!!
Alan Moore é provavelmente um dos únicos escritores que
conseguiu criar algo de relevante com o Monstro do Pântano, personagem criado
em 1971 por Len Wein (que criou também o Wolverine da Marvel) e Berni Wrightson.
Me lembro de ter visto a propaganda desse encontro entre o
Homem de Aço e o Monstro do Pântano no miolo de uma das minhas antigas HQs do
Capitão América da Editora Abril e sempre me perguntar o que teria acontecido
ao herói para ele ter ficado com aquela cara de zumbi. A resposta só vim a
saber muitos e muitos anos depois.
No enredo, após entrar em contato com um meteorito que
continha uma espécie de fungo alienígena em sua superfície, enquanto fazia uma
reportagem como Clark Kent, o Homem de Aço percebe que começa a perder o
controle sobre seus poderes, que por vezes são até anulados enquanto seu corpo
adoece gradativamente. É interessante notar que quanto mais “humano” ele vai se
tornando em decorrência da ação dessa bactéria com a qual ele foi contaminado,
mais ele vai aprendendo sobre reações comuns, como ter o dedo cortado por uma
folha de papel, por exemplo, o que nunca antes havia lhe acontecido, já que ele era invulnerável devido a ação do sol amarelo da Terra em seu corpo.
Com medo do que pode acontecer caso a infecção que o abate
avance, Clark resolve se afastar o mais longe que puder de Metrópolis,
começando uma peregrinação de carro, já que seus poderes agora instáveis não
permitem que ele voe. No meio do caminho um forte delírio febril o toma, e o
Homem de Aço sofre um acidente de carro, que o faz cruzar o caminho do estranho
Monstro do Pântano, que o reconhece quando vê seu uniforme sob as roupas rasgadas.
Quando desperta, tomado por delírios causados pela bactéria
alien, o Superman entra em conflito com o Monstro, que logo detecta que há algo
de errado com o herói.
Não antes de arrancar pedaços do Monstro e atear fogo em metade da floresta onde reside a criatura verde (foda-se a natureza!), o Superman acaba voltando a si com a ajuda essencial do Monstro, que o vê partir sem nem dizer um “obrigado”. Que belo filho da puta esse Superman, hein! Só faltou ele quebrar o pescoço do Monstro do Pântano!
Não antes de arrancar pedaços do Monstro e atear fogo em metade da floresta onde reside a criatura verde (foda-se a natureza!), o Superman acaba voltando a si com a ajuda essencial do Monstro, que o vê partir sem nem dizer um “obrigado”. Que belo filho da puta esse Superman, hein! Só faltou ele quebrar o pescoço do Monstro do Pântano!
A Linha da Selva é desenhada por Rick Veitch (que eu nunca
ouvi falar!), cujos desenhos irregulares meio que dão sono, e a capa da edição também
é dele, embora com uma pintura mais realista e um traço mais dinâmico.
Vale apenas para ver como o Superman reage quando é apenas um ser humano lidando com suas fraquezas e limitações, de resto, bem aquém do nome de Alan Moore.
Vale apenas para ver como o Superman reage quando é apenas um ser humano lidando com suas fraquezas e limitações, de resto, bem aquém do nome de Alan Moore.
Eu já tinha visto o episódio de Liga da Justiça (a animação) que adaptava
essa história, e sempre tive muita curiosidade em ler o material original, até
porque sempre ouvira falar muito bem dele.
Lançada em Janeiro de 1985 após os eventos de Crise nas
Infinitas Terras, Para o Homem que tem tudo... conta um enredo curioso em que a
Mulher Maravilha e a Dupla Dinâmica Batman e Robin decidem ir até a Fortaleza
da Solidão para presentearem o Homem de Aço por seu aniversário. No maior clima
Superamigos, cheios de piadinhas e insinuações do Robin (Jason Todd recém “contratado”
na época) com relação a voluptuosidade da Mulher maravilha, os três acabam
encontrando um Superman catatônico com uma estranha planta de aspecto
alienígena presa ao peito.
O Robin empolgadinho com a Mulher Maravilha |
O mistério sobre o que é aquela planta e quem a enviou ao
Homem de Aço logo é solucionado quando o remetente do “mimo” aparece em pessoa
na Fortaleza, alegando que o Superman está muito além da ajuda dos três, e que
aquela planta realiza o maior sonho daquele que a toca, fazendo com que essa
pessoa NÃO QUEIRA sair daquela fantasia. Assim, querendo que o gigante Mongul
traga a consciência de seu amigo de volta, a Mulher maravilha decide enfrentar
a criatura amarela na porrada, enquanto a dupla dinâmica procura livrar o
Superman da “planta do sonho” chamada de Clemência Negra.
Esta história é GENIAL em sua simplicidade, pois coloca o
Homem de Aço em uma situação (até então) inusitada. Preso ao mundo que ele foi
obrigado a deixar para trás quando era bebê, ele se vê feliz, casado e com um
filho que desesperadamente precisa salvar, enquanto Krypton ameaça explodir. Nessa
realidade seu pai Jor-El está vivo e o herói entra em conflito ao ter que decidir
em continuar eternamente aquele sonho ou voltar para a realidade, onde Diana, Bruce e Jason lutam para trazê-lo de volta.
Para o Homem que tem tudo... é desenhada por Dave Gibbons, o
parceiro de Alan Moore em Watchmen. Embora Gibbons seja excelente para retratar
figuras humanas comuns, ele comete alguns erros de anatomia bem grotescos como
no quadril da Mulher maravilha, que as vezes parece mais aquelas tias gordas, e
na proporção de tamanho de Mongul com relação aos demais personagens.
Gosto dos desenhos de Gibbons, mas essas deslizadas meio que tiraram o brilho da história.
Gosto dos desenhos de Gibbons, mas essas deslizadas meio que tiraram o brilho da história.
A Mulher Maravilha cadeiruda do Gibbons |
O encadernado Superman - O que aconteceu ao Homem de Aço reúne as edições originais Action Comics 583, DC Comics Presents 85, Superman 423 e Superman Annual 11.
Formato 17 x 26 cm
Capa Dura
Lombada Quadrada
Papel Couché, 132 Páginas
R$ 19,90
NOTA: 8
Pra quem ficou interessado e não leu a HQ e nem viu o episódio de Liga da Justiça sem Limites de Para o Homem que tem tudo..., abaixo, um resumão:
NAMASTE!
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