Eu tinha seis anos de idade quando BATMAN estreou nos
cinemas com seu visual gótico e sombrio na tela. O filme era uma
reinterpretação cinematográfica de um personagem que já estava por aí há uns
bons cinquenta anos povoando o imaginário das pessoas, e que curiosamente,
também tinha sido baseado em outro personagem icônico dos quadrinhos: Lamont
Cranston, O Sombra. Sem grana para ver nos cinemas ou sequer idade para isso –
embora eu ache que não haja idade para se visitar um cinema! – eu só fui ver
Batman na TV alguns anos depois, o que me impactou profundamente. A percepção
sobre aquele Homem-Morcego azul e cinza do seriado antigo dos anos 60 tinha se
alterado completamente em minha cabeça, e aquilo já me parecia bobo e infantil.
O Batman desenvolvido pelo cineasta Tim Burton agora era meu preferido, o meu
suprassumo dos personagens sem grandes poderes especiais.
Leitor assíduo de histórias em quadrinhos desde a infância,
eu tinha a mente povoada por essas criaturas fantásticas que saltavam de
prédios, quebravam paredes e disparavam rajadas de energia, o que me levou
desde muito cedo a querer fazer parte daquele universo, a dar vida a
personagens tão espetaculares quanto os dos gibis. Embora minha habilidade em
desenhar na época fosse bem limitada, eu comecei a criar minhas próprias
histórias com versões “juniores” dos heróis Marvel e DC, produzindo pilhas e
mais pilhas de gibis artesanais feitos à lápis em papel sulfite. Aquele era meu
passatempo preferido.
Com o tempo, copiar personagens alheios e criar fanfics para eles não me satisfazia
mais, o que me fez querer criar meu próprio universo de super-heróis. Eu nunca
havia tido problemas com sono desde criança, e embora aquilo não pudesse ser
chamado de insônia, eu passei muitas noites acordado imaginando aventuras
protagonizadas por um certo herói encapuzado vestindo preto e que combatia o
crime em sua cidade corrupta.
O que? Acha que estou falando do Batman? Não, não. Estou
falando do Pássaro Noturno.
Eu tinha exatos doze anos quando criei o Pássaro Noturno, e
hoje é engraçado perceber o quanto de mim existe nesse personagem. Antes de
desenvolver a sua “forma”, eu criei seu nome para ser usado por outro
personagem que era “interpretado” por mim mesmo nas brincadeiras de lutinha que
fazia com minha irmã mais nova em nossa infância. Quando li as primeiras
aventuras do Asa Noturna nas antigas revistas dos Novos Titãs, publicadas no
Brasil pela Editora Abril, eu lembro que fiquei vidrado com o personagem. Ele
não era mais o Robin, não usava sunguinha verde e nem botinhas de duende. Agora
ele usava uma roupa maneira – Na época eu achava – era acrobático, dava saltos
incríveis, combatia os vilões só com suas habilidades de luta e com armas de
arremesso. Eu queria ser igual ele!
Para minhas brincadeiras eu cheguei a confeccionar uma
máscara feita de cartolina, baseada na do Asa Noturna, um bastão curto de
madeira – do tipo que o Demolidor da Marvel também usava – e improvisei um
disco para arremessar com a tampa perfurada de um chuveiro velho. Embora fosse
eu ali “fantasiado”, em minha cabeça eu havia me tornado um herói, combatendo
meus inimigos imaginários com socos e chutes dentro da segunda casa que estava
em construção na época em nosso próprio quintal.
Mais tarde eu já não tinha mais idade para me fantasiar e
brincar de lutinha no quintal, então reaproveitei o nome de meu personagem
baseado no Asa Noturna para batizar aquele que viria a ser o principal cara de
uma legião de outros heróis que eu comecei a criar a partir de 1995 com o
Pássaro Noturno. Embora as ideias já estivessem na cabeça há mais tempo, só
comecei a colocá-las no papel – literalmente no papel, em vários cadernos meus –
a partir dos anos 2000. Usei muito do tempo ocioso que eu tinha antes da escola
para contar algumas aventuras do Pássaro Noturno, e a primeira história que
decidi contar levava nosso herói para um universo paralelo, onde seus colegas
de escola eram versões medievais de si mesmos e não faziam ideia de quem ele
era. Me lembro bem que levei alguns meses para conseguir terminar esse “livro” –
todo manuscrito, só como observação – porque nesse ínterim eu acabei cortando
meu braço esquerdo num pedaço de vidro e tive que ficar no hospital. Entre uma
microcirurgia para reconstituir um nervo, a fisioterapia e a recuperação total
levou-se algum tempo, e tive bastante oportunidades de planejar como seria o
final de minha história, enquanto me alimentava da comida aguada do hospital.
Depois da primeira aventura de Pássaro Noturno – que de certa forma já mostrava
o personagem um pouco mais velho – vieram mais duas, uma no espaço – isso mesmo!
– e outra para resgatar uma antiga namoradinha da escola de um terrível
sequestro. O quarto “livro” não chegou a ser concluído, mas ele levava Henrique
de volta ao mundo paralelo da primeira história, fazendo-o se confrontar com as
consequências de sua primeira passagem por lá.
Nas noites em que eu revirava na cama criando as aventuras
do Pássaro Noturno, em minha mente, eu basicamente criei todo o histórico dele,
desde os equipamentos encontrados no subterrâneo aos aliados e inimigos. A cada
noite eu tentava pensar num “capítulo” de incontáveis histórias que ele vivia
ao lado dos amigos – Os vilões Edmundo Bispo e Carlos Castellini já
infernizavam nosso herói nesse tempo - mas claro que nem tudo funcionava tão
linearmente como hoje tento imaginar que era. O Batman de 1989 teve uma
influência gigantesca no desenvolvimento do Pássaro Noturno, em especial no
uniforme e nos gadgets que ele usava,
mas a história era completamente diferente. O Henrique Harone não era um órfão
bilionário que combatia o crime como uma forma de honrar a memória dos pais
assassinados brutalmente. Ele vivia feliz com sua mãe e seus irmãos na casa de
subúrbio na cidade de São Francisco D’Oeste, e seu grande desafio diário era
sobreviver à adolescência na escola onde ele estudava, e onde ele era
perseguido por um grupo de garotos que simplesmente não iam com a sua cara e
com a de seus dois melhores amigos, Ricardo e Antonio – Baseados livremente em
meus dois amigos da sexta série, Rodrigo Costa e Antonio Rodrigues. O combate
ao crime foi uma decisão sua, quando ele viu que a realidade a seu redor era
bem mais cruel do que ele supunha e que ele tinha meios de fazer aquilo com os
aparatos tecnológicos que havia descoberto por acaso embaixo da sua casa.
A história de Henrique Harone não começa glamorosa ou com
requintes de mistério como a da maioria dos super-heróis que conhecemos, mas
ela vai ganhando novos tons de cinza à medida que ele mesmo compreende que a
vida não é um quadro pintado só com preto e com branco. A saga de Pássaro
Noturno é sobre um garoto que aprende a fazer o bem para as outras pessoas
durante a sua experiência de vida, e que encara essa importante lição como um
farol de esperança. A história fala sobre crescimento, sobre luta e principalmente
sobre amadurecimento, exatamente como a nossa vida funciona... Só que sem
equipamentos tecnológicos para deixar tudo um pouco mais simples!
A ideia é acompanhar nosso herói a cada ano de sua evolução até
entender o que fez com que ele se tornasse o personagem grandioso que inspirou
seus colegas super-heróis na Legião Nacional, e o que o transformou em uma
lenda.
Abraços carinhosos e Namaste!
Rod Rodman
O projeto Pássaro Noturno vai completar 25 anos em 2020, mas é a primeira vez que ele ganha a luz do sol e vem à público. Embora eu quisesse torná-lo conhecido em algum momento, haviam alguns empecilhos para que eu tomasse coragem de apresentá-lo ao mundo, entre eles a falta de motivação, a falta de incentivo e principalmente um bloqueio criativo que me segurou por anos para completar uma história de origem. Todo seu histórico sempre estivera em minha cabeça, mas não seria certo publicar os textos em que ele aparece mais velho, mais experiente no combate ao crime sem que as pessoas soubessem de onde ele vinha. Pássaro Noturno – Origens demorou para ser desenvolvido porque eu precisava arranjar um meio de mostrar o começo de sua história sem bagunçar aquilo que já tinha sido escrito. Claro que minhas ideias tinham mudado bastante desde que eu revirava na cama apenas imaginando suas aventuras sem colocar nada no papel, e foi mais difícil do que eu imaginava sintetizar o que eu queria mostrar para as pessoas em um conto curto de trinta e poucas páginas – Um dos livros em que Pássaro Noturno aparece ao lado de outros heróis brasileiros tem quase 400 páginas! -, eu tenho uma certa dificuldade em escrever pouco!
Ao longo dos anos a aparência do Pássaro Noturno também
mudou bastante. Como no princípio ele existia mais em minha imaginação do que
fisicamente, era possível fazer experimentações em seu uniforme, o que gerou
uma quantidade bem grande de versões do personagem. Embora ele tivesse sido
baseado no Batman do Tim Burton, eu queria me afastar do herói da DC e criar
algo mais único, algo mais brasileiro. Ainda nos anos 90 eu tinha feito um gibi
com ele e seus aliados, e por muito tempo aqueles rabiscos foram as únicas
amostras do visual do personagem.
Alguns anos mais tarde, eu criei a Legião Nacional, grupo de super-heróis que inventei no mesmo universo em que vivia o Pássaro Noturno, e com isso passei a rascunhar os uniformes deles, incluindo aí o próprio defensor de São Francisco D’Oeste. Na primeira década dos anos 2000 passei a dar um gás em meu projeto, o que fez com que o Pássaro Noturno ganhasse uma nova forma, além de uma identidade diferente da que eu tinha pensado inicialmente. Nem sempre ele se chamou Henrique Harone.
Alguns testes para o visual |
Alguns anos mais tarde, eu criei a Legião Nacional, grupo de super-heróis que inventei no mesmo universo em que vivia o Pássaro Noturno, e com isso passei a rascunhar os uniformes deles, incluindo aí o próprio defensor de São Francisco D’Oeste. Na primeira década dos anos 2000 passei a dar um gás em meu projeto, o que fez com que o Pássaro Noturno ganhasse uma nova forma, além de uma identidade diferente da que eu tinha pensado inicialmente. Nem sempre ele se chamou Henrique Harone.
Eu nunca estive muito bem satisfeito com o visual do Pássaro Noturno, por isso eu estava sempre mudando seu traje. Acrescentei coisas, tirei outras. A roupa estava em constante modificação quase sempre. Mesmo hoje depois de ter decidido qual seria a aparência dele em sua primeira missão, tenho bem claro em minha mente que seu uniforme vai continuar passando por um processo de evolução, sem a obrigação de manter sempre as mesmas características. Como em cada missão ele encontra dificuldades ou necessidades, é comum que ele modifique o traje e a gama de equipamentos para melhor servi-lo. Diferente de seus colegas de Legião Nacional, Henrique não possui poderes especiais, portanto ele precisa se resguardar em campo e se manter vivo, o que vai obrigá-lo a modificar seus gadgets constantemente.
Alguns visuais e as armas do Pássaro Noturno |
Tal qual o Batman, Henrique não tem um código moral que o
impeça de usar armas de fogo – tanto que a ASA possui armamentos pesados – mas é
uma questão de estilo ele preferir armas de arremesso ou de perfuração. No
início eu queria que ele só usasse os discos de arremesso que guarda na parte
posterior do cinturão, mas depois comecei a incorporar outros itens à medida
que as missões exigiam. Hoje além dos discos, sua principal arma de longo
alcance, Pássaro Noturno possui bombas de fumaça e de concussão – basicamente esferas
pequenas que ele consegue guardar nos bolsos do cinto -, as garras retráteis
que servem para perfurar ou desarmar – que se ejetam de seu bracelete – e a sua
principal arma que é o Imã, um projetor e atrator de campo magnético que tem
várias utilidades, desde repelir alvos metálicos até atraí-los para as mãos de
Pássaro. Além disso, a máscara possui lentes infravermelhas, o traje é feito
atualmente com um material anti-fogo e a parte interna é revestida por um
sistema refrigerado que mantem a temperatura do corpo de Henrique sempre
estável, esteja ele num incêndio ou numa nevasca.
O primeiro capítulo da vida desse herói brasileiro já pode
ser conferido na plataforma Wattpad. É gratuito, é acessível e todo mundo pode
ler. As próximas aventuras já estão em andamento e logo que forem publicadas
estarão em minhas redes sociais.
Sigam o Blog do Rodman nas Redes Sociais e curtam as mini-postagens rápidas sobre o mundo do entretenimento que eu faço por lá. Dá uma moral!
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NAMASTE!
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