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5 de maio de 2021

Adeus a Paulo Gustavo



Vou começar o post com uma frase clichê que sempre é dita quando um humorista se vai, mas que representa exatamente o momento atual: hoje o Brasil ficou mais triste com a passagem de Paulo Gustavo.

É muito complicado tentar exprimir em palavras o que a gente sente quando alguém tão popular, que de certa maneira faz parte da nossa vida, se vai e é preciso ter um poder muito raro de concisão para colocar num texto tudo que acaba saindo no calor do momento, por isso, eu nem vou tentar. Vou falar aqui com o coração mesmo, desprovido de coesão, razão ou qualquer poder de síntese. Vai ser no improviso.

Eu conheci o Paulo Gustavo, até meio tardiamente, já no palco do Vai que Cola  humorístico do canal Multishow —, vários anos depois dele já ter despontado com suas peças teatrais de sucesso e os filmes estrelados no cinema nacional. Eu chegava do trabalho mais ou menos por volta das 20:00, às vezes mais tarde, tomava um banho, esquentava alguma coisa pra comer e ia pra frente da TV assistir ao programa basicamente todos os dias da semana. Em pouco tempo, virou um vício na casa da minha mãe e a gente ria muito assistindo os improvisos e a “trocação” que o ator fazia “ao vivo” com os colegas de humor Samantha Schmütz, Marcus Majella e — na época da 1ª temporada — Fernando Caruso. Aliás, por mais que o texto do sitcom brasileiro fosse realmente engraçado e a direção de cena muito competente, eram mesmo as falas fora do script que davam o verdadeiro tom da atração. Era impossível não cair no riso.



Fazia muito tempo que eu não assistia TV e menos ainda programas ditos humorísticos com aquela coisa mais quadrada cheia de bordões ensaiados como “A Praça é Nossa” ou o antigo “Zorra Total”. Eu já não achava mais graça de coisas assim e nem perdia meu tempo vendo. O Vai que Cola e em especial o humor “bagaceiro” do Paulo Gustavo é que me fez gostar novamente de atrações assim e ele com seus personagens caricatos e exagerados nos fazia rir genuinamente, sem aquela forçada — o sorrisinho amarelo — que às vezes nos permitimos só para não admitir que estamos é constrangidos pelas piadas sem graça. E nem estou falando do Valdomiro, o personagem pilantra que Paulo interpretava no sitcom desde a primeira temporada, aquele que adorava falar mal do bairro do Méier do Rio de Janeiro — onde se passava a história — de sacanagem. Como ele mesmo costumava brincar com o amigo Majella — e esse diálogo aparece até no primeiro filme baseado no programa — os dois não sabiam interpretar personagens héteros. O grande talento de Paulo estava mesmo em fazer graça na pele de mulheres ou gays rasgadíssimos, algo no qual ele era insuperável.

A gente nem mede o sucesso de Paulo Gustavo ou sua importância para o mundo do humor por ele fazer a nossa geração rir, mas sim dele ter uma capacidade impressionante de atingir as nossas mães, as nossas avós, um público mais antigo que não está acostumado ou mesmo faz esforço para entender que homossexuais existem e merecem tanto espaço quanto qualquer outra pessoa, seja de qual orientação for. A gente que teve tempo de se informar mais, de procurar entender o outro com empatia vê em Paulo Gustavo — homossexual assumido desde sempre — apenas um cara engraçadíssimo que tem uma facilidade fenomenal de causar risos falando de sexualidade, mas nossos pais são da época em que “viado”, “sapatão” ou qualquer outro apelido mais pejorativo eram comuns e que “esse tipo de gente” não deveria ter tanto espaço. Em rede nacional, quase no horário nobre, Paulo Gustavo foi lá e fez as nossas mães rirem com piadas sobre sexualidade, com shows de drags e muita “pinta”, coisas impensáveis há vinte, talvez trinta anos.     

Minha mãe já disse frases como “eu não vejo nenhuma graça nesse novo Zorra”, quando o programa tentou uma abordagem menos machista, menos homofóbica e fazendo um humor mais consciente nas noites de sábado da Globo. Ela dava risada vendo o Didi chamar o Mussum de “urubu” na época dos Trapalhões, gostava de quadros como “dá uma subidinha” — cheio de sexismo — protagonizados no Zorra Total pelo também saudoso Agildo Ribeiro e odeia programas como Casseta & Planeta e o humor mais atual de atores como Marcelo Adnet, Tatá Werneck ou Rodrigo Sant'Anna. Ah, mas do Paulo Gustavo ela gostava. E muito! Eu ouvi da boca dela que o Vai que Cola só tinha graça quando tinha o Valdomiro e que quando ele saiu lá pela terceira ou quarta temporada, sei lá, segundo ela, o humorístico tinha perdido a graça.



A catarse e a entrega total pelo talento do humorista de 42 anos veio mesmo com seu papel essencial da carreira e quando eu coloquei para passar Minha Mãe é uma Peça para a MINHA mãe assistir, não tinha mais como negar ao vê-la gargalhar em frente à TV: Paulo Gustavo tinha mesmo o poder de reunir várias gerações com sua interpretação PERFEITA da matriarca ciumenta, desbocada e barraqueira, mas que tinha em sua essência aquele coração enorme que a gente identificava também em nossas mães. Há um pouquinho da Dona Hermínia na minha mãe e tenho certeza que quem está lendo esse texto vai balançar a cabeça nesse momento, concordando com o que digo e pensando “na minha também! ”. O talento de se entregar tanto ao seu trabalho ao ponto de abraçar virtualmente inúmeras pessoas de credos, culturas e orientações diferentes é raríssimo. Talvez eu tenha visto em alguma figura do esporte, da política ou mesmo de outras áreas da TV que não a das artes cênicas, mas nesse ramo do humor jamais.

O dublador e ator Guilherme Briggs sintetizou esse pensamento de maneira muito lúcida em sua conta do Twitter e eu não teria maneira de incorporar em meu texto sem usar suas palavras exatas, por isso farei um quote direto do que ele disse:

“O objetivo do artista é dar mais do que aquilo que tem. E assim fez o amado Paulo Gustavo, que se doou de tal forma, com tanto amor e intensidade, com tanta entrega e desenvoltura, que agora ele se transferiu de corpo e alma para dentro do coração do Brasil, para sempre. ❤”

E é isso! É uma tristeza muito grande ver um artista com um talento tão grande ser levado dessa maneira tão brutal por uma doença que já arrastou com ela mais de 400 mil vidas e que pasmem, já tem uma vacina. Enquanto choramos a morte de Paulo Gustavo, mais outras 400 mil famílias também choram por seus entes queridos, pais, mães, avós, irmãos, namoradas e tias, todos levados, sobretudo, pela negligência de um governo negacionista que podia ter feito muito mais pela população em todos esses meses e que preferiu se omitir, fingindo que tudo não passava de uma marolinha no oceano e não o verdadeiro tsunami que acabou sendo a pandemia de Covid-19.

Estamos tristes, machucados e já sentimos muito a perda de Paulo Gustavo, mas ao mesmo tempo, esperamos que depois de tanta luta, que depois de mais de 50 dias de internação, ele possa enfim descansar em paz e que lá de cima esteja olhando por seus entes queridos, a mãe — a grande inspiração para a Dona Hermínia —, sua irmã, seu marido e os dois filhos que infelizmente crescerão sem a sua presença maravilhosa aqui na Terra. Um cara gay que conseguiu reunir inúmeras tribos fazendo rir e que arrecadou com um filme mais de 140 milhões em bilheteria — a maior do Brasil — num país que nem sequer valoriza o próprio cinema. Isso não é pra qualquer um! Sua passagem por nossas vidas foi breve, como um meteoro no céu, mas seu trabalho jamais será esquecido. Descanse em paz, querido. Obrigado pelas noites de gargalhadas.


 

“… contra o preconceito, a intolerância, a mentira a tristeza já existe vacina: é o afeto, é o amor! ”.

NAMASTE!

22 de abril de 2021

Soul entre os Dois Irmãos de Mulan - Oscar 2021


No Combo Breaker dessa semana o Blog do Rodman vai fazer um jabá DE GRAÇA para o Disney Plus e falar de três filmes do catálogo da plataforma que vão disputar o Oscar 2021.

Sigam-me os bons!

MULAN



Há algum tempo os estúdios Disney vêm tentando adaptar suas animações clássicas para novos públicos, mas a cada novo lançamento, fica bem claro que é uma tarefa difícil agradar tanto aos fãs dos desenhos antigos quanto os novos. Com a estreia de Mulan em setembro (2020), não foi diferente, e o filme dirigido pela neozelandesa Niki Caro sofreu críticas duras até mesmo antes de seu filme dar as caras no serviço de streaming da Disney.



Em geral, o público que estava acostumado com a animação de 1998 torceu logo o nariz para as modificações anunciadas para o live-action e muita gente nem quis conferir o resultado. Entre as grandes alterações, constam a ausência do carismático Mushu  que no desenho funcionava como a voz da consciência da protagonista — e a adaptação do personagem Li Shang, o oficial comandante que acaba se apaixonando por Mulan enquanto ela ainda está disfarçada como um soldado do exército chinês. 

Mushu e Li Shang
Mushu e Li Shang


No filme, os roteiristas optaram por dividi-lo em dois personagens distintos, um o Comandante Tung (Donnie Yen) que adota uma postura mais paternal com Mulan e outro, Honghui (Yoson An), que assim como ela, é um jovem recém-alistado no exército e por quem a garota acaba desenvolvendo certo afeto. Vale lembrar, que no desenho, Li Shang sempre foi visto como um símbolo bissexual forte, uma vez que ele já gostava de Ping (o nome que Mulan adota para ingressar como um homem no exército) muito antes de saber que ele na verdade era ela. Nem é preciso dizer o quanto essa decisão desagradou os fãs do original.



Apesar de todas as críticas quanto às mudanças — que não se limitam apenas a Mushu e Li Shang — o longa-metragem, que foi uma grande aposta da Disney para abraçar ainda mais o público asiático, funciona muito bem como um produto independente, se o desassociarmos da animação. A produção de figurinos, cenários e ambientação é impecável, além do que o trabalho de fotografia da diretora australiana Mandy Walker é bastante impactante em várias cenas, causando a imersão necessária para a história.



O elenco de Mulan também não decepciona, começando pela protagonista vivida por Liu Yifei que garante ótimas cenas de ação e transparece a bravura da sua guerreira chinesa. Yifei é mais comumente vista em produções asiáticas e chegou a fazer participações também na série Once Upon a Time. Em Mulan, a atriz de 33 anos não compromete em seu papel principal, mas fica bem óbvio que ela não convenceria ninguém se fazendo passar por um homem. Enquanto na animação a personagem passa por toda uma masculinização — sacrificando inclusive os cabelos longos —  para poder substituir o pai na guerra, visualmente quase nada é alterado entre a Hua Mulan do filme e sua personificação masculina Hua Jun. Mesmo assim, isso não compromete a atuação de Yifei, que consegue fazer com que nos importemos com sua heroína ao longo de sua jornada, como diria a Lumena!



O elenco estelar de Mulan ainda traz o já veterano Jet Li na pele do Imperador chinês — e confesso que demorei para o reconhecer embaixo da indumentária pomposa —, o já comentado Donnie Yen como o Comandante das tropas chinesas, a atriz Gong Li como a bruxa Xian Lang — personagem que não existe na animação de 1998, mas que casou bem com o clima mais místico do live-action — e Jason Scott Lee que vive o antagonista principal do filme Bori Khan, substituindo o guerreiro huno do desenho Shan-Yu — apesar dos dois serem semelhantes em aparência. 



Assim como a animação noventista, o longa Mulan é baseado livremente na história folclórica chinesa “A Balada de Mulan” e no original, a guerra da China não é contra os hunos — como vimos no desenho — e sim contra os invasores Rouran, cujo líder tribal é representado no filme pelo personagem de Scott Lee. A motivação de Khan em querer acabar com a dinastia chinesa no filme de Niki Caro também é bem mais plausível, já que ele faz tudo a seu alcance para vingar a morte do pai nas mãos do imperador e também para manter a terra e a cultura do seu povo, oprimido pelos chineses. Se a gente pensar bem… ele não está tão errado assim!

Quem não é velho como eu nem deve saber, mas Jason Scott Lee estrelou a primeira cinebiografia de Bruce Lee nos anos 90 (Dragão – A História de Bruce Lee, de 1993), e eu também demorei um pouco para reconhecê-lo no filme, agora no alto dos seus 54 anos. Estamos ficando velhos, Magneto!   



Vale a pena assistir, Rodman?

Se você não é extremamente apegado à animação e quer ver um filme bacana com muita aventura e ação, além de curtir cenários maravilhosos da cultura chinesa, vale sim, jovem padawan! Mulan não é nem de longe tocante como o desenho — principalmente se compararmos o final apoteótico de uma China agradecida reverenciando a Mulan no final da animação —, mas traz bons questionamentos sobre a posição feminina numa cultura tão machista, embora esse tema esteja diluidíssimo em meio a efeitos visuais e cenas de pancadaria. A Mulan do filme não ser apenas uma mulher muito bem treinada que se equipare a homens em combate também diminui bastante a personagem e o apoio na muleta do domínio do “Chi” que ela possui desde criança a torna só alguém muito privilegiada que não se esforçou para ter suas habilidades. É como se a Mulan do live-action gritasse para o espectador:

“Se eu tenho o domínio do Chi e as outras pessoas não, É PORQUE EU MERECIIII! ”



Em tempos, ignorado completamente pelo Golden Globes, Mulan concorre a duas categorias no Oscar, o de Melhores Efeitos Visuais e o de Melhor Figurino, que tem tudo para levar para casa. Vamos ver se depois de tanta crítica, algum prêmio o filme leva!

Nota: 8


SOUL



Para mim, assim como para outros adoradores de animações, o selo “Pixar” vem acompanhado de uma expectativa imensa que só pode ser compensada com um balde de lágrimas que carregamos ao final da sessão de cinema. Pelo menos ao meu ver, tem sido assim desde Toy Story — menos o 4! —, passando por Wall-E, Ratatouille e chegando nos mais modernos como Divertida Mente e Viva – A vida é uma festa. A gente meio que se acostumou a esperar sempre o máximo de emoção num desenho animado do estúdio e não tinha como ser diferente com Soul, o que deixou um pouco daquele gosto amargo na boca.

Você quer dizer com isso que Soul é ruim, Rodman?

Não, nem de longe, caro padawan! A minha decepção com Soul tem mais a ver com a minha expectativa que estava no pico antes de eu começar a assistir do que propriamente com o desenvolvimento da história e dos personagens em si. Mas tentarei explicar.

Para começar, é bom lembrar que Pete Docter, o diretor do filme, não é nenhum iniciante e que tem no currículo além de Monstros S.A., os magníficos Up – Altas Aventuras e Divertida Mente, tendo ele ganhado o Oscar de Melhor Animação pelos dois últimos. Além da direção, Docter participou do roteiro de incontáveis outros sucessos da Pixar, o que o gabaritava imensamente para ser o grande cara por trás de Soul.



Soul é uma imersão psicológica bastante contundente não só ao nosso lado espiritual — e à primeira vista é muito fácil relacionar certos elementos narrativos com uma ou outra religião —, mas principalmente a nossos medos mais “modernos”. Apesar de ser uma animação que esteja ali para agradar também as crianças, a mensagem principal é sim para nós os adultos e quando mergulhamos na história, a mensagem nos pega de maneira firme. 

No enredo, o personagem Joe Gardner (dublado por Jamie Foxx) é um professor de música frustrado que ainda busca um lugar entre os grandes musicistas de jazz da cidade, embora esconda um passado de rejeições que faz com que até sua mãe duvide de suas capacidades instrumentistas, embora ele as tenha. A realidade se mostra bem irônica, no entanto, quando sua grande chance de mostrar seu talento na banda da cultuada “jazzista” Dorothea Williams (Angela Bassett) acaba sendo frustrada por um acidente que encerra sua participação no “show da vida”. E não… isso não é spoiler. Tem até no trailer!



Sem conseguir mostrar do que é capaz para Williams na Terra, Joe embarca numa jornada desesperada para tentar voltar para seu corpo, mostrando a todos do lado de lá do desconhecido que ele não está pronto para morrer e que a sua missão ainda não terminou. Auxiliado pelos mentores espirituais denominados “Zé” — um deles dublado pela brasileira Alice Braga — e tendo que servir ele próprio como conselheiro da alma impetuosa 22 (dublada por Tina Fey), Joe acaba descobrindo que sua jornada nunca foi se tornar um músico prestigiado e sim aproveitar melhor as pequenas coisas da vida, sendo esse seu propósito específico.



E nesse ponto o filme me atingiu fulminantemente!

Não só pela pandemia, mas por diversos outros motivos, eu me tornei uma pessoa reclusa que simplesmente não vê mais significado na vida e que não acredita mais em “propósito” (falei um pouco disso aqui recentemente). Nesse quesito, Soul é brilhante, já que mostra ao espectador tanto na figura do Joe — o sujeito inconformado com a própria vida, aquele que acha que precisa de um sentido para viver — quanto na 22, que é uma alma que simplesmente se recusa a nascer em um corpo na Terra, não vendo nem sentido ou qualquer motivação para estar entre os mortais. Enquanto a convivência entre eles os ensina novas perspectivas — e também a nós que estamos assistindo sua aventura — o filme leva os personagens a diversos cenários oníricos e subconscientes, lidando muito bem com assuntos como depressão e ansiedade, dois males que nos acompanham diariamente nessa corrida constante da vida adulta para ser alguém.



Mas afinal… nós temos mesmo que encontrar nosso propósito ou basta vivermos um dia de cada vez, fazendo o máximo pelo nosso próprio bem-estar e daqueles a nosso redor?

Soul nos leva a essa reflexão e cada um acaba tendo sua própria resposta ao final do filme, enquanto os créditos sobem e as lágrimas escorrem dos olhos.



Apesar de toda essa carga emocional, ainda não considero Soul um dos melhores trabalhos de Pete Docter, mas talvez ele ganhe maior espaço em meu coração ao longo dos anos.

Soul disputa o prêmio de Melhor Animação no Oscar 2021 e já garantiu a Docter o Globo de Ouro na mesma categoria e também em Melhor Trilha Sonora. Para mim, apesar do filme deixar um pouco o tema música em segundo plano, eu acho que a trilha tinha obrigação de ser mais inspirada e impactante, algo como o excelente “Whiplash” — só pra ficar no tema jazz — que gruda suas músicas na mente mesmo horas e horas após a exibição. Mas quem sou eu para criticar os véi que premiam as categorias do Golden Globes, não é mesmo?

Nota: 8,5


DOIS IRMÃOS



Eu preciso admitir aqui que não tinha a menor vontade de assistir Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (no original “Onward”) e que tinha agido SIM com preconceito quanto à temática da animação, bem como o visual dos personagens.

Aiiiiin, Rodman! Seu elfofóbico!

Me desculpem os elfos azuis que estiverem lendo esse post, mas eu tinha ligado o meu completo foda-se para a animação, até o momento em que começaram a chover críticas quanto a Soul ter vencido o Globo de Ouro de Melhor Animação no lugar de Onward. Naquele momento, eu que ainda não tinha visto Soul, percebi que para fazer um post mais abalizado de indicações ao Oscar, eu precisava assistir aos dois e tirar minhas próprias conclusões. E a verdade é uma só: ambos os filmes não se comparam.

Antes que facas e foices comecem a ser arremessadas, vale lembrar que as duas produções levam o selo Disney / Pixar, o que faz com que qualquer que seja o resultado de uma “briga” entre elas, o Mickey vai contar dinheiro do mesmo jeito! Em favor de Dois Irmãos, a pegada “Disney” na animação é mais notória, já que a aventura do subtítulo deixa bem clara que a história é sim mais leve e bem mais focada no público infantil do que Soul, por exemplo. É meio que querer comparar Shazam! da Warner, que tem uma cara mais infantiloide e bobalhona com a obra-prima da sétima arte que é Zack Snyder’s Justice League, o filme mais adulto de todos os tempos — e nem ouse discutir, padawan! Eu envelheci mais 15 anos só em assistir as quatro horas daquela porra!

Apesar de não serem histórias para um mesmo público, é inevitável não compararmos os dois filmes, já que ambos disputam o mesmo prêmio de Melhor Animação, e nesse quesito é bom referenciar aqui, me fazendo queimar bastante a língua e engolir a minha elfofobia a seco, que Dois Irmãos é sim mais divertido que Soul.

O que? Calúnia! Difamação, Rodman!

Onward é escrito e dirigido por Dan Scanlon, que diferente de Pete Docter, não tem um currículo tão impressionante, estando à frente anteriormente apenas do fraquinho Universidade Monstros, o prequel de Monstros S.A. Apesar da pouca experiência na direção, Scanlon entrega um filme bem redondo e de fácil digestão para o público, em especial por fazer com que nos importemos logo de cara com o personagem loser da vez dublado pela eterna viúva do “Senhor Stark” Tom Holland



Num mundo mágico onde os seres que o habitam — além de elfos tem trolls, unicórnios, fadas e centauros — simplesmente deixaram de usar a magia pela conveniência das modernidades tecnológicas, no dia do seu aniversário de 16 anos, Ian Lightfoot (Holland) recebe da mãe Laurel (Julia Louis-Dreyfus) um presente que guardou por anos, dado pelo pai já falecido do garoto elfo. Segundo a carta deixada por ele, o artefato vai permitir que o antigo patriarca da família retorne para conviver com os filhos durante um dia através de magia. O presente em si é um cajado e as instruções deixadas pelo pai exigem que um dos meninos — Ian e seu irmão mais velho Barley, dublado por Chris Pratt — utilize a magia adormecida para trazê-lo dos mortos, o que obviamente dá errado num primeiro momento.



Tendo destruído no processo de ressuscitação a gema mística que seria usada como intermédio entre os mundos — e tendo trazido apenas a metade da cintura para baixo do pai de volta — todo o plot dos dois irmãos se desenvolve pela busca de uma outra “gema fênix” para trazer o restante do pai, o que faz com que eles partam numa jornada ensandecida pelo mundo místico que agora não é mais como antigamente.



Cheio de referências a jogos de tabuleiro de RPG, com uma trilha sonora recheada de Rock N’ Roll com orquestras e um humor muito característico, Dois Irmãos é com segurança a animação mais divertida que assisti nos últimos tempos e também um dos últimos filmes que consegui assistir de uma tacada só, sem nem me levantar para fazer qualquer outra coisa. A aventura dos irmãos Lightfoot é mesmo digna de ser acompanhada na íntegra e não causa nenhum sentimento de estranheza pela ambientação pouco comum daquele mundo fantástico representado na tela. A forma criativa como os roteiristas representam alguns seres místicos já tão inerentes no nosso imaginário popular é muito boa, e mesmo não estando nos melhores dias da minha vida, confesso que abri um sorriso com a gangue das fadas motociclistas. Outro ponto de risos contidos foi a performance a laUm Morto Muito Louco” do patriarca dos Lightfoot, com suas dancinhas e seu gingado um tanto quanto etílico. Hilário!  



Claro que por se tratar de uma história sobre paternidade, a emoção é garantida no desfecho do filme e toda a nossa apreensão pela conclusão ou não da jornada dos personagens é compensada brilhantemente com um final bastante tocante entre os irmãos e seu pai. A Pixar já tinha me feito chorar com um robô apaixonado em Wall-E, já tinha me arrancado lágrimas da interação de uma criança com seus brinquedos e tinha feito eu me importar com um rato cozinheiro… mas fazer eu me debulhar em lágrimas por causa de uma van É SACANAGEM! O sacrifício da Guinevere ao som de “Rise to Valhalla” é um dos momentos mais épicos do filme. Chorei e não foi pouco!



Vale lembrar aqui que muito da minha emoção com o filme se deu também porque eu perdi o meu grande amigo canino no começo desse dia e ainda estava bastante fragilizado emocionalmente. A recuperação tem sido lenta e gradativa.

Hoje eu endosso o coro dos fãs que disseram que Dois Irmãos foi bastante injustiçado em não receber o mesmo tratamento midiático que Soul recebeu e assino embaixo. A pandemia e o não-lançamento do longa nos cinemas também prejudicou bastante a divulgação da animação e muito disso se refletiu no resultado do Globo de Ouro, que premiou Soul no lugar de Onward e de Os Croods 2: Uma Nova Era, da DreamWorks. Na categoria Melhor Animação do Oscar 2021, Onward vai enfrentar novamente Soul, além das animações A Caminho da Lua (Netflix), a irlandesa WolfWalkers (Cartoon Saloon) e Shaun, o Carneiro: O Filme (Netflix). As apostas estão altas, mas acho difícil que Pete Docter não leve mais essa estatueta para casa.

Nota: 9

Mulan, Soul e Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica estão disponíveis no catálogo da Disney Plus e podem ser vistos por lá exclusivamente até a premiação máxima do cinema estado-unidense mundial.

O Blog do Rodman vai acompanhar a cerimônia do Oscar dia 25 e em breve falaremos dos grandes vencedores da noite direto do tapete vermelho…

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Mentira, claro! Estarei de pijama em frente à TV assistindo a transmissão. Ainda estamos numa pandemia e eu não fui vacinado, porra!


NAMASTE!    

26 de janeiro de 2021

1984 tons de Mulher Maravilha



Eu precisei assistir Mulher Maravilha 1984 duas vezes para tecer a minha opinião sobre o filme e vou tentar resumir nesse post meus sentimentos um tanto quanto controversos a respeito dessa produção que custou US$ 200 milhões aos cofres da Warner e já rendeu US$ 142,5 milhões em todo o mundo.

Sigam-me os bons!

Em primeiro lugar, é preciso defender a ideia da diretora Patty Jenkins e dos roteiristas Geoff Johns e Dave Callham de tentar levar para a tela um produto leve, divertido e muito mais positivo do que 80% das películas que o estúdio vinha trazendo à vida mais recentemente — pelo menos aquelas baseados nos super-heróis da DC. Nós havíamos nos desacostumado a assistir nos cinemas histórias que nos deixassem mais leves ao final do filme em vez de sair da sala de exibição com aquele gosto amargo do sangue derramado pelos personagens que tanto admirávamos nos quadrinhos e foi graças a Jenkins que pudemos ver uma vez mais o bem vencer o mal com WW 84, embora nesse caso, haja uma linha bem tênue entre esses dois extremos durante as quase duas horas e meia de projeção, além de personagens com mais de 50 tons de cinza em sua personalidade.



A própria diretora responde sobre isso quando perguntada a respeito da conduta sempre apaziguadora da personagem-título, e em poucas palavras, resume o que ela pensa sobre a Mulher Maravilha em entrevista ao Correio Braziliense:

“Normalmente, há heróis e vilões. Na maior parte do tempo, eles ficam tentando destruir uns aos outros. Eles perseguem na tentativa de se livrar uns dos outros, tendo por base o ódio. O diferencial de Diana é que ela nunca deseja machucar ou destruir ninguém. Mesmo quando são pessoas más. Ela tem um sentimento bondoso de compreensão. Ela se vê como uma pessoa prestativa, preocupada em melhorar a vida de quem está à sua volta. Ela cuida do mundo que a envolve. ”  



Ainda pela sua visão, a diretora comenta sobre o simbolismo que a sua Mulher Maravilha pretende transmitir aos espectadores:

“A Mulher-Maravilha é algo de que o mundo precisa agora. Ela não se encerra num conceito de derrubar os malvados. Ela desperta amor, compaixão, gentileza e desejo de se aprimorar como ser humano. Diana se desafia para se tornar uma pessoa melhor, ainda que esteja na posição de heroína. ”

Quem acabou comparando um pouco WW 84 com outro filme da DC de grande sucesso, o Superman de 1978, tem grande razão de fazê-lo, já que Jenkins não esconde em nenhum momento que o filme dirigido por Richard Donner foi uma grande referência para seu trabalho. A Diana Prince de Gal Gadot é quase tão heroica e inspiradora quanto o Clark Kent de Christopher Reeve e há diversos momentos em WW 84 que nos faz lembrar da simplicidade e do heroísmo daquele Superman que era muito mais próximo ao conceito do que um super-herói deveria representar ao mundo do que tudo que veio depois. Mas não vamos falar do maior cineasta do planeta aqui novamente. Já fiz um post inteiro em homenagem a ele recentemente!



Ok, Rodman! Isso quer dizer que, na sua opinião, o filme então é 10/10?

Ah, não, jovem padawan. Longe disso. O filme tem vários problemas e embora acerte e MUITO na forma como representa a Mulher Maravilha, peca em outros momentos que comentarei a seguir.

Apesar de parecer uma mistura de Cavaleiros do Zodíaco com Todo Poderoso e com uma pitada de Thundercats, WW 84 tem um enredo confuso e arrastado que nos faz cansar rápido, por exemplo, das motivações de Maxwell Lord, em tela interpretado pelo Mandaloriano Pedro Pascal. O personagem de cara surge como um vigarista ambicioso que parece ser capaz de passar por cima de tudo e todos para alcançar seu tão sonhado sucesso empresarial, mas enquanto ele tenta mover as engrenagens para conseguir seus objetivos, fica claro o quão fracassado o cara é, recebendo logo no começo do filme aquele "empurrãozinho" ladeira abaixo do sócio multimilionário que lhe dá um ultimato quanto ao futuro da parceria entre eles, o famoso “ou vai ou racha”.



Entra em cena então o elemento “místico” que vai permitir a Lord o tal impulso necessário para alcançar seu objetivo — o de pagar sua dívida com o sócio —, quando ele bota as mãos na “Dreamstone”, Pedra dos Sonhos. Daí até o final da história, Lord toma uma série de decisões questionáveis para se tornar rico, poderoso e influente, algo que certamente a maioria de nós faria em posse de um objeto místico que realizasse nossos desejos mais íntimos. Mais do que isso, Lord usa o super-trunfo dos desejos para se tornar ele mesmo o realizador de desejos, que é quando a sua história se perde um pouco, ao vê-lo o tempo todo desesperado para realizar os sonhos daqueles que ele almeja superar. 



Por ser um personagem quase patético, é difícil levá-lo a sério e é ainda mais difícil enxergá-lo como um adversário à altura da Mulher Maravilha, o que acaba o tornando algo como o Lex Luthor é para o Superman, — não um adversário físico, mas mental — só que nesse caso com bem menos talento que o vilão careca.

Ah, mas Rodman, o Lex Luthor usa a armadura e...

Cala a boca, jovem padawan!



É nos últimos instantes do filme que enfim conseguimos nos importar com Max Lord, e suas ações ao longo de toda a projeção quase podem ser justificadas ao vermos em forma de flashback sua trajetória desde a infância miserável. O amor ao filho e o reconhecimento de que ele é um fracassado é bastante comovente, e assim como previa o roteiro desde o início, acontece a redenção do personagem que nunca foi um vilão e sim alguém muito ganancioso em busca de seu lugar ao sol depois de uma vida de provações.



A outra personagem que se contrapõe à Mulher Maravilha no filme é Barbara Minerva (Kristen Wiig), que desde o início nos é retratada como o tipo mais comum de adversário ao herói lindo, tesão, bonito e gostosão. Assim que batemos o olho em Minerva com seu jeito tímido, retraído e desajeitado, vem à memória um monte de outros personagens que eram iguais em filmes de super-herói, e só para ficar em produções da Warner/DC não tem como não citar a Selina Kyle de Michelle Pfeiffer em Batman O Retorno (1992), o Edward Nygma de Jim Carrey em Batman Forever (1995) ou da Pamela Isley de Uma Thurman em Batman & Robin (1997). Todos eles têm em comum a característica de serem praticamente invisíveis para seus superiores, embora sejam dotados de uma inteligência ímpar que possivelmente os colocaria em destaque em outras circunstâncias. É praticamente o mesmo personagem em todos os filmes citados, e assim como seus antecessores, Wiig o conduz muito bem, a ponto de não nos importarmos muito com o bem-estar do assediador em quem ela dá uma lição logo que tem o seu desejo realizado pela Pedra dos Sonhos... dos desejos... sei lá!



Diferente do personagem de Pascal, a gente se importa com a Barbara, e a influência do poder que ela conquista sobre sua anteriormente frágil e inibida personalidade fica nítida conforme ela vai se acostumando a ser tão poderosa e admirada quanto sua “colega” de trampo Diana Prince. Aliás, em questão de interpretação, Kristen Wiig dá um banho completo em Gal Gadot, que está menos inspirada agora do que esteve no filme anterior em que protagonizou.

Embora simpatizemos um pouco com Barbara Minerva — a despeito de o quanto seu gosto por roupas vai piorando à medida que ela vai se tornando mais poderosa —, a personagem não tem um objetivo maior a alcançar, e fora se equiparar a Diana Prince, ela quase não tem o que fazer no filme, se tornando uma adversária sem muito peso para a Mulher Maravilha. É claro que o simples fato dela ser alguém que pode rivalizar em força com Diana a torna incrivelmente valorosa, e mesmo sem ter um objetivo tangível a alcançar, sua presença no filme é mais justificada por ela ser alguém próxima à personagem-título que acaba se tornando sua rival por consequência da realização de seus desejos. Ao querer se igualar à sua “ídola”, Minerva acaba se transformando em alguém que bate de frente com o que Diana defende e preza, e é essa rivalidade que dá algum tempero à relação entre as duas no filme.



Fala a verdade! Aquelas cenas das duas conversando no restaurante e a troca de confidências entre elas deve ter acionado na mente dos fanfiqueiros de plantão um monte de ideias pervertidas, nénão? Não procurei, mas é certeza que já tem uma porrada de ilustração e contos no Wattpad fazendo a Diana e a Barbara se pegando “diconforça” só por conta da admiração da cover de Cheetara pela Princesa de Themyscira em WW 84. O povo não consegue mais enxergar amizade entre duas pessoas, tem que partir logo para o roça-roça!

Eu estava no meio da plateia da CCXP 2019 quando o trailer de Wonder Woman 84 foi exibido pela primeira vez, e embora tenha sido contagiado pela reação orgásmica de todos ao meu redor naquele momento em ver as primeiras cenas do longa, confesso que depois que vi com mais calma, não achei nada muito surpreendente. Não sei se o fato de eu já estar morto por dentro há algum tempo diminuiu o impacto de tudo que vi como trailer depois de Vingadores Guerra Infinita, mas honestamente, eu caguei muito para todo o material promocional que vi de Mulher Maravilha 1984 até assistir ao filme.



Bem... depois de ver, não posso dizer que acabei sendo mais impactado do que quando assisti ao trailer. Achei a maioria das sequências de ação bem fracas e senti que o filme não se esforçou muito no sentido de gravar com ferro em brasa nenhuma cena em nossa memória. Salvo a sequência de pancadaria dentro da Casa Branca — aquela em que a Mulher Maravilha enfraquecida LEVA UMA SURRA da Mulher-Leopardo — pouca coisa se manteve em minha mente após assistir a “fita”. E olhe que já vi duas vezes!



Gal Gadot é uma péssima atriz de ação, e embora tenha nos enganado direitinho no primeiro Mulher Maravilha mostrando o contrário, suas expressões de esforço, dor e resistência são pouco convincentes quando o pau está torando de verdade na história. Gadot é dona de uma beleza e de um charme impressionante e todavia esteja nos planos da Warner/DC indicá-la como melhor atriz na próxima premiação do Oscar, acho que ela, por enquanto, leva mesmo o troféu Cigano Igor de interpretação, prêmio aliás, já vencido com todos os méritos por Brandon Routh na época de Superman Returns (2006).



Ainda falando dos problemas do filme, além das sequências de ação pouco trabalhadas, não tem como não citar os efeitos visuais usados para mostrar a supervelocidade da Mulher Maravilha. 



Todas as cenas em que ela aparece correndo são horríveis e até quando ela FINALMENTE aprende a voar — sem precisar do jato invisível —, falta um pouco da leveza e da naturalidade que aquele momento exigia, algo que conseguia ser capturado pelo filme do Superman de 1978 em alguns momentos — não todos, é claro — mesmo sem recurso digital quase nenhum à disposição na época. Bryan Singer também consegue essa leveza em algumas cenas de voo do seu Superman de cera no filme de 2006, mas Patty Jenkins não teve muito sucesso na sua vez, embora toda aquela sequência entre as nuvens seja bastante simbólica e importante ao desenvolvimento da personagem.



Outra coisa questionável no filme também é a decisão dos roteiristas fazerem de Diana uma eterna viúva que passou quase 70 anos sonhando com o namorado morto. Sério... Onde que isso seria aceitável? Sério mesmo! 

Eu entendo que a Diana Prince não é qualquer mulher, eu entendo a visão romântica da pessoa que nunca mais encontrou o amor depois da morte de seu (sua) parceiro (a), mas não consigo enxergar como isso poderia ter funcionado no mundo real. Pensa no tamanho da seca dessa mulher! Quase 70 anos sem dar umazinha! Nenhuma mulher que conheço seria capaz. A minha ex já tava dando pra outro uma semana depois do término e eu nem sequer morri! Ou esse Steve Trevor é muito bom de cama ou a Diana é a mulher mais fiel do mundo!



A que ponto chegamos... analisando a vida sexual de uma personagem fictícia!

Bem, assim como no primeiro filme, já que falamos do personagem de Chris Pine, Steve Trevor não é muito mais do que o par romântico da Mulher Maravilha em WW 84, mas a forma como ele é inserido na história novamente, apesar de ter sido explodido no ar no filme anterior, é bastante interessante. É bacana, para variar, ver um personagem masculino sendo somente o coadjuvante num filme de ação protagonizado por uma mulher e todas as cenas de humor que o filme tem para gastar são usadas com Trevor em destaque, enquanto ele tenta se adaptar ao admirável mundo novo. A questão da moda é algo que Jenkins faz questão de nos mostrar para ajudar a nos ambientar ao cafonismo dos anos 80 e os figurinos de Pine ao longo do filme mostram bem o quão ridículo era esse período da nossa existência.



Imagina o quão escrotas são as pessoas que nasceram nessa época...

Que tipo de merda você deve ter sido para nascer em plenos anos 80... ai ai! 

Assim como no primeiro filme, o ator está bem em cena e seu personagem é usado única e exclusivamente como a força motriz por trás das motivações de Diana para vencer o Baixo-Astral... além de dar aquela relembrada na cocota de como é dar umazinha após muitos anos. He He He...



Com boas interpretações de Kristen Wiig e Pedro Pascal, ótima caracterização dos anos 80, boa trilha sonora e uma excelente leitura do conceito super-herói na figura da própria Mulher Maravilha — que vence no final sem brandir uma espada, mas na base do amor e da compaixão —, WW 84 é sim, apesar das críticas, um bom filme de Sessão da Tarde e que não deve ser visto como nada além disso. Ao longo de décadas já vimos um monte de filmes bem piores com conceitos muito mais horríveis, e Mulher Maravilha 1984 tem ao menos uma mensagem positiva ao final... assim como Superman IV – Em Busca da Paz...

É... não foi uma comparação muito feliz, mas não tem como não equiparar os dois filmes, principalmente em se tratando de mísseis nucleares, do começo de uma quase Terceira Guerra Mundial e da “superforça de vontade” que faz as coisas voltarem a seus lugares de origem como mágica.

Nós, velhos de quase quarenta anos ainda adoramos ver esses filmes de lutinha, de raiozinho e de tirinho, e mais do que isso, adoramos criticar aquilo que não está “do nosso agrado”, mas é bem claro que nenhuma dessas produções é mais feita para pessoas como nós. Se pararmos para pensar bem, a gente se amarrava no primeiro filme dos Power Rangers e curtia os batmamilos em Batman Forever sem nem questionar. A molecada de 13, 14 anos deve ter se amarrado em Mulher Maravilha 1984 e é muito bom saber que um monte de menina vai crescer tendo ao menos um filme de super-heroína para se inspirar, assim como nós, velhos gordos, carecas e broxas tivemos o Superman de 1978. E não... eu não era nascido nessa época, mas essa porra reprisava na TV dia sim, dia não na Sessão da Tarde durante os anos 90!

Os velhos gordos, carecas e broxas no Rotten Tomatoes avaliaram o filme com 60% (no tal tomatômetro), enquanto a pontuação pública ficou em 74%. Só para comparar, o primeiro Mulher Maravilha alcançou 93% de nota da crítica “especializada”, enquanto 84% do público aprovou o filme. Vale lembrar, que isso não quer dizer nada, já que como comentei, o filme não é feito para esse tipo de pessoa que muito provavelmente o avaliou.

Em tempo, a Warner inscreveu Mulher Maravilha 84 para 15 categorias do Oscar 2021, incluindo Melhor Direção (Patty Jenkins), Melhor Atriz (Gal Gadot), Melhor Atriz Coadjuvante (Kristen Wiig, Robin Wright e Connie Nielsen) e Melhor Trilha Sonora Original (assinada por Hans Zimmer). Isso não quer dizer que o filme vai concorrer a todas essas estatuetas e sim que o estúdio tem a intenção que os velhos gordos, carecas e broxas da Academia escolham WW 84 como indicação a elas. Ficamos na torcida para que pelo menos Jenkins seja escolhida e represente as mulheres nessa categoria onde, costumeiramente, elas são tão marginalizadas no Oscar.

Quem eu realmente gostaria que disputasse algum prêmio de atuação é a fofíssima Lilly Aspell que dá um show de carisma na sequência inicial do filme em que a pequena Diana encara um tipo de Olimpíadas do Faustão contra as demais amazonas adultas. A cena em que ela fica contrariada em ser tirada da disputa por Antiope (Robin Wright) por ter trapaceado é de cortar o coração. Aspell, assim como no filme anterior, mostra que é uma atriz-mirim de primeira grandeza e encanta em todas as cenas que aparece. Devia dar umas aulas de atuação a Gal Gadot!



Se você ainda não viu porque ainda não tem HBO Max no Brasil ou porque não quis se arriscar a encarar uma sala de cinema lotada em plena pandemia de Covid-19, ou que, assim como eu, não teve o privilégio de poder viajar para os Estados Unidos DUAS VEZES só para assistir o filme antes de todo mundo, Wonder Woman 84 estará disponível nas plataformas digitais em breve. Até a Sky — a famosa choveu, caiu! — vai deixar o filme disponível para alugar. Assista sem medo. Diversão de Sessão da Tarde garantida.

P.S. - Alguém duvida que se Zack Snyder — vulgo o maior cineasta do universo — dirigisse o filme, a história não ia terminar com essa cena em vez do papo sobre responsabilidade e compaixão?



P.S. 2 - Eu abstraí um monte de soluções absurdas que o filme mostra como as mil e uma utilidades do Laço da Verdade — que laça de balas a relâmpagos! —, mas juro que não consegui explicar como é que funcionou aquele sistema de comunicação que o Maxwell Lord usa para realizar os sonhos de todas as pessoas que o estavam assistindo. Aliás... o que diabos é aquela câmara com luz azul em que ele fica gritando feito maluco enquanto Diana enrosca o Laço da Verdade em sua perna e por que tem um troço desses dentro da Casa Branca? entendi foi porra nenhuma! Acho que vou ter que ver o filme de novo.   


P.S. 3 - Como eu disse, a primeira pancadaria entre Barbara e Diana é muito bem coreografada e produz efeitos bem maneiros, mas o que essa briga tem de inventiva, a última tem de ruim. Além da coreografia bem qualquer nota, os efeitos digitais para criar a ilusão da agilidade e força da Mulher-Leopardo são bem mequetrefes, sem falar que ela mais parece um cosplay de CATS. Outra coisa que deixa bastante a desejar é a tão alardeada armadura de Asteria que é "vendida" como a coisa mais foda do filme, mas que parece mais feita de latão vagabundo durante a batalha.  



NAMASTE!

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