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23 de maio de 2020

A Doce Vingança de Jennifer

AVISO DE POSSÍVEL GATILHO EMOCIONAL: ASSUNTO DELICADO



Baseado num filme de 1978 chamado A Vingança de Jennifer (I spit on Your Grave no original) Doce Vingança é um daqueles filmes de terror que passam meio que despercebidos nas listas tão seletas da Netflix, mas que uma hora ou outra nos chama a atenção. 

Dirigido por Steven R. Monroe (de o Retorno dos Vermes Malditos) o filme de 2010 tenta recriar o clima gore e violento da produção trash de 1978 dirigida por Meir Zarchi, e Monroe consegue fazer um daqueles remakes que vale a pena ser visto. Confesso que nunca tinha ouvido falar do original dos anos 70, mas as críticas dizem que os dois filmes são bem equivalentes.

O enredo conta a história da escritora Jennifer Hills (Sarah Butler) que num dia qualquer decide se isolar da cidade grande e se embrenhar em um chalé no meio do nada, na esperança de conseguir a tranquilidade que precisa para escrever seu novo romance. A ideia por si só já parece absurda ao espectador, que vê a protagonista se meter sozinha no meio de uma floresta, enquanto aos poucos vamos conhecendo o tipo de gente que mora nos arredores do que parece ser uma vila de pescadores. Após um breve desentendimento com o dono babaca de um posto de gasolina em que ela faz uma parada para pedir informações, Jennifer enfim chega ao tal chalé, onde descarrega sua caixa de vinho e começa a relaxar para escrever. 

Pedindo informações no Posto Ipiranga

É importante lembrar aqui que todos os caras com quem ela tem contato até chegar a seu destino sabem bem que a moça está sozinha no lugar e que o chalé é bem isolado de qualquer outra coisa - embora o sinal de celular funcione que é uma maravilha! - e isso começa a atrair problemas para o lado dela. Durante a noite, a casa começa a fazer sons tão sinistros quanto a floresta ao redor da casa onde ela está hospedada e Jennifer começa a entender que talvez não tenha sido uma boa ideia se isolar ali, embora não se preocupe em nenhum momento em trancar as portas da casa imensa. "Tô sozinha aqui no meio do mato. Não dá nada!". 

O nome dela é Jennifer
O nome dela é Jennifer

Após a visita de um morador local indicado pelo "suserano" da casa para consertar um problema no encanamento, as atenções se voltam ainda mais para a moça solitária da cidade. Matthew (Chad Lindberg), que tem problemas mentais, após o conserto do encanamento diz aos demais colegas - incluindo o babaca do posto de gasolina - que a garota foi muito solícita e educada com ele, o que faz com que os quatro queiram visitar o chalé de Jennifer, embora à contragosto do rapaz problemático. Ali, como a própria sinopse do filme mostra - e para quem assistiu o filme de 78 já espera - uma sucessão de cenas chocantes acontecem, colocando a protagonista como a vítima de violência sexual e psicológica praticadas por Johnny (Jeff Branson), Andy (Rodney Eastman), Stanley (Daniel Franzese), Matthew e mais tarde o próprio xerife da cidade Storch (Andrew Howard), para quem Jennifer pediu ajuda num primeiro momento em que consegue fugir dos estupradores. Não vale aqui descrever a sequência, mas é agoniante assistir o que os caras fazem com a moça indefesa logo que ela é subjugada. Se eu tivesse assistido esse filme na infância, teria ficado tão traumatizado quanto na cena em que o policial Alex Murphy é torturado e metralhado em Robocop. Um baita gatilho pra quem por alguma infelicidade já tenha passado por algo parecido. 


Na sequência em que Jennifer foge dos agressores e se encontra com o xerife, outra coisa comum que é retratada no filme é a desconfiança pela qual a mulher acaba passando quando relata a violência da qual foi vítima para as autoridades. Antes de sabermos que o policial está mancomunado com o bando de estupradores, o cara desconfia que ela não esteja falando a verdade e ainda coloca a culpa de sua "insanidade" nas caixas de vinho que ela tem na casa e na bituca de um baseadinho que ela fumou. Tudo vira motivo para desqualificar a vítima e botar a culpa nela própria. Aliás, o que motiva o bando a invadir o chalé, é justamente uma filmagem feita por um deles, em que Jennifer aparece só de calcinha e sutiã lavando uma camisa suja de vinho. "Aí tá vendo! Se não tivesse se mostrando por aí, não tinha sido estuprada!", justificariam os "cidadãos de bem" brasileiros.   


Após todo o abuso pela qual é infligida, Jennifer ainda tem forças para andar e escapar de seus abusadores, caindo num rio e desaparecendo de vista. Sem saber à princípio do enredo do filme de 78, eu cheguei a acreditar que o filme iria apelar para algum tipo de misticismo para trazer a garota de volta e começar a sua doce vingança, mas Jennifer ressurge na moita - quase que literalmente - e começa a aterrorizar seus algozes psicologicamente antes de partir para a vingança propriamente dita, caçando um a um de seus alvos. O filme que até então se recusava a mostrar cenas mais chocantes - exceto o estupro - passa a espirrar sangue na cara do espectador, além de mostrar rostos cozidos por soda cáustica, olhos humanos sendo devorados por corvos, etc, etc. 


O requinte de crueldade a que Jennifer se dá direito de punir os caras que a violaram e quase a mataram é num nível quase do Jigsaw de Jogos Mortais, e apesar de algumas cenas mais agoniantes de ver, não é nada que a gente não pense lá no fundo "fez por merecer". Lá no fundo mesmo, porque trocando em miúdos, os estupradores tornaram Jennifer tão sádica quanto eles próprios, todavia o filme não leve isso muito em consideração em seu enredo. 


Doce Vingança não foi considerado um sucesso comercial na época de lançamento - custou US$ 2 milhões e rendeu US$ 572 mil - e gerou uma cacetada de críticas negativas pelo clima sujo das cenas de violência sexual - embora elas não sejam explícitas. Muitos críticos disseram que o filme era de mal gosto e que fazia jus ao trash do qual era baseado, mesmo assim Doce Vingança acabou ganhando duas sequências, uma de 2013, também dirigida por Steven R. Monroe focando em outra protagonista vítima de estupro em um cenário totalmente diferente e uma terceira sequência de 2015 dirigida por R.D. Braunstein que trouxe de volta a personagem Jennifer Hills desta vez vingando a morte de uma amiga. Se ninguém parar esses produtores, daqui a pouco vão fazer um crossover dela com o personagem do Liam Neeson de Busca Implacável!

Brincadeiras à parte, violência sexual contra mulheres é um assunto seríssimo que jamais deve ser tratado com leviandade e se você - homem - assistiu esse filme e ficou com tesão em algum momento, você tem sérios problemas mentais e sim, é um possível estuprador. Todo mundo conhece ou já conheceu alguém que já passou por algo assim e o mais triste de se constatar é que esse tipo de violência às vezes acontece dentro da sua própria casa, por parte de seus próprios familiares. Doce Vingança não apela para nada sobrenatural e coloca como "monstros" pessoas comuns, caras que têm aos montes por aí, ao nosso redor. Essa é a parte mais assustadora.  


 
P.S. - Depois que concluí o texto do post, descobri que tem um filme vendido por aí como "Doce Vingança 4", mas que na verdade é uma continuação direta do filme original de 78, vivido pela mesma atriz Camille Keaton (como Jennifer Hills) e dirigido também por Meir Zarchi. O enredo coloca Jennifer e sua filha vítimas de um sequestro, com parentes de um dos homens que assassinou anos atrás em busca de vingança. O nome original do filme é I spit on Your Grave - Deja Vu
 
NAMASTE! 

16 de setembro de 2019

Do Fundo do Baú - Watchmen o filme


O polêmico Watchmen de Zack Snyder está completando 10 anos. Amado por uns e odiado por todos os outros, o filme tenta fazer uma adaptação da aclamada graphic novel da DC escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons , mas acaba criando uma outra coisa. 

Em 2009, antes da criação do Blog do Rodman, eu escrevi essa resenha sobre o filme no calor do momento, e nunca cheguei a publicar até agora. O Do Fundo do Baú de hoje apresenta o texto sobre Watchmen que jamais havia sido apresentado em público. 


10 anos atrás...


Devo admitir que desde pequeno, quando via as propagandas de Watchmen nas capas das revistas da DC que eu comprava em sebos de revistas usadas, não apresentava qualquer interesse pela HQ. Claro que eu nem imaginava quem era Alan Moore ou que aquela era uma das obras mais importantes dos quadrinhos de todos os tempos, e talvez por isso eu não me apetecesse em tê-la em minha coleção.

Me lembro da imagem clássica do Comediante mirando um rifle de uma janela dentro de um quarto escuro e um jornal sobre uma mesa com a frase “Who Watches de Watchmen”. Eu olhava para aquilo e não dava a mínima.

Alguns anos mais tarde a Editora Abril relançou a obra com as capas originais em 12 volumes, veio até encarte especial dentro da revista do Homem Aranha com o comercial e novamente não dei a mínima. Felizmente hoje posso dizer como estava errado em não ter ligado para a história simplesmente por ela destacar personagens das quais eu nunca havia ouvido falar. Acho que a classificação “adulto” nas capas me assustava! Hehehe!

Somente alguns anos mais tarde, já crescido, eu finalmente decidi dar uma chance para aquela HQ tão cultuada, e resolvi descobrir porque a história possuía fãs tão fervorosos que teciam milhões de comentários na Internet, seguindo o conselho de um amigo que já tinha lido e havia gostado.


O Filme 

Vi trailers e mais trailers do filme, li todo tipo de comentário acerca da adaptação de Zack Snyder e quase já podia dizer que havia formado minha “própria” opinião... Baseando-me no que outros haviam dito. Outra vez estava enganado. Apenas hoje (6/03/2009) ao sair do cinema, após encarar a primeira sessão, eu pude pela primeira vez tirar minhas próprias conclusões. Vamos a elas.

HQ X Adaptação

OK. O velho Moore tinha razão. É impossível adaptar Watchmen sem que (muitos) detalhes se percam no caminho ou sejam simplesmente cortados no processo para tornar o filme mais “plausível”, ou mais curto mesmo. O enredo de Watchmen chega a ser complexo algumas vezes, tive que voltar e reler quadros quando tive a HQ em mãos, e mudar uma coisa ou outra para adaptar a história o mais fielmente possível não deve ser tarefa fácil. O que pode ser tirado? O que tem que ser adicionado? Deve ser um desafio pegar uma obra em mãos e destrinchá-la sem medo de ser feliz (e arriscando ganhar a fúria de fãs alucinados nas costas), mas Snyder teve colhões e fez. Ficou bom? Foi satisfatório? É aí que começam as controvérsias.

Nem imagino como seja o filme visto por alguém que simplesmente não conhece a história e que não sabe o que foi cortado ou o que foi adicionado ao filme, mas para alguém que conhece, os dez minutos do filme impressionam com a riqueza dos detalhes com que algumas passagens que são apenas citadas na HQ são apresentadas. A trilha sonora colabora bastante, criando um clima nostálgico às cenas. A invasão ao apartamento do Comediante não existe na HQ, mas faz com que “entendamos” como aconteceu e o que rolou lá dentro pouco antes dele ser arremessado pela janela. Fatos na TV mostram a situação atual do país, a Guerra Fria e tals, e então os elementos que conhecemos enfim aparecem e Eddie Blake cai de encontro com a calçada. Tal qual as cenas de luta em 300, onde ossos são partidos e sangue voa de encontro a câmera em velocidade reduzida, Watchmen também apresenta lutas bastante violentas, o que impressiona em certos momentos. A surra em Blake é um desses vários casos que acontecem no decorrer do filme.

Nada em Watchmen é irrelevante, mas Snyder optou por cortar aquilo que não faria tanta falta para quem não conhece a história, mas que deixa chateado quem sabe que existe e que não aparece no filme. Os comentários jocosos do dono da banca de jornal e o fiel leitor de Contos do Cargueiro Negro fazem falta, assim como o assassinato de Hollis Mason e a própria sequência do Cargueiro que é vista na HQ como parte do enredo, ou uma história dentro de outra história. Isso quer dizer que é uma boa adaptação? Não exatamente. O final é muito corrido e perde muito quando se altera o modo como Ozymandias decide fazer o que faz, tornando-o quase banal a olhos mais atentos. Apesar de tudo, as alterações tornam a adaptação mais crível para o cinema, embora perca muito na emoção.

Sim, o filme não emociona em nenhuma cena. Desde Homem Aranha (e lá se vão quase 7 anos!) dificilmente eu deixei de me emocionar em alguma cena de qualquer um dos filmes de adaptações de quadrinhos (exceto Quarteto Fantástico e Motoqueiro Fantasma). Uma cena de maior carga emocional uma hora ou outra surge na tela (até em Hulk do Leterrier isso aconteceu), mas não há nada emocionante em Watchmen, exceto talvez a sequência inicial em que aparecem os Minutemen em ação (ou saindo de ação!). Há certa frieza nas interpretações e na montagem de algumas cenas, e isso torna o filme tão gelado quanto o humor do Ozymandias.

Interpretações 

Jeffrey Dean Morgan

Enquanto alguns atores mostram ao que vieram logo de início, como é o caso de Jeffrey Dean Morgan (Comediante) na cena em que é atacado no próprio apartamento, outros parecem que nunca entraram em cena, como o insípido Matthew Goode (Ozymandias) que não parece se esforçar para sequer passar qualquer emoção

Matthew Goode

Dá a impressão que ele levou a sério demais a descrição do personagem e confundiu inteligência e superioridade atlética com falta de expressão e inaptidão artística! Nem com toda habilidade do mundo ele derrotaria o Comediante numa luta justa com aquele físico, digamos, esbelto em excesso. Goode parece mesmo ser o elo mais fraco entre as interpretações, e ganha o troféuRicardo Macchi” por seu papel, se aproximando de Brandon Routh em Superman Returns.

Malin Akerman

Outra que não se esforça muito no papel é Malin Akerman, que interpreta uma Espectral bem burocrática. Ela é linda, charmosa, combina estonteantemente bem na telona, mas sua Espectral passa a ideia em alguns momentos de que está ali apenas para ser a “gostosa” da equipe de machões. Realmente não há grandes momentos em que ela possa usar seu talento interpretativo, mas a Silk - Spectre da HQ é muito mais ousada do que a interpretada por Akerman. A cena em que ela retorna à Terra com o Dr. Manhattan e vê o cenário de guerra em que se tornou Nova York prova o quanto ela deixa a desejar.

Billy Crudup como Dr. Manhattan

Enquanto a Espectral dos quadrinhos se acaba de chorar pedindo desesperadamente para que Jon a tire dali, a do filme mal consegue passar que está sentindo uma coceira incômoda no dedão do pé. É só ter por base que não deve ser fácil ver a cidade onde você mora toda destruída, corpos pelo chão (embora isso não apareça na tela, diferente dos quadros desenhados por Gibbons) e não dizer pelo menos um “Oh, my God!”. Interpretações a la novela da Record são profundamente irritantes, mas daí de quem é mesmo a culpa? Da novata Malin Akerman ou da falta de uma direção mais firme? 

O mesmo acontece com Matthew Goode que nem se quer levanta uma sobrancelha quando o Dr. Manhattan surge em tamanho gigante para apanhá-lo já na sequência final. Já que era pra apresentar tamanha mediocridade em cena, o Snyder bem que podia ter dado uma fala pra sua Bubastis digital. Ela interpretou a cena de morte melhor do que Goode! Hehehe! 



Jackie Earle Haley

Por outro lado, a melhor interpretação do filme fica mesmo para Jackie Earle Haley, que praticamente incorpora Walter Kovacs, o Rorschach. Na estatura certa, com uma tremenda cara de maníaco, tal qual o personagem demonstra, Earle Haley mostra quem é o melhor baixinho invocado das HQs transportado para as telas já que Hugh Jackman está longe de ter o tamanho do Wolverine!

Tanto em cenas de ação quanto em cenas densas como na sessão de análise dentro do presídio, ou quando alguns presidiários o tentam emboscar no interior de sua cela, Kovacs realmente transparece na pele do ator, e os quadros da revista surgem em nossa mente, tais quais são apresentados na tela. Toda a sequência da invasão do presídio é digna de elogios, apesar das lutas em câmera lenta quando o Coruja e a Espectral entram em ação para resgatar Rorschach. Tudo isso é esquecido quando Kovacs mostra ao bandido “Figura” quem realmente está preso com quem, matando seus asseclas e logo depois dando uma lição no anãozinho. “Não sou eu que estou preso aqui com vocês. Vocês é que estão presos comigo.” O Jeph Loeb deve ter adorado essa! 



Patrick Wilson

Patrick Wilson também não compromete no papel do engraçado e inseguro Dan Dreiberg, e dá um ar mais “Batman” nas lutas corporais do Coruja. Enquanto na HQ ele é um cara fora de forma que mantém o desejo por aventuras, na telona ele não convence que esteve fora de ação por tanto tempo, e pelo contrário, demonstra um preparo físico invejável tanto na luta no beco quanto dentro do presídio. Claro que tudo isso colabora positivamente ao filme, dando um apelo mais ativo do que acontece na HQ, e assim como a excelente interpretação de Wilson não atrapalha em nenhum momento o ritmo da história. 


Trepando ao som de "Aleluia"!

Entre interpretações medianas (para não dizer horríveis), ritmo acelerado ao extremo, cortes importantes na trama original, falta de emoção (por que não tocou “You’re my trill” de Billie Holiday na cena em que o Coruja e a Espectral transam dentro do Arqui??), alterações no roteiro e um final manipulado para parecer “mais legal” a quem não é fã, Watchmen é sim um bom filme, daqueles que vale a pena comprar o DVD (cheio de extras) e guardar, nem que seja para resmungar todas as vezes em que o Ozymandias aparece. Assim como duas outras adaptações de Alan Moore (V de Vingança e Constantine) Watchmen pode ser visto por qualquer um que aprecie um bom filme de ação e aventura com cérebro, e não causa uma fúria descompensada (pelo menos não total) nos fãs mais fervorosos. Moore tinha razão, não dava para adaptar fielmente, mas Zack Snyder pelo menos se esforçou, e o cara merece os créditos por isso, conseguindo fazer um filme OK e uma adaptação nota 7.


NAMASTE!

21 de julho de 2019

Do Fundo do Baú - Hellboy



Na primeira década do século XXI eu cursei a graduação de Design Gráfico, e um dos meus semestres preferidos foram com as aulas de cinema da professora Maria Goretti Pedroso. Nele aprendíamos a decupar um filme inteiro e enxergar obras cinematográficas como algo mais do que duas horas de diversão em frente a tela. Depois daquelas aulas, eu nunca mais encarei o cinema como apenas uma diversão de momento. O texto abaixo é uma resenha que escrevi sobre o filme Hellboy (2004) para a matéria de Vídeo Design, e ele foi um dos motivos que me fez querer escrever para o Blog do Rodman posteriormente. Bora relembrar um dos mais bem feitos filmes de super-heróis do cinema, lançado há 15 anos?

Hellboy

Em 1944, os nazistas estão com a guerra praticamente perdida, e só um milagre, ou algo terrivelmente contrário a isso, pode fazê-los reverter essa situação. Grigori Rasputin conselheiro místico dos Romanov, é o homem que aceita o desafio de perpetrar tal milagre, e utiliza seus conhecimentos sobre ocultismo para mesclar ciência e magia negra, a fim de trazer para a Terra Ogdru Jahad, os Sete Deuses do Caos. A ideia por trás de suas intenções malignas é clara: Vencer os inimigos com o poder de Jahad, destruir o mundo e das cinzas fazer renascer um novo Éden.


O clima é sombrio, os soldados americanos orientados pelo jovem Trevor Bruttenholm (ou Dr. Broom), o consultor pra assuntos paranormais do Presidente Roosevelt, estão perto da Costa da Escócia, designados para impedir os planos diabólicos dos nazistas. A chuva torrencial que cai, aumenta o clima nebuloso, os soldados estão assustados, e a cena do filme a todo momento permanece em nuances de prateado e azul, reforçados por efeitos de coloração pós-produção. A trilha sonora sofre um crescente quando enfim é mostrado o ritual onde Grigori, junto a seus dois asseclas, Kroenen e Ilsa, estão preparando a chegada de Ogdru Jahad, e o Dr. Broom, desesperado, pede para que o exército interfira. O local então é invadido, e começa uma batalha para tentar impedir que Rasputin libere os Sete Deuses do Caos com o portal que já está aberto.


No início do conflito o Dr. é atingido com um tiro próximo do joelho direito, e começa a se rastejar enquanto o assassino Kroenen derrota vários soldados ao mesmo tempo com tiros, depois com duas lanças que saltam de seus antebraços. O vilão já demonstra que não é um mero mortal, como anteriormente o próprio Dr. destaca num diálogo entre ele e um soldado. Ele é baleado e nada acontece. Observando o Dr. a se rastejar ferido enquanto vence os adversários, Kroenen nota que suas intenções podem colocar o plano de Rasputin em risco, e o vê arremessando uma granada contra o portal. Antes que ela exploda, Kroenen tenta em vão apanhá-la entre as engrenagens, e logo em seguida de ter os dedos da mão decepados  pelo aparelho que gira energizado por uma manopla controlada por Rasputin, Kroenen é arremessado pela explosão, e acaba empalado contra uma parede por um restolho da máquina que é destruída. A ação de Broom faz com que Rasputin perca o controle sobre as energias que mantêm a fenda dimensional aberta, e ele é sugado pelo portal, desaparecendo em pedaços. Ilsa é a única que escapa com vida, sabendo que terá muito tempo pela frente graças a um “encantamento” feito por seu amante Rasputin.

Embora tenha impedido a vinda de Ogdru Jahad à Terra, o Dr. Broom sabe que o portal ficou aberto por tempo suficiente para que algo possa ter atravessado. Enquanto cuida dos ferimentos e se protege da chuva dentro de uma caverna, enfaixando a perna atingida pelo tiro, o Dr. conta a história de Rasputin para um soldado. Alguns relatos, até então dados como reais, se estudados, dão conta que o homem já sofreu todo tipo de tortura e permaneceu vivo. Nesse meio tempo, algo se move rapidamente dentro da caverna, e logo o Dr. e o soldado vêm uma criatura vermelha a saltar assustada ante os tiros disparados pelo homem. O monstrinho é confundido de início com um macaco e o Dr. Broom logo percebe que a criaturinha vermelha não é o que parece e que só está com medo. Oferecendo-lhe um chocolate, Broom ganha-lhe a confiança e o acolhe logo depois que ele salta para seus braços. A criatura logo é identificada como um menino demônio, e todos os soldados se afeiçoam a ele, batizando-o de Hellboy. Tem início então toda a história do filme. 

   
Desde o início do filme Guillermo Del Toro, o diretor e roteirista da película, procura fielmente transpor o clima dos quadrinhos criados por Mike Mignola para a tela, recriando todo o universo anterior à primeira aparição do menino demônio, ainda em meados de 1944. Mignola que esteve presente em toda a produção auxiliando Del Toro na transposição de seu personagem para o cinema, participou ativamente, o que tornou Hellboy um dos filmes inspirados em heróis de quadrinhos mais fieis dos últimos anos. A sequência inicial, ambientada na Costa da Escócia, mostra de forma competente todo o clima de guerra, e mostra uma ameaça nazista iminente que precisa ser detida a qualquer custo. A interação entre os personagens principais, Dr. Broom e o General, as pitadas de sarcasmo do militar em relação ao cargo de Broom, à sua religião e a sua forma pouco convencional de demonstrar os fatos serve perfeitamente como contraste com a malignidade de Rasputin e seus asseclas, que em nome do Führer, desejam libertar os Sete Deuses do Caos para instaurar a destruição na Terra e consequentemente a vitória sobre os inimigos. Tudo é ambientado para realmente parecer algo maligno, e o posicionamento de câmera, bem como a cenografia e a iluminação, aliados aos efeitos visuais (da manopla de Rasputin ao próprio portal que ela abre), tudo se encaixa perfeitamente presenteando o espectador uma das mais belas sequencias do filme inteiro.


60 anos se passam desde a primeira sequência, e então é hora de conhecer os personagens que farão parte do restante do filme. Já sabemos qual a origem (infernal) do menino demônio, e somos transportados diretamente para seu presente, que eles chamam no filme de dias atuais. Uma ótima sequência de imagens sobrepostas, vídeos e vozes num rádio nos ambientam, e informam que Hellboy (Ron Pearlman) agora é uma espécie de lenda urbana. Ele vive no Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal, a agência criada por Trevor Bruttenholm (o homem que o criou desde garoto como um pai, vivido por John Hurt), com o consentimento do governo e que existe disfarçada como uma empresa de reciclagem de lixo. O espectador é levado para o interior do Bureau junto ao jovem agente do FBI John Myers (vivido por Rupert Evans), que é escolhido entre vários agentes (mais de 70 candidatos graduados) pelo próprio Dr. Broom, que descobre que está morrendo de uma misteriosa doença. Preocupado em deixar seu filho sem assistência, ele vê em Myers um sucessor responsável a altura para auxiliar Hellboy, e o apresenta ao fantástico mundo dentro das paredes do Bureau. Myers se depara com o homem-peixe denominado Abraham Sapien (Doug Jones), aparentemente encontrado por acaso há muitos anos atrás (precisamente no dia em que o então Presidente americano Abraham Lincoln faleceu). Fica no ar um mistério de o que realmente Sapien é, um experimento genético, um mutante ou uma criatura evolutiva, mas Del Toro não se preocupa em esclarecer tais dúvidas do espectador, como acontece frequentemente durante o filme.


É chegada a hora então do coadjuvante se encontrar com o personagem título, e uma breve passeada pelo “quarto” de Hellboy nos mostra um pouco de sua personalidade. Somos auxiliados pelo agente Clay, até então o “babá” do demônio, para entender um pouco mais como ele é, e Myers se depara com um lugar infestado de gatos, vários televisores ligados mostrando a mesma moça (mais tarde descobrimos se tratar de Liz Sherman) e o homem-demônio a se exercitar enquanto fuma um charuto. A surpresa de Myers ao ver Hellboy é hilária, e vamos nos acostumando a personalidade “certinha” do personagem, que contrasta com o humor seco e as vezes sarcástico do personagem principal.  Pai e filho estão brigados, e “de castigo” Hellboy está preso no quarto por causa de suas aparições públicas sem autorização. Broom deixa claro que quer Hellboy nas ruas apenas para combater monstros.


A sequência seguinte, uma das mais bem realizadas em matéria de dinamismo, mostra exatamente Hellboy em ação, logo que um sinal de emergência soa no Bureau. Após o panorama geral dos personagens, é hora de ver o Vermelho trajado pela primeira vez com seu “uniforme de combate”, o mesmo sobretudo marrom amarfanhado que ele usa nos quadrinhos. Abe Sapien, pela primeira vez em cena fora do "aquário" em que foi apresentado, mostra que pode sobreviver fora da água com um suporte que mantém hidratada suas guelras, outro cuidado que Del Toro tomou para transpor o personagem o mais fiel possível à tela. Trazido a cidade dentro de um caminhão de lixo camuflado, Hellboy, Sapien, Dr. Broom e Myers são levados até a Biblioteca da cidade, que naquele momento está isolada por faixa policial com algo anormal preso lá dentro. A essa altura já sabemos que todos os vilões principais estão de volta, e após mais uma ressurreição, Rasputin está ligado inteiramente à criatura no interior da biblioteca.

   
Rasputin agora renascido, em mais uma de suas tentativas de abrir o caminho na Terra para o que ele chama de Mestre, desperta a entidade conhecida como Sammael para provocar o caos. Em mais um de seus rituais, ele lança um feitiço na criatura, de que sempre que tombar, duas novas entidades se erguerão em seu lugar, criando assim um ciclo infinito. Sem saber disso de início, Hellboy se digladia com o monstro dentro da biblioteca, e descobre que ele se alimenta de pessoas. Ao ser arremessado para fora do prédio com um golpe, ao cair, Hellboy se encontra pela primeira vez com Rasputin que o chama de filho e lhe fala sobre seu verdadeiro nome. Intrigado, Hellboy aponta-lhe a arma, mas só encontra o vazio.


A sequencia seguinte é uma das mais impressionantes do filme. Sammael ganha as ruas, e Hellboy tem que persegui-lo para tentar detê-lo. O filho do inferno é ferido pela língua da entidade que se enrola em seu braço mais frágil, e Myers aparece para impedir que maiores danos sejam causados ao parceiro, que reluta a aceitar ajuda. Sammael salta entre prédios num belíssimo enquadramento de câmeras, o espectador se sente dentro da cena por algum tempo, e a computação gráfica trabalha muito bem a favor do filme. O monstro muito bem construído digitalmente passa toda a sensação de peso (quando pisa sobre um furgão, por exemplo) e seus movimentos são muito realistas. A perseguição leva Hellboy até um lugar movimentado onde ele encontra civis desprotegidos em meio a uma festa de Halloween, e após lançar uma bala sinalizadora na criatura, fica fácil seguir o rastro verde que ele começa a deixar para trás. Curioso na cena de perseguição, é que em um dado momento Hellboy salta de um prédio para cima de um caminhão, e nesse primeiro corte de imagem, nota-se com certa facilidade que ele pousaria de pé sobre o veículo, até porque não daria tempo dele pousar de outra forma. Há um corte de câmera para mostrar Sammael no chão a observá-lo, e quando a câmera volta para Hellboy, ele está caindo sentado sobre o carro.


A cena se desenrola até o túnel do metrô, onde Hellboy volta a perseguir Sammael, que desaparece durante algum tempo enquanto o herói procura se desvencilhar do condutor do Metrô que o espanca com um extintor. Outra cena curiosa é quando Hellboy toca os chifres em brasa por causa da fricção de ter sido "atropelado" pelo Metrô. Até então nenhuma informação nos é passada sobre sua invulnerabilidade a fogo, embora já possamos desconfiar por ele ser um demônio, mas ele sente dor quando toca os chifres. Por que ele sente dor? Por que está quente? 

  
A batalha entre Hellboy e Sammael se encerra com o herói eletrocutando a criatura utilizando a energia elétrica dos trilhos. Nessa cena então, através do comentário dele, descobrimos que ele é invulnerável a fogo por não ter sofrido nada com a descarga elétrica que dá cabo de Sammael. Computação gráfica é utilizada novamente para simular a briga entre os dois, e dessa vez a animação deixa um pouco a desejar. As feições de Hellboy estão horríveis, e ele se assemelha mais ainda a um macaco (como por vezes é chamado durante o filme). Nada, claro, que comprometa o desenrolar de uma das melhores cenas de ação do filme.


Hellboy é uma das adaptações de quadrinhos para cinema das mais competentes graças ao talento de Guillermo Del Toro e suas percepções de retirar o que há de melhor da HQ de Mike Mignola para seu filme. Ele dá destaque para personagens que crescem sozinhos como o torturado e aparentemente imortal Kroenen, que mostra toda a intimidade que possui com suas lanças. Liz (Selma Blair) também ganha força no decorrer da história, não só porque ela aprende a controlar os dons mutantes sobre o fogo, mas porque ela se torna o maior pronto fraco de Hellboy, quando ela vira prisioneira de Rasputin que a usa para forçá-lo a "aceitar" seu destino. É revelado que Hellboy é na verdade Anung un Rama, filho de Satã, e o homem destinado a permitir a entrada dos Sete Deuses do Caos na Terra. Um reinado de terror tem início, numa imagem em flashforward vislumbramos qual é a verdadeira missão de Hellboy na Terra, e o verdadeiro motivo pelo qual Rasputin o invocou na década de 40. Ele deve dominar o mundo, e o amor por Liz, e a vontade de reaver sua alma, o faz esquecer quem o Dr. Broom o ensinou a ser. Mais homem do que demônio. Felizmente a figura de bondade no agente Myers o faz relembrar disso no último instante, e ele quebra o elo de seu braço com a chave que abriria o portal para a entrada de Ogdru Jahad na Terra. A derrota de Rasputin e logo em seguida a do demônio cheio de tentáculos que ele libera de seu corpo, sela a primeira aventura de Hellboy nos cinemas, e Guillermo Del Toro finaliza sua história com grande estilo, deixando bastante pontas para serem aproveitadas numa sequencia do filme.

Hellboy é um filme bem menos comercial do que a maioria cujo tema é super-herói, e por ser uma obra de fã, tem todo um cuidado técnico a ser levado em consideração. A fotografia do filme é magnífica, as cores realçadas em pós-produção saltam aos olhos, deixando o vermelho da pele do personagem mais vivo e todas as outras cores em destaque. Cenas como as do início sob chuva, como as da perseguição pelas ruas e a do incêndio no hospital de Liz são memoráveis. Houve todo o cuidado para que o filme se tornasse realmente uma obra prima, e só não beira a perfeição devido os furos no roteiro. Del Toro deixou todo o clima dos quadrinhos envolverem o filme, mas as vezes o que funciona em uma HQ nem sempre funciona da mesma forma no cinema. Em alguns casos, nos sentimos perdidos com os personagens, e sente-se uma necessidade óbvia de conhecer os quadrinhos para poder entender melhor o filme, o que não devia acontecer. A grande parte da história é simples de entender, mas algumas origens são simplesmente ignoradas, como a de Kroenen, por exemplo.

Como pontos fortes, é impossível não citar a atuação de Ron Pearlman, que encarnou o demônio vermelho como poucos o fizeram num personagem de quadrinhos. Mesmo sob quilos de maquiagem, ele dá o carisma necessário ao personagem, e seu humor ácido e por vezes sarcástico o dá um quê de engraçado que conquista o espectador. Ele pode ser feio, ele pode ser um demônio, mas não deixa de ser o herói (ou anti-herói) pela qual torcemos. O talentoso Doug Jones que empresta seus gestos para o cativante Abe Sapiens também dá show, e embora a voz do personagem não seja sua, ele dá todo o tom fantástico ao homem-peixe, e cria o segundo personagem mais interessante do filme. Sua maquiagem também é uma das mais perfeitas, e quase nos esquecemos que não estamos olhando para um homem meio peixe de verdade dado a naturalidade com que Jones atua.


Com a clara escolha de Del Toro por uma adaptação mais fiel da HQ fica fácil perceber no filme os ângulos, iluminação, cores e todo tipo de aspecto estético presente nos quadrinhos de Mike Mignola, reproduzidos de maneira mais que eficiente na tela. Assim como em termos de direção isso é uma vantagem para o filme, deixando-o com o mesmo toque belo e sombrio que possui na revista, há de negativo apenas os exageros cometidos em algumas cenas, mas que passam perfeitamente despercebidas se levarmos em conta que sim, aquela é uma obra baseada em quadrinhos.  

Hellboy teve um orçamento de US$ 66 milhões e faturou apenas US$ 99,3 milhões. Ganhou uma sequência em 2008, Hellboy 2 - O Exército Dourado, também dirigido por Del Toro que faturou US$ 160,4 milhões, e por muitos anos falou-se numa sequência que nunca aconteceu, embora Ron Pearlman fizesse campanha à favor. Em 2019 o filme foi rebootado por Neil Marshall com David Harbour no papel principal, mas o filme fracassou nas bilheterias, rendendo menos que seu orçamento. 
Essa resenha foi escrita entre 2006 e 2010, e eu tirei 10! 

NAMASTE!           

28 de março de 2018

Do Fundo do Baú - A VERDADEIRA Capitã Marvel



Monica Rambeau, a primeira Capitã Marvel, foi criada em 1982 pelo escritor Roger Stern e pelo desenhista John Romita Jr. para uma história do Homem Aranha (Amazing Spider-Man Annual #16), chegou a servir de coadjuvante em algumas histórias do Homem de Ferro também, mas só começou a ser REALMENTE relevante quando ela se juntou aos Vingadores, onde ela entrou como membro em treinamento (tipo aqueles trainees de escritório!). Embora ela tenha sido muito importante no passado da Marvel, hoje em dia são poucos os leitores de quadrinhos que ainda se lembram dela, ou sequer a reconheçam depois de tantas mudanças de identidade, mas esse post é dedicado a celebrar aquela que já foi a vingadora mais poderosa de todas!


Como todo herói Marvel, Monica ganhou seus poderes em um acidente. Capitã de navio e tenente da patrulha portuária de Nova Orleans, ela foi irradiada com uma energia extra-dimensional que tornou seu corpo capaz de converter qualquer tipo de energia. O gerador que a bombardeou havia sido criado por um amigo seu, o cientista Andre LeClaire, que acabou deixando seu projeto cair em mãos erradas. Na tentativa de ajudar o amigo a recuperar seu gerador e impedir que tal criação fosse usada para o mal, Monica acabou saindo no braço com outro cientista, Felipe Picaro, o que ocasionou seu acidente. Após o ocorrido, LeClaire sugeriu que Monica usasse suas novas habilidades para combater o crime, e então ela começou as suas aventuras como uma heroína.


Hoje quando paramos para pensar em heroína Marvel, logo vem em sua cabeça Carol Danvers, a ATUAL Capitã Marvel ou talvez a Feiticeira Escarlate, mas há muito tempo, era de Monica Rambeau o título da mulher mais poderosa da Marvel. Capaz de converter seu corpo em energia, ela pode não somente disparar rajadas como também tornar-se intangível, invisível e ainda voar na velocidade da luz. Só aqui ela já poderia rivalizar com o Visão, a Mulher Invisível do Quarteto Fantástico e deixar o Mercúrio (que só atinge a velocidade do som) comendo poeira numa corridinha pelo Central Park. 


Todas essas habilidades se dão porque Monica pode se transformar em QUALQUER energia dentro do espectro magnético, o que inclui Raios-X, raios gama, raios ultravioleta, luz visível, eletricidade, radiação infravermelha, micro-ondas e ondas de rádio. Além de poder voar em qualquer um desses comprimentos de ondas, Monica assume as características básicas deles (ela pode fritar um dispositivo eletrônico convertida em eletricidade, por exemplo), o que a torna uma adversária EXTREMAMENTE eficiente, visto que ela pode mudar de um comprimento para outro com um simples pensamento.


Caracas, Rodman! Ninguém podia com essa mulher então!

Nas mãos dos roteiristas certos, caro padawan, era exatamente isso que acontecia!

Algo que definiu bastante a Capitã Marvel nos anos 80 foi sua capacidade de se adaptar as mais diversas situações em combate, o que a tornava um trunfo na manga do Capitão América, já que ela além de já poder converter o corpo em todas essas energias diferentes, ela também podia conhecer uma nova, analisá-la e também se transformar nela. Nas Guerras Secretas (a primeira saga, lá dos anos 80 feita pra vender bonequinhos), embora suas capacidades não tenham sido tão bem exploradas, a Capitã serviu mais como espiã para a equipe dos heróis, usando sua invisibilidade e seu poder de luz para viajar rapidamente entre as distâncias do planeta-arena de Beyonder, espionando o grupo do Doutor Destino.

Capitã Marvel nas Guerras Secretas, arte de Mike Zeck

No final dos anos 80, quando então Marvel e DC planejavam o primeiro confronto entre Vingadores e Liga da Justiça (Aquele que nunca saiu do papel), a Capitã era uma membra ativa na equipe dos Heróis Mais Poderosos da Terra, e embora os editores da DC quisessem um confronto direto entre Flash e Mercúrio, Jim Shooter (o editor-chefe da Marvel na época) acabou servindo como a voz da razão, alegando que o seu Mercúrio nunca seria páreo para o Corredor Escarlate da DC, e que um confronto digno para saber quem é o mais veloz seria com a Capitã Marvel, por razões óbvias. Assim, nessa história que jamais foi concluída, praticamente todos os heróis teriam seus análogos: Aquaman x Namor, Eléktron x Homem Formiga, Mulher Maravilha x Hércules, Flash x Capitã Marvel e etc.


Já nos anos 90, Os Vingadores entraram em combate contra os X-Men para tentar levar Magneto à justiça por todos seus crimes. O Mestre do Magnetismo havia afundado um submarino russo além de ter ameaçado a humanidade uma caralhada de vezes antes de assumir a liderança dos X-Men, e a fim de evitar um acidente diplomático gigante, era necessário que o mutante fosse preso e julgado. Na época, os Vingadores eram formados por Capitão América, Thor, Mulher Hulk, Cavaleiro Negro e Doutor Druida e a Capitã Marvel era vista pelos X-Men como a MAIOR AMEAÇA. Numa das cenas de perseguição entre as duas equipes, uma fala da Vampira deixa bem claro o medo que ela sente em enfrentar a Capitã:


“É sério! A gente precisa sumir antes que a Capitã Marvel apareça!”


Antes disso, a Capitã tinha aparecido voando (de COSTAS, para esculachar mais!) ao lado da mutante avisando que ela não poderia ir longe demais (quer disputar com alguém que voa na velocidade da luz??) e fritado os circuitos da armadura do Homem de Titânio enquanto o Thor tomava uma surra do gigante russo. Vale lembrar, que o Deus do Trovão sofria de uma enfermidade na época que tornavam seus ossos frágeis, e ele precisava de uma armadura.


Pouco depois, nessa mesma aventura, a Capitã age como espiã, ficando invisível e entrando no Pássaro Negro, o jato dos X-Men, para saber o paradeiro de Magneto, e logo em seguida ela DERROTA facilmente o Mestre do Magnetismo atravessando seu campo de força magnético, enquanto Thor e Mulher Hulk tentavam atravessá-lo inutilmente na porrada.


Derrotando Magneto, arte de Marc Silvestri

Derrotar o Magneto não é pra qualquer um, mas Monica tem isso em seu currículo.


Com essa mesma formação de Vingadores (mais Hércules e Namor), mais tarde Monica tornou-se a líder da equipe após o afastamento da Vespa, e foi nessa mesma época que Os Heróis Mais Poderosos da Terra sofreram aquela que é considerada até hoje uma de suas maiores derrotas: A invasão da mansão orquestrada pelo Barão Zemo e seus Mestres do Terror. Para que o plano de Zemo desse certo e ele pudesse infligir um ataque em massa que pegasse os Vingadores de calças curtas na mansão, era necessário que ele primeiro eliminasse a Capitã Marvel, o que ele fez usando os poderes do Blecaute, inimigo clássico da heroína que era capaz de manipular um tipo de energia escura

Arte de John Buscema

Manipulado até as tampas por Zemo, o Blecaute prendeu a Capitã dentro da dimensão escura que ele controlava, e assim ela permaneceu quase até o fim da saga. Enquanto ela procurava uma saída daquele universo escuro (o que se deu posteriormente graças aos poderes do Mortalha), Zemo, a Gangue da Demolição, Titãnia, Homem Absorvente, Tubarão Tigre, mais Rocha Lunar e o Mr. Hyde invadiram a mansão e acabaram com os Vingadores remanescentes, esculachando não só o Capitão América e o Cavaleiro Negro como também o Jarvis, o mordomo.


Vale lembrar que nada disso teria acontecido se a Capitã Marvel não tivesse sido aprisionada logo no início.


Alguns anos depois, a Capitã Marvel acabou perdendo o seu brilho (sem trocadilhos), e cada novo escritor que assumia o título dos Vingadores fazia com que ela se tornasse cada vez menos poderosa e cada vez menos interessante. Depois do seu auge, ela perdeu os poderes e ficou na reserva por um longo tempo, e quando os recuperou, decidiu mudar de nome, não se achando digna do legado que ele carregava (o nome era em homenagem ao falecido Capitão Mar-Vell), além de dar a vez para o recém-surgido Genis-Vell, filho do primeiro Capitão Marvel e que passou a usar a alcunha. 


Chamando a si mesmo de “Fóton”, Monica participou (embora sem o mesmo brilho) do segundo encontro entre os Vingadores e a Liga da Justiça, escrita por Kurt Busiek e desenhada por George Perez, e um dos destaques nessa saga é sua luta contra o Lanterna Verde Kyle Rayner


Após ser atingida pela energia do anel e ser vencida por ele, Monica aprende a usar aquela energia, e já em seu segundo encontro com o rapaz, ela absorve seu poder e passa a não ser mais atingido por ele. Na aventura, Monica ajuda seu time a recuperar os artefatos místicos que vão impedir que Krona destrua seu universo, e ela é um excelente reforço para os Vingadores, que apesar disso, acaba PERDENDO a disputa graças a um estratagema do Capitão América e do Batman.

Derrotando o Capitão Átomo e o Nuclear, arte de George Perez

Na década seguinte, longe das sagas mais importantes da Marvel (aparecendo de relance na Guerra Civil) Monica Rambeau continuou vivendo suas aventuras enquanto a Miss Marvel assumia a posição da MAIOR heroína da editora. Ela ainda mudaria de nome mais duas vezes (Primeiro “Pulsar” quando Genis-Vell se tornou o Fóton e depois para Espectro, como é conhecida hoje em dia), e com seu nome mudou também a aparência e o uniforme. 


Não se sabe qual a verdadeira razão dos editores da Marvel terem “rebaixado” a personagem tantas vezes nas últimas décadas depois dela ser considerada a PRINCIPAL heroína Marvel nas décadas de 80 e 90, mas é fato que se seu status quo não tivesse sido alterado, ela seria uma personagem incrível de se ver nos cinemas e não só por seus dons. Além dela ter poderes que a destacariam de qualquer outro personagem, ela seria uma forte representante negra (assim como o Pantera Negra hoje é visto) e uma personagem feminina fortíssima, sendo ela capitã, tenente e tendo uma capacidade de liderança comprovada ao longo do seu histórico nas HQs. A atual Capitã Marvel (Carol Danvers) ganha um filme em 2019, mas adoraríamos ver uma adaptação DECENTE para a TV ou para o cinema da PRIMEIRA E ÚNICA Capitã Marvel.

NAMASTE!

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